sábado, 28 de agosto de 2010

presença



só em Deus meus pensamentos
se aquietam,
se não em respostas
mas na Presença

o silêncio de Deus
é poderoso
como as entranhas do Universo
pleno e fecundo
como as colisões galácticas

é o prelúdio da Criação
a aurora dos Tempos
uma pausa entre os Mundos
que foram
e os que hão de ser...

Fernando Sabóia, de "Crônicas do Caos"



quarta-feira, 25 de agosto de 2010

UM POUCO DE PAUL TOURNIER (1898-1986)

Paul Tournier

Médico-Psicólogo, nascido em Genebra, Suíça. De confissão Evangélica, fundou e militou o movimento "Medicina da Pessoa". É autor das obras: Bíblia e Medicina, Desarmonia da Vida Moderna, Medicina da Pessoa, Da Solidão à Comunidade, Os Fortes e os Fracos, Envelhecer é uma Arte, O Segredo, Violência e Poder, A Personagem e a Pessoa.
Obtida de "http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Tournier"


MEDICINA DA PESSOA


Artigo escrito por Paul Tournier, a pedido de Suzanne Fouché, para os Cadernos de l’ADAPT (1).


Nós pertencemos a dois mundos, o mundo das coisas e o mundo das pessoas. Bem entendido, não se trata senão do mesmo e único mundo. Mas isso depende de nossa visão, de nossa maneira de o observar por fora ou de o sentir por dentro. Ou, se preferirmos, por detrás ou por adiante, face ou coroa. A face, é a pessoa.
Quando se diz que Javé conhecia Moisés face a face, não é uma questão do Deus dos filósofos, de um conceito, de uma idéia, por mais elevada que seja, mas trata-se de um Deus pessoal, vivo, que fala e ao qual pode-se responder; e que nossa resposta não consiste mais em idéias, mas na nossa pessoa. O face a face é o encontro pessoal, uma comunidade verdadeira, que é, como disse Emmanuel Mounier, uma pessoa de pessoas.
É essa comunidade, essa necessidade de comunidade, que eu quero invocar aqui, um vínculo direto, autêntico, de pessoa a pessoa. Quando São Francisco de Assis conversava com o “irmão sol”, ele não conversava mais com o sol dos astrônomos e dos físicos, mas ele personificava o sol, se dirigia a ele como a uma pessoa, fazia dele uma pessoa. Esses dois modos de se relacionar são, certamente, igualmente legítimos: os astrônomos e os físicos são necessários, e toda a ciência. Mas eles apenas nos trazem um aspecto do mundo: há duas vias para o conhecimento, a da inteligência e a do coração.
Foi o filósofo Martin Buber, recém-falecido, que exprimiu essa dupla abordagem colocando a relação “Eu-Tu” em oposição à relação “Eu-aquilo”. Na relação “Eu-aquilo”, o Eu relação “Eu-Tu”, ele se engaja pessoalmente na direção de um outro sujeito. Para se fazer compreender, Martin Buber nem mesmo escolheu o exemplo de um homem, mas o de uma árvore.
Essa árvore pode ser observada por um sábio, que estudará seus órgãos, suas funções, acumulará conhecimentos a seu respeito. Ela pode, diz ele, também ser observada por um artista, que detalhará os efeitos da luz em suas folhas e a bela escultura do seu tronco. Mas ela permanece ainda assim separada dele, pela objetividade de seu olhar. Ao contrário, ele pode falar com essa árvore, ele pode lhe dizer “Tu”, mesmo silenciosamente, e, dessa forma, fazer dela uma pessoa, ele pode se ligar a ela pessoalmente.
É pelo encontro pessoal que nós nos tornamos uma pessoa e que nós fazemos do outro também uma pessoa. A criança logo toma consciência de ser uma pessoa quando seus pais a tratam como uma pessoa, quando eles, por exemplo, lhe perguntam: “o que você mesmo pensa disso?” ou invés de lhe dizer: “devemos fazer isso ou aquilo”. Ele se dá conta de que ele deverá assumir sua vida como uma pessoa responsável ao invés de a suportar passivamente, de que a pessoa é sempre singular, enquanto que o “nós” é sempre plural.
Mas nós estamos todos mergulhados, como dizia Emmanuel Mournier, neste “mundo do nós”. Nós somos todos cordeiros de nossa civilização técnica e racional. Toda nossa formação escolar, universitária, profissional e social nos condiciona à objetividade. Se nossas duas visões do mundo são complementares, a do coração está muito atrasada em relação àquela da inteligência.
