segunda-feira, 19 de abril de 2021

Sessenta Anos

 

I

 

 

Eu sou um lugar solitário

Num mundo esquecido

Onde caminho sozinho

Cercado de ausências 

E de silêncios

 

Eu sou um momento de passagem

Por onde transitam seres e almas

E raramente descanso

Em meio a suas falas, sons

E alaridos

 

Eu sou um lugar

Onde o Espírito vem morar

E passear

E me tirar da solidão 

Eu sou um momento

Em que o Espírito vem fluir

E preencher

E me falar em todas as línguas 

E silêncios

 

II

 

Não mais me perco

No mundo

Com suas sombras e aparências 

Não mais me perco

No tempo

Com suas curvas e saliências 

 

Hoje somente me perco

Dentro de mim

Entre sombras e memórias

Pensamentos emocionados

Sentimentos desidratados

Entre vidas e histórias

 

Mas não me pergunte nada

Apenas venha aqui e talvez

Nos encontremos

No mundo e no tempo

Eu com você, você comigo

Perdidos e achados

Esquecidos e encontrados

 

III

 

Minha vida começou

Em preto e branco

Em fotografias de ocasião

Em álbuns silenciosos

 

- Mas bem me lembro

Que o mundo sempre teve cores

E músicas!

 

Depois as fotos e os filmes

Ganharam cores e sons

Mas quanto mais se coloriam

E se musicavam

Mais o mundo se acinzentava

E se calava

 

- Então, eu fui guardando

Cores nas palavras

Escondendo sons em poesias

Para colorir e musicar

A vida e o mundo das crianças

Que ainda haveriam de nascer 

 

IV

 

Quando entendi a jornada

E me alegrei com a última curva

Se avizinhando no horizonte

O caminho se me fez mais suave

Os dias mais amenos

E as noites mais amigas

 

Os ventos vão, e eu vou com eles

As águas fluem e eu fluo com elas

O planeta gira, passeia

E eu com ele giro, passeio

 

No dia em tudo tiver que ser

Tudo será

Na límpida manhã

Dos novos céus e terra


 

Fernando Saboia Vieira

 

 

 


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