“Felizes os que choram, porque eles serão
consolados.”
Mateus
5:4
Queridos companheiros de
jornada em busca da vida interior,
Faço
aqui o registro de uma mensagem compartilhada na nossa comunidade no mês de
janeiro deste ano.
Trata-se
de uma meditação sobre a bem-aventurança direcionada aos que choram!
O Consolo de Deus: a Felicidade dos que Choram
Encontramos
no Sermão do Monte essa declaração ousada e paradoxal, pronunciada pelo único
capaz de dar sentido, conteúdo e consequência a ela. Dita por qualquer outro
seria ela irônica, falsa, fazia, enganosa e mesmo cruel, como pregação vazia de
uma religião ufanista ou de um humanismo alienado.
Com
efeito, a existência humana neste mundo é repleta de dores e de lágrimas. As alegrias
tendem a serem, no mais das vezes, efêmeras, ilusórias e falsas, enquanto que
as tristezas são experiências permanentes e reais. Além do sofrimento pessoal
que cada um de nós deve suportar, compartilhamos aquele que nos atinge a todos
como comunidade e como humanidade, proveniente das crises econômicas e sociais,
das guerras, da deterioração do meio ambiente, da iniquidade na distribuição
dos recursos do Planeta, das enfermidades e de tantas outras circunstâncias em
uma era globalizada.
No
entanto, quando atentamos para essas palavras de Jesus, entendemos que nem todos
os prantos podem ou mesmo devem ser evitados. Algumas lágrimas são mesmo
desejáveis, pois podem atrair a felicidade do Reino de Deus.
A
bem-aventurança dos que choram, sua felicidade prometida por Jesus, é o consolo
de Deus, da Sua Presença e companhia. Não a vitória, o sucesso, o final feliz.
Não as compensações, recompensas e reconhecimentos. Nem mesmo o aperfeiçoamento
pessoal. Os que choram lágrimas de quebrantamento e de dor diante das mazelas
pessoais e deste mundo corrompido pelo pecado serão cheios do Espírito Santo,
que é o Consolador enviado pelo Senhor para estar sempre conosco.
Uma parte
importante do ministério dos antigos profetas era anunciar o consolo de Deus
para o Seu povo que lhe seria trazido pelo Messias prometido (Isaías 40:1-11; 57:14-21; 61:1-4). Em Lucas 4:18-19 vemos que Jesus tomou
sobre si o ministério da consolação. Ele é o nosso consolo e o nosso
consolador.
Consolar
(paraklesis) significa colocar-se ao
lado de alguém para ajudar, animar, auxiliar, defender, interceder. Jesus
prometeu aos seus discípulos que estaria sempre com eles por meio do
Consolador, o Espírito da verdade que habitaria neles (João 14:1-31). Esse era o maior temor dos discípulos naquele momento
em que finalmente compreendiam que o Senhor haveria de partir, o de que
ficassem sós.
Também
nós quando enfrentamos os caminhos escuros, os vales sombrios da vida, o que
mais nos importa é perceber a presença do Senhor: “Tu estás comigo, tua vara e
teu cajado me consolam”, escreveu Davi no Salmo 23, sobre a experiência do
“vale da sombra da morte”. Jacó em fuga teve, em Betel, a revelação de que Deus
estava naquele lugar. Os discípulos de Emaús caminhavam desolados após a morte
de Jesus até serem animados e aquecidos pela companhia de Jesus.
É
importante dimensionarmos o ministério do Consolador prometido por Jesus e que
agora atua na Igreja:
- Ele
está sempre conosco.
- Ele
habita dentro de nós.
- Ele
torna atual, viva e poderosa a presença do Pai.
- Ele
atua comunicando continuamente a verdade, o poder e o amor de Deus.
Vemos,
assim, algumas fontes e fundamentos do consolo que Jesus promete aos que choram:
- A certeza
e experiência da paternidade de Deus.
- O amor
de Deus derramado nos nossos corações.
- A convicção
da soberania de Deus a governar todas as coisas.
- A
misericórdia de Deus que se revela em perdão, graça, aceitação, relacionamento.
- A
bondade de Deus que podemos perceber a cada instante em que vivemos.
- O propósito
eterno de Deus que não poderá ser frustrado nas vidas daqueles que O amam e O
buscam.
Mais
alguns textos sobre consolo no Novo Testamento para neles meditarmos:
- Lucas 2:25-32
- Atos 4:36 e outros, sobre Barnabé
- Romanos 15:4-6
- 2ª aos Coríntios 1:3-7
- 2ª aos Tessalonicenses 2:16-17
Finalmente,
somos chamados na Igreja para também exercermos o ministério da consolação nas
vidas dos irmãos e das pessoas:
- 1ª aos Tessalonicenses 4:13-18; 5:4-11, 14
- 2ª aos Coríntios 13:14
Identificamos
uma profunda necessidade na Igreja e nesta geração da experiência desse
consolo. Muitos choram lágrimas sem esperança, sofrem sem qualquer sentido ou
promessa. Ansiedade, depressão, pânico, desespero são condições mais do que
comuns em nossos dias. As pessoas as enfrentam muitas vezes sem consciência de
suas causas e sem expectativas de cura e restauração. O sofrimento lhes parece
inexplicável e invencível. Buscam paliativos ou se entregam às trevas que as
cercam. É extremamente necessário que possamos encontrar esse consolo em meio
às nossas próprias lágrimas e compartilharmos isso com dos demais.
Consolar
não envolve fazer promessas vazias ou dar explicações, mas tão somente
colocar-se ao lado dos que choram e trazer para essas pessoas a presença de
Deus, pelo socorro, pela oração, pelo companheirismo, pelo testemunho do
consolo que nós mesmos recebemos do Pai. Oferecermo-nos como seus companheiros
de jugo.
“Chorai
com os que choram”.
Brasília,
jan/fev 2020 AD.
Fernando
Saboia Vieira
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