“Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados” (Tiago 5:16). Quem fica sozinho com seu mal, fica totalmente só. Pode ser que cristãos fiquem sozinhos apesar da devoção e oração conjuntas, apesar de toda comunhão no servir ... sozinhos com o pecado, na mentira, na hipocrisia, pois não há como negar: somos pecadores. ...
No entanto, é a graça do Evangelho...que nos coloca diante da verdade e diz:Tu és pecador, um grande pecador incurável; e agora, como pecador que tu és, chega-te a teu Deus que te ama. Ele te quer tal como és. Não quer nada de ti, nem sacrifício nem obra. Ele quer somente a ti...Deus veio até a ti para salvar o pecador. Alegra-te. Essa mensagem é libertação pela verdade. Perante Deus não podes te ocultar. Diante dele, de nada vale a máscara que usas perante as pessoas. Deus quer te ver assim como és, e quer ser misericordioso contigo. Já não tens necessidade de mentir para ti mesmo nem para o irmão, como se não tivesses pecado; tu podes ser um pecador e agradece a Deus por isso, pois ele ama o pecador, mas odeia o pecado.
Cristo tornou-se nosso irmão na carne, para que crêssemos nele. Nele veio o amor de Deus ao pecador. Em sua presença as pessoas puderam ser pecadoras e só assim encontraram ajuda. Perante ele acabou toda a aparência. A miséria do pecador e a misericórdia de Deus – eis a verdade do Evangelho em Jesus Cristo. E é nessa verdade que deveria viver sua comunidade. Por essa razão autorizou os seus a ouvir a confissão dos pecados e a perdoá-los em seu nome. “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos” (João 20:23).
Assim Cristo converteu em bênção para nós a comunidade, e nela, o irmão. Ele está no lugar de Cristo. Perante ele já não preciso fingir. Perante ele e mais ninguém no mundo posso ser o pecador que sou, pois aqui reina a verdade de Jesus Cristo e sua misericórdia. Cristo tornou-se nosso irmão para nos ajudar; e agora o irmão se tornou um Cristo, por meio dele, no poder de sua missão. O irmão está diante de nós como o sinal da verdade e da graça de Deus. Ele nos é dado para nos ajudar. Ouve nossa confissão em lugar de Cristo e em lugar dele nos perdoa. Guarda o segredo da confissão tão bem como Deus o guarda. Confessando-me ao irmão, confesso-me a Deus. ...
Na confissão acontece o irrompimento da comunhão. O pecado quer ficar a sós com a pessoa e afastá-la da comunhão.
Quanto mais solitária a pessoa, mais destruidor será o poder do pecado em sua vida, e quanto mais profundo o envolvimento com o pecado, mais desesperadora a solidão. O pecado faz questão de permanecer no anonimato. Ele teme a luz. Escondido na escuridão do que não se verbaliza, ele intoxica todo o ser da pessoa. ... Na confissão, a luz do Evangelho irrompe nas trevas e no hermetismo do coração. O pecado deve ser trazido à luz. O que ainda não foi verbalizado, agora é dito abertamente e confessado. Todas as coisas secretas e ocultas ficam agora manifestas. É dura a luta até que os lábios consigam pronunciar a confissão do pecado, mas Deus “quebrou as portas de bronze, despedaçou as trancas de ferro” (Salmo 107:16).
A confissão dos pecados na presença do irmão cristão derruba os redutos da autojustificação. O pecador rende-se, abandona todo o mal que há nele, entrega o coração a Deus e encontra o perdão de todos os seus pecados na comunhão de Jesus Cristo e dos irmãos. Uma vez expresso e confessado, o pecado já não tem poder, pois foi manifesto como pecado e julgado como tal. Já não tem o poder de dilacerar a comunhão. ...
Na confissão acontece o irrompimento para a cruz. A raiz de todo pecado é a soberba. Quero viver para mim mesmo, tenho direito a mim mesmo, a meu ódio e minha cobiça, minha vida e minha morte. Mente e carne da pessoa são inflamadas de soberba, pois justamente em seu mal a pessoa quer ser igual a Deus. A confissão a um irmão é a mais profunda humilhação; machuca, torna-o pequeno, abate a soberba horrivelmente. Apresentar-se ao irmão como pecador é uma desonra quase insuportável. Na confissão de pecados concretos, o velho Adão tem uma morte vergonhosa sob dores horríveis perante os olhos do irmão. Por essa humilhação ser tão amarga, cremos sempre poder evitar a confissão diante do irmão. Nossos olhos estão obcecados a ponto de não mais enxergarem a promessa e a magnificência que tal humilhação encerra.
Foi o próprio Jesus Cristo que sofreu publicamente em nosso lugar a morte-vergonha do pecador. Não se envergonhou de ser crucificado como malfeitor. E não é nada mais que a comunhão com Jesus Cristo que nos conduz à morte vergonhosa da confissão, para que de fato tenhamos comunhão na cruz de Cristo. Essa cruz destrói toda soberba. Não encontramos a cruz de Cristo se não formos até onde ela pode ser encontrada, a saber, na morte pública do pecador. Negamo-nos a carregar a cruz quando nos envergonhamos de tomar sobre nós a vergonhosa morte do pecador na confissão. Na confissão fazemos irromper a autêntica comunhão da cruz de Jesus Cristo; nela aceitamos nossa cruz. No profundo sofrimento físico-espiritual da humilhação perante o irmão, isto é, perante Deus, experimentamos a cruz de Cristo como salvação e bem-aventurança. Morre a velha humanidade, mas foi Deus quem a derrotou. Agora, temos parte na ressurreição de Cristo e na vida eterna.
