segunda-feira, 31 de maio de 2010
Versos no Altar
posso te adorar
com meus olhos abertos
e contemplar
o esplendor da Tua glória
e a profundidade
da Tua sabedoria
e a magnificência
do Teu poder
em tudo o que criaste
do nano ao infinito
dos átomos aos cosmos
do singelo ao impenetrável
do belo ao terrível
a vida e tudo o que existe
posso te adorar
com toda a força da minha voz
com toda a destreza das minhas palavras
com todos os cânticos e harmonias
inventados no céu e na terra
em línguas conhecidas e estranhas
em grandes clamores e exaltações
com danças e gritos de vitória
no dia e na noite
mas também
posso te adorar
com meus olhos fechados
e a voz em silêncio
e contemplar
a beleza da santidade do Teu Ser
e me quedar iluminado
por Tua Face resplandecente
nas trevas da minha alma
e ser cheio
da Tua gloriosa Presença
no vazio íntimo do meu coração
e te amar
mais exaltadamente do que o cântico
mais ousadamente do que a imaginação
mais perdidamente do que a paixão
com um amor
mais intenso do que o sentimento
mais verdadeiro do que o conhecimento
mais profundo do que o universo
e te amar
esquecidamente de mim mesmo
sem tempos
sem razões
sem palavras
sem desejos
sem perguntas
apenas e totalmente
em Ti
perdido na imensidão do Teu Ser
maravilhado com Teu amor
e, finalmente, livre
amante
transformado
encontrado com minha natureza eterna
alada
Maio de 2010, aD
Fernando Sabóia
domingo, 30 de maio de 2010
A Vida Interior
Guardar o Coração - As Fontes da Vida
Caros,
Continuo meditando em Provérbios 4:23. Guardar o coração porque dele procedem as fontes da vida. Outras traduções “dizem as saídas da vida” (NKJ) ou, simplesmente, “provem a vida” (BJ).
O coração é a sede do intelecto, dos sentimentos e da vontade. Sem sua atuação não há vida, nem mesmo a vida biológica pode subsistir sem o comando das funções superiores do cérebro.
Qual é, então, a fonte geradora e sustentadora da vida humana? Os alimentos? A luz do sol, que energiza o planeta e promove as reações físico- químicas que produzem a matéria orgânica? O contexto dessa citação de Provérbios (v. 20-22) sugere que essa fonte geradora de vida é a palavra de Deus, Seus ensinamentos.
O Senhor Deus disse e Seu Filho declarou que “nem só de pão vive o homem, mas de tudo o que procede da boca de Deus”. Da boca de Deus saiu o sopro que lhe deu vida, dela também saem as palavras que são espírito e vida para seu corpo e sua alma.
O coração, a alma, o homem interior é onde recebemos essa comunicação da vida divina e é lá que ela é processada, decomposta e aplicada a cada aspecto de nossa existência. No coração acontecem as mudanças, as reações, as trocas vitais essenciais para a pessoa integral, corpo, alma e espírito. Ou seja, a comunicação do Espírito de Deus, a transmissão de Sua vida no nosso coração opera no nosso pensar, no nosso sentir e no nosso querer. Ai o Senhor derrama, infunde o Seu pensar, o Seu sentir e o Seu querer, produzindo confronto, transformação, fortalecimento.
Nos fomos criados para receber essa comunicação vital e reagir a ela. E isso ocorre no coração, no homem interior. É lá que o Espírito Santo atua regenerando, renovando, purificando, dinamizando, vivificando nossos pensamentos, sentimentos e vontades. Essa não é uma experiência única, estática, mas é um fluir, um jorrar contínuo, como é a vida. Às vezes intensa, às vezes suave, às vezes arrebatadora, às vezes quase imperceptível, mas sempre real e transformadora. Importa, pois, acima de todas as coisas, guardar o coração, para que ele permaneça disponível para receber a comunicação da vida de Deus, limpo, manso, humilde, completamente disponível para Ele.
Graça seja com todos.
