terça-feira, 29 de junho de 2021

 Como o Evangelho de Jesus poderá sobreviver num Brasil evangélico?

 

Fernando Saboia Vieira

Junho/2021


 

         Pode escolher um nome: evangélico, cristão, discípulo, protestante, neopentecostal, qualquer um. Em pouco tempo nenhum desses significará mais nada. Vamos considerar o termo “evangélico”, que é como o censo demográfico, as pesquisas sociais e os meios de comunicação identificam, de modo geral, no Brasil, os cristãos não católicos. E como cada vez mais brasileiros se autodenominam.

         Viver num país evangélico. Esse tem sido um grande temor e uma real preocupação para mim em todo esse cenário confuso que vivemos hoje. Tira-me mais o sono do que a economia, a pandemia e a política. 

As tentações e provações mais perigosas para a Igreja, ao longo de sua história de já mais de dois milênios, nunca vieram de perseguições e rejeições, mas, sim, da aceitação e convivência amena com o mundo, da satisfação com alvos e conquistas seculares, de encontrar espaços confortáveis no reino dos homens, quer de participação, quer de isolamento.

Se formos fiéis a Jesus e a Sua mensagem, devemos esperar sermos sempre uma minoria perseguida e rejeitada por um mundo inimigo de Deus, regido por homens escravos do pecado e sujeitos aos poderes espirituais da maldade. Infelizmente, parece que boa parte dos que agora se identificam como Igreja de Jesus tem uma expectativa muito diferente disso.

No nosso País, hoje em dia, os cristãos não católicos são classificados, de modo geral, em duas categorias: os neopentecostais e os demais evangélicos. 

É claro que não é assim que nos vemos, mas é desse modo que temos sido vistos e considerados pelas pessoas. E, sejamos honestos, o mundo tem o direito de nos julgar pelo que em nós vê e de nós ouve. É, de fato, sobre nós que recai o ônus e pesa a obrigação de darmos um testemunho claro, verdadeiro e perceptível da nossa fé no Evangelho de Jesus. É da essência do nosso chamado para sermos e fazermos discípulos do Senhor.

Enquanto os denominados neopentecostais vão se escondendo nos seus guetos sociais e nos seus discursos radicais, pronunciados mais para si mesmos, para reforço interno de suas posições, do que para proclamação do Reino e testemunho da fé aos de fora, os outros evangélicos vão se confundindo com o mundo, se mimetizando, buscando espaço, reconhecimento e aceitação, e também, evidentemente, os confortos e recompensas daí decorrentes, materiais ou não.

Não podemos esquecer, nesse contexto, um número significativo de grupos, ministérios e pessoas que flutuam entre uma coisa e outra, com elementos de radicalização e de conformação, de isolamento e de integração, curiosa e convenientemente combinados, a oscilar entre o escapismo e a assimilação pelo mundo.

Enquanto os neopentecostais vão, de certo modo, se retirando da cena, se não por diminuírem em número, mas por perderem a relevância no que diz respeito ao testemunho e ao anúncio do Evangelho de Jesus para os incrédulos, os demais evangélicos crescem em quantidade e em influência, com mais adeptos e mais espaços nos diversos segmentos sociais.

De um modo ou de outro, vai-se tornando popular e se disseminando, presencial e virtualmente, uma estranha religião, sincrética, amorfa, ao mesmo tempo humanista e espiritualista, secular e mística, hedonista e ascética, que pretende se considerar cristã e que se apropria, de algum modo, do linguajar evangélico, tornado cultura religiosa e superstição.

O sucesso dessa distorção do Evangelho de Jesus vem, em grande medida, de sua plasticidade, de sua adaptabilidade a diferentes propósitos, verdades, ideologias e códigos morais, da facilidade de ser afirmada, e da sua capacidade de até mesmo conferir aos seus professantes um certo status social, de atrair um público consumidor, de consagrar carreiras, de viabilizar projetos, de construir histórias de sucesso. 

Aproxima-se, assim, desta nossa geração, a imensa tragédia da prevalência e da consagração de um cristianismo tolerável, quase consensual, aceito e assimilado pela sociedade dos homens, quer quando se isola, quer quando participa: sal que não salga, luz que nada ilumina. E é até mesmo aplaudido e honrado, convidado a participar dos círculos de decisão e de influência nas diversas esferas sociais e a ser protagonista no mundo cultural, econômico e político

Afinal, muitos dos que se dizem evangélicos em pouco ou nada se distinguem das demais pessoas, mesmo daquelas assumidamente incrédulas ou que rejeitam explicitamente o Evangelho de Jesus. Talvez possam ser identificados por um certo jargão religioso que inclui citações bíblicas, em geral descontextualizadas e distorcidas, talvez por algumas cerimônias um tanto bizarras, por alguns costumes antiquados ou até mesmo por uma certa presunção de superioridade. 

No mais, vivem como seus contemporâneos, buscando as mesmas coisas, as mesmas recompensas, os mesmos confortos, se relacionando da mesma forma com as pessoas e com a vida. 

Os mesmos temores e os mesmos amores.

Os seus “famosos”, influenciadores, artistas, políticos, intelectuais e expoentes nos diversos setores e atividades da sociedade buscam os mesmos alvos de sucesso, as mesmas recompensas e os mesmos espaços de reconhecimento, medidos pelos mesmos critérios das demais pessoas, independentemente de sua postura em relação a Deus e ao Evangelho de Jesus.

Testemunhei, ao longo de minha carreira profissional e acadêmica, os evangélicos crescerem como uma força social e política relevante, com peso cada vez maior nas eleições e na ocupação de espaços de poder. E se tornarem massa de manobra, e serem manipulados por líderes inescrupulosos, em favor de projetos pessoais e de grupos particulares, religiosos ou não.

Isso, naturalmente, com as devidas elaborações discursivas, piedosas e teológicas, a tentar dissimular, um tanto descaradamente, ideologias e interesses subjacentes, tanto à esquerda quanto à direita no espectro político e social.

Defender os valores e a conduta cristã como padrões para políticas públicas, como estilo de vida a ser imitado por todos ou como expressões culturais perverte a essência do Evangelho de Jesus, que é o chamado a um encontro pessoal com o Deus que existe e se manifesta, mediante o arrependimento dos pecados, negação de si mesmo e a obediência ao Senhor.

Usar o Evangelho de Jesus como receita de sucesso, como jargão espiritual, como uma variante da religião humanista da virada deste século é negar às pessoas uma real oportunidade de entrar nesse relacionamento com Deus, único capaz de responder a suas necessidades, questionamentos e angústias existenciais.

         É tempo de sermos claros sobre algumas coisas, se é que pretendemos continuar a nos identificar como cristãos e, principalmente, se somos, de fato, seguidores de Jesus e do Seu Evangelho.

         Certamente não falo pela coletividade dos evangélicos de qualquer tipo ou pela generalidade de cristãos não católicos. O uso da primeira pessoa do plural a seguir é apenas um convite àqueles que porventura compartilhem essa minha preocupação pessoal a nos unirmos em torno de alguns posicionamentos, a meu ver necessários nesses dias.

