quarta-feira, 9 de junho de 2010

O Homem Interior

(Fernando Sabóia Vieira, BsB, 2010, aD)


“Por isso não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia ... não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” 2a Coríntios 4:16,18

“... que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior...” Efésios 3:16


2a Parte


A VIDA INTERIOR SEGUNDO AS ESCRITURAS


Por toda a Bíblia encontramos a declaração de que o relacionamento do homem com Deus deve incluir a pessoa inteira, a partir de seu íntimo, e não apenas suas palavras e atos exteriores.
Os homens e mulheres aprovados por Deus eram os “retos de coração”, “íntegros”, “justos”, no pensar, no falar e no agir. Manifestavam uma inteireza, uma coerência entre o que eram interiormente e o que expressavam exteriormente, uma certa qualidade em tudo o que sentiam, desejavam ou faziam.
Fica também patente que a fonte de vida e de santidade flui a partir de uma operação de Deus na natureza humana, produzida no seu íntimo, em sua alma e espírito, e não da observância formal, exterior, de rituais e mandamentos.
Esse processo vai se tornar pleno com a vida de Jesus em nós, o mistério outrora oculto e revelado no Evangelho.
Os textos seguintes podem dar um panorama sobre a precedência e importância da vida interior para uma espiritualidade autêntica e frutífera, isto é, para uma vida humana válida, plena e eterna.

a) Salmo 51:6; Provérbios 4:23; Jeremias 9:23

O Senhor não se agrada com exterioridades ilusórias, mas com a verdade no íntimo daquele que o busca. Isso foi compreendido claramente pelos profetas e homens de Deus desde o Velho Testamento
A Bíblia de Jerusalém diz “eis que amas a verdade no fundo do ser”.
Davi teve a clara revelação do que Deus queria dele: “cria em mim um coração puro e um espírito inabalável”. Ele sentiu necessidade de uma profunda transformação interior, algo que somente o Senhor mesmo poderia operar, criar a partir do nada.
Do coração procedem as fontes da vida, o fluir da nossa existência, a energia que nos mantém vivos. Nosso sustento e vitalidade estão intimamente ligados ao nosso mundo interior, não apenas ao nosso corpo físico. Se nosso coração estiver guardado em Deus, produzirá vida, caso contrário, contaminação e morte.

A finalidade última da vida do homem não está nos aspectos externos de inteligência, riqueza ou poder, mas no conhecimento pessoal de Deus, na união com Ele.

b) Salmo 19:14; 24:4; 2o Crônicas 16:9

Temos que buscar agradar a Deus não apenas com nossas palavras mas também com o “meditar do coração”, nosso diálogo íntimo e constante com Ele, que conhece todos os nossos segredos.
É preciso que nossos pensamentos mais íntimos sejam transparentes e agradáveis a Deus, em cuja presença estamos.

O Senhor requer que o coração do homem se volte completamente para Ele, pertença totalmente a Ele. Essa é a condição para um relacionamento pleno com Ele, para a manifestação de seu poder e graça.

c) João 4:13-14; 7:37-39; 14:23

A verdadeira adoração não está ligada a um local ou rito, a exterioridades, mas a um conhecimento e relacionamento pessoal e íntimo com Deus – é “em espírito”.
É do interior que fluem os rios de água viva, pois é lá que está, segundo Jesus, o centro dinâmico e vital da existência, onde o Espírito Santo habita e opera, fazendo a vida fluir.
O Espírito vem fazer morada “em nós”. Esse é o fato mais tremendo da história humana. O Deus Criador habitando em Sua criatura. Esse é o fato mais tremendo e transformador da história humana, e que nos garante a vida eterna.

d) Mateus 15:16-29; 23: 25-28

Jesus afirma que a contaminação do homem vem do coração, e não de suas ações exteriores. A religiosidade cerimonial, exterior, não garante a saúde espiritual do homem. Ao contrário, um interior contaminado torna impura a pessoa inteira.
O grande problema dos fariseus era a incoerência entre a vida interior e a exterior.

e) Lucas 17:21

Jesus diz que o reino de Deus não vem com visível aparência, mas que ele está “dentro” de nós. Pensamos muito nas manifestações externas do reino, mas é dentro de nós que ele de fato está. É no nosso coração que o reino deve se estabelecer e crescer, para que possa gerar frutos e produzir obras aceitáveis a Deus.