E se nós podemos considerar o sol ou uma árvore como uma pessoa, podemos também estudar o homem como uma coisa, um objeto. Devemos até mesmo encará-lo como um objeto para elaborar as ciências humanas, a anatomia, a fisiologia, a patologia, a psicologia, a etnologia, a sociologia. Mas então nós o “coisificamos”. Esse termo é de Pégny, creio, de onde sabemos a influência que ele teve sobre Emmanuel Mournier. Deveríamos citar Pascal, Camus, Saint-Exupéry e muitos outros pensadores que sentiram o perigo da perda daquilo de mais humano que existe no homem, o significado da pessoa, por meio de manipulá-lo como uma coisa.
Mas não se trata apenas da influência de nossos estudos e de nossa rotina intelectual, mas trata-se de toda a mentalidade de nossa civilização técnica, que faz do homem um instrumento de produção, que o reduz a não mais do que uma engrenagem anônima na grande máquina socio-econômica. Que o homem do nosso tempo o sente, que ele o sofre, que um pesado sentimento de solidão o invade, mesmo no meio da multidão atarefada, isso me parece evidente.
E uma vez que a doença o conduza a um encontro face a face com o médico, o enfermeiro e o assistente social, eficientemente colocados a postos por essa máquina bem lubrificada que é a medicina técnica, ele arrisca se sentir mais um caso do que uma pessoa, uma vez que ninguém se ocupa senão, precisamente, do seu caso, das radiografias, dos exames de laboratório e do diagnóstico científico. E se seu caso for de difícil elucidação, ele desfrutará da atenção que desperta nos sábios que o examinam, mas percebe que o interesse deles está no problema científico suscitado, e não em sua pessoa.
Mas trata-se, ainda assim, de nós mesmos, condicionados por nossa rotina profissional, especialistas nesse mundo das coisas onde nos enclausura a ciência, reduzidos a nossa função, técnicos hábeis, mas totalmente inabilitados para voltarmos a ser simplesmente homens. Assim, numa reunião de médicos, vejo algum especialista eminente, que poderia, sem qualquer esforço, nos fazer uma conferência científica, ficar completamente embaraçado se eu lhe peço que nos fale de sua vida pessoal, não na forma de um currículo, mas com a emoção de quem viveu e revive ao recordar.
Nós temos, então, diante dos doentes e, de resto, de qualquer homem, uma dupla tarefa. É bem claro que nossa tarefa técnica é primordial. Esse imenso poder que constitui a ciência, ela nos foi ensinada para curar as doenças, esse é o nosso primeiro dever. Está fora de questão subestimarmos sua importância. Mas a sabedoria secular consagrou a divisa: “curar, às vezes; aliviar, freqüentemente; consolar, sempre.” Ora, consolar não se aprende na Faculdade. Mas isso também contribui para a cura.
Todos os médicos sabem da influência do “moral” no curso da cura. Eles também se esforçam para manter o moral. Nesse sentido, aparentam uma certa jovialidade que é benfazeja, mas que não vai muito longe porque o doente pode logo sentir que está sendo tratado como criança e não como uma pessoa responsável, o que dificilmente o estimula a confidências profundas. Ou então demonstra um otimismo que nem sempre é sincero, na idéia de que o “moral” depende apenas de uma cega confiança na cura. Os doentes são menos enganados por tal manobra do que pensam os médicos.
Nossa tarefa é dupla porque dupla é a necessidade dos enfermos, necessidade de tratamento científico o mais eficaz possível e necessidade de não estar sozinho durante a provação. E se o doente percebe que o otimismo de seu médico é falso, ele se sente ainda mais solitário diante dos problemas morais que deve enfrentar na provação da doença. Toda enfermidade traz consigo um cortejo de renúncias difíceis de aceitar, algumas das quais se tornarão definitivas, mesmo após a cura clínica.
Toda revolta e um fator de agravamento, toda a aceitação, um fator de cura. Mas a aceitação é dura. O que pode contribuir para isso? Eu creio que, sobretudo, se sentir compreendido. Pode-se aceitar tudo quando não se está só. E é sempre difícil para alguém saudável compreender verdadeiramente o enfermo, assim como para o rico compreender o pobre, a pessoa feliz a infeliz.
