quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

UM POUCO DE JULIANA DE NORWICH (1342-1413)



Deus ama e sustenta tudo o que Ele criou e tudo conduz para Seu propósito. Somente Deus satisfaz nossa alma e somente nEle podemos ter todas as coisas.
“Nessa mesma ocasião, nosso Senhor me mostrou uma visão do seu amor acolhedor.
Eu vi que Ele é tudo de bom e confortável para nós: Ele é nossa vestimenta que, por amor, nos envolve, nos agasalha e nos protege com terno amor, para que Ele nunca nos deixe, sendo para nós tudo de bom, assim eu entendi.
Também nessa visão ele me mostrou uma coisa muito pequenina, do tamanho de uma noz, na palma da minha mão, redonda como uma bola. Olhei para aquela pequena coisa com os olhos do meu entendimento e pensei: “o que poderia ser isso?” E me foi respondido, então: “isso é tudo o que foi criado”. Eu me admirei de como tal coisa poderia subsistir, porque conjecturei que poderia, de repente, desaparecer, de tanta pequenez. E me foi respondido, no meu entendimento: “ela subsiste e sempre subsistirá porque Deus a ama”. Então, tudo tem o seu Ser por causa do amor de Deus.
Nessa pequenina coisa eu vi três propriedades: a primeira, que Deus a fez, a segunda, que Deus a ama e a terceira, que Deus a mantém. Mas o que verdadeiramente significa para mim Deus ser Aquele que cria, Aquele que ama e Aquele em quem tudo subsiste, não posso ainda dizer, pois enquanto eu não estiver substancialmente unida a Ele nunca poderei ter completo repouso ou muita felicidade, quero dizer, até que eu esteja tão ligada a Ele que não haja entre meu Deus e eu qualquer coisa criada.
É preciso que tenhamos compreensão da pequenez das coisas criadas e que consideremos como nada todas as coisas criadas, para podermos ter e amar o Deus não-criado. Pois essa é a razão pela qual não temos sossego no coração e na alma: é que nós procuramos descanso nessas coisas que são tão pequeninas, nas quais não existe descanso, e não conhecemos nosso Deus que é Todo Poderoso, Todo Sábio e Todo Bom. Pois Ele é o verdadeiro descanso. Deus quer ser conhecido e Ele tem prazer em que descansemos nEle, pois nada inferior a Ele é suficiente para nós. E essa é a razão pela qual nenhuma alma tem descanso enquanto não se esvazia para todas as coisas criadas. Quando ela, de boa vontade, se esvazia, por amor, para ter a Ele, então ela se torna capaz de receber descanso espiritual.
Também nosso Senhor mostrou que é de grande contentamento para Ele que a alma carente venha a Ele de forma simples, completa e confiante. Pois o anelo natural da alma, pelo toque do Espírito Santo, pelo que pude entender da visão, é esse:

“Deus, por Tua Bondade, dá-me a Ti mesmo, pois Tu és suficiente para mim, e eu não posso pedir menos, o que não seja completa adoração a Ti; e se eu pedir o que for menos, jamais me concedas – mas somente em Ti posso ter todas as coisas”.

E essas palavras são completo amor para a alma, e elas tocam completamente a vontade de Deus e Sua Bondade. Pois Sua Bondade abrange todas as Suas criaturas e todas as Suas benditas obras, e permanece para sempre. Pois Ele é o que não tem fim, e Ele nos fez apenas para Ele mesmo, nos resgatou por Sua bendita Paixão e nos guarda no Seu Bendito Amor, tudo isso por Sua Bondade.”


“Revelações do Amor Divino”, cap. V


Tradução: Fernando Sabóia Vieira

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