Fernando Sabóia
sábado, 29 de maio de 2010
Versos no Altar
um calma profunda
silenciosa e acolhedora
como uma madrugada de domingo
como um longo entardecer
no cerrado
uma voz que me fala sem palavras
mas que se faz ouvir em todos os sons
em todas as quietudes
nas plantas, nas águas
nos movimentos, nos ventos
nos insetos, pássaros e animais
nos seres alados invisíveis
que tudo presenciam
uma calma profunda
e silenciosa
fecunda como o começo dos tempos
intensa como o final de uma longa viagem
permanente como o ser
elevada como o amanhecer
Fernando Sabóia
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Versos no Altar
presença e silêncio
diante de Ti
um profundo silêncio
me invade
ainda que haja sons, palavras
e música por toda parte
mesmo quando oro
proclamo e canto
há um profundo silêncio em mim
mais musical
mais exaltado
mais intenso
do que todas as melodias, palavras
e cânticos
um silêncio que me leva a um lugar
maravilhoso
multicolorido
repleto de harmonias
de luzes, de vozes
e de seres impressionantes
eu sei que lugar é esse...
é minha casa
a morada eterna para onde vou
oh, Senhor, para onde Tu me levas...
Maio 2010, aD
Fernando Sabóia
terça-feira, 25 de maio de 2010
A Vida Interior
Caros,
As armas de Satanás são as mentiras, pensamentos altivos, maus desígnios, seduções, enganos, soberba, temores, culpas, acusações, amarguras e tantas outras que se instalam na alma do homem, em seu coração, e de lá o contaminam completamente.
As armas de nossa milícia, por outro lado, são a obediência, a humildade, a mansidão, o cinto da verdade, a couraça da justiça, o capacete da esperança, o escudo da fé, a palavra de Deus, os pensamentos do alto, os sentimentos puros etc, tudo voltado para a vida interior, para a comunhão íntima com o Pai, para a vida de Jesus em nós, para a plena habitação do Espírito.
Vemos, assim, que o coração é tanto o terreno quanto o objeto de disputa na guerra espiritual. Muitas vezes as pessoas só conseguem ver os aspectos externos dessa luta: doenças, adversidades, as opressões, os problemas financeiros etc e não percebem o que de fato está em questão: o destino eterno das pessoas.
Essas circunstâncias boas ou más da vida são apenas instrumentos que o inimigo usa para tentar atingir o coração do homem, seja com o sofrimento, seja com o prazer. Este último, aliás, pode ser ocasião de intensa luta espiritual da qual muitas vezes sequer nos apercebemos
Mas essas mesmas situações são aptas a produzirem em nosso coração a fé, a perseverança, a experiência, a esperança, o amor, a santidade e todas as virtudes do caráter de Cristo. E é exatamente por isso que o Senhor permite que elas venham sobre nós.
Assim, precisamos guardar nosso coração não apenas do colesterol alto, da hipertensão ou de enfermidades, mas, principalmente, dos vícios do caráter, dos sentimentos impuros, dos maus pensamentos, das mentiras e demais agentes nocivos à santidade.
Mais do que isso, é preciso recorrer a tudo quanto possa nos garantir saúde interior, como a verdade, o fruto do Espírito, o perdão, a graça de Jesus, o amor do Pai.
Graça seja com todos.
Fernando Sabóia
O que é o Sobrenatural?
"Crer no sobrenatural não é simplesmente crer que, depois de viver aqui uma vida bem-sucedida, material e razoavelmente virtuosa, a pessoa continuará a existir no melhor substituto possível para este mundo, ou que, depois de viver aqui uma vida de privações e necessidades, a pessoa receberá compensação de todas as coisas que não experimentou: é crer que o sobrenatural é, aqui e agora, a maior das realidades". T.S. Eliot
"E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste". João 17:3
Fernando Saboia
Quando entendemos que o mundo que percebemos pelos nossos sentidos é apenas uma limitação, uma seleção de cores, imagens e sons feita pelos nosso limitado "equipamento" sensorial e direcionada pelos nossos preconceitos, descobrimos que a Realidade que nos certa é muitíssimo mais diversificada, surpreendente e vai muitíssimo além de nossa parca visão e mesmo de nossa encolhida imaginação. É essa a perspectiva da fé. Não apenas a aceitação de verdades abstratas, mas a apreensão de um Todo, a imersão num Universo que escapa aos nossos sentidos, a união com Ele, que é tudo em todos, em quem estão escondidos todos os mistérios e todo o conhecimento.