Um doente pode me dizer: “eu confio em você, porque você me compreende”. E isso antes que eu tenha compreendido qualquer coisa sobre o seu caso. Ele percebe então que se sente compreendido como pessoa, e não caso. Há, pois, dois sentidos para a palavra compreender, conforme se considere o caso ou a pessoa. E a medicina da pessoa, penso, consiste nessa dupla atenção ao caso e à pessoa.
Não se trata, me parece, de acumular todas as ciências em busca de uma síntese inatingível. Nem mesmo de agregar às ciências do corpo a psicologia, que permanece como um conhecimento objetivo. Mas, sim, de ser, ao mesmo tempo, homem de ciência e apenas homem, simplesmente homem, apto ao contato pessoal, à relação pessoa a pessoa.
Mas seria subestimar gravemente a importância dessa relação pessoal ver nela apenas um meio de retirar de sua solidão moral e de consolá-lo na sua provação. A questão é muito mais ampla: é torná-lo uma pessoa, não apenas uma coisa insignificante, jogada de um especialista a outro, e que só espera socorro de fora, daquilo que fazem com ele. É arrancá-lo de sua passividade e fazer um apelo a sua colaboração ativa no tratamento, a que ele assuma a responsabilidade sobre si mesmo.
A tarefa do médico é, a princípio, curar, mas é também ajudar os homens a crescerem como pessoas, a enfrentarem seus problemas, a se desenvolverem plenamente. Isso implica considerá-los como parceiros idôneos, parceiro no diálogo e na ação. Não objetos, mas sujeitos. Isso implica, especialmente, explicar-lhe o que vai ser feito com eles como a pessoas livres e responsáveis.
Na relação objetiva só há assimetrias: o médico é saudável e sábio, o doente é ignorante e impotente. Na relação pessoal há simetria, reciprocidade, solidariedade, igualdade entre pessoas, pois o médico é também uma pessoa que se esconde, muito freqüentemente, sob sua roupa branca, assim como o padre pode se esconder sob a batina. Negro ou branco, o hábito é, ao mesmo tempo, um sinal e um álibi, um sinal da função e um álibi da pessoa.
O médico é também uma pessoa, com suas alegrias e tristezas, seus conflitos e amores, suas esperanças e decepções, suas revoltas e inclinações. Também com seus remorsos: C.G. Jung teve um sonho que lhe mostrava que na véspera ele havia tido uma atitude de julgamento em relação a uma doente, julgamento que ele havia cuidadosamente escondido. Ele teve, então, a coragem de contar a essa enferma o sonho e seu significado. Habitualmente, são os pacientes que contam seus sonhos ao psiquiatra, e não o inverso. Mas esse incidente tão pessoal logo mudou o clima do relacionamento. Reciprocidade.
Freqüentemente é uma pequena confidência irrefletida do médico que quebra o gelo, que revela ao doente que está ali não apenas um técnico, mas um homem. Freqüentemente também é um simples olhar, por sua maneira de chamar pelo seu nome e não pelo de sua doença, por sua simplicidade ou pela emoção do aperto que mão que o paciente sente que está se relacionando não apenas com um personagem importante, mas com uma pessoa autêntica.
Sim, parceiros no diálogo. Mas não é raro que o diálogo desemboque, cedo ou tarde, em problemas que afligem o médico tanto quanto o paciente: o sentido do sofrimento, da doença e do mal, a injustiça da vida e da sociedade, o significado da existência, sobretudo quando ela é reduzida pela doença ou não tem outra perspectiva além da morte. O médico pode se furtar, mesmo habilmente, com uma brincadeira ou citando um provérbio banal que não resolve nada; ou pode dizer humildemente: “sabe, eu não sou filósofo nem teólogo, é melhor você se dirigir a alguém mais qualificado do que eu.”
Mas isso rompe o diálogo, o laço de confiança que começava a se estabelecer, do qual o enfermo tem tão grande necessidade. Na verdade, tanto quanto fica o médico à vontade no domínio científico fica ele tímido em falar de suas experiências pessoais, de suas convicções, de sua concepção de vida, humilhado, talvez, por saber tão pouco sobre essas coisas ele mesmo.
Isso é nos limitarmos a oferecer cuidados e nos recusarmos a dar de nós mesmos, como somos, com nossas certezas e nossas dúvidas, nossa vivência pessoal, com suas luzes e sombras.

