faço poesia do que sobrou
do que se quebrou
de pequenas coisas inúteis
e abandonadas
que se vão acumulando no tempo
em qualquer armário velho da vida
em gavetas emperradas da memória
que ninguém se lembra mais
de abrir
são palavras que perderam o momento
e o sentimento
sorrisos inutilizados
pela ironia
emoções descartadas pelo desencanto
e pelo desencontro
sonhos e lembranças esquecidos
de uma infância e juventude
que nem são mais de ninguém
vou calado
catando e colando
romântico
polindo e juntando
distraído
mesclando e pintando
brincando de fazer arte
no meio dos lixões das almas sucatadas
consumidas
quebradas pelo caos da vida
que é minha maneira
de sobreviver menino
de fazer da poesia profecia
da morte ressurreição
do lixo esperança
Fernando Sabóia
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