Só para não deixar passar: Eliot foi um grande poeta.
Je t'embrasse, ma belle fille...
Fernando
sexta-feira, 21 de maio de 2010
A Vida Interior
Caros,
A Palavra diz que devemos "guardar o coração porque dele procedem as fontes da vida". Fiquei pensando que isso significa que do mesmo modo como protegemos nosso corpo contra as agressões externas - perigos, enfermidades, o que pode causar dor, fazer mal etc - também devemos aprender a guardar (proteger, defender, preservar, conservar, manter íntegro) o coração daquelas coisas que lhe causam dano – sentimentos impuros, pensamentos impróprios, sonhos egoístas, temores, preocupações, ansiedade, conflitos etc.
Afinal, como disse Jesus, são essas coisas que contaminam o homem, mais do que as materiais e exteriores.
Como fazer isso? Penso que o caminho é fortalecer e ordenar o "homem interior", alimentando-o com pensamentos do alto, com sentimentos purificados e propósitos nascidos em Deus. Para isso é preciso que a gente aprenda se "desligar" emocionalmente das coisas deste mundo que passa, tanto das boas quanto das ruins, tanto das passadas quanto das possibilidades futuras. Usar o mundo como se não usasse, pois é uma figura, uma sombra que passa.
Também penso ser fundamental dedicar algum tempo à meditação na Palavra, que é “perfeita e restaura a alma”. Não apenas ler, não apenas instruir a mente, mas alimentar a alma com ela, pensando, ponderando, colocando-a no coração, onde ela deve ser guardada.
Sobre isso, são interessantes os textos de Madame Guyon (Caminho para Oração) e de Andrew Murray (Comunhão Diária com Deus), postados neste blog.
Graça de Jesus seja com todos.
Fernando Sabóia
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O Passarinho Profeta
o passarinho profeta
canta
para me lembrar
que o Senhor ama a música, a alegria
e o louvor
(mesmo nas segundas-feiras)
voa
para me dizer
que onde está o Espírito de Deus
aí há liberdade
(ainda que eu me sinta prisioneiro
das minha rotinas e dos meus medos)
descansa folgado
para me mostrar
que é o Pai quem cuida
dele e de mim
(e não meu suor, minha rugas,
minhas complicadas conjecturas)
Fernando Sabóia, de "Café com Poesia"
terça-feira, 18 de maio de 2010
A Vida Interior
Uma linha de aprofundamento dessa busca se desenhou para mim a partir de dois textos paulinos nos quais ele contrasta o “homem exterior” e o “homem interior” (2a aos Coríntios 4:16-18; Efésios 3:16).
Quero, assim, apresentar aos que sentirem a mesma sede de experimentar os rios de água viva que fluem do “interior”, minhas reflexões sobre o tema, divididas em três partes: a primeira, sobre a tensão entre o “homem exterior” e o “homem interior”, como dimensões de consciência e atividade da alma; a segunda, constituída pela breve exposição de vários textos bíblicos acerca da vida interior, demonstrando sua importância e natureza; e a terceira dedicada à sugestão de um “roteiro de viagem” em busca da vida interior.
Sei que é uma leitura que atrairá poucos, mas agradeceria qualquer comentário sobre os textos.
Segue a 1a Parte.
Graça de Jesus seja com todos.
Fernando Sabóia Vieira
O Homem Interior
“... que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior...” Efésios 3:16
1a Parte
O HOMEM INTERIOR E O HOMEM EXTERIOR
A dimensão interna diz respeito a sua autoconsciência, o seu eu presente a si mesmo, o que “somos” momento a momento. Estamos sempre conscientes de nós mesmos, de nossos sentimentos, vontades e pensamentos.
