Companheiros de Jornada em Busca da
Vida Interior,
Tenho, finalmente, nos
últimos anos, me aproximado de uma essência vital, de uma nova percepção de
Deus, de uma nova experiência da espiritualidade. Mais expandida e mais
simples, mais abrangente e mais focada, mais pessoal e mais integrada a tudo o
que existe. Mais consciente de mim mesmo e ao mesmo tempo menos centrado em mim
mesmo. Ser, existir e me expressar sempre em relação à Presença que tudo
envolve e que habita dentro de mim. Ser integrado por ela, abrangido por ela,
atravessado por ela, incluído, superado, transformado e, sobretudo, amado. Experimentar
a suficiência da paternidade de Deus momento após momento, em cada instante de
consciência, em cada tarefa, em cada conversa, em cada palavra. Orar e viver se
tornam a mesma coisa. Palavra e silêncio se unem. Ação e quietude não se
separam. A busca dessa vivência e espiritualidade se tornou mais intensa para
mim e mais real. O Espírito tem me conduzido a ela e me instruído nela de
diversas formas, se expressando por diferentes e surpreendentes fontes.
Entre o final de 2016 e o início de
2017 vivi uma crise pessoal mais profunda do que podia esperar a essa altura da
vida e já com tantos anos de caminhada com o Senhor. Foi intensamente íntima e
solitária, foi extremamente dolorosa e obscura, foi desértica e árida e foi
transformadora pelas expressões de graça e de verdade que me confrontaram e me
consolaram. Quando cheguei à experiência de estar “vazio como quem foi
esvaziado pela morte”, Ele me resgatou, tornou minha solidão em solitude, e me
fez experimentar Seu amor e misericórdia de Pai. Me compreendi na minha miséria
e na maravilha de Sua glória manifestada na minha vida. Encontrei o sentido, o
contentamento, a completude e a alegria de minha identidade, de minha existência
e de minha vocação.
Também tenho aprendido a ver as pessoas
de uma maneira diferente, a ler suas almas com outra linguagem, compreendê-las
à luz da verdadeira luz. Tenho percebido a complexidade e profundidade de seus dramas,
dores e enganos, a desconcertante simplicidade das soluções suficientes e necessárias
para restaurá-las e a grande dificuldade que elas podem ter em encontrar esse
centro vital, essa fonte interior de onde jorram os rios de água vida, esse
tabernáculo do coração quebrantado, que é a morada favorita do Deus Altíssimo,
e em aí permanecer e receber o poder da vida.
Vivi, por anos demais, à margem dessa
experiência da consciência constante da Presença de Deus e da Realidade
espiritual que envolve todas as coisas, com uma fé racionalizada, estreitada,
covarde e o coração cheio de sentimentos conflituosos. Sempre que não estamos
recolhidos e alimentados em uma união completa com Deus - intelectual, afetiva,
ativa, contemplativa, de corpo, alma e espírito, em solitude e em comunhão com
as pessoas - segmentamos a vida no tempo e nos trabalhos, fracionamos a alma
nas circunstâncias, sonhos e dores, corrompemos o corpo com carências e
excessos, encolhemos o espírito, limitamos o amor, condicionamos o perdão,
retemos a misericórdia, nos tornamos menos humanos, menos reais e menos filhos
do Pai.
Quero compartilhar sobre isso e, embora
as palavras me pareçam sempre muito inadequadas para expressar essas realidades,
é tempo, creio, de trazer à luz os textos, meditações e poesias que escrevi ao
longo de já mais de década e que registram, quanto a mim, as experiências,
dramas, dores e alegrias de “Uma Jornada em Busca da Vida Interior”, se o
Senhor assim permitir, pois esse caminho, embora muitas vezes pessoal e em
solitude diante de Deus, não pode ser percorrido solitariamente e sem a ajuda
dos companheiros que estão nessa mesma vereda. Que a suficiente graça de Jesus
seja com todos.
Brasília, em 26 de janeiro de 2018.
Fernando Saboia Vieira
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