terça-feira, 23 de março de 2010

Aniversário do tio Horácio Dídimo

Homenagem ao tio Horácio Dídimo
(Fernando Sabóia Vieira)

Cresci lendo a poesia do meu tio Horácio. Os versos simples na forma permitiam que, mesmo criança, lesse e gostasse, embora, certamente, naquele tempo, não pudesse alcançar a profundidade da sabedoria e o refinamento do humor que expressam. Mas me encantavam. Podia sentir a beleza dos sonhos que os inspiravam, algo de dor e de alegria sempre misturadas com um toque de leveza, de graça.
Hoje, quando me aproximo dos 50 anos de idade, leio suas histórias infantis, ápice, penso, da evolução de qualquer escritor ou poeta: escrever para crianças e ser lido por pessoas "maduras".
No dia em que ele completa 75 anos de idade, minha homenagem ao tio Horácio, a quem dedico o amor e a admiração que me sobram no coração desde o falecimento de meu pai.

tempo de barro
para Horácio Dídimo

o tempo é barro nas mãos do Oleiro
que faz novas todas as coisas
e nos dá hoje o dom de continuar
recomeçando
como a chuva que tudo renasce
e nos concede a graça
de ainda dizer palavras
que são companheiras nas ausências
e que fazem estrelas azuis brilharem
nos céus da poesia
pela primeira vez, mais uma vez

Tio, que Jesus lhe conceda ainda muitas palavras para que novas estrelas venham a brilhar nesses céus cada dia mais opacos de nossa humanidade que caminha rapidamente para a última noite.
Que a graça de Jesus seja com todos.

Brasília, em 23 de março de 2010.

Fernando Sabóia Vieira, com o carinho e admiração de Sandra, Gustavo e Luís Fernando, todos seus leitores.

Um pouco do tio Horácio

a chuva

vou recomeçar
como se fosse uma continuação
como se eu houvesse persistido toda a minha vida

esta tarde nublada não me mete medo
eu aceito
podem dizer a todo mundo que eu aceito

não é preciso subir nem descer
basta que eu fique aqui mesmo neste momento
aqui
agora
olhando através das vidraças
a água que começa a correr

o banco do jardim

ela foi embora
mas as palavras que ela disse ficaram
e conversaram muito tempo ainda

Horácio Dídimo, de "Tempo de Chuva".

ainda é tempo

ainda é tempo de se dizer alguma coisa
ou ao menos silenciar
significativamente
ainda é tempo de se chorar alguma lágrima
ou ao menos olhar
perdidamente
no espaço curvo de teus olhos
vitrais
catedral de inúmeras esperanças

o anãozinho

tanto fez
tanto fez
que uma estrela azul brilhou no céu
pela primeira vez

Horácio Dídimo, de "Tijolo de Barro"

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