 

Não queremos consertar este mundo, mas anunciar o seu fim e a chegada do novo! Vamos nós, a Igreja, trabalharmos em sentido oposto ao que cremos ser, segundo as Escrituras, o desfecho que a história humana terá até a volta do Senhor? Ou vamos nós, no outro extremo, nos eximir da tarefa de anunciar o Seu Reino até que Ele venha? 

         Não queremos que as pessoas concordem conosco, vivam como vivemos, ouçam nossas músicas, falem como nós falamos, defendam os valores e causas que defendemos, comprem nossos produtos, sejam nossas seguidoras presenciais ou virtuais, frequentem nossas reuniões, nos acompanhem nas redes sociais ou financiem nossos projetos!

Queremos que elas se encontrem com o Deus vivo, se arrependam dos seus pecados e sejam resgatadas pelo sangue de Jesus derramado na cruz. E, assim, encontrem o sentido e valor eterno de suas existências!

         O Senhor quer que nos preparemos para sermos perseguidos e rejeitados, quanto mais o tempo de Sua vinda se aproxima, e estamos nós a lutar para sermos aceitos, considerados, ouvidos e honrados por um mundo ímpio, governado impiamente em nome da impiedade?

         Quem nos enviou a mudar a sociedade, as leis ou os governos? Quando isso se tornou nossa missão? Por ordem de quem? Que projeto de governo ou de sociedade podemos, honestamente, apresentar às pessoas como em nome de Jesus, ordenado por Ele?

         Que as pessoas e o mundo nos rejeitem, nos odeiem e nos persigam por causa do escândalo da cruz, e não por nossas opiniões e posicionamentos em questões que nada têm a ver com a proclamação do Reino!

         Que vergonha sermos rejeitados e perseguidos, ou aceitos e honrados, porque nos veem como direitistas ou esquerdistas, conservadores ou não conservadores, como defensores de posturas políticas e ideológicas ou de códigos morais, e não por sermos identificados como imitadores de Jesus!

         Não podemos ser prisioneiros nem das utopias humanistas, que são, na verdade, desespero, nem do ufanismo religioso, que nada mais é senão uma outra forma de desespero, ainda mais aguda e perigosa. 


A fé nos revela e nos leva a participar da totalidade da Realidade, que integra o humano, o natural, o espiritual, o visível, o invisível, o tempo e a eternidade, Realidade essa que subsiste e é sustentada pela Presença do Ser pessoal e infinito que a criou.

         Apenas o Evangelho de Jesus, com sua convocação ao arrependimento e o anúncio do Reino dos Céus, com seu chamado à fé no Criador e à obediência a Sua vontade revelada, expurgado de contaminações ideológicas, filosóficas, doutrinárias, culturais ou políticas, poderá sustentar a vida da Igreja e o seu testemunho em tempos tão críticos, e continuar a ser “o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rom 1:16), manifestado, sem temor, em qualquer sociedade, cultura, povo ou nação. 

 

 

         É esse Evangelho que temos que viver e anunciar. É a pregação desse Evangelho que vai carregada e potencializada pelo poder do Espírito Santo. Apenas nela há esperança.

 

         Caros companheiros e companheiras de jornada, que a suficiente graça de Jesus seja com todos.

 

         Fernando

 

         

 

domingo, 27 de junho de 2021

Poemas de Deus


(Efésios 2:10, no grego original)

 

Para Ecinele.

 

A surpreendente pungência da voz

Revela uma inesperada maturidade na alma

Como se já tivesse vivido, amado e sofrido

O que ainda não viveu, amou e sofreu

 

A música suave, na voz densa

Se torna profunda, intensa

E se impõe na noite fria

 

Como o fogo, acolhe e aquece

Como o vinho, lembra e esquece

 

A moça canta e acalanta

A menina que agora adormece

Para habitar os seus sonhos de mulher

 

A moça canta e desperta

A mulher que agora amanhece

Para viver os seus sonhos de menina

 

As pessoas são os poemas de Deus

 

Fernando Saboia

Junho 2021, AD

 

 

 “Amor, palavra que muda de cor”

                           Horácio Dídimo

 


 “O amor jamais acaba”

 1ª aos Coríntios 13:8

                                                                       

                                              Para Kim e Ecinele

 

Amor muda de cor

Para não se descolorir

Nos tons da vida

Nas sombras e luzes

Nas chegadas e partidas

 

Amor muda de sabor

Para não se perder

Nos destemperos da vida

Nos doces e amargos

Nas tristezas e alegrias

 

Amor muda de linguagem

Para não se confundir

Nos ruídos da vida

Nos sons e silêncios 

Nas ilusões e verdades

 

Amor muda de estação 

Para não se esvair

Nos tempos da vida

Nos passados e futuros

E permanecer no presente

Do eterno amar de Deus

Que tudo transforma

Para jamais acabar

 

Fernando Saboia

Junho 2021, AD

 

quarta-feira, 23 de junho de 2021

                                    Igreja, política e pandemia

Fernando Saboia Vieira

 

“Lâmpada para os meus pés é a tua palavra, e luz para o meu caminho” 

(Salmo 119:105)

 

 

         Nesses dias confusos e obscuros que temos vivido é essencial que a Igreja busque na Palavra de Deus, e apenas nelaentendimento e direção. Em momentos de crises assim graves, haverá sempre muitas vozes se manifestando, com variadas motivações, fundamentos e propósitos, especialmente numa situação como a atual que envolve não apenas a sociedade brasileira, mas toda a humanidade.

         Consideremos, pois, ainda que muito brevemente, como Jesus e os apóstolos se posicionaram em relação às questões sociais e políticas de seu tempo e o que eles ensinaram e ordenaram sobre o relacionamento dos discípulos e da Igreja com o Estado, governantes e autoridades públicas.

 

Jesus e a política

 

         À época do nascimento de Jesus, Israel era governado por um rei pagão, preposto do Império Romano, chamado Herodes, o Grande. Com a morte dele, o país foi dividido politicamente, pelos dominadores romanos, em tetrarquias, de modo que, ao tempo do início do ministério público do Senhor, reinava na Galileia um dos seus filhos, Herodes Antipas.

         Embora Israel gozasse de relativa autonomia em relação a questões locais, o Sinédrio era dominado pelos saduceus, que compunham a elite econômica da sociedade, aliados politicamente aos romanos, cujos interventores influenciavam até mesmo na escolha dos Sumos Sacerdotes.

         Foi um tempo de muita opressão política, econômica e mesmo religiosa, com o povo submetido a pesados impostos e encargos para financiar o império romano e a riqueza dos seus colaboradores judeus. 

Havia multidões de pobres, famintos, oprimidos e perseguidos com as quais Jesus muitas vezes se deparou. Como Ele reagiu a essa situação? Como se manifestou sobre esse estado de coisas e o que Ele ensinou a Seus discípulos sobre questões sociais e políticas?

         Lemos nos Evangelhos que, desde o seu nascimento, Jesus esteve envolvido na controvérsia política que a esperada vinda do Messias provocaria: seria Ele o libertador político e militar que reestabeleceria o Trono de Davi e livraria seu povo da opressão? 

Herodes, o Grande, “alarmou-se” com a notícia trazida pelos magos do oriente sobre o nascimento do “rei dos judeus”, e com ele “toda Jerusalém”. Imaginando tratar-se de alguém que viria a reivindicar o trono de Davi, Herodes perseguiu o menino e sua família, provocando a sua fuga para o Egito (Mateus 2:2-3).