“Vida em Comunhão”
Sinodal, 1997.
No entanto, é a graça do Evangelho...que nos coloca diante da verdade e diz:Tu és pecador, um grande pecador incurável; e agora, como pecador que tu és, chega-te a teu Deus que te ama. Ele te quer tal como és. Não quer nada de ti, nem sacrifício nem obra. Ele quer somente a ti...Deus veio até a ti para salvar o pecador. Alegra-te. Essa mensagem é libertação pela verdade. Perante Deus não podes te ocultar. Diante dele, de nada vale a máscara que usas perante as pessoas. Deus quer te ver assim como és, e quer ser misericordioso contigo. Já não tens necessidade de mentir para ti mesmo nem para o irmão, como se não tivesses pecado; tu podes ser um pecador e agradece a Deus por isso, pois ele ama o pecador, mas odeia o pecado.
Cristo tornou-se nosso irmão na carne, para que crêssemos nele. Nele veio o amor de Deus ao pecador. Em sua presença as pessoas puderam ser pecadoras e só assim encontraram ajuda. Perante ele acabou toda a aparência. A miséria do pecador e a misericórdia de Deus – eis a verdade do Evangelho em Jesus Cristo. E é nessa verdade que deveria viver sua comunidade. Por essa razão autorizou os seus a ouvir a confissão dos pecados e a perdoá-los em seu nome. “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos” (João 20:23).
Assim Cristo converteu em bênção para nós a comunidade, e nela, o irmão. Ele está no lugar de Cristo. Perante ele já não preciso fingir. Perante ele e mais ninguém no mundo posso ser o pecador que sou, pois aqui reina a verdade de Jesus Cristo e sua misericórdia. Cristo tornou-se nosso irmão para nos ajudar; e agora o irmão se tornou um Cristo, por meio dele, no poder de sua missão. O irmão está diante de nós como o sinal da verdade e da graça de Deus. Ele nos é dado para nos ajudar. Ouve nossa confissão em lugar de Cristo e em lugar dele nos perdoa. Guarda o segredo da confissão tão bem como Deus o guarda. Confessando-me ao irmão, confesso-me a Deus. ...
Na confissão acontece o irrompimento da comunhão. O pecado quer ficar a sós com a pessoa e afastá-la da comunhão.
Quanto mais solitária a pessoa, mais destruidor será o poder do pecado em sua vida, e quanto mais profundo o envolvimento com o pecado, mais desesperadora a solidão. O pecado faz questão de permanecer no anonimato. Ele teme a luz. Escondido na escuridão do que não se verbaliza, ele intoxica todo o ser da pessoa. ... Na confissão, a luz do Evangelho irrompe nas trevas e no hermetismo do coração. O pecado deve ser trazido à luz. O que ainda não foi verbalizado, agora é dito abertamente e confessado. Todas as coisas secretas e ocultas ficam agora manifestas. É dura a luta até que os lábios consigam pronunciar a confissão do pecado, mas Deus “quebrou as portas de bronze, despedaçou as trancas de ferro” (Salmo 107:16).
A confissão dos pecados na presença do irmão cristão derruba os redutos da autojustificação. O pecador rende-se, abandona todo o mal que há nele, entrega o coração a Deus e encontra o perdão de todos os seus pecados na comunhão de Jesus Cristo e dos irmãos. Uma vez expresso e confessado, o pecado já não tem poder, pois foi manifesto como pecado e julgado como tal. Já não tem o poder de dilacerar a comunhão. ...
Na confissão acontece o irrompimento para a cruz. A raiz de todo pecado é a soberba. Quero viver para mim mesmo, tenho direito a mim mesmo, a meu ódio e minha cobiça, minha vida e minha morte. Mente e carne da pessoa são inflamadas de soberba, pois justamente em seu mal a pessoa quer ser igual a Deus. A confissão a um irmão é a mais profunda humilhação; machuca, torna-o pequeno, abate a soberba horrivelmente. Apresentar-se ao irmão como pecador é uma desonra quase insuportável. Na confissão de pecados concretos, o velho Adão tem uma morte vergonhosa sob dores horríveis perante os olhos do irmão. Por essa humilhação ser tão amarga, cremos sempre poder evitar a confissão diante do irmão. Nossos olhos estão obcecados a ponto de não mais enxergarem a promessa e a magnificência que tal humilhação encerra.
Foi o próprio Jesus Cristo que sofreu publicamente em nosso lugar a morte-vergonha do pecador. Não se envergonhou de ser crucificado como malfeitor. E não é nada mais que a comunhão com Jesus Cristo que nos conduz à morte vergonhosa da confissão, para que de fato tenhamos comunhão na cruz de Cristo. Essa cruz destrói toda soberba. Não encontramos a cruz de Cristo se não formos até onde ela pode ser encontrada, a saber, na morte pública do pecador. Negamo-nos a carregar a cruz quando nos envergonhamos de tomar sobre nós a vergonhosa morte do pecador na confissão. Na confissão fazemos irromper a autêntica comunhão da cruz de Jesus Cristo; nela aceitamos nossa cruz. No profundo sofrimento físico-espiritual da humilhação perante o irmão, isto é, perante Deus, experimentamos a cruz de Cristo como salvação e bem-aventurança. Morre a velha humanidade, mas foi Deus quem a derrotou. Agora, temos parte na ressurreição de Cristo e na vida eterna.
“Vida em Comunhão”
Sinodal, 1997.
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