sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Amar e Esperar



Amar e Esperar

Bsb, maio de 2009. AD.
De Fernando Sabóia Vieira

Para Gustavo e Rafaela
"O amor é paciente... o amor tudo espera..."
"Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava."

O amor não se entrega ao imediatismo da paixão. Embora sinta toda sua intensidade e apelo, ele não se insurge contra o tempo de Deus e do outro. Não se impõe como uma necessidade, mas liberta como uma dádiva. A paixão se entrega, mas exige. O amor se oferece, e nada requer. O amor se intensifica e se purifica aguardando o momento adequado para cada expressão, para cada palavra, para cada passo.
Esperar expõe nossas motivações e denuncia nossas exigências pessoais. Esperar nos coloca em sintonia com o propósito de Deus e nos direciona para o bem estar do outro.
A paciência é a virtude que transforma a energia da paixão na constância do amor. Esperar é o exercício que forma o caráter de quem ama com o amor de Deus, e não cede aos apelos incontidos dos sentimentos.
A paciência torna o tempo em aliado, faz dele parceiro na conquista de alvos mais excelentes; a impaciência faz do tempo um inimigo cruel, destruidor da esperança e da alegria.
A paciência é forjada no confiar em Deus; a impaciência gera o desespero do homem. A paciência produz paz e contentamento; a impaciência gera ansiedade e amargura. A paciência é boa conselheira, ensina prudência e sobriedade; a impaciência leva à precipitação e à falta de senso.
Esperar é renunciar à independência e aos próprios projetos, é desistir de fazer as coisas acontecerem do nosso jeito, no nosso tempo e com nossos recursos. A impaciência rouba o lugar de Deus e nos coloca no comando da vida. Deixamos de ter o Senhor como nosso Pastor e passamos a depender de nós mesmos.
Assim, a impaciência termina mesmo por sufocar e extinguir o amor, que só prospera quando o Senhor está no centro de tudo. Na impaciência, não existe amor. A impaciência é expressão de egoísmo, não de amor, que é o seu oposto. Num momento, ela pode parecer prova de afeição, mas é uma semente maligna, que logo produzirá seus frutos de dissensão, discórdia, cobranças e ressentimentos. A paciência nos leva a não sacrificar o excelente para ficarmos com o bom; leva-nos a conquistar o eterno e a não nos contentarmos com o temporal.
Amar com paciência, exercitar a paciência no amor, forma pessoas amadurecidas: crianças são impacientes, imediatistas e, assim, inconstantes.
Aprender a esperar, suportar, manter-se firme num propósito, não se abalar com tempos, circunstâncias e aparências levará a experiências que produzirão crescimento em Cristo e darão solidez à vida e ao relacionamento.
O amor espera. Espera e cuida. Semeia e espera. Espera e vigia. Constrói e espera. Espera e oferece seu tempo como sacrifício vivo. Renuncia a seus ímpetos e demandas e espera. Espera para ver o bem do Senhor prosperar e desfrutar dele.
Esperar nos esvazia as mãos para podermos receber tudo de Deus, de quem procede todo dom perfeito e toda boa dádiva. Vocês só serão bênção do Senhor um para o outro se esperarem o tempo em que Ele mesmo os oferecerá como presentes dEle, um para o outro.
Filhos queridos, amem e esperem; esperem e amem. Façam da espera, amar; e do amor, esperar.
E o Deus do amor e da graça será fiel e generoso com vocês.
///fsv

Alvorada

Sérgio de Avillez

Fernando,
Escrevi isto para você, amigo meu, meu igual.
Espero que aproveite.
.... sérgio de avillez ...
"E não vos conformei com este século, mas transformai-vos… (Rm 12.2).


Alvorada


Em tempestade
acorda o dia.
Com alarde de
raios e trovões
levanta-se.

De assalto
o medo toma
a minh’alma
em levante
desordenado.

Um motim e
devaneios sufocam
o pensar:
— Vou explodir!
Lágrimas brotam
rolam e inundam
a lucidez:
sou lavado.

Secam as gotas,
Amanhece o dia.
Todo tumulto se converte.
É a promessa infalível
do Pai e Criador
do dia e da noite,
que do pranto faz alegria,
que da dor tira força
e, do lamento levanta louvor.


Ao anoitecer, pode vir o choro,mas a alegria vem pela manhã. Salmo 30.5

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Esperar em Deus


ESPERAR EM DEUS - Salmo 131

Irmãos queridos,
Esse curto e singelo salmo chama a atenção pelo seu intimismo e profundidade. Sua conclusão, após expressar a humildade do coração e a quietude da alma, é que devemos "esperar no Senhor".
Estive meditando sobre o que significa "esperar no Senhor" a partir do contexto desse Salmo.
Esperar no Senhor é esvaziar o coração de tudo, planos, projetos, sonhos, ambições, fantasias, para ter exclusivamente a Ele e ter tudo Nele.
Assim, esperar no Senhor nos torna vazios para nos encher Dele e do Seu Reino.
Esperar no Senhor é desistir da agenda agitada e frenética do mundo, repleta de verbos como comprar, fazer, conquistar, realizar (ou mesmo, orar, aconselhar, jejuar, pregar!!), cheia de horários, tarefas e compromissos e começar cada dia com uma única pergunta no coração: o que o Senhor quer de mim hoje?
Esperar no Senhor é aprender a colocar a alma em silêncio, eliminando todo o pensamento e palavrório fútil, todo o ruído do mundo e todas as queixas e divagações da carne que tão facilmente se acumulam em nossas mentes. O Senhor ainda fala, mas, nesses dias de sons imagens e multimídia, quem ousa colocar o coração em silêncio para ouvi-lO exclusivamente, sem estar o tempo todo argumentando, questionando, queixando-se, desejando, jactando-se?
Esperar no Senhor é entregar a Deus os impossíveis e descansar.
Esperar no Senhor é continuar obedecendo, em qualquer circunstância, confiando na capacitação que Ele dá e sabendo que Sua vontade é "boa, perfeita e agradável".
Esperar no Senhor é submeter-se ao tempo de Deus.
Esperar no Senhor é não confiar em si mesmo, no mundo, no modo de fazer do mundo, nem em capacidades ou programas humanos.
Esperar no Senhor jamais será imobilismo. As pessoas mais ativas e úteis na obra de Deus são as que ousam descansar Nele em meio à tempestade, esperar por Ele quando tudo é tão urgente e não fazer nada sem Sua direção, mesmo que haja tanto a ser feito.
Finalmente, talvez seja interessante lembrar que o autor do Salmo foi ele mesmo um homem que teve uma vida tremendamente agitada e repleta de grandes realizações: foi um guerreiro formidável, um rei poderoso e rico, um músico cuja fama ultrapassa os milênios, um dos maiores profetas de Deus que já pisaram o solo deste planeta, um dos teólogos mais refinados da história da humanidade, um dos adoradores que mais agradaram ao coração do Pai. Todavia, foi um homem que descobriu que havia uma "melhor parte" aos pés do Senhor, e optou por ela, nunca deixando de ser, essencialmente, um pastorzinho de ovelhas.
"Esperai, pois, irmãos, no Senhor, desde agora e para sempre"