         No entanto, ao iniciar sua pregação pública, Jesus deixou claro, desde suas primeiras palavras, que viera anunciar “o reino dos Céus”, o “reino de Deus”, chamando as pessoas ao arrependimento e conversão, e não estabelecer um governo terreno (Mateus 4:17 etc). Em nenhum momento Ele se referiu a uma retomada política do trono de Davi, pregou rebelião contra a dominação romana ou fez discursos sobre mudanças sociais ou críticas às leis opressivas.

Jesus não se envolveu em questões ou enfrentamentos políticos, Ele não fez propostas de solução dos graves problemas sociais e econômicos do povo pelo caminho da tomada do poder, da libertação da dominação romana, de movimentos de insurreição contra as leis e o governo local ou de Roma, da restauração do trono de Davi, da independência de Israel ou da reforma da sociedade.

Mesmo falando diante de multidões de pessoas necessitadas, oprimidas e perseguidas, ainda que movido de grande compaixão por aquele povo, Ele jamais abordou as questões sociais e políticas envolvidas naquele estado de coisas ou se posicionou sobre elas. Sua mensagem dizia respeito unicamente ao Reino de Deus e a sua justiça, ao chamado à conversão e ao comprometimento com o governo espiritual do Senhor sobre suas vidas, consciente do impacto e da oposição que suas palavras provocariam (Mateus 5 a 7; 9:36).

Em verdade, Jesus sempre se distanciou desses debates para que não fosse confundido com um simples libertador político, e para deixar patente que Sua mensagem se dirigia à condição espiritual dos homens e à sua necessidade de salvação eterna. Assim, pregava tanto aos judeus quanto aos samaritanos, aos gentios e mesmo aos romanos, chegando a elogiar a fé de um centurião e de uma mulher siro-fenícia. 

Nas ocasiões em que Jesus se confrontou com Herodes, Ele o fez, a exemplo do que fizera João Batista, por motivos morais e espirituais, e não políticos (Lucas 13:31-35).

Houve mesmo ocasião em que a multidão pretendeu proclamá-lo rei, mas Ele recusou expressamente, retirando-se para um local solitário (João 5:15).

Quando indagado pelos discípulos sobre o pagamento de impostos aos dominadores romanos, Ele destacou que, do ponto de vista de um critério de justiça, os filhos da terra deveriam estar isentos de pagamento, segundo os costumes da época, mas providenciou o dinheiro necessário para satisfazer a demanda do poder governamental que imperava sobre eles, a fim de não provocar escândalo (Mateus 17:24-27). 

Com isso deixou claro, mais uma vez, que sua pregação não tinha cunho nem objetivos políticos. Não era Sua obra reformar este mundo, sua política e justiça.

Quando Jesus entrou em Jerusalém sob o aplauso e saudação do povo, na última semana do Seu ministério, houve quem novamente quisesse ver nele um líder político que vinha desafiar o poder de Roma. Em verdade, Ele vinha para cumprir Sua missão e morrer na cruz (Mateus 21:1-11).

Naqueles dias seus opositores de Jerusalém tentaram forçá-lo a se posicionar politicamente, propondo-lhe uma pergunta sobre o pagamento de impostos a Roma, expressão maior da opressão estrangeira sobre o povo e da submissão de Israel. 

Em Sua resposta, Jesus não se insurgiu contra a dominação romana e a extorsiva arrecadação de tributos, mas estabeleceu um princípio para seus discípulos e para a Igreja: “a César, o que é de César, a Deus, o que é de Deus”. 

Ou seja, a Igreja deve ser mantida separada do Estado, cumprindo seus deveres civis e sujeitando-se às autoridades políticas, enquanto deve, igualmente, conservar sua fidelidade e lealdade a Deus, sem comprometimentos ou ressalvas (Mateus 22:15-27).

Dito de outra forma, nos assuntos de Deus, não devemos aceitar a ingerência do poder do Estado, nem nos sujeitar a outros comandos senão os do Senhor. Nos assuntos do Estado, devemos cumprir nossos deveres como cidadãos, respeitando as leis e as autoridades e não confundir a esfera do poder secular com o Reino do Pai.

A fronteira entre Igreja e Estado deve ser discernida com base na Palavra de Deus e somente nela, para que não sejam considerados como negócios do Pai projetos e objetivos humanos, e para que não se tente cuidar dos propósitos do Reino por meio de poderes e recursos seculares. O primeiro movimento seria sacralizar a política e tentar realizar o Reino de Deus neste mundo, o segundo significaria profanar o Reino de Deus, tornando-o obra e glória de homens.

É importante mencionar que em seus discursos sobre as últimas coisas Jesus sequer tangencia questões políticas e sociais. As guerras e conflitos entre nações, a decadência moral da humanidade e a perseguição da Igreja são profetizados por Ele como o inevitável desfecho da história, que culminará com Sua volta e, aí sim, o estabelecimento do Seu Reino. Seu propósito era prevenir e preparar seus discípulos para esses eventos e não interferir neles.

Durante o julgamento de Jesus perante o procurador romano Pôncio Pilatos, novamente seus detratores tentaram enredá-lo com a política e as autoridades públicas.

Não tendo como apontar contra Ele nenhum crime, pretenderam forjar uma acusação de sedição política contra César, afirmando que Jesus se declarava rei dos judeus e promovia rebelião (Lucas 22:66 a 23:4). Nem Pilatos acreditou nisso, percebendo que era por inveja que os líderes religiosos queriam Sua morte (Mateus 27:18).

Jesus reconheceu a autoridade de Pilatos para julgá-lo, como lhe tendo sido conferida do alto, mas afirmou, mais uma vez, que o Seu Reino não é deste mundo (João 18:36; 19:12-15).

Finalmente, após Sua ressurreição, já glorificado, quando Seus discípulos lhe perguntaram se já seria aquele o tempo de restaurar o reino a Israel Ele respondeu que não lhes competia conhecer tempos ou épocas que estavam sob autoridade exclusiva do Pai (Atos 1:6-11).

Sua Igreja não teria, portanto, projeto político, não se envolveria com a disputa de poder secular, nem com a reforma da sociedade humana. Sua atuação no mundo seguiria o exemplo do Mestre, com obras de misericórdia e socorro aos aflitos, aos oprimidos e aos pobres, pregação do Reino de Deus para transformação dos homens, denúncia profética do mal, da injustiça e da opressão. Até que Ele venha.

 

Os apóstolos e a política

 

         Lemos nos Atos dos Apóstolos que a Igreja foi perseguida, desde o início, pelas autoridades religiosas e políticas, judaicas e romanas. 

Pedro e João, e depois os demais apóstolos, foram presos por ordem do Sinédrio, castigados e proibidos de pregar o Evangelho. Evidentemente não obedeceram, considerando que “importa antes obedecer a Deus do que a homens”(Atos 5:29). Estavam, assim, aplicando o ensino que haviam recebido: “a Deus o que é de Deus”.

