terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Juliana de Norwich - Ajuda minha pouca fé

Juliana de Norwich (1342-depois de 1416), mística inglesa

Revelações do amor divino, cap. 11

«Ajuda a minha pouca fé»


Em verdade, eu percebi que tudo é obra de Deus, por mais pequeno que seja; que nada acontece por acaso, que tudo é ordenado pela sabedoria previdente de Deus. O facto de o homem ver nisso a sorte ou o acaso deve-se à nossa cegueira ou vista curta. As coisas que Deus, na sua sabedoria, previu desde toda a eternidade e que conduz de forma perfeita, incessante e gloriosamente até ao seu melhor fim, acontecem para nós de forma inesperada, e dizemos, na nossa cegueira e vista curta, que acontecem por acaso ou por acidente. Mas não é assim aos olhos do Senhor Deus. Devemos, por conseguinte, reconhecer que tudo o que é feito é bem feito, dado que é Deus que faz tudo. […]Mais tarde, Deus mostrou-me o pecado na sua nudez, bem como a forma como opera a sua misericórdia e a sua graça. […]


Vi perfeitamente que Deus nunca altera os seus desígnios, sejam eles quais forem, e que não os alterará por toda a eternidade. Não há nada que, na sua perfeita disposição das coisas, Ele não conheça desde toda a eternidade. […] Nada faltará nesse aspecto, porque foi na plenitude da sua bondade que Ele tudo criou. É por isso que a Santíssima Trindade nunca está plenamente satisfeita com as suas obras. Deus mostrou-mo para minha grande felicidade: «Olha! Sou Deus. Olha! Estou em todas as coisas. Olha! Faço todas as coisas! Olha! Nunca retiro a minha mão das minhas obras, e nunca a retirarei pelos séculos dos séculos. Olha! Conduzo todas as coisas até ao fim que lhes atribuí desde toda a eternidade, com o mesmo poder, a mesma sabedoria, o mesmo amor que quando te criei. O que poderá correr mal?»





terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Poema de Dietrich Bonhoeffer - Estrada para a Liberdade


Estações da Estrada Rumo à Liberdade

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945)

 

Escrito por Bohoeffer na Prisão de Tegel, em Berlin, em 1944, aproximadamente um ano antes de ser executado pelos nazistas como traidor.

Bonhoeffer foi teólogo e pastor na Alemanha na primeira metade do século XX. Integrou a Igreja Confessante, movimento cristão de oposição ao nazismo, e dirigiu um seminário clandestino de formação de líderes. Foi perseguido, proibido de pregar e finalmente preso e condenado à morte.

Da experiência de convivência com o grupo de discípulos escreveu “Vida em Comunhão” e na prisão concluiu o seu livro mais conhecido, “O Custo do Discipulado”.

 

 

Disciplina

 

Se você se dispuser a procurar a liberdade

         Aprenda, acima de tudo, a disciplina, para que suas paixões

         E seus membros não o levem confusamente

         Para trás e para adiante.

Puros sejam seu espírito e seu corpo,

         Sujeitos a sua vontade e obedientes

         Para buscar o alvo para eles proposto.

Ninguém descobre o segredo da liberdade

         A não ser por meio do domínio próprio.

 

 

Ação

 

Ouse fazer o que é justo, e não o que for conveniente;

Não perca tempo com o que pode ser,

         Mas apegue-se valentemente ao que é real.

O mundo do pensamento é fuga;

         A liberdade só vem pela ação.

Caminhe para além da espera ansiosa

         E penetre na tempestade de acontecimentos,

         Conduzido apenas pelo mandamento de Deus

         E por sua fé;

         Então a liberdade clamará exultantemente

         Para dar boas vindas ao seu espírito.

 

 

Sofrimento

 

Tremenda transformação. Suas mãos fortes e ativas

         Estão agora amarradas. Impotente, sozinho,

         Você vê o fim de sua ação.

Ainda assim, você respira fundo e deposita

         Sua luta por justiça, tranquila e confiantemente,

         Em uma mão mais poderosa.

Apenas por um suave momento, você experimentou

         A doçura da liberdade, e depois a entregou a Deus,

         Para que Ele a torne plena.

 

 

 

Morte

 

Venha, agora, momento mais elevado

         Na estrada da liberdade!

Morte, rompa as poderosas cadeias e destrua

         As muralhas de nossas almas cegas,

         Para que possamos, finalmente, ver

         O que a mortalidade nunca nos permitiu enxergar!

Liberdade, quão longamente a buscamos

         Por meio da disciplina, da ação e do sofrimento!

Agora, ao morrer, contemplamos sua a face

         No semblante de Deus.

 

         Dietrich Bonhoeffer

 

 

Sobre Dietrich Bonhoeffer escreveu um de seus companheiros de prisão, o Capitão britânico Pyne Best, ateu: “ele era todo humildade e doçura; ele sempre parecia difundir uma atmosfera de felicidade, de alegria em cada pequeno acontecimento da vida, e uma profunda gratidão por apenas estar vivo. Ele foi um dos pouquíssimos homens que conheci para quem seu Deus era real e estava sempre perto dele”.

O médico do campo de concentração que testemunhou sua  morte escreveu: “ em quase cinquenta anos de medicina, nunca vi homem morrer tão inteiramente submisso à vontade de Deus”.

Fernando Sabóia Vieira
Fonte: Radical Integrity, publicado por Barbour Publishing, Inc. Usado com permissão. Poema traduzido por Fernando