“Esta criança é posta para ruína e levantamento de muitos... e ser alvo de contradição... manifestem os pensamentos de muitos corações.”
Lucas 2:34
Irmãos queridos,
Muitos irmãos se alegraram com a produção e transmissão de um show de música evangélica pela Rede Globo de televisão no mês de dezembro deste ano de 2011. Sem entrar nos aspectos comerciais do evento, que promoveu basicamente cantores e músicos produzidos pelo selo Som Livre, pertencente às organizações Globo, o fato me levou a meditar na profecia narrada no Evangelho de Lucas, pela qual Jesus, ali recém-nascido, era apontado pelo velho Simeão, sob inspiração do Espírito Santo, como destinado a ser alvo de contradição.
Qual a relação do espetáculo com a profecia? Simples. Não há nada mais consensual e menos objeto de contradição na nossa sociedade do que a Rede Globo. Nada do que ela veicula pode constranger quem quer que seja. Não pode ser contra as escolhas livres das pessoas, nem condenar qualquer comportamento pessoal que envolva filosofia, fé ou valores morais. Isso é contra os negócios e contra a filosofia que inspira as mega organizações de mídia e de comunicação. Tudo o que pode ser entendido como preconceito ou julgamento moral fica fora da programação. Prova clara disso está na escolha do apresentador do show, um artista que é símbolo de inclusão e de aceitação de todas as tendências e comportamentos em nome da arte e da liberdade de expressão.
Seria muito difícil permitir a participação de Jesus num evento como esse. Ele acabaria fazendo alguma declaração polêmica, politicamente incorreta, radical. Seria alvo de contradição, quando a ideia era divulgar uma mensagem de paz e boa vontade universais, vivendo cada um do modo como bem entender.
Ser consenso nunca foi exatamente uma preocupação de Jesus. Nem dos apóstolos. Nem da Igreja ao longo dos séculos. Quando o Evangelho se recusa a ser ocasião de queda para alguns, deixa de ser salvação para muitos, não manifesta os pensamentos dos corações, não é mais o Evangelho que Jesus pregava.
Certamente que a mensagem do Evangelho contradiz consensos que são muito caros à nossa tradição religiosa. Alguns deles:
- “Todos são filhos de Deus e serão salvos”;
- “Todos os que fazem o bem estão no caminho de Deus”;
- “Todos os caminhos levam a Deus”;
- “Não existe pecado”;
- “Não existe céu ou inferno”;
- “A verdade é relativa, os valores são relativos";
- “Cada um tem o direito de viver como quer”;
- “Não existe certo e errado”;
- “O importante é seguir o coração”;
- “Toda religião é boa”.
Essas ideias e conceitos, e outros na mesma direção, configuram uma visão materialista, secular e humanista da realidade. Só leva em conta o que pode ser percebido pelos sentidos físicos, a dimensão do tempo que passa e os limites e os interesses do homem.
Jesus pregava um Reino eterno, espiritual e centrado no Deus Criador, no Seu poder e na Sua vontade. O Evangelho de Jesus anuncia que o homem é pecador e precisa se arrepender, para escapar da ira de Deus e da condenação eterna. É preciso renunciar a tudo, negar-se a si mesmo e obedecer, como discípulo.
Jesus reivindica ser Ele o único caminho, a verdade e a vida, que não há outra via de acesso ao Pai. Não basta seguir preceitos, rituais ou obedecer a padrões morais. É necessário nascer de novo, ter uma transformação espiritual.
Jesus ensinou o padrão de vida e de santidade requeridos por Deus para entrar no Reino. Não há lugar para mentirosos, roubadores, adúlteros, homicidas, impuros, avarentos, lascivos, rebeldes, para quem quer que não faça a vontade do Pai. Essa regra de vida está coerente como caráter de Deus e leva o homem a uma vida plena e feliz, eterna.
Há, assim, pelo menos quatro questões centrais no Evangelho de Jesus que o tornam alvo de contradição. A questão da verdade, da santidade, da autoridade e do amor.
A questão da verdade está colocada a partir da consideração de que se a verdade está em Jesus, tudo o que contradiz essa verdade é falso. Não é uma questão de opinião. Pode-se até admitir diferenças de interpretação em alguns pontos, mas nos seus fundamentos a verdade está claramente expressa na Bíblia, e ela exclui quaisquer outras afirmações que lhe sejam incompatíveis.
A santidade não é uma opção. Deus tem padrões morais absolutos, não culturais e não relativos para a vida do homem. Quem não vive segundo esses preceitos permanece sob a condenação de Deus. Santidade não é perfeição. A Bíblia nunca supõe que qualquer homem ou mulher possa ter uma vida absolutamente perfeita, sem pecados. Para isso já prescreve a confissão e o perdão. Mas a falibilidade humana não modifica o caráter santo de Deus.
Jesus Cristo veio para ser Senhor tanto de vivos quanto de mortos. Ele é o único Senhor. Sua Palavra é mandamento e Sua vontade imperativa. O homem não pode viver como dono de seu próprio destino. Se o fizer, estará sob condenação.
Finalmente, a questão muitas vezes controvertida e não entendida do amor de Deus. Deus enviou Jesus porque amou sobremaneira o mundo caído e o homem perdido. Em Jesus, a graça e a verdade se encontraram. Deus não renunciou Sua Justiça, mas a realizou na vida e morte de Jesus. O amor de Deus e a oportunidade de salvação são oferecidos a todos. Mas nem todos os recebem. O amor de Deus jamais estará em contradição com os demais aspectos de Sua natureza. Ele não pode amar e ser injusto ou contaminado pelo mal.
Caros irmãos. Jesus veio ser alvo de contradição. E nós? Queremos ser consenso? Vamos comprometer o Evangelho e negociar com o mundo para sermos aceitos? Para termos acesso aos meios de comunicação, às redes sociais e aos círculos do poder secular? Que Deus não o permita!
Que a graça de Jesus seja com todos.
Fernando Sabóia Vieira
Brasília, dezembro de 2011, aD.
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