A Igreja nascente reagiu às perseguições e opressões invocando, em sua oração comunitária, o Salmo 2, que descreve a vã conspiração de reis e poderosos contra o Senhor e o Seu Ungido: “Ri-se aquele que habita os céus, o Senhor zomba deles”

Os irmãos entenderam que as ações de Pilatos e Herodes, em conluio com as demais autoridades, apenas cumpriram o desígnio do Pai para o Filho (Atos 4:23-31). Não podem temer as alianças e as confabulações maléficas de quaisquer governos ou poderes aqueles que creem em um Deus soberano, e somente a Ele servem e temem (Isaías 8:9-13). 

Herodes também perseguiu a Igreja, chegando a mandar matar Tiago. Deus mesmo se encarregou de exercer justiça contra o Rei ímpio, enquanto a Palavra do Senhor crescia e se multiplicava (Atos 12:1-3, 21-24).

A igreja prosseguiu sua missão, vendo cumpridas as palavras de Jesus sobre ser perseguida, entregue às autoridades e dar testemunho perante elas, enquanto proclama o Reino por toda parte (Mateus 10:17-20).

Paulo, por sua vez, foi igualmente perseguido pelas autoridades religiosas judaicas, ao ponto de ser preso pelos romanos em razão do tumulto causado por sua presença em Jerusalém. Enfrentou um longo processo, no qual os governadores prepostos de Roma não encontraram nenhum delito civil ou criminal contra ele. Diante das ameaças contra sua vida por parte dos judeus, e tendo em consideração a palavra do Senhor de que ele deveria ir a Roma para pregar, Paulo valeu-se de sua cidadania romana e apelou para ser julgado por César. 

         Vemos que em nenhum momento Paulo se insurge contra a autoridade de Roma e o domínio imposto a Israel. Na verdade, ele usou as leis e o sistema judiciário romano a seu favor, para evitar ser morto pelos judeus e chegar até Roma.

         A postura de Paulo é coerente com o ensino apostólico que ele trouxe à Igreja em Romanos 13:1-7. As autoridades civis e políticas devem ser obedecidas e respeitadas, porque instituídas por Deus. Ele não condiciona essa obediência à concordância com as leis ou decisões editadas, nem a uma discussão sobre sua legitimidade. Trata-se de um princípio que tem a ver com a ordenação de Deus e com o ensino de Jesus: “a César o que é de César”. 

         Com o mesmo entendimento do Reino de Deus e dos reinos dos homens, também Pedro exorta os irmãos a que sejamos sujeitos a “toda instituição humana, por causa do Senhor, quer seja ao rei, como soberano, quer às autoridades” (1ª de Pedro 2:13-14). Não somos, como cristãos, chamados a discutir modelos de ordenamento do poder político, nem mesmo a legitimidade de qualquer um que esteja sendo exercício. É claro que, na condição de cidadãos, podemos fazer isso, utilizando os meios adequados, mas esse não é um tema da Igreja.

A Igreja não tem um projeto político próprio. Esse é um assunto da sociedade humana. Como cidadãos, podemos e devemos participar e influenciar as ações e decisões que afetam a vida das pessoas, até mesmo como forma de testemunho e de proclamação do Reino de Deus. Podemos usar as leis em defesa de nossos direitos e interesses e devemos fazê-lo em prol dos desvalidos, recorrendo aos tribunais e autoridades. 

Mas, como cristãos, só podemos desobedecer às autoridades políticas, aos governantes, e aos juízes quando seus provimentos, leis e decisões contrariarem diretamente a Palavra de Deus, nos ordenando o que Deus nos proíbe ou nos proibindo o que Deus nos ordena. 

E a definição desses parâmetros e limites deve ser encontrada estritamente nas Escrituras, não em filosofias, ideologias, teorias ou profetismos.

Finalmente, em sua instrução a Timóteo, Paulo destaca o especial dever de orarmos “em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade” (1ª a Timóteo 2:1-2). Novamente, nenhum condicionamento em função do sistema político ou da correção das ações e leis adotadas. 

 

Igreja, Estado e Sociedade – separação e participação 

 

         A partir desses fundamentos bíblicos, gostaria de sugerir algumas conclusões e direções.

No meu modo de ver, a Igreja de Jesus não deve ter uma expressão política nem participar, como tal, das disputas pelo poder. O Senhor não nos deixou projetos de governo, de organização política ou de sociedade. 

A Igreja não deve fazer alianças com partidos ou governantes, nem com aqueles dentre esses que se autodenominem cristãos ou prometam paz e tranquilidade aos crentes. 

A Igreja, no meu entendimento, não deve nem mesmo assumir posicionamentos públicos em favor de qualquer lado nas disputas pelo poder secular, o que implicaria, por si só, comprometimento do nome do Senhor com causas, projetos e estratégicas que não procedem em si mesmos dos Seus mandamentos e não devem ser confundidos com Seu Reino.

Devemos permanecer, como discípulos e Igreja, dedicados à proclamação do Reino, a fazer discípulos, a edificar o Corpo de Cristo, a amar e servir aos homens, a adorar a Deus e sermos Suas testemunhas.

Certamente que, como cidadãos, devemos participar da sociedade, cumprindo nossos deveres e cooperando com a coletividade, podendo, inclusive, exercermos cargos e funções sociais e políticas que não comprometam nosso testemunho e nossa fé e que possam até mesmo ser oportunidades de serviço e proclamação do Reino. Também devemos nos dedicar especialmente ao socorro aos desvalidos e à defesa dos seus interesses e necessidades.

No âmbito da política, nossa participação como cidadãos e cristãos deve se orientar pela defesa dos valores do Reino de Deus, votando e apoiando candidatos, governantes e agendas que defendam e promovam essas causas, e nos opondo àqueles que tentam levar adiante ideias e projetos maléficos às pessoas e ofensivos ao Senhor.

No entanto, devemos manter clara a diferença entre uma eventual co-beligerância, que nos permite cooperar com propostas e projetos específicos, alinhados com nossa crença, e fazer alianças, expressas ou tácitas, com pessoas, movimentos ou instituições, que nos levariam, fatalmente, a um comprometimento indevido da nossa fé e da nossa lealdade ao Senhor. Não podemos nos encontrar numa posição divididos entre dois senhores, nem envolver o nome de Jesus em causas e questões que não pertencem à Igreja.

É igualmente necessário ter clareza quantos aos limites da ação social e política. Bons governantes e boas leis nunca impediram as pessoas de praticarem o mal, não as livram do inferno, não as conduzem ao Reino. Apenas são úteis como contenção dos excessos da injustiça e da maldade, para que a vida em sociedade seja possível. Este é, sem dúvida, um bom propósito pelo qual devemos lutar, mas sabemos que isso não cumpre a vontade de Deus para as pessoas, e não deve nos desviar do nosso chamado como discípulos, que atentará sempre para a eternidade.

Assim, é imperioso separar criteriosamente, com base na Palavra de Deus, os temas que pertencem a Igrejadaqueles que são próprios de outros contextos da vida social, como a economia, a ciência e a política, para não confundirmos as coisas de César com as de Deus e não comprometermos nossa lealdade absoluta ao Senhor.

Temas que pertencem à Igreja são aqueles sobre os quais temos palavra, mandamento ou instrução do Senhor ou dos Apóstolos, conforme as Escrituras. 

Com isso não estamos de modo algum sugerindo que não possamos, como cristãos, conversar sobre qualquer assunto e mesmo trazer aos irmãos conselhos ou orientações sobre situações da vida comum, de acordo ou que não colidam com os ensinamentos bíblicos. 

