terça-feira, 20 de abril de 2021

A Síndrome da Alma Encolhida Grave

A síndrome da alma encolhida grave

 

 

Queridos irmãos e irmãs, companheiros de jornada,

 

Fiquei bastante feliz com o nosso encontro geral virtual do último domingo, dia 4 de abril. Estamos passando por muitas lutas e provações, mas estamos perseverando em confiar no Senhor, na Sua bondade e no Seu consolo. E estamos fazendo isso juntos, em comunhão, cooperação e serviço mútuo, como Corpo e Família de Deus, como Igreja de Jesus.

Levamos as cargas uns dos outros, suportamos uns aos outros, perdoamos uns ao outros, socorremos uns aos outros, servimos uns aos outros, edificamos, exortamos, consolamos e animamos uns aos outros, como deve acontecer no meio da comunidade do povo de Deus. E o Senhor vai derramando mais abundantemente Sua graça e bondade.

Os vários testemunhos trazidos, dentre outros tantos que poderiam ter sido também compartilhados, revelaram fé, esperança, disposição para suportar as provações, amor ao Senhor e amor à Igreja. Seguimos juntos, falandoa verdade em amor fraternal, sem artificialidades, sem falsa espiritualidadeMostraram uma chama viva de oração, intercessão e de adoração. Estamos buscando viver a vida que o Senhor tem nos permitido viver, com esta geração, neste mundo, como discípulos de Jesus, sal e luz para os homens, enquanto aguardamos a manifestação da Sua Vinda.

Quero também trazer aos irmãos uma meditação a partir dos efeitos dessa praga maligna que nos tem acometido. 

A doença provocada por esse vírus é descrita pelos médicos como Síndrome Respiratória Aguda Grave - SARS, na sigla em inglês. Isso porque um dos seus efeitos mais danosos é provocar uma incapacitação dos pulmões, que leva a uma deficiência de oxigênio no organismo. Embora haja na atmosfera oxigênio suficiente, e mesmo que este seja provido por meios artificiais, ventiladores e tubos, a pessoa, em estado grave, não consegue captar e processar o ar oferecido. Com isso, não ocorre a troca de gases necessária na respiração e os órgãos não recebem o suficiente para funcionar, vindo, eventualmente, a falir.

Que o Senhor nos livre essa enfermidade.

No entanto, há uma doença igualmentegrave, capaz de provocar não apenas a morte física, mas também espiritual. Poderíamos, talvez, denominá-la de Síndrome da Alma Encolhida Grave. Ela é mencionada em 1ª aos Tessalonicenses 5:14, quando Paulo diz que devemos consolar os “desanimados”. Esta palavra, no original, significa, literalmente, mente ou alma diminuída, encolhida, apequenada. O efeito mais maléfico dessa enfermidade é que ela vai tornando a alma incapaz de receber a vida, o poder e a graça que são continua e abundantemente oferecidos pelo Espírito Santo.

O Espírito é repartido, concedido, derramado pelo Senhor, mas a alma encolhida não consegue absorver Sua energia e virtude. Não acontece o efeito de purificação, de troca do velho pelo novo homem, o morrer da natureza humana e a geração da divina. Vai-se produzindo na pessoa fadiga, abatimento, desânimo, tristeza, desesperança. Suas faculdades espirituais, seus pensamentos e emoções recebem cada vez menos vida de Deus e entram em processo deenfraquecimento e morte.

O que causa o encolhimento da alma? Como podemos expandir nossa alma de modo a receber toda a graça oferecida pelo Senhor por meio do Seu Espírito?

Creio que o “vírus” que encolhe a alma é, fundamentalmente, a soberba, isto é, o pecado que herdamos dos nossos primeiros pais, que nos leva ao egoísmo, a não amar a Deus e aos homens. Almas em que o Senhor não habita, não é adorado, encolhem.

