quarta-feira, 25 de março de 2020

Novo vírus, antiga humanidade


         “No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. ... Any man’s death diminishes me, because I am involved in mankind; and therefore never send to know for whom the bell tolls; it tolls for thee”. 

John Donne (1572 – 1631)


I

Nosso mundo tão moderno, agitado
Ruidoso, musicado
Tão colorido, cintilado
De repente quieto, calado
Perplexo, cinzento

Silêncios nas ruas
E nas pessoas que passam 
E se apressam
Distanciando-se umas das outras
Máscaras e não rostos
Escudos e não roupas

As certezas se tonaram dúvidas
As agendas se esvaziaram
Os planos, sonhos e fantasias
Foram travados pela realidade 
E necessidades:
Uma dura lição da fragilidade e simplicidade
De valores que não estão cotados nas bolsas
Nem nos mercados
Mas nos nossos corações

O deserto na cidade, o desalento na alma:
Ilusórias conexões virtuais não nos bastam
Ainda queremos afetos e abraços
Somos uma raça presencial


  
II
         

Ruas e agendas desertas
Mentes em confusão
Solitude ou solidão?

Presentes e futuros incertos
Distantes presenças
E próximas ausências
Sanidade ou demências?

Perguntas poucas
E agoniadas
Respostas muitas
E desencontradas

Uma só humanidade
Um só destino

Uma voz do passado
Traduzida para hoje:
“Nunca pergunte de quem as estatísticas falam,
Elas falam de você”                 


  
III


As chuvas que encerram Março
E introduzem o Outono
Me lembram que o Planeta ainda orbita
Um Sol que passeia
Numa Galáxia que ninguém sabe
Para onde vai

Deus está novamente a unir a humanidade
Com a agulha da aflição e o fio do tormento

Somos uma só raça
Temos um único Criador
Estamos fadados a um só encontro final
Com Aquele que é o Princípio de tudo

Precisamos de uma só salvação
Para o vírus que mata o corpo
Para o egoísmo que mata a alma




Fernando Saboia Vieira
Março 2020, AD


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