O que nos parece, no entanto, absolutamente necessário é deixar claro que essas questões que não pertencem à Igreja, porque não estão tratadas no escopo das Escrituras do Novo Testamento, não podem ser matéria de ensino, doutrina ou pregação, e que a fronteira entre o que é Palavra revelada e o que são conceitos e ensinamentos humanos deve ser vigiada e mantida, inclusive para que se possa discernir eventuais profecias, posicionamentos e sugestões de conduta. 

 

O tempo presente: política e pandemia no Brasil

 

O Brasil e o mundo vivem uma situação extremamente grave com a pandemia provocada pelo novo corona vírus. Ainda agora, mais de um ano depois do seu início, as autoridades sanitárias, os cientistas e os governantes do Planeta não têm conseguido debelar as contaminações e mortes por ela provocadas, com graves danos às pessoas e às sociedades.

Várias providências sanitárias, medicamentos e estratégias têm sido tentadas, e muitas polêmicas técnicas, científicas, ideológicas e políticas surgiram por todo o mundo em relação a sua eficácia e propósitos.

Tratamentos, protocolos, isolamento social, distanciamento, lockdowns, vacinas, uso de máscaras e outras medidas sanitárias são adotadas pelos governos dos diversos países na tentativa de controlar a expansão do vírus e vencer a doença, ponderados seus impactos na economia e na subsistência das pessoas. E, sem dúvida, interesses econômicos, motivações ideológicas e projetos de poder político se movem e tentam ganhar espaços nessas condições.

Ainda que nós, cristãos, sejamos, juntamente com as demais pessoas, profundamente atingidos por essas medidas, no meu entendimento, não cabe à Igreja se pronunciar sobre questões médicas e científicas, nem sobre as determinações das autoridades responsáveis pelas decisões de governo e judiciais. 

Não são temas da Igreja a eficácia de remédios, de protocolos de tratamento ou de estratégias de contenção da praga, e nem a legalidade de decisões dos juízes e autoridades.

É muito perigoso e equivocado, do ponto de vista bíblico, elevar à condição de doutrina ou de posicionamento de fé aquilo que não está expresso nas palavras de Jesus ou dos Apóstolos.

A fronteira entre a Igreja e o Estado deve ser traçada com base exclusivamente na Palavra de Deus, mantida livre de influências e contaminações ideológicas e políticas

Se não tivermos clareza quanto a esses limites, se admitirmos critérios outros que não a Palavra para orientar a vida da Igreja, podemos logo nos ver enredados em alianças, comprometimentos e projetos que não nos foram ordenados pelo Senhor, com o risco de sermos achados negligentes quanto a nossa vocação e missão.

Como cidadãos e, eventualmente, como técnicos ou cientistas, podemos, certamente, ter opinião e nos expressarmos pelos meios disponíveis contra ou a favor de decisões das autoridades.

 No entanto, como cristãos devemos obedecer aos provimentos e determinações dos governantes e dos tribunaisa não ser que nos mandem fazer o que Deus nos proíbe ou nos proíbam de fazer o que Deus nos ordena

Se alguém acha que uma ordem é ilegal ou que uma lei é inconstitucional deve usar os recursos disponíveis junto às autoridades e tribunais para levar esses questionamentos. A meu ver, a Igreja não é o lugar para essa discussão e isso não deve se tornar tema de pregação, pronunciamento, conselho ou direção apresentados como em nome de Jesus!

Não creio que nossas discordâncias nessas questões possam ser bases para a desobediência às autoridades, para manifestações políticas alegando posições de fé ou para a adesão a movimentos que têm objetivos próprios, diferentes daqueles do Reino de Deus, ainda que possamos concordar com alguns dos seus aspectos ideológicos e dos seus objetivos para a sociedade.

No meu entender, as providências adotadas pelas autoridades no Brasil são semelhantes àquelas tomadas pelos dirigentes políticos de todo o mundo e não são dirigidas a um grupo ou segmento social específico. Os eventuais conflitos entre as autoridades ou entre estas e os cidadãos devem ser resolvidos pelos canais e mecanismos instituídos para esse fim, dentro do nosso sistema político e constitucional. 

Como cidadãos certamente podemos ter opinião e divergir. Como cristãos devemos obedecer às leis e às decisões das autoridades enquanto não colidirem com nossa fé.

Como entendo, nenhuma das determinações e provimentos até aqui emitidos pelas autoridades públicas dos diversos Poderes e esferas de governo no Brasil atinge especificamente a Igreja ou afronta a fé cristã. São impostas a todos e dificilmente poderiam ser consideradas como perseguição aos cristãos, uma vez que submetem quaisquer cidadãos e grupos sociais, independentemente de suas crenças ou posicionamentos políticos e ideológicos. 

Quando chegarmos no nosso País a uma condição de termos que enfrentar governos que constranjam nossa fé, e, talvez, isso ocorra proximamente, que o Senhor nos dê graça para sermos fiéis a Ele e levarmos até o fim o cumprimento dos mandamentos que nos deixou, enfrentando a morte, se necessário: “a Deus o que é de Deus”

Enquanto isso, ainda que possamos perceber que caminhamos rapidamente na direção de um desfecho da história humana como predizem as Escrituras, não estamos legitimados a descumprir o claro ensinamento de Jesus e dos apóstolos quanto ao relacionamento entre Igreja e política, sob pena de estarmos fazendo exatamente o que o Inimigo quer: levar o conflito entre luz e trevas para seu próprio reino e domínio, isto é, a disputa pelo poder secular.

Que o Senhor, no dia da Sua manifestação, não nos encontre ocupados e embaraçados com questões científicas, sociais, ideológicas ou políticas sobre as quais não temos mandamento da parte d’Ele. Ao contrário, sejamos achados vivendo piedosamente, edificando Sua Igreja, amando uns aos outros e aos homens, proclamando o Seu Reino a nossa geração e fazendo discípulos por toda parte. 

Ainda mais nestes tempos de angústia e desesperança, de iniquidade e de perversão, de confusão e opressão, a Igreja deve ser sal e luz para todos, socorrendo aos aflitos, pregando aos perdidos, acolhendo aos desvalidos. 

Olhar apenas para Jesus, para seus mandamentos, fundamentar-se no Seu ensino e na doutrina dos Apóstolos, seguir seu exemplo e modelo, cumprir a missão até o fim.

 

Que a suficiente graça de Jesus seja com todos.

 

Seu conservo,

 

Fernando Saboia Vieira

 

Brasília, abril de 2021, AD

 

terça-feira, 1 de junho de 2021

As Fórmulas da Perseverança 

                                                Fernando Saboia, maio/junho 2021, AD

 

 

1)   Necessidade e importância de perseverar

 

Em diversas oportunidades Jesus advertiu seus discípulos quanto à necessidade e importância da perseverança. 

O Senhor bem sabia que eles enfrentariam muitos obstáculos, oposições e adversários pelo Caminho, os quais despertariam nos seus corações dúvidas e temores, levando-os ao risco de hesitações e retrocessos. 

Essas dificuldades não seriam sempre superadas de forma imediata e rápida, por intervenções diretas de Deus, milagres ou mudanças drásticas nas circunstâncias. Muitas perdurariam ao longo do tempo, exigindo dos cristãos uma qualidade especial de constância e de determinação, pessoal e comunitária.