Fernando Sabóia, de "O livro dos perplexos".





Prece ao Espírito Santo

Senhor Espírito de santidade,

Transformai minha agonia
em oração
minha pressa
em esperança
minha dor em libação

Que a oração produza
serviço
a esperança
alegria
o sacrifício
paz

Concedei-me do serviço
a vida
da alegria
a força
da paz
o fruto


Fernando Sabóia, de "O livro dos perplexos".

A Chave do Segredo

Caro sobrinho Fernando:
Parabéns pelos textos e pelo blog. A minha homenagem a quem sabe muito bem despertar os cristãos ,colocando no BAÚ, à disposição dos leitores, A Chave do Segredo.
Horácio Dídimo

A CHAVE DO SEGREDO

Quando eu for levantado da terra,
atrairei todos os homens a mim.
Jo 12,32


Todo cristão que desperta
E faz a sua oração
Tem a chave do segredo
Guardada no coração.

É preciso não ter medo
Somos profetas e reis
A lei da graça é de graça:
Pedi e recebereis.

É esta a lei da atração
Que vem do alto da cruz:
Quem nos atrai é Jesus.

O mundo é templo sagrado
E nós somos sacerdotes
De Cristo Ressuscitado.

Horácio Dídimo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Sabedoria de Deus é colorida

                     
                  Para Fernando Sabóia

Deus dá a cada um sua cor
Deus dá a cada um sua dor

Cada um dá tom à sua dor

Deus dá a cada um o seu tom
Deus dá a cada um o seu dom

Cada um dá a cor a seu dom

Deus colore os nossos dias
Com as dores e alegrias

Deus pincela os nossos dias
Com a Sua sabedoria

                             Luciano Dídimo

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Inspirado no texto "A Multicolorida Sabedoria de Deus" de Fernando Sabóia

A Multicolorida Sabedoria de Deus

A multicolorida sabedoria de Deus - Efésios 3:10, nas melhores traduções do ramo

(Fernando Sabóia Vieira, Igreja em Brasília, outubro de 2009, AD)

Devocional para as crianças de todas as idades do Reino de Deus.

Qual sua cor favorita?
Quando a gente tem uma cor favorita a gente quer pintar tudo com ela e acha feias as outras cores.
Mas será que tudo fica bonito com essa nossa cor favorita? Por exemplo, o roxo. É muito bonito numa flor, mas que tal uma vaca roxa? O céu é lindo azul, mas será que um menino azul era bonito?
Mesmo que a gente tenha uma cor que a gente gosta mais, tem coisas que ficam mais bonitas de outras cores, não é?
E se só existisse a nossa cor? Será que o mundo seria mais bonito? Acho que não. Deus fez o mundo usando muitas cores. Aliás, foi Ele quem inventou todas as cores, as que nós conhecemos e outras que nós nem conseguimos ver. Ele não quis que tudo fosse de uma cor só.
Quando a gente vai pintar um quadro, uma paisagem, também quer usar muitas cores, para que fique bem legal.
A Bíblia diz que a sabedoria de Deus é de muitas cores. Ele fez não só cores diferentes, mas também pessoas, gostos, lugares, animais, plantas de todos os tamanhos, formatos e jeitos. Na verdade, se a gente olhar bem, não existem duas flores totalmente iguais, nem dois animais e nem duas pessoas. Até os gêmeos são diferentes, se a gente prestar bem atenção.
É por isso que cada pessoa tem o seu jeito e as coisas que gosta, diferente das outras. Alguns gostam de ir à praia, outro preferem uma fazenda. Tem gente que gosta mais de uma brincadeira do que da outra, acha aquela comida mais gostosa e tudo o mais.
Assim, cada um pode ter o seu preferido, mas tem que deixar os outros também terem os seus. E concordar que o mundo é mais legal e mais bonito assim.
As pessoas que querem que tudo seja só da cor que elas gostam, que tudo seja do jeito delas, ficam muito chatas e não aproveitam muitas coisas boas que não são como elas queriam, mas são como Deus queria. Deus gosta de usar todas as cores que Ele inventou.
Na Igreja, na família de Deus, é muito importante aprender que a sabedoria do Pai do Céu é de todas as cores. Ele tem muitas idéias e muitos jeitos diferentes para fazer tudo. A gente não pode querer que seja sempre com a nossa cor, como a gente prefere.
Às vezes a gente queria só o branco da tranqüilidade, mas tem que enfrentar o vermelho do perigo.
Seria bom se fosse sempre o azul do descanso, mas tem a hora do roxo da luta.
É muito legal o verde da vida, mas também acontece o preto do luto.
Se pudesse, a gente viveria sempre no dourado da festa, mas às vezes Deus usa o cinzento da espera.
O mais importante é reconhecer que todas as cores foram feitas por Deus e que é Ele quem sabe como melhor colorir nossos dias. No final, vamos ver que Ele fez da nossa vida um quadro perfeito. ///fsv