A externa se refere às atividades, realizações, problemas, aspirações, relacionamentos que ocorrem no ambiente em que nos encontramos. Estamos sempre conscientes do mundo que nos cerca, de estarmos imersos numa “realidade” exterior a nós com a qual temos que lidar.
A todo momento, olhamos simultaneamente para ambas essas dimensões. Nossa alma flutua continuamente entre o nosso mundo interior e o mundo exterior, o presente, as lembranças do passado e as possibilidades do futuro, na busca de suprir suas necessidades fundamentais.
Somos, no entanto, fortemente atraídos pela vida exterior, para a qual apelam nossos sentidos físicos e para a qual nos impulsionam nossas ansiedades, temores e expectativas. Assim, pode acontecer que nossa alma esteja constantemente “ausente de casa”, isto é, fora de contato com o seu mundo interior, isto é, com sua verdadeira identidade.
Vivemos num mundo de imagens, sons, sensações, pressões, desafios, necessidades, tentações, aparências. Nossa alma passa a maior parte do tempo e investe a maior parte de sua energia vital em atividades “externas”, vagando no mundo das possibilidades, envolvida com ansiedades, temores, aspirações, desejos etc.
Há, assim, um grande desgaste emocional e espiritual na busca de uma “realidade” que nunca está lá, que não podemos alcançar e que não é capaz de suprir nossas necessidades mais fundamentais.
É um desgaste do “homem exterior” que não produz, todavia, renovação do “homem interior”, ao contrário, este também se enfraquece com o desânimo e desesperança.
Há um mandamento da lei moral de Deus freqüentemente esquecido, ignorado mesmo, pelos cristãos modernos. “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho...”
Essa não é uma mera recomendação do Senhor para nosso conforto e bem-estar, nem um preceito ritualista. É uma ordem de Deus que desafia e confronta nosso ativismo, nossa cobiça, nossa busca de nossos próprios interesses, nosso egoísmo e principalmente nossa falta de confiança na bondosa providência de Seu Amor.
Nós temos uma enorme dificuldade de parar, de descansar, porque vivemos numa sociedade na qual o fazer define o ser. Enquanto estamos envolvidos em algum “fazer”, encontramos sentido para a vida e assumimos uma identidade perante os outros. Mas quando não estamos “fazendo” algo nos deparamos com um vazio, um silêncio e uma falta de significado que nos assombram.
No entanto, somente quando paramos e descansamos, quando nos libertamos das externalidades da vida material e das sensações que nossos sentidos nos trazem a todo momento, é que temos a oportunidade de um verdadeiro com o “ser”, nosso ser pessoal e o Ser Infinito que nos chama a uma comunhão com Ele.
O ativismo moderno, que contamina também os cristãos, muitas vezes envolvidos em mega organizações, com mega orçamentos e mega projetos, já foi chamado de a “heresia da ação”, quando pretende transformar o mundo por essa via, esquecendo-se de que a igreja deve ter como primeiro alvo a santidade e o Reino de Deus.
O fato é que o homem moderno teme profundamente o silêncio e a solitude. Prefere manter-se distraído e alienado de si mesmo o maior tempo possível, enchendo-se de sensações, desafios, sons, imagens, prazeres, projetos e, assim, não enfrentar aquelas perguntas fundamentais que fatalmente lhe ocorrerão nos momentos de quietude e de reflexão.
Nossa civilização tecnológica, mais do qualquer outra n história, é pródiga em fornecer, de modo praticamente ininterrupto, tais distrações para ocupar os sentidos e entorpecer a alma.
Desse modo, ficamos a maior parte do tempo “ausentes” de nosso ser verdadeiro e profundo, não rotulado e não definido por suas atividades nem pelo tempo.
O mundo físico “exterior” é caótico, perigoso e cheio de “aflições”, tanto quanto de atrativos e seduções. Também é menos seguro e objetivo do que nossos sentidos parecem nos informar. O que se projeta em nossa mente são sensações, percepções e informações filtradas pela nossa limitada capacidade de ver, de ouvir, de sentir, de perceber e de apreender.
