segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Fernando Dídimo

Primaveras em silêncio



Continua havendo esperanças
de flores, verdes e chuvas
na mudança da estação.

Mas há um silêncio
em algum lugar profundo
de minha alma.

Celebramos a vida e as canções
nos sorrisos e vozes
dos nossos pequeninos
que ainda não sabem dos silêncios.

Silêncio do piano da sala
dos abraços festivos
das histórias engraçadas
das palavras expressivas, vivas, acolhedoras.

Minhas primaveras continuam coloridas
mas há um silêncio...


23/09/2019

Fernando Sabóia Vieira


terça-feira, 10 de setembro de 2019

Sobre as histórias que ouvimos e contamos uns aos outros



Histórias Contadas em Silêncio



Não simplesmente ouço suas histórias,
Contadas com palavras, gestos, olhares e silêncios:
Eu as recebo, as concebo, elas nascem dentro de mim,
Habitam minha alma e eu passo a nelas habitar
Como personagem e co-autor,
Elas se tornam histórias da minha própria história.

Suas histórias, eu as sinto, eu as vivo, as levo comigo,
Sofro seus dramas, carrego seus temores e seus sonhos,
Alegro-me e desespero-me com elas:
Tornam-me mais plural, mais pleno, mais humano,
Mais frágil e também mais forte.

Sigo afligido e consolado por essas histórias,
Que me acordam de madrugada,
Comigo conversam o dia inteiro
E me fazem meditar ao anoitecer
No dom precioso da vida,
Nos profundos e misteriosos caminhos
Do Deus sempre revelado e sempre oculto,
Na suficiente e surpreendente graça de Jesus,
Na infinitude do Espírito Criador e Consolador
Que tudo move, envolve, renova, vivifica...


Fernando Sabóia Vieira,
de "A Explosão de Silêncio", 2012, ainda inédito.



terça-feira, 20 de agosto de 2019

Viver e Passar



Viver e Passar


vivo,
quero dizer, passo
ou por mim passam
os ventos e as ondas
da vida que se faz, desfaz, refaz
e é eterna
porque está sempre a passar

passo,
quero dizer, vivo
ou em mim vivem
as fontes e as energias
do passar e do viver
no eterno pensar e pulsar
do Espírito de Deus

vivo, no passo que passo

passo, na vida que vivo



Fernando Saboia Vieira

De "Crônicas Alegres para esses meus Tristes Dias", 2019, inédito.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Novo Ano, Novo Homem

Imagem e Semelhança

Thomas Merton


         Mas quando Deus fez o homem Ele fez mais do que ordenar sua existência. Adão, que foi criado para ser o filho de Deus, o ajudador de Deus na tarefa de governar o mundo que Ele criara, foi misteriosamente formado por Deus, como nos diz frequentemente o Antigo Testamento, como um oleiro forma um vaso de barro. “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gênesis 2:7, ARA).

         A vida de Adão, isto é, o “fôlego” que dava realidade, existência e movimento a toda a pessoa do homem, procedera misteriosamente da profundeza íntima da vida do próprio Deus. Adão não foi criado meramente como um animal vivo e movente que obedecia ao comando e vontade de Deus. Ele foi criado como um “filho” de Deus porque sua vida compartilhava algo do fôlego, ou Espírito, do próprio Deus. Pois “fôlego” é o mesmo que “espírito” (a palavra latina espírito está relacionada a spirare, respirar). 

         A criação de Adão não foi apenas uma concessão de vida, mas uma concessão de amor e sabedoria, de maneira que no exato momento em que passou a existir Adão foi, pela virtude dos dons sobrenaturais e prenaturais que acompanhavam todos os seus dons naturais, em algum sentido, “inspirado”. Se a expressão for permitida, a própria existência de Adão deveria ser um tipo de “inspiração”. Deus não pretendia apenas conservar e manter a existência corporal de Adão. Ele também estimularia e desenvolveria ainda mais direta e intimamente a vida e atividade espirituais que eram a razão principal para a existência de Adão.

         Adão, desse modo, foi criado para desde o princípio viver e respirar em união com Deus, pois assim como a alma era a vida do corpo de Adão, deveria o Espírito Santo se movendo em Adão ser a vida de sua alma. Para Adão, viver significaria “ser inspirado” – a ver as coisas como Deus as vê, amá-las como Deus as ama, ser movido em tudo em êxtase pelo Espírito de Deus. Desse modo, para Adão, êxtase não era de modo algum uma interrupção violenta da rotina normal da vida. Não poderia haver violência ou alienação numa vida assim: no Paraíso, êxtase é normal.

         Merton, Thomas. “The New Man”, Image and Likeness. Tradução de Fernando Saboia Vieira.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Para o Novo Ano

Brasília, em 1º de janeiro de 2019, AD.


Caros companheiros de jornada em busca da vida interior,



Nesse ano que começa, não quero ser avaliado por minhas eventuais vitórias, mas pela qualidade de minhas lutas, pois a Ele já pertence a toda a vitória;

Não pelos bens que possa adquirir, mas pela fidelidade e bondade que marcarem meu serviço e mordomia em relação aos que me forem confiados por Aquele a quem pertencem todas as coisas;

Não quero ser reconhecido pelo conhecimento e sabedoria que venha a obter, mas pela humildade e temor que tenham sido depositados no meu coração, porque n'Ele estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento;

Não pelas realizações e sucessos que possa alcançar, mas pela glória que minha vida venha a trazer ao nome daquele a quem pertence toda a Glória;

Não quero ser considerado pelo impacto e influência de minha vida nas vidas das pessoas, mas pela saudade do Pai que minhas ações e palavras possam produzir em seus corações.


Que a graça de Jesus seja com todos.

Fernando Sabóia Vieira