Comentário Kierkegaard

Dinêz enviou o seguinte comentário:

Lindo texto de Kierkegaard. Essa é nossa doce sina, transitar entre o Alfa e o Ômega, entre o Primeiro e o Último, buscando, portanto, uma Única Coisa. Parabéns pelo blog! Blog: BAÚ do Fernando Sabóia

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um pouco de Soren Kierkegaard

Caros leitores do Baú,

Essa oração de Kierkegaard destaca a noção fundamental de que o Senhor deve ser o único objeto de nosso desejo e de que somente nEle podemos ter tudo mais.
É muito interessante notar a simplicidade desse pensamento em forma de oração vindo da autoria de um homem reconhecido com um dos pensadores mais profundos e de difícil compreensão do século XIX.
Esse é também um ponto fundamental no caminho da santidade, da pureza, da oração, da meditação e da contemplação: encher-se da Presença do Único, ao ponto de depender totalmente dEle e de ser completamente saciado por Ele.
Fernando

UM POUCO DE Søren Kierkegaard (1813-1855)



Pureza de Coração é Desejar uma Única Coisa


Pai, que estás nos céus! O que somos nós sem Ti! O que é todo o nosso conhecimento, por mais que o acumulemos, a não ser um pequeno fragmento, se não conhecemos a Ti! O que são todos os nossos esforços, ainda que abarquem um mundo inteiro, a não ser um trabalho nunca terminado, se não conhecemos a Ti: o Único, Aquele que é a Única Coisa e que é todas as coisas.

Que Tu dês, então, ao intelecto,
Sabedoria para compreender essa Única Coisa;
Ao coração,
Sinceridade para receber esse entendimento;
À vontade,
A pureza que deseja uma Única Coisa.

Que, na prosperidade, Tu concedas
Perseverança para desejar uma Única Coisa;
Em meio às distrações,
Recolhimento para desejar uma Única Coisa;
No sofrimento,
Paciência para desejar uma Única Coisa.

Tu que propicias tanto o início quanto a plenitude, que Tu possas, logo cedo, ao nascer do dia, dar ao jovem a resolução de querer uma Única Coisa. À medida em que do dia declina, que Tu dês ao ancião uma lembrança renovada dessa primeira resolução, de modo que o primeiro seja como o último e o último como o primeiro, no decurso de uma vida que desejou uma Única Coisa.

Søren Kierkegaard

In “Prayers from the Heart”, Foster, Richard, ed. Harper/Collins. Tradução: Fernando Sabóia Vieira

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Devocional

Caros,

No retiro de Carnaval tivemos alguns devocionais pelas manhãs envolvendo oração, silêncio, meditação, recolhimento e contemplação. Pretendo, nos próximos dias, compartilhar alguns textos e idéias que serviram de fundamento para essas práticas.
Sei que para muitos, como para mim, é um caminho novo, mas que vale muito a pena ser trilhado, especialmente nesses nossos dias de tanto ruído, de tanta pressa e de tanto desassossego de alma.
Buscar a Deus no altar que Ele mesmo ergueu no nosso coração, ter os pensamentos e sentimentos transformados por Sua Presença, estar consciente o tempo todo de que Ele está presente e quer se comunicar conosco, saber que nEle podemos ter paz e esperança. É esse o propósito que deve ocupar ao centro de nossas vidas e podemos aprender com os irmãos do passado muito sobre como atingir isso por meio da quietude interior, da oração e da meditação.
Hoje foi postado o primeiro, que é um texto de Andrew Murray, já antes enviado aos leitores do Baú.


Graça seja com todos.

Fernando

Um Pouco de Andrew Murray (1828-1917)



Nós, cristãos “modernos” (ou “pós-modernos”) temos, por vezes, dificuldades em desenvolver uma comunhão íntima diária com Deus. Assim, compartilho a sugestão de um irmão do passado sobre como pode ser nosso devocional de cada dia, em busca de uma vida cristã mais profunda.


COMUNHÃO DIÁRIA COM DEUS


1. A primeira e principal necessidade de nossa vida cristã é Comunhão com Deus.
A vida divina que está em nós procede de Deus e depende inteiramente dEle. Assim como eu necessito a cada momento renovar o ar que eu respiro, assim como o sol a cada momento renova a luz que ele envia , do mesmo modo somente através da comunicação viva e direta com Deus minha alma pode se fortalecer.
O maná de um dia se deteriorava com a chegada da manhã seguinte. Eu tenho que ter diariamente graça renovada dos céus, e só posso obter isso esperando no próprio Deus. Comece cada dia colocando-se diante de Deus e deixando que Ele toque você. Separe tempo para estar com Deus.

2. Para tanto, que seu primeiro ato de devoção seja apresentar-se quieto diante de Deus. Na oração, ou no culto, tudo depende de Deus tomar o lugar principal. Eu preciso curvar-me silenciosamente diante dEle em humilde fé e adoração, dizendo, então, no meu coração: “Deus é. Deus está. Deus está perto. Deus é amor e deseja comunicar Ele mesmo a mim. Deus, o Altíssimo, Aquele que opera tudo em tudo, está agora mesmo esperando para operar em mim, e Se revelar.” Gaste tempo assim, até você saber que Deus está muito perto.