(1) ADAPT - Association pour l’Insertion Sociale et Professionalle des Personnes Handicapées (www.adapt.net)

Paul Tournier

Tradução: Fernando Sabóia Vieira

sábado, 21 de agosto de 2010

Eu Sou

uma parte de mim
eu mostro
nas minhas palavras
e gestos cotidianos

uma parte de mim
eu escondo
contando estórias
e fazendo sonhar

tudo o que eu sou
eu revelo
e escondo
na audácia
e na timidez
dos meus versos

na nudez ambígua
da minha alma,
a fluidez
do meu ser consciente

na incerteza
das minhas certezas,
a dor
da minha fé

esse ser mendigo
pedinte, inacabado
perplexo, maravilhado
que eu sou


Julho de 2010, aD
Fernando Sabóia

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

A Ciência Política, a Fé Cristã e a Criação de Mundos


Fernando Sabóia Vieira

Uma palavra para jovens formandos em Ciência Política, em fevereiro de 2009.


Enquanto as chamadas ciências naturais lidam com fatos e fenômenos tidos como objetivos, partes de uma realidade dada como presente e passível de ser conhecida, a Ciência Política tem como objeto de estudo ações e relações humanas que se situam entre dois mundos: o mundo natural, histórico, que ela pretende explicar e influenciar e um mundo ainda não existente, que ela pretende construir com suas intervenções.

Toda ação política tem, assim, algo de normativo e de crença, pois representa a busca de transformar a realidade existente numa que ainda não existe, senão nos espíritos dos homens.

Desse modo, a Ciência Política não trata de relações sociais que visam apenas a obtenção, manutenção e utilização do poder com a finalidade de solucionar problemas e superar obstáculos ao desenvolvimento civilizatório. Essas ações humanas operam sempre num plano de utopia, pois se dirigem à construção de algo diferente das experiências anteriores, embora vinculado a elas.

A utopia política pode ser de um só homem, de uns poucos, de muitos ou mesmo de todos os que compartilham determinado território, cultura e história.

Mais do que meramente explicar, trata-se de prescrever, de implementar valores, de conquistar, de realizar sonhos.

Aqui encontramos um ponto de contato e de tensão entre a Ciência Política e a Fé cristã, na reflexão e vivência da Igreja, entendida como família de Deus na Terra.

A fé cristã, a revelação do Reino de Deus, faz com que a Igreja também se mova entre dois mundos: o dos homens, natural, visível, transitório; e o de Deus, sobrenatural, invisível, eterno.

Semelhantemente à Política, não pretende a Igreja apenas explicar o mundo e as relações sociais, mas entende ser sua missão ter uma ação criadora, que transforme a realidade existente numa que ainda não existe, ou melhor, numa que está sendo construída.

Ao longo da história houve muitos momentos de confusões e de falsas alianças entre a Política e a Igreja, com a utilização espúria de uma pela outra, uma vez que elas compartilham um elemento essencial para ambas, que é o poder.

A Igreja, por vezes, cedeu à tentação de usar o poder temporal para expandir sua influência, sem se dar conta de que os resultados assim obtidos nada tinham a ver com sua obra espiritual; e a Política, por sua vez, sempre teve na religião um de seus tentáculos para controlar a sociedade e realizar propósitos seculares e humanos, à revelia de Deus.

A expressão máxima desse vínculo profano entre Igreja e Política é representado pela figura de Babilônia, que remonta à antiga Babel, primeiro símbolo da utopia humana independente de Deus, cujo desfecho podemos prever na descrição do Apocalipse.

Política e Igreja têm, no entanto, propósitos e caminhos muito diferentes.