Os mundos não físicos que nós criamos com nossos sonhos, fugas, medos e fantasias, também “exteriores” a nosso ser interior, são igualmente confusos, aflitivos e enganosos.
Tanto o mundo físico quanto os mundos de sonhos são ilusões de nossos sentidos e de nossa mente. Eles não são a Realidade, mas apenas aproximações dela, representações parciais, eventualmente distorcidas, eventualmente belas, mas que não podem nos levar a um encontro verdadeiro conosco mesmo e com a Vida.
Por outro lado, temos muitas dificuldades em buscar interiormente o sentido para nossa vida, o silêncio e a nossa identidade essencial, pois tememos encontrar aí um grande vazio, perguntas que não respondemos, esperança que não temos, uma inquietação (angústia) permanente de viver.
Ocorre que quando nossa vida é, desse modo, orientada pelo “exterior, voltada para essa dimensão, ela perde seu contado com sua origem, com sua fonte e não consegue encontrar “fora” nada que de fato a satisfaça.
Muita debilidade espiritual e doença de alma tem sua origem na desconexão entre o homem exterior e o interior, no enfraquecimento deste último e no superdimensionamento das atividades periféricas em detrimento de uma busca efetiva de fortalecimento espiritual.
Essa tensão “interior”/”exterior” é, assim, num sentido mais profunda do que aquela “pecado”/”santidade”, pois podemos tanto ter uma vida “espiritual” guiada pelo “exterior” quanto pelo “interior”.
A questão é saber como conectar nosso ser interior com as fontes da Vida, com a Realidade, isto é, com o próprio Deus, e a partir dessa união fluir para uma existência verdadeira e significativa, que possa ordenar e harmonizar essas duas dimensões.
Toda nossa atividade exterior será inútil, desgastante, doentia e potencialmente pecaminosa se não for orientada a partir do interior.
Somente quando nossos pensamentos, sentimentos e vontades estão ordenados, purificados, transformados e guiados pelo Espírito que “habita dentro de nós” é que podemos ter uma vida saudável e significativa.
Quando falamos em “ordenar” a vida de alguém, ou a nossa própria, o que primeiro nos vem à mente são exterioridades, como o cumprimento dos mandamentos, a observância de um padrão de santidade nos relacionamentos, nas várias áreas da vida etc.
Ainda quando falamos em ordenar o “caráter”, focamos muito em exterioridades, como confessar pecados, não mentir, fazer o bem etc.
No entanto, é do interior que flui o poder transformador do Espírito Santo. É lá que a vida verdadeira é recebida e é de lá que ela é transmitida.
Mesmo procurando viver em santidade, podemos nos desgastar, nos frustrar grandemente com tensões e contradições e colher poucos frutos se não tivermos uma vida gerada e guiada a partir do interior.
Nossa “agenda” deve ser governada por nossa comunhão íntima com Deus, e não o contrário.
O Senhor disse que viria fazer morada “dentro” de nós pelo Espírito Santo. Ele é o gerador, criador e sustentador da vida. O propósito da existência de todo ser criado é estar unido a Ele.
É do interior que fluem os rios de água vida, é lá que o Espírito nos vivifica, comunica o amor de Deus, intercede por nós, nos consola e nos transforma, produzindo Seu fruto.
O fortalecimento do homem interior se dá pela habitação de Cristo no coração, pela fé. Acontecendo isso, temos revelação do amor de Deus e podemos ser tomados de sua plenitude.
Quando nossa vida é gerada, dinamizada e dirigida a partir de seu verdadeiro centro, que é a união de nossa alma com Seu Criador, ainda que soframos desgastes oriundos de nossa existência neste mundo, somos renovados interiormente.
Na parte seguinte, vamos explorar alguns textos bíblicos que destacam a importância, a natureza e a precedência da vida interior para uma comunhão efetiva, profunda e transformadora com Deus.
(1) Watchman Nee e outros identificam o "homem exterior" com a alma. Creio não haver fundamento bíblico para isso, pois no NT a "alma" refere-se, sempre, à vida interior do homem, seus pensamentos, sentimentos e vontades, equivalendo a "coração", "mente" e mesmo "vida". Sobre a expressão "homem interior", veja-se "Efésios, Introdução e Comentário", de Francis Foulkes, ed. Vida Nova/Mundo Cristão.