3. Quando você tiver dado a Deus o Seu lugar de honra, glória e poder, assuma o seu próprio lugar de profunda pequenez, e busque ser cheio do Espírito de humildade. Como criatura, é sua bênção não ser nada, para que Deus possa ser tudo em você. Como pecador, você não é digno de olhar para Deus, curve-se e rebaixe-se. Como santo, deixe que o amor de Deus tome conta de você, e curve-se rebaixando-se mais ainda. Mergulhe diante dEle em humildade, mansidão, paciência e se renda a Sua bondade e misericórdia. Ele exaltará você. Oh, gaste tempo para se colocar muito abaixo diante de Deus.

4. Depois, aceite e valorize seu lugar em Cristo Jesus. Deus não tem prazer em nada senão no Seu Filho amado e não pode se satisfazer com nada diferente naqueles trazidos para perto dEle. Entre profundamente na santa presença de Deus na ousadia que o sangue nos dá e com a segurança de que em Cristo você é muitíssimo agradável a Ele. Em Cristo você está além do véu. Você tem acesso ao próprio coração e amor do Pai. Esse é o grande objeto da comunhão com Deus, que eu possa ter mais de Deus na minha vida e que Deus possa ver Cristo formado em mim. Fique em silêncio diante de Deus e deixe que Ele o abençoe.

5. Esse Cristo é uma Pessoa viva. Ele ama você com um amor pessoal e Ele busca a cada dia uma resposta pessoal de seu amor por Ele. Olhe para Seu rosto com confiança, até que Seu amor realmente brilhe no seu coração. Faça o coração dEle feliz dizendo a Ele que você verdadeiramente O ama. Ele se oferece a você pessoalmente como seu Salvador e Libertador do poder do pecado. Não pergunte, “posso ser guardado do pecado, se eu permanecer perto dEle?”, mas pergunte “posso ser guardado do pecado, se Ele estiver sempre perto de mim?” e você perceberá de pronto como é seguro confiar nEle.

6. Nós não temos apenas a vida de Cristo em nós como poder e Sua presença em nós como uma pessoa, mas temos Sua semelhança para ser inscrita em nós. Ele deve ser formado em nós de modo que Sua aparência e figura, Sua semelhança, possam ser vistas em nós. Curve-se diante de Deus até alcançar algum senso da grandeza e da maravilha da obra que será feita por Deus em você nesse dia. Diga a Deus: “Pai, aqui estou para que Tu me concedas o quanto eu puder receber da semelhança de Cristo”. E espere ouvi-lO dizer: “Meu filho, Eu lhe dou o quanto de Cristo seu coração estiver aberto a receber”. O Deus que revelou Jesus em carne e O aperfeiçoou vai revelá-lO em você e aperfeiçoá-lO em você. O Pai ama o Filho e tem prazer em formar Sua imagem e semelhança em você. Conte com isso, com que essa obra bendita será feita em você, se você esperar no seu Deus e se mantiver em comunhão com Ele.

7. A semelhança com Cristo consiste em duas coisas, principalmente – semelhança na Sua morte e semelhança na Sua ressurreição (Rom 6:5). A morte de Cristo foi a consumação de Sua humilhação e obediência, a completa entrega de Sua vida para Deus. Nele nós estamos mortos para o pecado. À medida que nos aprofundamos em humildade e dependência e completa rendição a Deus, o poder de Sua morte opera em nós e nós somos conformados com Sua morte. Do mesmo modo nós O conhecemos no poder de Sua ressurreição, na vitória sobre o pecado e em toda alegria e poder da vida ressurrecta. Dessa maneira, a cada manhã, “apresentem-se diante de Deus como aqueles que estiveram mortos e vivem”. Ele vai sustentar a vida que Ele deu e conceder graça para viver como ressurrectos.

8. Tudo isso só pode acontecer no poder do Espírito Santo, que habita em você. Conte com Ele para glorificar Jesus em você. Conte com Cristo para aumentar em você o fluir do Seu Espírito. Do mesmo modo como você espera diante de Deus para ter consciência de Sua presença, lembre-se de que o Espírito está em você para revelar as coisas de Deus. Busque na presença de Deus ter a unção do Espírito de Cristo tão verdadeiramente que toda sua vida possa ser espiritual a cada momento.

9. À medida que você meditar nessa maravilhosa salvação e buscar uma completa comunhão com o grande e santo Deus, e esperar nEle para ter Cristo revelado em você, você perceberá o quanto é necessário renunciar a tudo para recebê-lO. Busque graça para entender o que significa viver tão completamente para Deus quanto Cristo viveu. Somente o próprio Espírito Santo pode ensinar a você o que representa uma total entrega de toda a vida a Deus. Espere em Deus para que Ele lhe mostre o que você ainda não sabe sobre isso. Que cada aproximação a Deus e cada busca de comunhão com Ele seja acompanhada por uma nova, definitiva e completa rendição para que Ele trabalhe em você.

10. “Pela fé” deve aqui, como em todas as Escrituras e em toda vida espiritual, ser a expressão chave. Quando você se colocar diante de Deus, que seja com uma profunda e tranqüila fé nEle, no Invisível, que está tão perto, tão santo, tão poderoso e tão amoroso. Igualmente, que seja com uma profunda e tranqüila fé em que todas as bênçãos e poderes da vida celestial estão à sua volta e estão em você. Apenas consagre-se pela fé a uma perfeita confiança na comunhão com Deus, e Deus será tudo em tudo para você.


“The Deeper Christian Life”, Cap. I”

(Tradução: Fernando Sabóia Vieira)


domingo, 21 de fevereiro de 2010

Oração Em Silêncio

Trago as mãos vazias

Os olhos perdidos no nada

O peito esmagado por tantas ausências



O que não mais tenho

O que não mais sou

O que, simplesmente, não mais sei



Agradeço-Te, Senhor,

Porque desde o Teu Santo Lugar

Tu ouves como oração

Os silêncios da minha alma





Fernando

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Retiro no Carnaval

Caros,

Estaremos, durante o feriado do Carnaval, participando de um retiro com os irmãos de Brasília e vários convidados de outros estados. Temos grande expectativa do que o Senhor vai falar e fazer nesses dias.
....
"Meditarei no glorioso esplendor da tua majestade e nas tuas maravilhas" Salmo 145:5
....
Que a graça de Jesus seja com todos.
....
Fernando

Amizade




Para o amigo Luís Fernando, em 15 de novembro de 2009, seu 19º aniversário.