A Política visa realizar as utopias humanas, a Igreja vive para anunciar e implementar o Reino de Deus. A Política se vale da expressão temporal do poder, utilizando-se da força, da economia, das várias formas de dominação e opressão; a Igreja só pode cumprir sua missão valendo-se do poder espiritual, sobrenatural do Espírito, que se exerce com serviço, amor, submissão. A Política quer transformar relações sociais, mudar comportamentos; a Igreja pretende produzir novos homens, nascidos de novo, transformados interiormente.

Vocês que escolheram a Ciência Política como campo de estudo e de atuação profissional saibam que mais do que transformadores da sociedade e construtores de civilizações devem ser, como discípulos de Jesus, transformadores de homens e construtores do Reino de Deus.

Terão, no entanto, um belo espaço para testemunho e proclamação, pois as utopias e as crenças são essenciais para os homens, que têm incutida na alma a aspiração pelo justo, pelo belo, pelo perfeito, pelo grandioso, pela glória.

A Igreja só não pode ceder à tentação de pregar o que as pessoas querem ouvir, de profetizar ilusões. Temos que anunciar o Reino de Deus, com todas as suas exigências e promessas.

A exortação que lhes trago hoje não é mais do que um eco de lição dos mestres da Igreja, dentre os quais se destaca Santo Agostinho, cujas palavras reproduzo como fecho dessa mensagem:

"Dois amores construíram duas cidades, a saber: o amor próprio, levado até ao desprezo de Deus, fundou a cidade terrena; o amor a Deus, levado até ao desprezo de si mesmo, construiu a cidade celestial.

A primeira gloria-se em si mesma e a segunda em Deus. Aquela busca a glória dos homens e esta a glória de Deus. Naquela, seus príncipes e as nações vêem-se sob o jugo da concupiscência do domínio; nesta, servem em mútua caridade, os governantes, aconselhando, e os súditos, obedecendo.

Aquela ama sua própria força; esta diz a seu Deus: A vós amarei, Senhor, que sois minha fortaleza. Naquela seus sábios vivem segundo o homem e crendo-se sábios, quer dizer orgulhosos de sua própria sabedoria tornaram-se néscios e adoraram e serviram a criatura e não ao Criador. Nesta, pelo contrário, não há sabedoria humana mas piedade, que funda o culto legítimo ao verdadeiro Deus, à espera do prêmio na sociedade dos santos, de homens e de anjos, com o fim de que Deus seja tudo em todas as coisas" (Agostinho, “A Cidade de Deus”).

Que a Graça de Jesus seja sempre com vocês.


Fernando Sabóia Vieira, "O Inventor de Mundos"

terça-feira, 17 de agosto de 2010

UM POUCO DO Sadu SUNDAR SINGH (1889-1929?), Texto 2

O Apóstolo dos Pés Sangrentos

O MISTÉRIO DA CRUZ E DO SOFRIMENTO – Parte 2
Por Sadu SUNDAR SINGH



O discípulo: Senhor, o que significa a cruz? Por que há tanto sofrimento e males no mundo?


O Senhor:

1. Quando o frio faz com que as folhas caiam, as árvores parecem haver perdido todo o vigor e toda a vida.
Mas, com o retorno da primavera, folhas novas aparecem, logo seguidas de charmosas flores, que por sua vez são seguidas de frutos deliciosos. Da mesma maneira, minha morte na cruz é seguida de minha ressurreição e o mesmo ocorre àqueles que, fielmente, tomam a sua cruz.
2a aos Coríntios 4:8-11; 6:4-10.

2. Curvados sob a cruz, eles parecem mortos e, no entanto, produzem uma magnífica floração de perfume penetrante e, depois, para a vida eterna, um fruto glorioso que durará para sempre.
Podando e enxertando uma árvore selvagem, fazemos sofrer ao mesmo tempo a árvore boa e a brava para que esta possa vir a dar um fruto agradável e nutritivo. Do mesmo modo, para que uma vida inútil e malfazeja possa ser marcada de tal modo que se torne uma vida purificada pelo Espírito de Deus, é necessário que meus discípulos comecem por suportar, a meu exemplo, o sofrimento da cruz, para que se tornem depois capazes de produzir um fruto bendito, demonstração do amor e da glória de Deus.