f) Filipenses 2:13

Deus opera “dentro” de nós o querer e o realizar (efetuar, poder para agir). Ambas são operações interiores. O “querer” se refere à purificação da vontade, do nosso amor. O “realizar” diz respeito ao poder espiritual necessário para viver a santidade.

g) Romanos 5:5; 7:22; 8:11,16,23 e ss; 12:1-2; 14:17

O amor de Deus é derramado no nossos corações. É uma operação interior, espiritual, uma transmissão de vida, uma comunicação, um poder transformador que opera dentro do homem.
A vida no Espírito, descrita em Romanos 8, é essencialmente interior, operado no íntimo, na natureza humana. Essa é a fundamental distinção em relação à lei do pecado e da morte, ineficaz para transformar o homem.

Um aspecto fundamental dessa transformação interior é a renovação da mente. Nossos conceitos, pensamentos, idéias, valores e percepções precisam ser transformados para que possamos oferecer um culto coerente a Deus e conhecer Sua vontade.
A realidade do reino de Deus é espiritual e não física.

h) 1a aos Coríntios 1:18-25; 2:6-16; 6:19

A presença e atuação do Espírito Santo em nós nos transforma de “homens psíquicos” em “homens pneumáticos”.
O homem psíquico é o homem natural, que vive sem conhecimento da Realidade e é limitado por suas faculdades corrompidas pelo pecado e desconectadas de Deus.
O Espírito sonda as profundezas de Deus e se comunica conosco em nosso íntimo. A partir dessa nova perspectiva, o homem espiritual pode discernir todas as coisas.

i) Efésios 4:23

A renovação do “espirito do entendimento” é essencial para que se possa despir o velho homem e se revestir do novo. Trata-se de uma transformação que deve ocorrer no nosso “homem interior”.

j) Gálatas 5:16-25

O fruto do Espírito é uma completa transformação interior. Não se refere a exterioridades ou a práticas determinadas, não é produto de esforço, mas de uma ação direta, interna, de Deus na nossa natureza humana.

k) 2a aos Coríntios 3:12-18; 4:16, 18

Quando nos convertemos é retirado o véu do coração e podemos contemplar Deus diretamente, face a face, como Moisés. Esse “olhar” para o Senhor não é físico, exterior, mas espiritual, interior, e essa união íntima com Ele nos transforma.
A operação da fé, a busca dos valores eternos do Reino e até mesmo as perseguições fazem com que, embora o homem exterior possa se corromper, o homem interior se renova para uma existência eterna.

l) Efésios 3:14-21

Paulo ora para que os cristãos sejam fortalecidos com poder no homem interior, onde Cristo habita pela fé.

“É a pressuposição constante, ou ênfase específica, do ensino do Novo Testamento, de que a força para a vida cristã vem através da habitação do Espírito Santo na pessoa do crente ... Isso (a expressão “homem interior”) pode incluir, ou pelo menos afetar, tudo o que o Novo Testamento quer dizer por coração, mente, vontade e espírito. É o núcleo da personalidade, onde o Espírito procura fazer sua habitação e a partir daí transformar toda a vida de um homem”. (Francis Foulkes, "Efésios, Introdução e Comentário", ed. Vida Nova/Mundo Cristão)

m) Colossenses 1:27-28

“Cristo em nós”, dentro de nós, habitando e transformando nosso ser. Essa é a síntese do plano de Deus para ter uma família de filhos semelhantes a Ele.


Jesus precisa ser formado em (dentro de) nós, antes de ser manifestado através de nós.
O Espírito deve fortalecer nosso homem interior, antes de veicular Seu poder através de nós.
O Espírito nos vivifica a partir do interior, onde Ele habita e de onde transmite sua graça transformadora.
Ele se manifesta em nós com sua revelação e dons, antes de nos usar como instrumentos.
O Reino precisa crescer em (dentro de) nós antes de se expandir através do nosso serviço.
Precisamos desenvolver nossas faculdades e habilidades espirituais, antes de nos aperfeiçoarmos nas naturais.
A santidade é essencialmente produto de uma ação sobrenatural do Espírito de Deus em nós, seu fruto, e não conseqüência de nossas escolhas e ações, que podem, no máximo, permitir ou impedir a ação do Espírito, mas jamais dar-lhe substância.


///fsv.

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