Caros companheiros de jornada bem busca da vida interior,
Registro uma palavra recém compartilhada em nossa congregação.
Mateus 6:33
O Reino de Deus deve ser o centro da vida dos discípulos, como foi o da vida de Jesus. Ele representa o governo do Pai em tudo, acima de tudo, antes de tudo e como o objetivo de tudo. Quando nos convertemos passamos a viver essa Realidade do Reino manifestada em todos os aspectos de nossa pessoa e de nossas ações e palavras, ainda que em meio a nossas circunstâncias e atividades neste mundo, pois, embora nele vivendo, a ele não pertencemos mais.
É importante lembrar que o chamado Sermão do Monte foi pregado por Jesus para seus discípulos, embora houvesse, naquela ocasião, uma multidão de ouvintes à Sua volta. Nele, o Senhor destaca a essência do Reino de Deus e seu impacto na vida daqueles que passam a pertencer a ele, em contraste com a vida dos religiosos judeus e dos gentios. Não se trata de uma proposta ética ou religiosa apresentada abstratamente, mas de um convite a uma experiência concreta da presença e do governo de Deus.
A exortação para que os discípulos busquem em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça conclui uma seção da pregação de Jesus em que Ele trata da condição de ansiedade que as pessoas viviam em razão das carências, inseguranças e perigos da vida comum: o suprimento de necessidades, a limitação da existência.
Após destacar o cuidado do Pai que está nos céus, o Senhor indica qual deve ser nossa postura básica diante dos desafios de viver: buscar o Reino em primeiro lugar e sua justiça. Apenas dessa forma eliminaremos a ansiedade e experimentaremos a misericórdia e o cuidado de Deus a cada dia, em cada circunstância.
Jesus nos revela aqui um diagnóstico profundo da condição humana, decorrente do pecado – a angústia, o medo, a ansiedade, a desesperança face ao caos da vida e dos relacionamentos e à inevitabilidade da morte – e nos aponta o caminho para uma vida plena de significado e esperança – o pertencimento ao Reino de Deus, a recuperação da condição de filhos, objetos do Seu amor e cuidado.
A decisão de pertencer ao Reino de Deus, no entanto, exige um comprometimento integral de quem somos e de como vivemos. Jesus ao nos chamar ao discipulado, nos convoca ao arrependimento, à renúncia a tudo o que temos, aos nossos amores e até a nossa própria vida. Isso é necessário para que possamos receber d’Ele a nova vida com tudo o que ela pode nos proporcionar.
Trata-se de passar pela porta estreita da conversão e depois tomar o caminho apertado da transformação pessoal, por meio da busca cotidiana e decidida da justiça do Reino de Deus.
E no que consiste a justiça do Reino de Deus? Consiste, essencialmente, na efetivação da vontade de Deus, de Sua verdade e propósito em cada área de nossa vida. Esse é o tema geral de todo o sermão: amar o inimigo, dar a outra face, andar a segunda milha, perdoar, buscar a reconciliação, a misericórdia, a pureza de intenção etc.
Destacamos alguns fatos essenciais da chegada do Reino de Deus.
· Em Mateus 4:17-25, encontramos o registro do início do ministério de Jesus com o anúncio do Reino de Deus e o chamado ao arrependimento e ao discipulado
· Em Filipenses 2:1-11, Paulo destaca a vida de humildade e serviço de Jesus, seu sacrifício na cruz e sua exaltação na ressurreição e ascensão.
· Em Mateus 28:18-20é o próprio Senhor ressurreto quem toma sobre si toda a autoridade do Pai e com base nela nos envia a discipular as nações.
· Em Romanos 14:9, 17, Paulo declara que Cristo morreu e ressuscitou exatamente para ser Senhor e que o Seu Reino consiste em justiça, paz e alegria no Espírito Santo.
A partir desses fatos podemos meditar sobre a concretização ou aplicação do Reino em vários aspectos específicos de nossa vida, tais como:
· Identidade e pertencimento: quem somos, quem Deus deseja que nos tornemos, a quem pertencemos, qual nosso destino e propósito de viver.
· Santidade: separação e consagração. Separados do pecado, consagrados a Deus ao relacionamento com Ele, Sua vontade.
· Relacionamentos: amor a Deus, amor ao próximo, amor aos inimigos. Viver e repartir do amor do Pai, vida de família, de igreja, em comunidade.
· Escolhas, decisões: tudo o que desejamos e tudo o que fazemos deve estar diante do Senhor de nossas vidas.
· Adoração: centro de nossa vida interior e essência de tudo o que fazemos.
· Serviço: viver como o Senhor viveu uma vida de serviço ao Reino de Deus.
Muito importante: buscar o Reino em primeiro lugar não significa criar uma hierarquia nas nossas atividades para dar prioridade às coisas que consideramos espirituais, tentando dar destaque e reservar tempo para elas. Buscar o Reino em primeiro lugar significa buscar a vontade, o governo e a justiça de Deus em tudo o que fazemos e em tudo o que somos, dependendo d’Ele e esperando n’Ele.
O Reino
de Deus precisa ser buscado! Ele é o
tesouro oculto no campo e a pérola mais preciosa. A porta estreita que exige
nosso empenho para passar por ela, pois dá acesso ao caminho da vida.
Preocupa-nos ver nosso País se tornando “evangélico” pela disseminação de uma
cultura religiosa sincrética, de portas e caminhos largos, sem arrependimento e
compromisso, sem transformação pessoal e serviço, comprometida com o mundo e
com seus “principados e potestades”, que nada tem a ver com o Evangelho que
Jesus pregava.
Devemos
buscar intensamente o Reino em primeiro lugar nos nossos pensamentos,
sentimentos e desejos, em nossos relacionamentos, nas nossas tarefas e
atividades, nas dificuldades e provações, nas alegrias e nos prazeres.
Essa
busca nos dá sentido e harmonia à vida, nos integra como pessoas, traz
propósito e significado ao que fazemos e vivemos, nos coloca em relacionamentos
corretos com os outros e nos proporciona confiança e esperança, nos livrando
dos medos, da ansiedade e do vazio.
Ao
buscarmos o Reino em primeiro lugar e sua justiça nos esvaziamos se nós mesmos
e nos entregamos ao cuidado do Pai Celeste, para recebermos d’Ele todas coisas
de que necessitamos e que vão nos proporcionar uma vida plena e eterna.
Brasília, fevereiro de 2020, AD.
Fernando Saboia Vieira
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