Querido filho,
É inevitável que, no aniversário dos filhos, os pais pensem em suas histórias, suas características, suas qualidades. Em relação a você, uma palavra vem muito facilmente à mente: amigo. Ao longo da sua (ainda curta) vida, você tem sido alguém que se oferece como amigo, que faz amigos, que muitos consideram assim.
Penso que a amizade não é muito bem entendida e menos ainda valorizada como deveria em nosso meio. Somos irmãos em Cristo, somos membros uns dos outros, servos, companheiros, cooperadores, discipuladores, pais, filhos. Todos esses relacionamentos são fortes e ricos em significado e em frutos para o Reino. A categoria de “amigos”, no entanto, fica sempre algo atrás dessas outras, menos destacada, menos reconhecida.
Não obstante, posso dizer, sem medo de errar, que há pouca coisa mais importante nesta vida do que os amigos, que são, aliás, mais raros do que se pensa.
A amizade dá qualidade especial a qualquer relacionamento, conferindo espontaneidade, leveza e alegria. Marido e mulher podem ser amigos, assim como chefes e subordinados, discipuladores e discípulos, pais e filhos etc. Tais vínculos também podem, todavia, existir sem amizade, o que os torna pesados e cansativos.
Mas o melhor de tudo é quando a gente é principalmente amigo, ficando as demais ligações em segundo plano. Foi o que aconteceu com Jesus e seus discípulos depois de alguns anos de caminhada juntos.
Amizade nunca pode ser imposta ou exigida. Amizade não tem uma explicação funcional e nem mesmo sentimental. Há amigos inúteis e amigos chatos. Mas, mesmo assim, amigos. E sua companhia não é pesada e nem ruim, ao contrário, desejada e prazerosa.
A verdadeira amizade é uma abertura de alma, um presente, um encontro, algo que a gente oferece de graça, simplesmente pelo prazer de ter o amigo, alguém com quem gosto de estar e que gosta igualmente da minha companhia, sem obrigação ou necessidade.
É claro que os amigos ajudam e são ajudados, socorrem e são socorridos, alegram e são alegrados, consolam e são consolados, mas tudo isso é decorrência e não causa da amizade.
Sei que há amigos próximos e distantes, amizades mais ou menos profundas. O que importa, no entanto, destacar não é a freqüência ou profundidade do relacionamento, mas sua qualidade. Se somos amigos, seremos sempre amigos.
Meus conselhos para você serão cada vez menos necessários. Esse, no entanto, quero deixar registrado: continue sendo amigo. Faça amigos. Produza amizade em todos os seus relacionamentos. Comece agora, invista para o futuro, pois, segundo o livro do Eclesiástico (Siracides), amigos são como os vinhos: os de boa qualidade melhoram com o tempo.
Quanto a mim, guarde-me um lugar especial em sua “adega” de amigos, onde eu possa “envelhecer” com equilíbrio e harmonia na sua vida. E que o Senhor nos permita brindar nossa amizade por muitos anos.
Que a graça de Jesus seja com você.

Beijo do pai.

Fernando

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A Ordem, a Arma e o Refúgio

prosseguir é a ordem

prosseguir sem perguntas
prosseguir sem forças
prosseguir sem nada a dizer

perseverar é a arma

perseverar em fazer
perseverar em ouvir
perseverar em falar

esperar é o refúgio

esperar prosseguindo
esperar perseverando
esperar sabendo e não sabendo
na palavra e no silêncio
com dor e com júbilo

Fernando Sabóia

UM POUCO DE JULIANA DE NORWICH (1342-1413)



Deus ama e sustenta tudo o que Ele criou e tudo conduz para Seu propósito. Somente Deus satisfaz nossa alma e somente nEle podemos ter todas as coisas.
“Nessa mesma ocasião, nosso Senhor me mostrou uma visão do seu amor acolhedor.
Eu vi que Ele é tudo de bom e confortável para nós: Ele é nossa vestimenta que, por amor, nos envolve, nos agasalha e nos protege com terno amor, para que Ele nunca nos deixe, sendo para nós tudo de bom, assim eu entendi.
Também nessa visão ele me mostrou uma coisa muito pequenina, do tamanho de uma noz, na palma da minha mão, redonda como uma bola. Olhei para aquela pequena coisa com os olhos do meu entendimento e pensei: “o que poderia ser isso?” E me foi respondido, então: “isso é tudo o que foi criado”. Eu me admirei de como tal coisa poderia subsistir, porque conjecturei que poderia, de repente, desaparecer, de tanta pequenez. E me foi respondido, no meu entendimento: “ela subsiste e sempre subsistirá porque Deus a ama”. Então, tudo tem o seu Ser por causa do amor de Deus.
Nessa pequenina coisa eu vi três propriedades: a primeira, que Deus a fez, a segunda, que Deus a ama e a terceira, que Deus a mantém. Mas o que verdadeiramente significa para mim Deus ser Aquele que cria, Aquele que ama e Aquele em quem tudo subsiste, não posso ainda dizer, pois enquanto eu não estiver substancialmente unida a Ele nunca poderei ter completo repouso ou muita felicidade, quero dizer, até que eu esteja tão ligada a Ele que não haja entre meu Deus e eu qualquer coisa criada.
É preciso que tenhamos compreensão da pequenez das coisas criadas e que consideremos como nada todas as coisas criadas, para podermos ter e amar o Deus não-criado. Pois essa é a razão pela qual não temos sossego no coração e na alma: é que nós procuramos descanso nessas coisas que são tão pequeninas, nas quais não existe descanso, e não conhecemos nosso Deus que é Todo Poderoso, Todo Sábio e Todo Bom. Pois Ele é o verdadeiro descanso. Deus quer ser conhecido e Ele tem prazer em que descansemos nEle, pois nada inferior a Ele é suficiente para nós. E essa é a razão pela qual nenhuma alma tem descanso enquanto não se esvazia para todas as coisas criadas. Quando ela, de boa vontade, se esvazia, por amor, para ter a Ele, então ela se torna capaz de receber descanso espiritual.
Também nosso Senhor mostrou que é de grande contentamento para Ele que a alma carente venha a Ele de forma simples, completa e confiante. Pois o anelo natural da alma, pelo toque do Espírito Santo, pelo que pude entender da visão, é esse:

“Deus, por Tua Bondade, dá-me a Ti mesmo, pois Tu és suficiente para mim, e eu não posso pedir menos, o que não seja completa adoração a Ti; e se eu pedir o que for menos, jamais me concedas – mas somente em Ti posso ter todas as coisas”.

E essas palavras são completo amor para a alma, e elas tocam completamente a vontade de Deus e Sua Bondade. Pois Sua Bondade abrange todas as Suas criaturas e todas as Suas benditas obras, e permanece para sempre. Pois Ele é o que não tem fim, e Ele nos fez apenas para Ele mesmo, nos resgatou por Sua bendita Paixão e nos guarda no Seu Bendito Amor, tudo isso por Sua Bondade.”


“Revelações do Amor Divino”, cap. V


Tradução: Fernando Sabóia Vieira

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Suportai as Aflições

“Suportai as aflições” (2ª a Timóteo 4:5)


Caros,

Talvez essa palavra não lhes pareça animadora, a princípio. Espero, no entanto, que, ao final, transmita fé e esperança, especialmente ao que passam por aflições e adversidades.
Paulo instrui Timóteo a suportar as aflições, as adversidades. Jesus já havia prevenido os discípulos quanto a isso. Vivemos num mundo decaído, poluído biológica e espiritualmente. Estragado. Nós também somos seres incompletos, falhos, corrompidos pelo pecado. Tudo isso produz conflitos, desencontros, quebras, sofrimentos.
No entanto, sabemos que acima desse caos aparente há um Deus que sobre tudo reina, a quem nada escapa ao controle, em nenhum momento.
Assim, nosso primeiro consolo está no fato de que as aflições e adversidades fazem parte do plano soberano de Deus para nossas vidas. Não significam que fomos abandonados por Ele ou que sejamos vítimas de algum tipo de maldição. Elas têm a ver com o estar neste mundo, como disse Jesus. Não são sempre produtos de um pecado específico ou de uma escolha errada, nossa ou das pessoas que têm influência sobre nós. O mundo é mau, está sujeito ao maligno e produz dias maus. Tudo nele tende ao caos e à decadência. Tudo se estraga, tudo quebra, tudo pode dar errado. Isso só será revertido quando todas as coisas estiverem novamente submetidas ao governo de Jesus.
Até lá, Ele vai usar as aflições e adversidades para nos aperfeiçoar, nos corrigir, nos ensinar a depender de Sua graça. Afinal, sabemos que todas as coisas (inclusive as “ruins”) cooperam para o bem dos que amamos a Deus, dos que fomos chamados segundo o Seu propósito.
Depois, essa palavra me revela que eu não tenho que vencer, evitar, superar nem mesmo guerrear contra as aflições. Tenho apenas que suportá-las, sofrê-las, como diz em outra tradução.
Aflições, adversidades muitas vezes advêm de situações e circunstâncias que estão além da nossa vontade ou poder de ação. Não tenho que perder o ânimo, me gastar em esforços e trabalhos nem me consumir em culpas. O Senhor nos diz tão somente para suportá-las. Nisso está Sua promessa e nossa esperança. Ele venceu o mundo. Nós aguardamos que essa vitória seja manifestada em tudo. Até lá, perseveramos, suportamos, resistimos, prosseguimos, apesar de tudo o que se opõe, sabendo que maior ainda é Aquele que está em nós e que é por nós.
Finalmente, essa palavra me anima por me lembrar que não estou sozinho. Todos os homens e mulheres que buscam agradar a Deus com suas vidas passam por aflições e adversidades. Na verdade essa é uma genuína marca das vidas dos santos da igreja. Não têm consolo neste mundo. Não encontram aqui prazer. Ao contrário, quanto mais caminham com o Senhor mais se deparam com oposições e sofrimentos. No entanto, assim vivendo, eles e nós, seguindo o exemplo de tão grande nuvem de testemunhas, experimentamos o consolo do Espírito, o amor do Pai e a graça suficiente e poderosa de Jesus.
Irmãos queridos, “suportai as aflições”, não resignados com um mundo mau, mas cheios de esperança na vitória já conquista por Aquele que vem e não tarda.
Maranata! Vem Jesus!

Que a graça de Jesus seja com todos.

Brasília, em 30 de dezembro de 2009.
Fernando Sabóia Vieira

O Poeta Cristão

“Se o poeta cristão o for realmente, se ele possuir uma vocação para manifestar a outros os mistérios insondáveis do amor de Cristo, deve, então, fazê-lo no Espírito de Cristo. E sua “manifestação do Espírito” não somente brota de uma espécie de intuição contemplativa do mistério do Cristo, mas lhe é dada em seu proveito. Assim, há de aprofundar sua união com Cristo.

O poeta e artista cristão é alguém que cresce, não apenas por meio de sua contemplação, mas também por sua declaração aberta da misericórdia de Deus.

Se está claro que ele é chamado a dar testemunho de Deus, pode dizer com São Paulo: “Ai de mim se não pregar o Evangelho.” Ao mesmo tempo, deve ele sempre lembrar-se de que os dons invisíveis e mais espirituais são infinitamente maiores do que sua arte e, se for chamado a fazer uma opção exclusiva de uma ou de outra coisa, deve saber como sacrificar sua arte.”