Fernando Sabóia Vieira
ALGUMAS LEITURAS SUGERIDAS
- Thomas Merton, “Homem Algum é uma Ilha”, cap. 12, “Recolhimento”;
- Thomas Merton, “Recolhimento”, em www.baudofernando.blogspot.com;
- Madame Guyon, “Mortificação”, em www.baudofernando.blogspot.com;
- Fernando Sabóia, Meditação e Contemplação, em www.baudofernando.blogspot.com;
- A W Tozer, “A Procura de Deus”, cap. 1;
- Evelyn Underhill, “A Vida de Oração e Adoração”, em www.baudofernando.blogspot.com.
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quinta-feira, 13 de maio de 2010
Sobre Meditação e Recolhimento
Um Caminho Curto e Fácil para Oração
Capítulo X – Da Mortificação
Até mesmo afirmarei que, de outro modo, é quase impossível jamais adquirir uma perfeita mortificação dos sentidos e das paixões.
A razão é óbvia. A alma dá vigor e energia aos sentidos, e os sentidos despertam e estimulam as paixões: um corpo morto não tem sensações nem paixões porque sua conexão com a alma está interrompida.
Todos os esforços que busquem corrigir apenas o exterior impelem a alma ainda mais para fora, em direção àquilo a que ela está tão calorosa e zelosamente dedicada. É nesses assuntos que seus poderes estão difusos e espalhados para fora: uma vez que seus esforços estão dirigidos a austeridades, e outras externalidades, eles reforçam os mesmos sentidos que ela deseja dominar. Pois esses sentidos não têm outra fonte de onde retirar seu vigor a não da dedicação da alma a eles mesmos, o grau de sua vida e atividade é proporcional ao grau de atenção que a alma lhes dedica, e essa vida dos sentidos estimula e provoca as paixões, ao invés de suprimi-las ou dominá-las. As austeridades podem, de fato, enfraquecer o corpo, mas pelas razões mencionadas, não podem jamais diminuir o aguçamento dos sentidos, ou diminuir sua atividade.
A única maneira de fazer isso é por meio do recolhimento interior, pelo qual a alma se volta completa e totalmente para dentro, a fim de possuir um Deus Presente. Se a alma direcionar todo o seu vigor e energia para esse centro de seu ser, esse simples ato a separa e retira dos sentidos. O exercício de todos os seus poderes internamente deixa os sentidos fracos e impotentes, e quanto mais ela se aproxima de Deus para mais longe ela é separada deles, e menos as paixões são influenciadas por eles.
De fato, aqueles em quem as atrações da graça são muito poderosas acham o homem exterior totalmente fraco e impotente, e mesmo propenso ao desfalecimento. Eu não tenho a intenção de desencorajar a mortificação, pois ela deve sempre acompanhar a oração, de acordo com as forças e o estado da pessoa ou como sua obediência permitir. Mas digo que a mortificação nunca deve ser nosso principal exercício e que não devemos prescrever para nós mesmos tais e tais austeridades, mas pura e simplesmente seguir as atrações internas da graça e estar possuído e ocupado com a Divina Presença (sem pensar particularmente em mortificação). Deus vai nos capacitar totalmente a isso e seguramente Ele não vai dar tréguas aqueles que permanecem confiantemente em seu abandono a Ele, até que Ele tenha neles mortificado tudo que ainda precisa morrer.
Nós apenas temos que continuar firmemente na maior atenção possível a Deus, e todas as coisas serão corretamente operadas. Nem todos são capazes de austeridades externas, mas todos são capazes disso. Na mortificação do olho e do ouvido, que continuamente alimentam a laboriosa imaginação com novos objetos, há pouca chance de exagerarmos. Mas Deus nos instruirá também nisso, e apenas temos que seguir a direção de Seu Espírito.