De fato, no plano humano, a história da Igreja e da propagação do Evangelho não tem sido uma sequência ininterrupta de sucessos e conquistas, mas, sim, uma jornada repleta de embates e adversidades; enquanto, na dimensão eterna e espiritual, o Senhor realiza Seu propósito eterno, resgatando, salvando e transformando pessoas para constituírem Sua família.

 Desde então, cada geração de discípulos experimenta contradições e rejeições, nas mais diferentes formas, tanto religiosas, quanto intelectuais, tanto sociais, quanto espirituais, tanto pessoais quanto coletivas.

Todos nós enfrentamos lutas, tribulações e provações em nossa própria história e caminhada, causadas pelo pecado, ainda ativo em nossa natureza humana, por nossas más escolhas, por circunstâncias da vida, da sociedade, da família, por enfermidades, perigos e tanto mais. Mesmo depois de nos tornarmos cristãos, seguimos enfrentado essas dificuldades e ainda outras, avindas da nossa fé: as perseguições, rejeições, o ódio do mundo. 

 

Jesus disse a seus discípulos que a porta é estreita, e também o caminho é apertado, e que, certamente, eles, no mundo, passariam por aflições (Mt 7:13-14; Jo 16:33). 

 

Por isso, Ele nos preveniu expressamente quanto à necessidade de perseverança, com palavras como: 

 

“Mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 10:22 e 24:13; Marcos 13:13)

 

“É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma” (Lucas 21:19)

 

Seguir Jesus, ser seu discípulo, é um chamado para a vida inteira e envolve tudo o que somos e o que fazemos. Nessa jornada, encontramos dificuldades e resistências, tanto no mundo, que se opõe a Deus, quanto nas pessoas que não O conhecem; tanto nas hostes espirituais da maldade, que aqui atuam, quanto, e talvez principalmente, em nós mesmos, na nossa natureza humana ainda não totalmente redimida, sujeita a fragilidades e inconstâncias. 

Assim, a perseverança é necessária não apenas para resistirmos às circunstâncias e oposições externas, mas também, fundamentalmente, para não permitirmos que elas nos afetem interiormente, fazendo com que percamos “a nossa alma”, abandonando o caminho, a verdade, a graça e a vida que recebemos em Jesus.

Haverá um fim, um desfecho da história humana, quando o Senhor virá restaurar todas as coisas. Até lá, precisamos perseverar.

 

Em Apocalipse, vemos que a perseverança é uma virtude decisiva para a Igreja e para os santos nos últimos tempos (Ap. 2:2-3; 2:19; 3:10; 13:10; 14:12).

 

Os Apóstolos trataram de reforçar para a Igreja nascente e para as seguintes gerações de cristãos a importância e a necessidade de perseverar na fé recebida em meio às provações, tribulações e perseguições, tanto físicas quanto espirituais.

 

Paulo, na Carta aos Efésios, após discorrer sobre a luta espiritual e as armas necessárias para esse combate, exorta os irmãos a que 

 

“orem em todo o tempo no Espírito, com todo tipo de oração e súplica, e para isso vigiem com toda perseverançae súplica por todos os santos” (Efésios 6:18).

 

De fato, é inútil vigiar e orar sem perseverança, uma vez que a luta não se trava em um único dia e os inimigos não nos avisam sobre hora, lugar e natureza de seus ataques. Até mesmo nosso coração não raro nos surpreende, com suas debilidades e impulsos. Há embates que travaremos ao longo dos anos, às vezes por toda a vida.

 

As armas da chamada armadura espiritual, descrita pelo Apóstolo na Carta aos Efésios, a verdade, a justiça, o evangelho da paz e a fé, só podem ser manejadas com o exercício da perseverança, isto é, permanecendo firmes naquilo que do Senhor recebemos, sem desvios ou hesitações.

Devemos também considerar que se trata de uma tarefa coletiva da Igreja, de algo que precisamos e devemos fazer juntos, animando uns aos outros e em favor de todos os santos.

 

Assim é que Paulo também ora para que os colossenses sejam

 

“fortalecidos com poder, segundo a força da sua glória, em toda perseverança e paciência, com alegria” (Cl. 1:11).

 

Pedro considera a perseverança uma das qualidades a serem diligentemente buscadas: 

 

“Por causa disso, concentrando todos os seus esforços, acrescentem à fé que vocês têm a virtude; à virtude, o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança...

Porque essas qualidades, estando presentes e aumentando cada vez mais, farão com que vocês não sejam nem inativos, nem infrutíferos no pleno conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo” (2ª Pe. 1:6-8).

 

Na Carta aos Hebreus, depois de uma longa e profunda exposição sobre o sacrifício de Jesus e o acesso por meio dele colocado à disposição dos crentes ao trono da graça de Deus, o autor sagrado adverte: 

 

“vocês precisam perseverar para que, havendo feito a vontade de Deus, alcancem a promessa”pois “o justo viverá pela fé; e, se retroceder, dele a minha alma não se agradará”Por isso, é necessário que nós “corramos com perseverança a careira que nos está proposta”. (Hebreus 10:36-38; 12:1).

 

A perseverança também é um componente essencial do amor, uma vez que esse “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1ª Cor 13:7). Ou seja, o amor nunca desiste, não desanima, persevera em promover o bem do amado, apesar de dificuldades e adversidades.

 

Nesses dias confusos, difíceis e sofridos que vivemos, em meio a uma pandemia que está a provocar mortes, destruição, conflitos e miséria por todo o mundo, é certo que para nós, cristãos, a necessidade de perseverança se nos apresenta como evidente e fundamental em vários aspectos. 

Precisamos perseverar como indivíduos, como cidadãos, como cônjuges, como profissionais, como pais e mães e, especialmente, como discípulos de Jesus, para preservarmos a nossa alma e prosseguirmos em nossa caminhada com Ele, firmados na Sua verdade e em busca de Sua vontade e propósito para nós e para as pessoas.

Precisamos perseverar como Igreja, como povo e comunidade de Deus, na comunhão, na adoração, no amor e no serviço uns aos outros, no testemunho, na proclamação do Reino eterno, na esperança da Sua Vinda e no serviço aos homens. 

 

Queremos, em seguida, refletir um pouco sobre a dinâmica da perseverança, suas dificuldades e seus efeitos para nós, tal como apresentados nas Escrituras.

 

2)   A dinâmica da perseverança e suas dificuldades

 

Para os discípulos de Jesus, a perseverança não é um exercício motivacional, de força de vontade, de capacidade de autodomínio, de treinamento mental, ou o resultado da aplicação de algum método de reforço ou recondicionamento neural. A perseverança a que nos referimos aqui é resultado do exercício da fé em meio às provações, ela é o fruto da confirmação da fé, como lemos em Tiago:

 

“a fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tiago 1:2-4)

 

Mas a fé tem como objeto e fundamento a revelação de Deus sobre Ele mesmo, sobre nós, sobre o mundo, sobre o pecado, sobre a salvação. A fé não se apoia nos nossos conceitos, vontades, e convicções, e, menos ainda, em nossas capacidades de compreensão e de realização. Ela opera poderosamente no plano espiritual e é produzida em nós por ação direta do Espírito de Deus em nosso espírito.

