terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Crônica dos Possíveis Olhares

(Ou, “Olhai as Flores de Ipê Roxo”)


Como você percebe o mundo à sua volta e as coisas que acontecem à sua vida? Com que “lentes” de conceitos, sentimentos e convicções você observa, filtra, classifica, realça, despreza, aceita ou rejeita a infinidade de informações e estímulos sensoriais que recebe continuamente?
Nossa percepção do mundo e dos acontecimentos é sempre um diálogo entre o exterior sensível e o nosso interior intuitivo, mediado pela consciência reflexiva.
Fico pensando naquela multidão de ansiosos que ouviram Jesus dizer, diante de suas angústias e necessidades, para “olharem os lírios do campo”. O que o Mestre queria que vissem? Como diferentes pessoas reagiram naquele dia e reagiriam hoje a esse convite? Como eu e você nos sentiríamos?
Acho que Jesus queria que as pessoas olhassem para aquela cena tão comum para eles – os lírios que cresciam naquelas encostas – com um olhar desacostumado, aberto para o inusitado, que pudesse lhes dar a oportunidade de serem surpreendidos por algo novo, por uma verdadeira revelação.
Às vezes estamos tão habituados a vermos as coisas de uma determinada maneira que é com se nunca olhássemos de novo para elas, mas apenas recuperássemos da memória uma imagem já lá arquivada, cristalizada em nossa mente. Fazemos isso com pessoas, situações, relacionamentos, acontecimentos.
Talvez algumas pessoas naquela multidão que ouvia Jesus sequer tenham se dado ao trabalho de voltar o rosto para as colinas ao redor e reparar nas flores apontadas por Jesus. Já tinham imagem delas na memória, o que de novo poderiam ver? Outros talvez tenham olhado com o olhar acostumado e só tenham enxergado o que sempre viam: apenas flores.
Se ali houvesse pessoas “modernas”, penso que poderíamos identificar alguns grupos significativamente representados.
Haveria os materialistas, que veriam apenas vegetais produtos de uma caótica evolução biológica sobre cuja existência não se poderia fazer qualquer tipo de juízo de valor. Essa é, aliás, a maneira como vêem a própria vida, resultado do acaso impessoal e sem qualquer propósito.
Os humanistas talvez pensassem nos benefícios que aquelas flores poderiam trazer para eles, para seu bem-estar, pois consideram que tudo deve girar em torno dos interesses e necessidades dos homens, ou seja, deles mesmos.
Os místicos, por sua vez, veriam nos lírios do campo um sinal de que as forças que regem o universo estariam lhes dando algum tipo de mensagem ou conforto.
Jesus, no entanto, queria que os ansiosos daquela época e os de hoje vissem o mundo de outra maneira. Não como resultado do acaso, não como produto da engenharia dos homens, não regido por forças desconhecidas, mas, sim, como obra, habitação e Reino do Pai que está nos céus, cujas mãos tudo controlam, cujo coração nos busca para nos amar e nos trazer para perto dEle mesmo.
Você pode olhar à sua volta, considerar as coisas que acontecem com você, e ver o controle de Deus em tudo? Consegue enxergar Seu cuidado e providência, mesmo em meio aos sofrimentos e provações? Talvez seu olhar esteja viciado com o uso de “lentes” que impedem você de ver o que o Senhor revela claramente. Podem ser as “lentes” do egoísmo, do medo, da incredulidade, da sabedoria humana, do materialismo, da soberba, da busca de reconhecimento e de prazer, da não aceitação da vida que o Senhor tem lhe permitido viver.
Temos que aprender a olhar para o mundo e para a vida a partir de outra perspectiva, usando outras “lentes”, que corrigem nossa pouca visão espiritual: a fé, a verdade, a Palavra, o Reino de Deus. Por meio delas podemos aclarar e ordenar nossa visão da realidade e perceber aquilo que as pessoas em geral não podem discernir.
O mundo espiritual que tudo permeia, tudo inclui, do qual o mundo físico é apenas uma limitada manifestação. O Reino de Deus que está sendo estabelecido e triunfará sobre as forças espirituais da maldade, humanas ou demoníacas, um Reino infinito e eterno, não contido por limites físicos e nem restrito ao tempo.
É esse Reino, o Reino do Pai, que somos exortados por Jesus a buscar e a nele viver, como filhos, como aqueles que estão sendo cuidados e preparados para o encontro triunfal com Ele no dia eterno.
Como você vê o mundo à sua volta? Como percebe as coisas que acontecem com você? Olhe para os “lírios do campo”, ou para as flores de ipê roxo, ou para as margaridas, ou hortênsias, ou dálias ou quaisquer outras que insistem em crescer nos pequenos espaços que as nossas cidades lhes dão.
Mas não veja apenas flores, veja o poder, a graça, a beleza, a providência e o amor do Pai.

Que a graça de Jesus seja com todos.

Fernando Sabóia

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