A alma tem uma dupla vantagem em proceder assim, pois ao se retrair de objetos externos ela é levada para mais perto de Deus, e ao aproximar-se Dele, além do secreto sustento e preservação do poder e virtude recebidos, ela é removida para mais longe do pecado, quanto mais perto dEle ela estiver, até que esse conversão se torne habitual.
Madame Guyon, "A Short and Easy Method of Prayer", in Christian Classics Ethereal Library - www.ccel.org.
Tradução: Fernando Sabóia Vieira
no princípio
Deus inventou o sim
e tudo se fez
depois o homem inventou o não
e foi o caos
Deus disse não ao caos
mas o homem amou si mesmo
e preferiu criar seu
próprio mundo, no meio do
caos
toda obra do homem tende
ao caos
porque o homem é existência
fugaz
decomposta da essência
eterna
toda obra de Deus
produz ordem, paz
sol e manhã, tarde e noite
e tudo se faz bom
porque Deus é
Fernando Sabóia, de "Crônicas do Caos".
segunda-feira, 10 de maio de 2010
sábado e domingo
escondido na minha alma
para onde Deus me chama
na viração do dia
e lá me conta histórias dos
novos céus e da nova terra
passeamos por alamedas ensombradas
rios pacíficos
e florestas primitivas
junto às fontes dos eternos começos
até que vozes angustiadas
me chamam de volta
para as ruas apressadas
e virulentas
por onde vou andar
até que depois do último sábado
alvoreça o Dia do Senhor
Fernando Sabóia de "Tardes e Manhãs"
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Sobre Meditação e Oração - Recolhimento
RECOLHIMENTO
Para meditar, eu devo fazer desaparecer de meu espírito tudo o que me impede de estar atento a Deus presente dentro do meu coração. É preciso, para isso, que eu me recolha. Mas é quase inútil fazê-lo no momento da oração se eu tiver deixado meus sentidos e minha imaginação se dissiparem durante o resto do tempo.
Desse modo, o desejo de meditar implica o esforço necessário para guardar um certo recolhimento durante todo o dia e viver numa atmosfera de fé, de orações intermitentes e de atenção a Deus. O mundo no qual vivemos oferece um problema torturante para aqueles que querem se habituar ao recolhimento.
O preço de um recolhimento verdadeiro é a firme resolução de não se interessar voluntariamente por nada que não seja útil a nossa vida interior. O mundo demanda inutilmente nossas emoções e nossos apetites sensuais. O rádio, a impressa, o cinema, a televisão, os cartazes, as placas luminosas nos incitam perpetuamente a dissipar nosso dinheiro e nossa energia vital em satisfações fúteis e efêmeras. Quanto mais nós compramos, mais somos pressionados a comprar. Quanto mais se faz publicidade, menos nós ficamos satisfeitos com o que compramos. E, no entanto, faz-se mais publicidade e nós compramos mais. Logo, tudo o que restará será o ruído, e a única satisfação do mundo será aquela das esperanças vãs e das aspirações jamais atingidas.
É preciso compreender que quase tudo o que nós lemos nas revistas ou nos jornais, e que vemos e ouvimos no cinema ou em outros lugares é absolutamente inútil sob todo ponto de vista. A primeira coisa a fazer para poder meditar é resistir fortemente aos apelos fúteis que a sociedade moderna nos dirige aos cinco sentidos. Vale dizer, mortificar nossos desejos.
Eu não me refiro aqui a extraordinárias práticas ascéticas, mas simplesmente às renúncias necessárias para viver segundo a razão e o Evangelho. Nos nossos dias, na América, tais renúncias podem se tornar heróicas. Na prática isso pode significar a renúncia às coisas supérfluas que nos chegamos a considerar como necessidades, ou pelo menos que adquiramos um domínio próprio suficiente para usá-las sem delas nos tornarmos escravos.
NT - Thomas Merton escreveu isso em 1960, quando ainda não havia os atuais meios de mídia eletrônica, os quais tem tornado essa situação ainda mais crítica.
Thomas Merton, "Direction Spirituelle et Méditation".
Tradução: Fernando Sabóia Vieira
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Bsb, maio de 2009. AD.