3. Se o mundo os odeia e os persegue, não fiquem com isso nem surpresos e nem preocupados; pois aqui não é para vocês um lugar de repouso, mas um campo de batalha. Antes vos digo, “Ai de vocês quando o mundo falar bem de vocês”, pois essa seria a prova de que vocês se teriam adaptado a seus hábitos maus e pervertidos. De fato, é perfeitamente contrário a sua natureza louvar e ajudar meus filhos; não pode haver comunhão da luz com as trevas. E mesmo se por vezes as pessoas do mundo agradam vocês, contrariando seus verdadeiros sentimentos, com o único propósito de prevalecerem, haverá nisso um grande perigo para vocês. O crescimento de vocês poderá cessar e seu serviço esmorecer.
Apoiar-se no mundo e nas pessoas do mundo é edificar sobre a areia pois se hoje eles parecem elevar vocês e conduzi-los em triunfo, amanhã eles esmagarão vocês no chão, até que não reste um traço sequer de suas vidas. O que é do mundo é sempre incerto e fugidio... Quando eu entrei em Jerusalém durante a festa, todos exclamavam a uma só voz: “Hosana, hosana” (Mateus 21:9), e, três dias depois, quando perceberam que todas as minhas palavras denunciavam suas vidas egoístas e culpáveis, eles se voltaram contra mim e começaram a gritar: “Crucifica-o, crucifica-o” (Lucas 23:21).

4. Se até mesmo os irmãos na fé se colocarem contra vocês, por não os compreenderem, e lhes causarem assim sofrimento, vocês devem ser agradecidos por isso.
Lembrem-se de que Deus mesmo, que todos os espíritos celestes, os anjos e os santos estão com vocês, para ajudá-los a cumprir suas tarefas com justiça e fidelidade, seguindo a inspiração do Espírito Santo.
Não percam a coragem! Aproxima-se o tempo em que todas as suas boas resoluções e desígnios de amor puro e desinteressado serão tornados manifestos aos olhos de toda a criação, assim como a glória eterna a que vocês farão jus pelo seu labor e seu serviço de amor. Eu também, para salvar a humanidade, tive que renunciar a tudo, ser abandonado por todos, antes de alcançar uma vitória completa final. Por que vocês se perturbam se o mundo os abandona? Deus mesmo não foi por ele abandonado? É por meio dessas tribulações que vocês se tornam filhos de seu Pai que está nos céus.

5. Não imaginem que as pessoas que vivem no luxo e que aparentemente são bem sucedidas em todas as coisas desta vida sejam adoradoras de Deus.
Em verdade, freqüentemente sucede o contrário. É muito provável que essas ovelhas que ao longo dos anos encontram abundantes pastagens em lugares afastados, longe do aprisco e do pastor, estejam em constante perigo de serem destroçadas pelas feras selvagens, que um dia as devorarão. Aquelas que permanecem no aprisco, perto do pastor, mesmo quando parecem fracas e claudicantes, estão ao abrigo de qualquer perigo, tranqüilas sob a guarda do pastor. Assim acontece também com freqüência neste mundo, no que concerne aos incrédulos e fiéis.

6. À primeira vista, pode parecer que não há diferença perceptível entre a vida do crente e a do incrédulo e no entanto chega um momento em que uma profunda diferença, uma grande mudança aparece como, por exemplo, para a serpente e para a larva da seda.
A serpente muda freqüentemente de pele e continua sempre uma serpente, sua natureza não se modifica. A larva da seda, ao contrário, uma vez que se desvencilha do seu casulo, se torna uma elegante borboleta que se lança pelos ares. Do mesmo modo, o crente, uma vez desvencilhado de seu corpo mortal, voa para o céu para lá permanecer para sempre com um corpo glorioso, enquanto que o pecador, após sua morte, permanece para sempre um pecador. (Apocalipse 22:11)
Veja-se ainda a larva da seda: aprisionada em seu casulo, ela deve lutar, fazer grandes esforços, como na experiência da cruz; mas essas lutas e sofrimentos têm o objetivo de tornarem suas asas mais fortes e de prepará-la para sua vida futura, aumentando seu vigor. Assim, meus filhos, em suas lutas contra a concupiscência de seus corpos mortais, nos seus combates espirituais, aspiram pela redenção (Romanos 8:23) mas é por essa disciplina da cruz que eu os fortaleço e lhes dou uma perfeita preparação para sua vida futura.