A fé é uma faculdade do nosso espírito que, despertada pela revelação de Deus, de Sua Pessoa e de Sua verdade, pela ação do Espírito Santo, nos coloca em comunicação com o que está além de nós, do mundo visível e do nosso entendimento, e nos possibilita receber da verdade, da graça e do poder do Senhor.

 

Desse modo, somos chamados e exortados a perseverar no que, por meio da fé, recebemos do Senhor: na Palavra revelada, na comunhão dos santos, no andar no Espírito, no serviço, na proclamação, na imitação de Jesus, no amor uns aos outros, na expectativa de Sua volta.

Não podemos ser nós mesmos a estabelecer o foco e os alvos de nossa perseverança, se é que estamos em busca do Seu reino e da Sua vontade. Do mesmo modo, não virão de nós nem de ajudas humanas os recursos e capacidades para perseverar.

Perseverar em algo que não nos venha do Senhor e a Ele não nos conduza será obstinação e endurecimento de coração, e, certamente, nos levará à ruína espiritual por meio de caminhos ilusórios, distorcidos, traçados por nossas vaidades, nossos vãos pensamentos, nossos enganos, nossas fantasias, nossas concupiscências, nossos medos e ansiedades.

 

Portanto, para perseverar, é preciso, antes de mais nada, assumir uma atitude correta diante de Deus, de coração, de mente e de procedimento.

Eu devo primeiro buscar saber o que o Senhor requer de mim em cada situação ou circunstância, discernir qual a condição do meu coração que vai agradar a Ele, qual o meu agir ou não agir, qual o meu falar ou calar, qual a atitude a ser adotada por mim que irá na direção do Seu propósito e vontade. Somente então poderei, realmente, perseverar de modo a alcançar Sua manifestação, socorro e providência e a testemunhar, afinal, Sua Glória. 

Isso pode implicar, muitas vezes, a necessidade de correção das minhas convicções, posturas, sentimentos e desejos. E isso pode envolver algum nível de sofrimento.

 

Podemos ilustrar isso da seguinte forma. Imagine que alguém sofra uma grave fratura na perna. Antes de imobilizar o local para que ocorra o processo de calcificação e cura do trauma, no devido tempo, o médico precisa se certificar de que aquele osso quebrado esteja na posição adequada, com suas partes corretamente alinhadas. 

De outro modo, pode ocorrer que a solidificação se dê de maneira errada, na posição incorreta, produzindo um aleijão e muito mais dores. Neste caso, seria necessária, talvez, uma cirurgia para “quebrar” novamente aquele osso e colocá-lo na posição adequada, a fim de que o membro não perca sua funcionalidade.

Algo parecido ocorre com nossa alma. Se, apesar de termos sofrido uma “fratura” qualquer, estamos com o coração, a mente e os propósitos na posição certa, com nossas convicções, sentimentos e vontades alinhados com o Senhor, nossa perseverança produzirá os resultados que Ele espera e deseja, no devido tempo. 

No entanto, se não for esse o caso, se estivermos em má disposição de coração, de pensamentos e de propósitos, nossa perseverança se tornará em obstinação, e produzirá distorções graves na nossa consciência e no nosso caráter. 

No primeiro caso, o tempo será nosso aliado e nos aproximará a cada dia dos frutos de Deus na nossa vida, solidificando as virtudes que Ele quer produzir em nós e dando a Ele espaço para agir em nós e nas circunstâncias.

No entanto, no segundo caso, o tempo será nosso inimigo, nos levando cada vez para mais longe da cura e restauração, causando endurecimento do nosso coração, cauterizando nossa consciência, reforçando vícios do nosso caráter e não permitindo a intervenção do Senhor.

Se, por exemplo, insistirmos em buscar e esperar justiça e reparação de danos sofridos, quando Jesus nos indica a necessidade de renúncia, misericórdia e perdão, colheremos, como frutos de nossa obstinação, ressentimentos e amarguras. 

No entanto, se colocarmos nosso coração no lugar certo, alinhado com Jesus, e perseverarmos em fazer o que agrada a Ele, nesse caso, em renunciar, exercer misericórdia e perdoar, vamos permitir que o Senhor aja e, no Seu tempo, manifeste Sua glória, nos moldando a Ele e intervindo na situação de acordo com Seu propósito.

 

Essa correção de postura e de atitude, no entanto, vai quase sempre implicar tomar a cruz, negar a si mesmo, desistir de direitos e de sonhos, aceitar a admoestação do Senhor e escolher Sua Vontade. E isso pode envolver dor e sofrimento.

 

Algumas dificuldades na perseverança podem estar relacionadas a uma falta de compreensão e clareza sobre o propósito de Deus, sobre o Seu tempo de agir ou sobre a dimensão espiritual do Seu reino.

Há também aqueles que são imediatistas, que buscam soluções instantâneas, tão frequentemente oferecidas pelos mentores e influenciadores desta geração. 

Velocidade e superficialidade andam frequentemente juntas, e não costumam ser estratégias de Deus.

A busca por novidades, por distrações, por sensações, por conforto emocional, por consolos e recompensas, a inquietação de alma, a instabilidade de propósitos e planos, a falta de convicções pessoais, tudo isso conspira contra a perseverança, que de nós requer fé, confiança no Senhor e firmeza de mente e de coração.

 

Vivemos num tempo em que prevalece uma mentalidade de evitar dores e desconfortos a tudo custo, a partir de um conceito de que qualquer sofrimento, oposição ou dificuldade devem sempre rejeitados e contornados o mais rapidamente possível.

A perseverança nos aponta para uma mentalidade e atitude opostas a essas.

A perseverança nos leva a compreender que as oposições e adversidades não apenas fazem parte da caminhada, mas que elas, na verdade, são essenciais para nosso crescimento e amadurecimento, se de fato queremos ser formados à imagem do Senhor, que suportou tantas aflições e contradições conta si mesmo e perseverou até o fim, cumprido na cruz, e não em um trono, a vontade do Pai.

 

Não é de surpreender que nos nossos dias tudo o que demanda comprometimento, esforço e dedicação ao longo do tempo, sem promessa de recompensa rápida e imediata, tende a se enfraquecer e se perder, como relacionamentos, famílias, amizades, vocações, carreiras voltadas para o serviço e o bem de todos, etc.         

 

Podemos compreender algo sobre como Deus age quando perseveramos e sobre o quanto a perseverança é necessária meditando em alguns textos em que essa virtude desponta como essencial para que se produzam os efeitos e os frutos que Ele deseja.

 

3)   Fórmulas da perseverança

 

Encontramos, nos ensinos apostólicos, várias recomendações, admoestações e instruções para nossa jornada espiritual, pessoal e coletiva. Queria comparar duas dessas passagens bíblicas a fórmulas, ou seja, a combinações de elementos para a produção de resultados, a fim de evidenciar como a perseverança se constitui num componente essencial para a ação de Deus em nós, por meio de nós e nas circunstâncias que nos cercam.

 

Vamos meditar, inicialmente, em Tiago 1:2-4, onde lemos:

 

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”

 

Aqui encontramos uma fórmula (um caminho, uma estratégia de Deus) para produzir pessoas perfeitas e íntegras (maduras, plenas, sem deficiências, santas): 

 

provações (várias, múltiplas) + fé aprovada + perseverança + tempo (ação completa).

