quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

 “Cura-me, e serei curado; salva-me e serei salvo, porque tu és o meu louvor” 

 

Jeremias 17:14

 

 

Jeremias, profeta de uma geração enferma

 

 

“Cura-me, e serei curado, salva-me e serei salvo; porque tu és o meu louvor”

 

         Jeremias viveu numa época de profunda crise no Reino de Judá, que culminaria com o exílio na Babilônia. As causas dessa situação crítica estavam na decadência espiritual, moral e política dos governantes e do povo, proliferando a corrupção, a imoralidade, a opressão social e a idolatria.

         O juízo de Deus se tonava iminente e seria implacável, e cabia ao profeta advertir as autoridades e as pessoas quanto a isso.

 

         Jeremias 2:13 – “Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas”.

 

         Jeremias 5:1-9; 30-31 – “Coisa espantosa e horrenda se anda fazendo na terra: os profetas profetizam falsamente, e os sacerdotes dominam de mãos dadas com eles; e é o que deseja o meu povo”.

 

         Jeremias 6:12-14 – “... e tanto o profeta como o sacerdote usam de falsidade. Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz”.

 

         Sacerdotes e profetas estavam usando a religião em proveito próprio, comprometidos com os príncipes e governantes. Eles deveriam ser os curadores do povo, seus guias e cuidadores, mas, ao invés de confrontarem os males que faziam adoecer as pessoas e o reino, eles pregavam uma falsa paz e uma falsa cura. Eram pastores desqualificados, que sacrificavam o rebanho em prol de si mesmos.

         Mas tudo isso tinha a conivência do próprio povo, que queria continuar vivendo em sua rebeldia, imoralidade e independência.

 

         Jeremias 4:19 – “Ah! Meu coração! Meu coração! Eu me contorço em dores. Oh! As paredes do meu coração.”

 

Jeremias 8:11; 18-22 – “Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz.” ...  “Estou quebrado pela ferida do meu povo... Acaso não há bálsamo em Gileade? Ou lá não há médico? Por que, pois, não se realizou a cura da filha do meu povo?”

 

         Jeremias sente profundamente as dores de sua geração. Como sacerdote e profeta, pesava-lhe a responsabilidade de pastorear o povo de Deus (Jer 17:16).

         Ele sofre fisicamente com a decadência moral e espiritual da nação, a ponto de quase infartar!

         Sua dor ainda é mais intensa ao ver que a decadência e corrupção atingira os líderes espirituais, profetas e sacerdotes, assim como os governantes. Diante disso, Jeremias adoece com a iminência do juízo de Deus contra aquele povo.

         Mais ainda, por permanecer fiel ao seu ministério profético, ele é rejeitado e perseguido, sendo obrigado a viver isolado.

         Nessa condição, o profeta busca a proteção do Senhor e respostas a suas inquietações. Ele anseia por cura para sua alma e seu corpo feridos, está cheio de dúvidas, sentindo-se fraco e solitário.

         

         Jeremias 15:15-18 – “... sabe que por amor de ti tenho sofrido afrontas... oprimido por tua mão eu me assentei solitário... Por que dura a minha dor e não admite cura? Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam”.

         

         O Senhor responde a Jeremias chamando-o ao arrependimento e à santificação: não basta se isolar, é preciso que a mudança comece por ele, para que ele possa ser instrumento de Deus.

 

         Jeremias 15:19 – “Portanto assim diz o Senhor: se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarás diante de mim; se apartares o preciso do vil, serás a minha boca; e eles se tornarão a ti, mas tu não passarás para o lado deles”.         

 

         Por sua palavra e por seu exemplo o profeta poderá levar restauração, cura e salvação para alguns, mas seria necessário que primeiro ele experimentasse isso em sua própria vida, por meio de sua própria consagração e santificação.

 

         A comunhão com o Senhor faz Jeremias compreender quão terrível e profundo é o mal que assola o povo e o faz adoecer. Eles estão sob maldição porque preferem confiar no homem – em si mesmos, nos outros homens – a confiar em Deus.

 

         Jeremias 17:5 – “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta seu coração do Senhor”.

 

         Um coração apartado do Senhor é a razão essencial e profunda da falta de vigor, do adoecimento, da carência de vida e de alegria. 

         As pessoas estão enfermas, envenenadas na alma, do seu mundo interior brotando apenas enganos, sentimentos destrutivos, falsidades.

 

         Jeremias 17:9-10 – “Enganoso é o coração mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?... “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto de suas ações.”

 

         Diante de tal situação, o profeta busca o Senhor pedindo salvação e cura que somente Ele pode prover.

 

         Jeremias 17:12-14 – “Trono de glória enaltecido desde o princípio é o lugar do nosso santuário. Ó Senhor, Esperança de Israel! Todos aqueles que te deixam são envergonhados; os nomes dos que se apartam de ti será escrito no chão; porque abandonam o Senhor, a fonte das águas vivas. Cura-me, Senhor, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor”.

 

         Lamentações de Jeremias 3:19-25 – “Lembra-te da minha aflição e do meu pranto... Minha alma continuamente os recorda e se abate dentro de mim. Quero trazer à memória o que me pode dar esperança. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã... A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele”.

 

 

Parênese: uma profecia para o tempo presente

 

 

         Nossa geração, como a de Jeremias, está doente no corpo e na alma, e vem sendo enganada por promessas de curas falsas e superficiais.

         Os governantes, sábios, filósofos, cientistas, artistas, líderes, influenciadores, mentores, seculares e espirituais, da nossa modernidade estão em busca de si mesmos, da própria realização e satisfação. Vendem ilusões e cuidados paliativos como se fosse curas e enriquecem com isso. 