Thomas Merton, “Poesia e Contemplação”.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Poesia em Tempo de Reciclagem

faço poesia do que sobrou
do que se quebrou
de pequenas coisas inúteis
e abandonadas
que se vão acumulando no tempo
em qualquer armário velho da vida
em gavetas emperradas da memória
que ninguém se lembra mais
de abrir

são palavras que perderam o momento
e o sentimento
sorrisos inutilizados
pela ironia
emoções descartadas pelo desencanto
e pelo desencontro
sonhos e lembranças esquecidos
de uma infância e juventude
que nem são mais de ninguém

vou calado
catando e colando
romântico
polindo e juntando
distraído
mesclando e pintando
brincando de fazer arte
no meio dos lixões das almas sucatadas
consumidas
quebradas pelo caos da vida

que é minha maneira
de sobreviver menino
de fazer da poesia profecia
da morte ressurreição
do lixo esperança

Fernando Sabóia

Bem-vindos ao Blog do Baú

Caros,

Estamos iniciando hoje essa experiência com o blog. Espero que seja um espaço útil para edificação, relacionamento, amizade, tudo com o Senhor Jesus no centro. Não sou um "blogueiro", assim tenham um pouco de paciência.
Sugestões e críticas serão bem acolhidas.
Agradeço ao Luciano Dídimo pela iniciativa e cooperação.

Graça de Jesus seja com todos.

Fernando

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Andar com Deus

Brasília, em 30 de dezembro de 2009, aD.

Irmãos queridos,


Muitas metáforas podem ser utilizadas para descrever a vida espiritual. Na própria bíblia encontramos várias delas. Essas comparações servem para destacar pontos importantes da dinâmica do relacionamento com Deus e nos inspiram a prosseguir.
A vida espiritual pode, por exemplo, ser comparada a uma corrida em direção a um alvo, para a qual o atleta se prepara, se condiciona e se dedica totalmente, já que muito deseja alcançar a vitória.
Há também a imagem da guerra, da luta. Estamos, de fato, envolvidos num conflito contra o pecado e contra os inimigos de Deus que povoam este mundo tenebroso. O Reino dos céus é anunciado e se expande em território ocupado, seja no coração dos homens, seja no império das trevas.
Também podemos pensar na vida espiritual como uma edificação, uma obra. Deus a iniciou em nossa vida e vai terminá-la. Ele tem um projeto e trabalha para que cada um se torne o que Ele quer. Também faz isso com a igreja, que é comparada a um templo.
Muitos pensam em termos de uma missão, de uma tarefa a ser realizada. Ele é o Senhor e nós somos os servos. Ele tem um trabalho para nós e nós nos dedicamos a realizá-lo, de acordo com o Seu propósito.
Há quem prefira metáforas modernas, como um vídeo game, com suas fases, objetivos e obstáculos; como um empreendimento, com custos, investimentos, concorrência, metas etc ou como um processo de cura, com diagnóstico, remédios e terapias para a obtenção de uma saúde completa.
Neste final de ano, com todas as experiências e lutas que 2009 me trouxe, cresce no meu coração o desejo de que minha vida pudesse ser representada pela mais singela das metáforas bíblicas para a vida espiritual: andar com Deus.
Andar sugere constância, calma, companhia. Caminhando é possível manter uma longa conversa, sem pressa e sem pauta. Tem a ver com comunhão, transmissão de vida, ensino pelas palavras e pelo exemplo.
Andar permite ver a paisagem, apreciar as boas coisas do caminho. Também ajuda a manter a sobriedade e a esperança nos momentos difíceis.
Na fé não pode haver pressa, pois a fé é confiança no Deus que tem o controle sobre todas as coisas e sobre o próprio tempo. A fé coloca tudo na dimensão da eternidade, onde não há passado nem futuro, mas apenas a presença do Pai.
Temos que ter cuidado para não fazer do relacionamento com Deus mais uma coisa a nos estressar, complicar, pressionar, produzir cansaço e culpa. Desde o Éden, o Senhor quer caminhar com os homens. Por causa do pecado, fugimos desse encontro tão pessoal. Preferimos interpor algum tipo de mediação entre nós e Ele.
Em Cristo, não há mais barreiras. Ele é o Mediador que nos coloca na Presença. Podemos andar com Deus, ter a constante companhia dele.
Mas, saindo da metáfora para a realidade, o que é “andar com Deus”?
Acho que tem a ver com coisas simples como manter uma consciência constante da Sua Presença, mesmo quando estamos fazendo nossas tarefas normais. Ele está sempre lá, às vezes em silêncio, às vezes falando suavemente, às vezes movendo as circunstâncias, às vezes nos enviando seus mensageiros.
Falar com Ele sobre tudo o que nos acontece, sobre as banalidades da vida, sobre nossos sentimentos bons e maus, sobre nossas dúvidas e certezas. Nossa conversa com o Pai não deve ser um discurso bíblico ou um debate teológico, mas um diálogo familiar, sobre os assuntos cotidianos.
Ter na memória Sua Palavra, Sua vontade, tentar imitar cada gesto d’Ele.
Andar com Deus é convidá-lo para participar de tudo o que fazemos, desejamos ou pensamos, é nos voltarmos constantemente para o altar espiritual que existe no nosso coração, onde Ele está verdadeiramente presente todo o tempo. Encontrar ali repouso mesmo em meio às agitações e turbulências da vida.
Tenho descoberto que isso é possível. Não é fácil, mas é simples. Não é fácil porque temos muitas distrações e muitos maus hábitos no sentir e no pensar. Mas é simples porque consiste, exatamente, em se livrar de todas as complicações e ver a vida espiritual como um passeio, uma caminhada na companhia do Pai, do Filho e do Espírito.
Meus caros, que todos possamos aprender algo sobre andar com Deus no ano que se anuncia. Que possamos nos animar, guardar e ajudar uns aos outros nessa jornada.
Conto com cada um de vocês.
Que a graça de Jesus seja com todos.


