quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Uma reflexão sobre os possíveis olhares


Possíveis Olhares

           
            Brasília, DF, em fevereiro de 2020, AD.

            Queridos companheiros de jornada em busca da vida interior,

            Há alguns anos, publiquei neste espaço virtual, uma “Crônica dos Possíveis Olhares”, onde propunha uma meditação sobre as palavras de Jesus no Sermão do Monte pelas quais Ele nos exorta a adotar uma maneira diferente de ver a realidade à nossa volta.

O texto está em


            Nesses dias, essa reflexão foi retomada na nossa comunidade em razão de experiências vividas por vários irmãos no ano passado, envolvendo circunstâncias diversas e mesmo intensos períodos de dificuldades e provações.

            Consideramos os seguintes textos do Evangelho de Mateus.

·         Mateus 5:8 – os puros de coração verão a Deus.
·         Mateus 6:22-23 – os olhos são as lâmpadas do corpo.
·         Mateus 6:26, 28 – é necessário olhar e ver como o Pai cuida de tudo.

Jesus nos convida a percebermos de modo diferente as circunstâncias da vida, as necessidades e os temores cotidianos que nos enchem de ansiedade. Ele nos leva a enxergar nas cenas e experiências normais e comuns do nosso viver – as aves dos céus, as flores silvestres – o cuidado do nosso Pai celeste e a, desse modo, encontrarmos confiança, esperança e descanso em Sua divina Providência, como Seus filhos.
Mas, devemos nos perguntar: o que nos impede, muitas vezes, de ver a Deus, de perceber Sua Presença, Sua misericórdia, Seu amor e Providência ao nosso redor e nas circunstâncias de nossa vida? O que nos atrapalha discernir a Realidade divina que envolve todas as coisas, visíveis e invisíveis, e abrange todos os aspectos de nossa existência?
O Senhor nos diz que, para termos essa revelação, são necessárias a pureza no olhar e a pureza no coração, unindo-se a percepção física exterior à compreensão interior.
Para onde e como devemos olhar? Isto é, em que devemos focar nossa atenção, pensamento, sentimento e cogitações? Gosto das expressões do salmista quando diz: “Tu, Senhor, lanças luz nas minhas trevas” (Salmo 18:28); e “Na tua luz vemos a luz”(Salmo 36:9).  
Precisamos buscar essa iluminação, essa pureza no olhar, na meditação na Palavra do Senhor, na atuação reveladora do Espírito no nosso espírito, na consideração de Seus poderosos feitos, na experiência de Sua misericórdia, na contemplação de Sua Face.
Mas, para, de fato, vermos a Realidade divina, é preciso cuidar da maneira como essas percepções são acolhidas no nosso coração. Nosso coração está em busca da pureza de fé, de intenção, de vontade e de amor ao Senhor? Ou está ele confuso e cheio de ideias e sentimentos conflitantes, de desejos, temores e fantasias, frutos de nossa própria alma?
O que atrai nossos olhares? O que nos turva o coração?
Em sua primeira Epístola, o apóstolo João nos adverte quanto aos nossos amores confusos, mesclados de mundo, que querem capturar nosso olhar e o nosso coração (1ª de João 2:15-17).
Não podemos nos colocar naquela situação dos que, mesmo vendo com os olhos, não acolhem com o coração, tornando-se, assim, cegos de visão e faltos de entendimento .
São nossos olhares dirigidos pela confusão do nosso coração, por nossa cobiça, medo, sonhos, conceitos, temores, fantasias etc., ou são nossos olhares atraídos pelo amor de Deus e dirigidos para o amar a Deus?
Afinal, o que é essa pureza de coração que nos permite ver a Deus? Em verdade, Deus só pode ser claramente visto por quem deseja e busca amar unicamente a Ele, para n'Ele, ter e amar todas as coisas!
Deus trabalha ativa e constantemente para purificar nosso coração e conquistar nosso integral amor a Ele. Ele quer nos purificar de nossos conceitos, ideias, limitações e nos trazer revelação da verdade, da eternidade, da perfeição. No entanto para, isso, torna-se necessário, não raro, passarmos por provações (Tiago 1:2-4).

Perguntamos, pois, novamente: como você vê a Realidade à sua volta? O que o seu coração diz sobre ela? Como você percebe as circunstâncias de sua vida, favoráveis ou adversas? Como elas repercutem no seu coração?
Trazemos aqui dois testemunhos, de duas jovens discípulas que enxergaram com olhos bons circunstâncias muito diferentes, e assim trouxeram luz para seus corações, os quais, uma vez purificados por sua fé, atenção e perseverança em amar a Deus, permitiram que elas tivessem uma revelação mais clara e intensa do Pai de sua glória e de Seu amor.
Júlia nos lembra da necessidade de vermos todas as coisas sob a perspectiva da eternidade, para considerarmos seu real sentido e valor. Seu testemunho está disponível em


Viviane nos traz um emocionante testemunho sobre enfrentar a dor e a enfermidade e enxergar, nessas difíceis circunstâncias, a Presença e o amor de Deus. Leiam em


Finalmente, sobre a pureza de coração, uma declaração, em forma de oração, de um notável filósofo e pensador cristão.

Pureza de Coração é Desejar uma Única Coisa

Pai, que estás nos céus! O que somos nós sem Ti? O que é todo o nosso conhecimento, por mais que o acumulemos, a não ser um pequeno fragmento, se não conhecemos a Ti? O que são todos os nossos esforços, ainda que abarquem um mundo inteiro, a não ser um trabalho nunca terminado, se não conhecemos a Ti: o Único, Aquele que é a Única Coisa e que é todas as coisas?
Que Tu dês, então, ao intelecto, sabedoria para compreender essa Única Coisa;
Ao coração, sinceridade para receber esse entendimento;
À vontade, a pureza que deseja uma Única Coisa.
Que, na prosperidade, Tu concedas perseverança para desejar uma Única Coisa;
Em meio às distrações, recolhimento para desejar uma Única Coisa;
No sofrimento, paciência para desejar uma Única Coisa.
Tu que propicias tanto o início quanto a plenitude,
Que Tu possas, logo cedo, ao nascer do dia,
Dar ao jovem a resolução de querer uma Única Coisa.
À medida que do dia declina,
Que Tu dês ao ancião uma lembrança renovada dessa primeira resolução,
De modo que o primeiro seja como o último e o último como o primeiro,
No decurso de uma vida que desejou uma Única Coisa.


Søren Kierkegaard (1813-1855)

InPrayers from the Heart”, Foster, Richard, ed. Harper/Collins.
Tradução: Fernando Sabóia Vieira


      Que a suficiente graça de Jesus seja com o espírito de cada um de vocês.

                              Fernando Saboia Vieira

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