 

A palavra traduzida por provação tem o sentido de um teste, de ser submetido a uma prova. Em alguns textos bíblicos ela significa também tentação, como no caso de Jesus no deserto, quando fica explícito o propósito de fazer cair da fé.

Precisamos tomar cuidado, e orar, para que não entremos ou caiamos em tentação, para que não sucumbamos diante de uma provação, para que não sejamos reprovados em um teste da nossa fé. 

Podemos ser provados ou tentado por algo que não seja mau em si mesmo, como recursos materiais, oportunidades de sucesso, possibilidades de realizações. Assim, é necessário que tenhamos sempre em vista o que o Senhor quer para nós, o que coopera com Seu propósito e traz glória para Ele na vida que vivemos, nas nossas circunstâncias e realidades.

É importante notar que, quando somos provados, o que está em teste não são nossas capacidades ou conhecimentos, mas, sim, a nossa fé. E é da confirmação, da aprovação da nossa fé, que brota a perseverança

Assim, a perseverança é produto da fé vivida a cada instante, sustentada em cada ocasião, levantada como escudo em cada ataque maligno, defendida e exercida ao longo do tempo, em todas as circunstâncias da vida. 

Perseverar é viver pela fé momento após momento.

A perseverança, por sua vez, precisa ter “ação completa”. Isso significa que as provações permanecerão enquanto o Senhor estiver operando por meio delas, que é necessário que aguardemos o tempo de Deus, mantendo uma atitude de confiança e esperança n’Ele. 

Nossa tendência é desejarmos que as provações passem o quanto mais brevemente, que nosso livramento venha de imediato. E não há nada errado em pedirmos isso ao Pai, como fizeram tantos santos e santas nas Escrituras.

Mas devemos nos armar de determinação e coragem para sustentarmos nossa fé e confiança até quando Ele entender necessário para produzir em nós a Sua Imagem, o Seu caráter, a estatura da plenitude do Filho. 

Todo fruto é colhido no devido tempo. O minério precisa ficar na fornalha o tempo necessário para a purificação do metal. 

 

 

Maturidade, a perfeita varonilidade, a plenitude da estatura de Cristo, são obtidas ao longo de uma vida de fé, amor e esperança, com a ajuda dos santos e mediante a ação poderosa do Espírito, para o que não podemos ser inconstantes como meninos, agitados para todos os lados por qualquer vento de doutrina ou pelas astúcias dos homens (Ef. 4:11-16).

 

Em Romanos 5:3-5encontramos outra fórmula espiritual que tem como ingrediente a perseverança, esta para gerar esperança e certeza do amor de Deus: 

 

tribulação + perseverança + experiência (caráter aprovado, virtude comprovada)

 

“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado”

 

Pode-se entender tribulação como o tipo de provação que envolve sofrimento. Essa palavra é traduzida, em alguns lugares no Novo Testamento, por angústia ou aflição.

Paulo afirma diretamente que as tribulações produzem perseverança e que, por isso, devemos nos gloriar nelas. É importante considerar que esse texto começa, no verso primeiro, com uma afirmação da nossa fé: 

 

“justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom 5:1).

 

Encontramos, então, a mesma combinação apontada por Tiago: a , ao nos colocar em um relacionamento correto com Deus (justificados), faz com que possamos suportar as tribulações, uma vez que temos paz com Deus, de modo a produzir em nós perseverança – consistência, determinação, solidez.

E a perseverança, por sua vez, vai produzir um caráter aprovado, virtude comprovada, uma qualidade de vida e de procedimento que refletem a natureza do Pai e Seu propósito para nós.

   

A perseverança é necessária para nos levar ao aprofundamento do nosso relacionamento com Deus, criando em nossas vidas espaços, tempos, situações em que prosseguimos a fazer o que Ele quer ou a esperar por Sua intervenção, confiados em Sua graça e poder, à espera dos frutos e tesouros celestiais por Ele prometidos. Assim, seremos testemunhas e objetos de Sua ação e do Seu amor. 

Teremos histórias da vida de Deus em nossas vidas para contar, experiências que vão nos levar cada vez mais a uma união com Ele. Nessa jornada, vamos conhecer mais a Deus e a nós mesmos e vamos experimentar, em nossas vidas, a Sua bondade e a Sua boa, perfeita e agravável” vontade.

 

4)   Necessidade de perseverança hoje

 

Muitas vezes, especialmente em circunstâncias e tempos adversos, nossa necessidade maior não é de novidades, de métodos infalíveis, de soluções imediatistas, de seguir líderes motivadores, de recursos e de conceitos modernos, mas, sim, de perseverança naquilo que recebemos e cremos.

De fato, depois de alguns anos de caminhada com o Senhor, já teremos conhecido boa parte do Seu conselho, da doutrina, dos mandamentos, da verdade revelada para as mais diversas circunstâncias e aspectos da vida. 

Para que esse conhecimento produza frutos do Reino em nós é necessário que perseveremos e nos aprofundemos na experiência dessas coisas, e que não sejamos indecisos e inconstantes, mesmo diante de provações e tribulações.

Infelizmente, temos visto a Igreja nesses dias muito fascinada com o ritmo e a dinâmica do mundo atual, que está sempre a oferecer novidades, produtos inéditos, métodos diferentes e histórias de sucesso para todos os gostos e fantasias. 

Muitos ministérios e muitos cristãos têm sido influenciados por uma mentalidade imediatista, consumista, sempre em busca de resultados, de sucessos e de confortos, tornando frágeis o caráter das pessoas, os relacionamentos e os propósitos.

Desnecessário dizer que isso vai totalmente contra o que o Senhor aponta para os seus discípulos, que devem viver em busca do Reino eterno, da qualidade de vida e de caráter que o Evangelho requer, para o que a perseverança é condição e virtude imprescindível.

 

Precisamos perseverar em orar, perseverar em buscar ao Senhor, perseverar em proclamar, perseverar em sermos família e Corpo, perseverar em servir, perseverar em adorar, perseverar em celebrar, perseverar quando sofremos,perseverar quando somos atribulados, perseverar quando somos provados, perseverar quando somos perseguidos.

 

Talvez cada um de nós possa hoje relacionar várias situações nas quais precisa perseverar. Devemos, em primeiro lugar, ter certeza de estamos assumindo a postura correta, os conceitos, os sentimentos, os alvos e os propósitos do Senhor em cada uma delas, e não nossos próprios desejos, medos e fantasias. 

Depois, tenhamos disposição para fazer as correções que forem necessárias, para, afinal, exercitarmos nossa fé e confiança no Pai, perseverando em viver, buscar, fazer e esperar segundo Sua vontade e propósito.

Finalmente, ainda que a perseverança seja uma qualidade a ser buscada e desenvolvida por cada um de nós, não devemos nos esquecer de que ela também deve ser estimulada e alimentada pela vida do Corpo, na reciprocidade dos relacionamentos, no ânimo, no consolo e na exortação uns aos outros.

 

Queridos irmãos e irmãs, não sejamos dos que retrocedem, nem dos que são inconstantes e volúveis, mas, sim, dos que perseveram, em meio às provações e tribulações, até o encontro com o Senhor.

 

Que a suficiente graça de Jesus seja com todos.

         

         Fernando