7. Muito freqüentemente, em meio a essas experiências que os crucificam e a essas lutas espirituais eu concedo àqueles que me amam uma paz real e maravilhosa, para que eles não desfaleçam em suas almas.
Por exemplo, um mártir fiel após haver dado testemunho sobre mim tanto por sua vida quanto por suas palavras, foi um dia tomado por seus inimigos e suspenso pelos pés numa alta árvore. E, no entanto, seu coração estava tão repleto de alegria e de paz que ao invés de ter consciência do que estava sofrendo ou de se sentir humilhado de estar em tal posição, ele disse àqueles que o cercavam: “não estou de modo algum surpreso nem abalado por vocês me tratarem assim. O que esperar do mundo e daqueles que a ele pertencem? Esse mundo está de cabeça para baixo e todas as suas obras também. Ele não pode suportar a visão das coisas normais; é por isso que ao me verem de pé, vocês, para serem coerentes com vocês mesmos, me colocaram de cabeça para baixo. Lembrem-se, no entanto, que não sou eu que estou invertido, como vocês imaginam me terem colocado. Aos olhos de Deus eu estou de pé. Do mesmo modo que numa lanterna mágica, a lente é colocada invertida e reflete a imagem na tela na posição correta. Assim eu, que aos olhos do mundo estou suspenso de cabeça para baixo, estou sempre de pé diante de deus e diante dos habitantes dos céus. Graças a Deus por essa bendita cruz”.

8. Para certos crentes, é muito simples serem perseguidos, passarem pelo martírio e morrerem por amor ao meu nome.
Mas eu também preciso de testemunhas que saibam viver morrendo cada dia e salvando seus irmãos, graças a seu espírito de sacrifício e de renúncia a si mesmos (1a aos Coríntios 15:31)
Num certo sentido, é fácil morrer por mim. Viver por mim é mais difícil, pois aí não se trata de morrer de uma vez por todas, mas de morrer de novo cada dia. Aqueles que estão prontos para morrerem por mim agora viverão na minha glória para sempre e sua alegria será perfeita.

9. A dor, o sofrimento e os padecimentos se elevam como um nevoeiro cujas nuvens escondem aos seus olhos, por um tempo, os raios do Sol da justiça. Não se assustem com isso. Essas nuvens de sofrimento ao final despejarão sobre vocês uma abundante chuva de alegria infinita e de bênçãos. E então o Sol da justiça brilhará para sempre. (Jeremias 16:20-22)


Fonte:
www.enseignemoi.com/.../le-mystere-de-la-croix-et-de-la-souffrance.html
Tradução:
Fernando Sabóia Vieira

terça-feira, 10 de agosto de 2010

crepusculares, o amanhecer

agora já é muito tarde e só resta
contar essas belas histórias
que também ficaram tão longas
tão distantes e tão tristes

vamos deixar a noite
e a madrugada
tudo envolverem no seu abraço
frio, nos seus sonhos inquietos

até que a estrela da manhã
acorde o dia, reinvente o tempo
e emocione a todos

e, finalmente juntos, vamos
saudar os novos astros e andar
descalços, com o vento no rosto

agosto de 2010
Fernando Sabóia

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Dia dos Pais

Poema para o Pai e para os pais

“Certo homem tinha dois filhos...o filho mais novo...partiu para uma terra longínqua...” Lucas 15:11-13


O filho partiu
e o Pai permaneceu lá.
Moído de compaixão e de saudades,
Ele estava lá.

Todos os dias,
os olhos envelhecendo
na curva do Caminho,
Ele estava lá.

Não podia ir buscá-lo,
pois a distância não era
a dos passos,
senão a do coração.

Mas Ele estava lá.

Um dia, talvez, por vergonha,
medo ou necessidade,
por tristeza ou saudade,
ele havia de se lembrar
de que o Pai estava lá,
e acharia o Caminho
de volta.

E Ele estaria lá.

Os pais não precisam ser
homens excepcionais.
Apenas precisam aprender,
com o Pai,
a estarem lá,
sem distâncias no coração,
com a esperança renovada
na persistência do amor.

O lar não é um lugar.
O lar é um abraço.


Brasília, em 13 de agosto de 2000, AD, dia dos pais.
Fernando Sabóia