quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

SOBRE O SILÊNCIO

    No silêncio do coração, Deus fala.  Se você se colocar diante de Deus em oração e silêncio, Deus falará com você. Então você saberá que você não é nada. Somente quando você perceber sua vacuidade, seu vazio, é que Deus poderá encher você com Ele mesmo. Almas de oração são almas de grande silêncio.
    Nós não podemos nos colocar diretamente na presença de Deus se nós não praticarmos o silêncio interior e exterior.
    No silêncio nós encontramos nova energia e verdadeira unidade. O silêncio dá um novo olhar sobre todas as coisas.
    O essencial não e o que nós dizemos, mas o que Deus diz a nós e através de nós. Naquele silêncio, Ele nos ouvirá; lá Ele falará a nossa alma, e lá ouviremos Sua voz.
    Ouça em silêncio porque se seu coração estiver cheio de outras coisas você não poderá ouvir a voz de Deus. Mas quando você tiver ouvido a voz de Deus no recesso do seu coração, então seu coração se encherá de Deus.
    Os contemplativos e ascetas de todas as épocas e religiões buscaram a Deus no silêncio e na solitude dos desertos, florestas e montanhas. Jesus mesmo gastou quarenta dias no deserto e na montanha, em longas horas de comunhão com o Pai no silêncio da noite.
    Nos também somos chamados a nos retirarmos de tempos em tempos para um silêncio mais profundo e para estarmos a sós com Deus, juntos, como comunidade, e também pessoalmente. Para estarmos a sós com Ele – não com nossos livros, pensamentos e memórias, mas completamente despidos de tudo – para habitar amorosamente em Sua presença, silenciosos, vazios, expectantes e em repouso. Não podemos encontrar Deus no barulho e na agitação.
    Na natureza encontramos silêncio – as árvores, flores e grama crescem em silêncio. As estrelas, a lua e o sol se movem em silêncio.
    O silêncio do coração é necessário para que possamos ouvir a Deus em todo lugar – numa porta que se fecha, na pessoa que precisa de nós, nos pássaros que cantam, nas flores e nos animais.
    O que é essencial não é o que nós dizemos, mas o que Deus nos diz e o que Ele diz a outros por meio de nós. No silêncio Ele nos ouve, no silêncio Ele fala com nossa alma. No silêncio nos é concedido o privilégio de ouvir a Sua voz.
   

    Para que o verdadeiro silêncio interior seja possível, pratique:

    - Silêncio dos olhos, buscando ver apenas a beleza e a bondade de Deus em toda parte, e fechando-os para as faltas dos outros e para tudo o que é pecado e perturbação para a alma;

    - Silêncio dos ouvidos, ouvindo sempre a voz de Deus e o clamor dos pobres e necessitados, e fechando-os para todas as outras vozes que vêm da natureza humana caída, como fofocas, murmurações e palavras sem amor;

    - Silêncio da língua, louvando a Deus e falando a Palavra vivificante de Deus que é a verdade que ilumina, inspira, traz paz, esperança e alegria e abandonando a auto defesa e toda palavra que produz escuridão, tumulto, dor e morte;

    - Silêncio da mente, abrindo-a para a verdade e o conhecimento de Deus em oração e contemplação, como Maria que ponderava as maravilhas do Senhor no seu coração, e fechando-a para toda falsidade, distrações, pensamentos destrutivos, julgamentos apressados, falsas suspeições dos outros, pensamentos de vingança e desejos;

    - Silêncio do coração, amando a Deus com nosso coração, alma, mente e força; amando uns aos outros como Deus ama; e evitando todo egoísmo, ódio, inveja, ciúme e cobiça.


     Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), “In the Heart of the World”.

    Tradução: Fernando Sabóia Vieira