Esse “vírus”, no entanto, se manifesta em variadas cepas e diversos sintomas, como a amargura, o julgamento, a falta de perdão, de misericórdia, a mesquinhez, a justiça própria, o medo, a ansiedade, a desesperança. Todas essas condições fazem encolher nossa alma e não permitem que ela se beneficie da vida que nos é continuamente comunicada pelo Espírito Santo.

Por outro lado, o amor a Deus e ao próximo, o perdão, a bondade, a generosidade, a misericórdia, o serviço, a fé, a confiança no Pai expandem nossa alma e nos levam a experiências com a graça de Deus que nos possibilitam receber mais plenamente a vida e o poder que nos são comunicados pelo Espírito Santo. 

Amados, nosso tratamento preventivo e precoce contra essa enfermidade é perseverar nessas coisas e buscarmos ser nelas diligentes, cada um de nós em nossa comunhão particular com o Senhor, e todos juntos, em auxílio recíproco, pois é no Corpo que a plenitude de Deus se revela e, assim, expandirmos nossa alma.

O Espírito Santo é o sopro, o hálito de Deus. Nas línguas bíblicas, usa-se a mesma palavra para espírito e vento, sopro, tanto no hebraico quanto no grego. Ele é a manifestação e a transmissão da vida do Pai, do Seu poder, da Sua natureza. Nossa alma foi criada para receber esse influxo e ser vivificada, transformada à Imagem do Criador e Sustentador de tudo. Vamos, assim, perseverar na confiança em Deus, na busca do Seu Reino e na comunhão dos santos.

Finalmente, queridos irmãos e irmãs, quero dizer que vocês têm sido grande manifestação da graça e da bondade de Deus nas nossas vidas.

Que a suficiente e poderosa graça de Jesus seja com todos.

Seu conservo,

 

Fernando Saboia

Brasília, abril de 2021, AD.

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Sessenta Anos

 

I

 

 

Eu sou um lugar solitário

Num mundo esquecido

Onde caminho sozinho

Cercado de ausências 

E de silêncios

 

Eu sou um momento de passagem

Por onde transitam seres e almas

E raramente descanso

Em meio a suas falas, sons

E alaridos

 

Eu sou um lugar

Onde o Espírito vem morar

E passear

E me tirar da solidão 

Eu sou um momento

Em que o Espírito vem fluir

E preencher

E me falar em todas as línguas 

E silêncios

 

II

 

Não mais me perco

No mundo

Com suas sombras e aparências 

Não mais me perco

No tempo

Com suas curvas e saliências 

 

Hoje somente me perco

Dentro de mim

Entre sombras e memórias

Pensamentos emocionados

Sentimentos desidratados

Entre vidas e histórias

 

Mas não me pergunte nada

Apenas venha aqui e talvez

Nos encontremos

No mundo e no tempo

Eu com você, você comigo

Perdidos e achados

Esquecidos e encontrados

 

III

 

Minha vida começou

Em preto e branco

Em fotografias de ocasião

Em álbuns silenciosos

 

- Mas bem me lembro

Que o mundo sempre teve cores

E músicas!

 

Depois as fotos e os filmes

Ganharam cores e sons

Mas quanto mais se coloriam

E se musicavam

Mais o mundo se acinzentava

E se calava

 

- Então, eu fui guardando

Cores nas palavras

Escondendo sons em poesias

Para colorir e musicar

A vida e o mundo das crianças

Que ainda haveriam de nascer 

 

IV

 

Quando entendi a jornada

E me alegrei com a última curva

Se avizinhando no horizonte

O caminho se me fez mais suave

Os dias mais amenos

E as noites mais amigas

 

Os ventos vão, e eu vou com eles

As águas fluem e eu fluo com elas

O planeta gira, passeia

E eu com ele giro, passeio

 

No dia em tudo tiver que ser

Tudo será

Na límpida manhã

Dos novos céus e terra


 

Fernando Saboia Vieira