         Todos nós sofremos as dores e enfermidades de nosso tempo de modo concreto e total: no corpo, na alma, nas emoções, nos conceitos, na mente, no espírito, no ambiente, nos relacionamentos, no caos da vida. Há quem pense que, desde a Queda, ninguém é perfeitamente saudável nem física nem mentalmente!

         Especialmente, lidamos hoje com um sem-número de condições da alma, frutos do desvio espiritual e moral da humanidade, que vêm sendo tratadas como patologias e relegadas aos cuidados dos terapeutas e profissionais de saúde, limitados por sua abordagem humanista secular, numa estranha omissão da Igreja, que tem, apenas ela, os meios da cura de Deus, a única capaz de conduzir as pessoas à plenitude eterna da santidade, do amor e da vida.

         Não é desprezar o conhecimento e os esforços de cientistas e profissionais para lidar com o adoecimento desta geração, mas é reconhecer que a ciência parte de conceitos e pressupostos sobre a natureza humana que muitas vezes divergem da revelação bíblica e, assim, conduzem a conclusões e terapias que não podem atingir a raiz de muitas condições da mente e da alma.

Pastores e líderes da Igreja têm, cada vez mais, encaminhado pessoas com conflitos existenciais, morais, emocionais e espirituais a especialistas e terapeutas incrédulos, que apoiam seu conhecimento e condutas no humanismo secular e, especialmente, numa antropologia estranha a Deus e seu propósito.

         Culpa, autoestima, ansiedade, medo, tristeza, apatia, ira, agressividade, lascívia, paixões desordenadas, conflitos pessoais e nos relacionamentos, todas essas são condições da alma humana que têm raiz espiritual e cujo tratamento e cura só podem acontecer operados por Deus, no caminho do arrependimento e da renovação da mente, por meio do Espírito Santo.

 

         Creio que a Igreja tem, desde o século passado, negligente ou covardemente, reduzido sua área de ação ao que alguns consideram como sendo os aspectos estritamente “espirituais”, como a salvação pela fé, a práticas de algumas disciplinas, a defesa da doutrina, a exigência de um padrão de comportamento de acordo com certos valores ou assumem uma abordagem mística voltada ao “mundo espiritual”.

E isso em desconexão com outras áreas que compõem a integralidade da pessoa, como seus sentimentos, pensamentos, desejos, conflitos, ansiedades etc.

         Não se trata de negar a validade do conhecimento humano e de deixar de se beneficiar com o que ele pode oferecer. Também não se trata de invadir o terreno próprio dos cientistas, médicos e terapeutas que se dedicam a cuidar das doenças da alma. Trata-se, sim, de a Igreja assumir integral e fielmente sua missão.

         Nós cremos no propósito eterno de Deus para os homens e vivemos em busca dessa plenitude de vida pessoal para nós e para os outros, que inclui um mundo interior continuamente transformado para experimentar todo o fruto do Espírito Santo e expressar a Imagem do Pai.

         A Igreja de Jesus depara-se, hoje, com o desafio de viver uma vida saudável, de corpo, alma e espírito, e de demonstrar isso ao mundo como parte essencial do querigma evangélico.

         Isso não significa que a fé nos propicie uma total imunidade às doenças e enfermidades, mas que ela nos leva a compreender, enfrentar e tratar as condições da alma humana, sujeita aos malefícios e consequências do pecado, pessoal e da própria raça, de uma maneira capaz de produzir libertação, cura, transformação e santificação e de caminhar em direção à plenitude de Cristo.

         Significa, sim, ir além da pregação de uma salvação meramente legal, dissociada de cura, de libertação, de restauração e de santificação. 

         É necessário que não nos iludamos com as terapias humanas, limitadas e, eventualmente, equivocadas, nem com o curandeirismo místico, tão comum nesses dias, inclusive no meio da Igreja.

         Por outro lado, deparamo-nos com desafiadoras promessas bíblicas sobre cura e restauração e não podemos afastá-las com intepretações e artifícios teológicos que despedem vazios os sobrecarregados, sofredores e enfermos.

         Para oferecermos cura ao mundo, mais do que isso, saúde, é preciso que experimentemos uma expressão mais plena da salvação em nossas vidas.

         Esse tem sido um terreno em que se trava um profundo conflito espiritual, amplamente utilizado pelo Inimigo para aprisionar os homens.

         Jeremias 17:14, que dá título a este texto, expressa a nossa necessidade de cura, assim como de salvação, e a necessidade de uma busca intensa por isso em Deus.

         Cura e salvação são operações que fazem parte do propósito de Deus para o homem, para que possamos experimentar a plenitude da vida em Cristo.

         É necessário entender a conexão que existe entre espírito, alma e corpo no que diz respeito à saúde, que deve se expressar na pessoa por completo.  

         É preciso reconhecer a origem e a extensão da doença humana e como ela atinge corpo e alma.

         É preciso conhecer e experimentar a provisão de Deus para nossa cura e salvação.

 

         Fernando Saboia Vieira,


Vila Velha e Brasília, 1992 e 2024

 

 

Trono de Glória

 

Trono de glória

Desde o princípio enaltecido

É o lugar do nosso santuário

 

Ó Senhor, Esperança de Israel,

Os que te deixam,

Onde se refugiarão?

 

Ó Senhor, fonte das águas vivas,

Os que te esquecem,

Como se saciarão?

 

Cura-me, curado serei

Salva-me, e salvo ficarei

Porque Tu és o meu louvor

 

Ó Senhor, Esperança de Israel,

Fonte das águas vivas

Deus que salva

Deus que cura

Tu és o nosso louvor

 

Fernando

Vila Velha, fevereiro de 1992.