Fernando Sabóia Vieira

Ano Novo

Não começar nada
Sem Aquele que é o Começo de tudo
O princípio
O renovo
O alfa
A sabedoria da criação

Não continuar nada
Sem Aquele que é o Sentido de tudo
A palavra
A força
A alegria
O dom de existir

Não atingir nada
Sem Aquele que é o Fim de tudo
O alvo
O destino
O ômega
A vida abundante

Fernando Sabóia

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Inventor de Todos os Mundos

(Fernando Sabóia Vieira)


Deus criou os mundos sonhando

Inventou a vida cantando

Escolheu as cores

Brincando com sua própria luz

Fez as melodias de vento, voz e segredos

Do seu coração



Deus nos criou para a música,

Para o trabalho, para a dança

E para o nascer do sol no dia eterno



Deus sopra no nosso espírito

As galáxias e os mundos

Que ainda não existem

E nos dá sonhos de inventar



Deus nos enche a alma

De coragem e de paixão

De amor e de fé

Para que andemos neste mundo

Caminhando nos céus...



Fernando

(De “Versos Exilados”)

UM POUCO DE EVELYN UNDERHILL (1875-1941)

A Vida de Oração e Adoração

É, pois, simplesmente, essencial dedicar ou conseguir, de algum modo, tempo para treinar a si mesmo nesse amor e nessa oração, a fim de desenvolver esses poderes. É bem verdade que em essência eles nos são “concedidos”, mas esse dom só se torna completamente nosso por meio de um paciente e generoso esforço da alma. Conquistas espirituais custam muito, embora nunca custem tanto quanto valem. Isso significa, no mínimo, o exercício consistente de uma faculdade que a maioria de nós permitiu que se tornasse frouxa.

O que é, então, um verdadeiro homem de oração? É alguém que deliberadamente deseja e consistentemente aspira que seu relacionamento com Deus e com as outras almas seja controlado e operado a cada ponto pelo próprio Deus; alguém que desenvolveu e educou seu sentido espiritual a tal ponto que seu ambiente sobrenatural é mais real e sólido para ele do que o seu ambiente natural. Um homem de oração não é necessariamente uma pessoa que pronuncia uma certa quantidade de ofícios devocionais, ou que abunda em intercessões detalhadas; mas é um filho de Deus que é e que reconhece a si mesmo como alguém unido a Deus no mais profundo de sua alma e que é completa e inteiramente guiado pelo Espírito Criador em suas orações e obras. Não se trata apenas de linguagem piedosa. É uma descrição a mais real e concreta que posso fazer, e a única vida verdadeiramente apostólica. Cada cristão começa com a mesma chance de alcançar isso, mas poucos o desenvolvem. ...

Estou cada vez mais convencida de que apenas uma espiritualidade que desse modo coloque toda a ênfase na Realidade de Deus, perpetuamente em sintonia com Ele, perdendo-se n’Ele, recusando-se a permitir que nem mesmo o trabalho mais extenuante ou os problemas práticos, ou ainda o pecado e o fracasso, a distraiam do seu foco em Deus; somente essa espiritualidade é um fundamento seguro para a obra divina.

Só ela pode manter vivo e atento o senso de adoração dos mistérios no meio dos quais nos movemos, a consciência da pequenez da porção que nós, na melhor das hipóteses, conseguimos apreender deles e, ainda assim, considerando essa imensidão e nossa pequenez, maravilhar-se com o que nós de fato conhecemos e sentimos.

Uma grande mulher do século passado, Madre Janet Stuart, costumava dizer a suas noviças: “Pensem pensamentos gloriosos sobre Deus – e sirvam a Ele com uma mente sossegada!” E é, certamente, um fato que quanto mais gloriosos e mais grandiosos forem nossos pensamentos sobre Ele tanto maior será a quietude e a confiança com que faremos nossas obras.

É apenas por meio de adoração atenta que fazemos nossas descobertas pessoais sobre Ele. Acho que se só tivermos meia hora para dedicar às nossas orações particulares cada manhã, não será muito fazer com que nossas mentes gastem metade desse tempo em tal adoração. Pois esse é o culto central que Deus requer das almas humanas e a negligência a ele é responsável por grande parte da ausência de profundidade e de poder espiritual.

No fluir das ondas de tal oração de adoração, a alma é libertada das pressões e confusões da vida temporal; ela é elevada para acima de controvérsias fúteis, de preocupações fúteis e de vaidades – e nenhum de nós está isento dessas coisas. Ela é conduzida a Deus e escondida n’Ele. Esse é o único caminho pelo qual podemos alcançar aquele esquecimento de si mesmo que é o fundamento da paz e do poder; os quais nunca podem ser nossos enquanto fizermos de nossa oração um mero meio de obtenção de dons de Deus para nós mesmos ou para outros, ao invés de torná-la um ato de consagração pessoal sem medida.

Estou certa de que nós, gradual e imperceptivelmente, aprendemos mais sobre Deus por meio dessa persistente atitude de humilde adoração do que podemos esperar conseguir com qualquer quantidade de investigação mental. Isso porque nela nossa alma recupera, ainda que por um momento apenas, a relação fundamental do frágil espírito criado com sua Fonte Eterna, e será bem empregado todo o tempo que for usado para apreender essa relação e para mantê-la corretamente. Nela respiramos profundamente a atmosfera da Eternidade e, quando fazemos isso, humildade e senso comum se tornam a mesma coisa. Nós percebemos e reconstruímos a nossa fraqueza e nulidade, assim como a grandeza e constância de Deus.

In “The very thought of Thee” org. por Steere, D. V. e Batten, J. M.

Tradução: Fernando Sabóia Vieira