sexta-feira, 7 de maio de 2010

Sobre Meditação e Oração - Recolhimento


RECOLHIMENTO

Para meditar, eu devo fazer desaparecer de meu espírito tudo o que me impede de estar atento a Deus presente dentro do meu coração. É preciso, para isso, que eu me recolha. Mas é quase inútil fazê-lo no momento da oração se eu tiver deixado meus sentidos e minha imaginação se dissiparem durante o resto do tempo.
Desse modo, o desejo de meditar implica o esforço necessário para guardar um certo recolhimento durante todo o dia e viver numa atmosfera de fé, de orações intermitentes e de atenção a Deus. O mundo no qual vivemos oferece um problema torturante para aqueles que querem se habituar ao recolhimento.
O preço de um recolhimento verdadeiro é a firme resolução de não se interessar voluntariamente por nada que não seja útil a nossa vida interior. O mundo demanda inutilmente nossas emoções e nossos apetites sensuais. O rádio, a impressa, o cinema, a televisão, os cartazes, as placas luminosas nos incitam perpetuamente a dissipar nosso dinheiro e nossa energia vital em satisfações fúteis e efêmeras. Quanto mais nós compramos, mais somos pressionados a comprar. Quanto mais se faz publicidade, menos nós ficamos satisfeitos com o que compramos. E, no entanto, faz-se mais publicidade e nós compramos mais. Logo, tudo o que restará será o ruído, e a única satisfação do mundo será aquela das esperanças vãs e das aspirações jamais atingidas.
É preciso compreender que quase tudo o que nós lemos nas revistas ou nos jornais, e que vemos e ouvimos no cinema ou em outros lugares é absolutamente inútil sob todo ponto de vista. A primeira coisa a fazer para poder meditar é resistir fortemente aos apelos fúteis que a sociedade moderna nos dirige aos cinco sentidos. Vale dizer, mortificar nossos desejos.
Eu não me refiro aqui a extraordinárias práticas ascéticas, mas simplesmente às renúncias necessárias para viver segundo a razão e o Evangelho. Nos nossos dias, na América, tais renúncias podem se tornar heróicas. Na prática isso pode significar a renúncia às coisas supérfluas que nos chegamos a considerar como necessidades, ou pelo menos que adquiramos um domínio próprio suficiente para usá-las sem delas nos tornarmos escravos.

NT - Thomas Merton escreveu isso em 1960, quando ainda não havia os atuais meios de mídia eletrônica, os quais tem tornado essa situação ainda mais crítica.

Thomas Merton, "Direction Spirituelle et Méditation".
Tradução: Fernando Sabóia Vieira

Um comentário:

  1. Fantástico texto. Os diversos apelos deste mundo, ainda que lícitos, nos impedem de ter uma vida mais profunda e mais excelente de comunhão com Deus.

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