De Fernando Sabóia Vieira
Para Gustavo e Rafaela,
em maio de 2010, aD.
“Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava.”
O amor não se entrega ao imediatismo da paixão. Embora sinta toda sua intensidade e apelo, ele não se insurge contra o tempo de Deus e do outro. Não se impõe como uma necessidade, mas liberta como uma dádiva. A paixão se entrega, mas exige. O amor se oferece, e nada requer. O amor se intensifica e se purifica aguardando o momento adequado para cada expressão, para cada palavra, para cada passo. Esperar expõe nossas motivações e denuncia nossas exigências pessoais. Esperar nos coloca em sintonia com o propósito de Deus e nos direciona para o bem estar do outro.
A paciência é a virtude que transforma a energia da paixão na constância do amor. Esperar é o exercício que forma o caráter de quem ama com o amor de Deus, e não cede aos apelos incontidos dos sentimentos.
A paciência torna o tempo em aliado, faz dele parceiro na conquista de alvos mais excelentes; a impaciência faz do tempo um inimigo cruel, destruidor da esperança e da alegria. A paciência é forjada no confiar em Deus; a impaciência gera o desespero do homem. A paciência produz paz e contentamento; a impaciência gera ansiedade e amargura. A paciência é boa conselheira, ensina prudência e sobriedade; a impaciência leva à precipitação e à falta de senso.
Esperar é renunciar à independência e aos próprios projetos, é desistir de fazer as coisas acontecerem do nosso jeito, no nosso tempo e com nossos recursos. A impaciência rouba o lugar de Deus e nos coloca no comando da vida. Deixamos de ter o Senhor como nosso Pastor e passamos a depender de nós mesmos. Assim, a impaciência termina mesmo por sufocar e extinguir o amor, que só prospera quando o Senhor está no centro de tudo. Na impaciência, não existe amor. A impaciência é expressão de egoísmo, não de amor, que é o seu oposto. Num momento, ela pode parecer prova de afeição, mas é uma semente maligna, que logo produzirá seus frutos de dissensão, discórdia, cobranças e ressentimentos.
A paciência nos leva a não sacrificar o excelente para ficarmos com o bom; leva-nos a conquistar o eterno e a não nos contentarmos com o temporal. Amar com paciência, exercitar a paciência no amor, forma pessoas amadurecidas: crianças são impacientes, imediatistas e, assim, inconstantes. Aprender a esperar, suportar, manter-se firme num propósito, não se abalar com tempos, circunstâncias e aparências levará a experiências que produzirão crescimento em Cristo e darão solidez à vida e ao relacionamento.
O amor espera. Espera e cuida. Semeia e espera. Espera e vigia. Constrói e espera. Espera e oferece seu tempo como sacrifício vivo. Renuncia a seus ímpetos e demandas e espera. Espera para ver o bem do Senhor prosperar e desfrutar dele.
Esperar nos esvazia as mãos para podermos receber tudo de Deus, de quem procede todo dom perfeito e toda boa dádiva. Vocês só serão bênção do Senhor um para o outro se esperarem o tempo em que Ele mesmo os oferecerá como presentes dEle, um para o outro.
Filhos queridos, amem e esperem; esperem e amem. Façam da espera, amar; e do amor, esperar. E o Deus do amor e da graça será fiel e generoso com vocês.
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terça-feira, 4 de maio de 2010
acordo cedo
uma hora antes
oro, penso, planejo
me desespero, me encho de esperança
quero mandar na vida
tomo café
me arrumo, paletó e gravata
agenda, celular
contas para pagar
gente para encontrar...
mas a vida não tem chefe
a vida é o caos
anda e fala como quer...
inventa coisa
engarrafa o trânsito
faz chover, faz secar
endoida o povo
maltrata, encanta
nega tudo, confunde tudo
e depois explica tudo
meu dia tão organizado entra no caos
o caos entra no dia
e tudo se mistura
nem sei mais o que é o caos
e o que era o dia
o caos faz sentido
a ordem não faz sentido
enfim, o Senhor é meu pastor e nada
me faltará...
Fernando Sabóia, de "Crônicas do Caos"