quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sobre Meditação e Recolhimento

UM POUCO DE MADAME GUYON (1648-1717), 2o Texto

Um Caminho Curto e Fácil para Oração

Capítulo X – Da Mortificação

Até mesmo afirmarei que, de outro modo, é quase impossível jamais adquirir uma perfeita mortificação dos sentidos e das paixões.
A razão é óbvia. A alma dá vigor e energia aos sentidos, e os sentidos despertam e estimulam as paixões: um corpo morto não tem sensações nem paixões porque sua conexão com a alma está interrompida.
Todos os esforços que busquem corrigir apenas o exterior impelem a alma ainda mais para fora, em direção àquilo a que ela está tão calorosa e zelosamente dedicada. É nesses assuntos que seus poderes estão difusos e espalhados para fora: uma vez que seus esforços estão dirigidos a austeridades, e outras externalidades, eles reforçam os mesmos sentidos que ela deseja dominar. Pois esses sentidos não têm outra fonte de onde retirar seu vigor a não da dedicação da alma a eles mesmos, o grau de sua vida e atividade é proporcional ao grau de atenção que a alma lhes dedica, e essa vida dos sentidos estimula e provoca as paixões, ao invés de suprimi-las ou dominá-las. As austeridades podem, de fato, enfraquecer o corpo, mas pelas razões mencionadas, não podem jamais diminuir o aguçamento dos sentidos, ou diminuir sua atividade.
A única maneira de fazer isso é por meio do recolhimento interior, pelo qual a alma se volta completa e totalmente para dentro, a fim de possuir um Deus Presente. Se a alma direcionar todo o seu vigor e energia para esse centro de seu ser, esse simples ato a separa e retira dos sentidos. O exercício de todos os seus poderes internamente deixa os sentidos fracos e impotentes, e quanto mais ela se aproxima de Deus para mais longe ela é separada deles, e menos as paixões são influenciadas por eles.
De fato, aqueles em quem as atrações da graça são muito poderosas acham o homem exterior totalmente fraco e impotente, e mesmo propenso ao desfalecimento. Eu não tenho a intenção de desencorajar a mortificação, pois ela deve sempre acompanhar a oração, de acordo com as forças e o estado da pessoa ou como sua obediência permitir. Mas digo que a mortificação nunca deve ser nosso principal exercício e que não devemos prescrever para nós mesmos tais e tais austeridades, mas pura e simplesmente seguir as atrações internas da graça e estar possuído e ocupado com a Divina Presença (sem pensar particularmente em mortificação). Deus vai nos capacitar totalmente a isso e seguramente Ele não vai dar tréguas aqueles que permanecem confiantemente em seu abandono a Ele, até que Ele tenha neles mortificado tudo que ainda precisa morrer.
Nós apenas temos que continuar firmemente na maior atenção possível a Deus, e todas as coisas serão corretamente operadas. Nem todos são capazes de austeridades externas, mas todos são capazes disso. Na mortificação do olho e do ouvido, que continuamente alimentam a laboriosa imaginação com novos objetos, há pouca chance de exagerarmos. Mas Deus nos instruirá também nisso, e apenas temos que seguir a direção de Seu Espírito.
A alma tem uma dupla vantagem em proceder assim, pois ao se retrair de objetos externos ela é levada para mais perto de Deus, e ao aproximar-se Dele, além do secreto sustento e preservação do poder e virtude recebidos, ela é removida para mais longe do pecado, quanto mais perto dEle ela estiver, até que esse conversão se torne habitual.

Madame Guyon, "A Short and Easy Method of Prayer", in Christian Classics Ethereal Library - www.ccel.org.

Tradução: Fernando Sabóia Vieira

Nenhum comentário:

Postar um comentário