sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Sobre Humildade e Santidade - Andrew Murray

HUMILDADE E SANTIDADE
(Andrew Murray)

“povo que diz: Fica onde estás, não te chegues a mim, porque sou mais santo do que tu” Isaías 65:5

         Falamos de um movimento de Santidade nos nossos dias, e louvamos a Deus por isso. Ouvimos muito sobre pessoas em busca de santidade e mestres de santidade, de ensinos e encontros de santidade. As benditas verdades sobre santidade em Cristo e santidade pela fé estão sendo enfatizadas como nunca antes. O grande teste para saber se a santidade que professamos buscar ou ter alcançado é verdade e vida será a manifestação de uma crescente humildade por ela  produzida. Na criatura, a humildade é a única e indispensável condição capaz de permitir que a santidade de Deus nela habite e nela brilhe. Em Jesus, o Santo de Deus que nos santifica, uma humildade divina era o segredo da Sua vida e da Sua morte e da Sua exaltação. O teste infalível de nossa santidade será a humildade diante de Deus e dos homens que nos caracterize. Humildade é o desabrochar e a beleza da santidade.
         A principal marca de uma falsa santidade é a sua falta de humildade. Todo aquele que busca santidade precisa se precaver contra isso, para que não ocorrer que inconscientemente o que começou no espírito seja aperfeiçoado na carne, e o orgulho se infiltre onde sua presença é menos esperada. Dois homens foram ao templo para orar: um Fariseu e um publicano. Não existe lugar ou posição mais sagrada, mas o Fariseu pode entrar aí. O orgulho pode levantar sua cabeça até mesmo no templo de Deus, e fazer de Sua adoração o cenário de sua própria exaltação. Desde que Jesus expôs seu orgulho, o Fariseu colocou as vestes do publicano, e tanto aquele que confessa os mais profundos pecados quanto o mestre da mais elevada santidade devem vigiar. Precisamente quando nós estamos mais ansiosos para colocar nosso coração no templo de Deus podemos encontrar esses dois homens vindo para orar. E o publicano descobrirá que seu perigo não vem do Fariseu ao seu lado, que o despreza, mas do Fariseu que está dentro dele, que o elogia e o exalta. No templo de Deus, quando pensamos estar no lugar mais santo, na presença de Sua santidade, tenhamos cuidado com o orgulho. “Um dia os filhos de Deus vinha se apresentar perante o Senhor, e Satanás veio entre eles.”
         “Deus, eu te agradeço porque não sou como os demais homens, nem mesmo como esse publicano.” É naquilo que se constitui causa justa de agradecimento, nas próprias ações de graças que rendemos a Deus, até mesmo no próprio reconhecimento de que Deus fez tudo, é nisso que o ego encontra seu motivo de complacência. Sim, mesmo quando no templo apenas a linguagem da penitência e da confiança na misericórdia de Deus é ouvida, o Fariseu pode tomar a nota de louvor e, ao agradecer a Deus, estar a congratular-se consigo mesmo. O orgulho pode se vestir com os trajes do louvor e da penitência. Ainda que as palavras “eu não sou como os demais homens” sejam rejeitadas e condenadas, o seu espírito pode ser encontrado com demasiada frequência nos nossos sentimentos e linguagem em relação a nossos companheiros adoradores e aos nossos semelhantes. Se você quer saber se de fato é assim, apenas preste atenção na maneira como igrejas e cristãos frequentemente se referem uns aos outros. Quão pouco da mansidão e da gentileza de Jesus se pode ver. Tão poucas vezes é lembrado que a mais profunda humildade deve ser a principal nota no que os servos de Jesus dizem sobre si mesmos ou uns para os outros. Não há muitas congregações e assembleias de santos, muitas missões e convenções, muitas sociedades e comitês e até mesmo muitas missões distantes em que a harmonia foi perturbada e a obra de Deus prejudicada porque homens que são considerados santos provaram nos seus melindres, irritação e impaciência, em suas autodefesas e autoafirmações, em julgamentos ríspidos e em palavras grosseiras que eles não consideram os outros superiores a si mesmos e que sua santidade tem muito pouco da mansidão dos santos? Em sua história espiritual, alguns homens podem ter tido momentos de grande humilhação e quebrantamento, mas que grande diferença há entre ser vestido de humildade e ter um espírito humilde, e ter aquela humildade de mente na qual cada um se considera servo dos outros e assim mostra  ter a mesma disposição mental que havia em Jesus Cristo!
         “Para trás, pois eu sou mais santo do que vocês!” Que paródia da santidade! Jesus, o Santo, é o Humilde: o mais santo sempre será o mais humilde. Não há nenhum Santo a não ser Deus: nós temos de santidade o quanto temos de Deus. E nossa santidade será real de acordo com o quanto tivermos de Deus, porque humildade nada mais é do que o desaparecimento do ego diante da revelação de que Deus é tudo. O mais santo será o mais humilde. Mas, infelizmente, embora o judeu arrogante descarado dos dias de Isaías não seja mais frequentemente encontrado, até por termos sido educados para não falar desse modo, seu espírito ainda é muito frequentemente encontrado, tanto no tratamento dos santos da igreja quanto dos filhos do mundo. No espírito em que opiniões são dadas, em que o trabalho é realizado, em que os erros são expostos, quantas vezes, embora as vestes sejam do publicano, a voz ainda é a do Fariseu: “Oh, Deus, eu te agradeço porque não sou como os demais homens.”!
         Existe algum lugar onde se possa encontrar essa humildade em que os homens de fato se considerem “menos do que o menor de todos os santos” e servos de todos? Existe. “O amor não se ufana, não se ensoberbece, não busca seus próprios interesses”. Onde o espírito do amor é derramado abundantemente no coração, onde a natureza divina nasce plenamente, onde Cristo, o manso e humilde, é verdadeiramente formado no interior, aí é concedido o poder do perfeito amor que se esquece de si mesmo e encontra sua bênção em abençoar os outros, em suportá-los e honrá-los por mais débeis que sejam. Onde esse amor entra, Deus entra. E onde Deus entra com Seu poder e Se revela como Tudo a criatura se torna nada. E onde a criatura se torna nada diante de Deus não pode existir senão humildade no relacionamento com seus semelhantes. A presença de Deus se torna não algo de tempos ou épocas, mas a cobertura sob a qual a alma habita a cada momento, e sua profunda humildade diante de Deus se tona o lugar santo de Sua presença de onde todas as palavras e ações procedem.
         Que Deus possa nos ensinar que nossos pensamentos e sentimentos em relação aos nossos semelhantes são Seu teste de nossa humildade em relação a Ele, e que nossa humildade diante dEle é o único poder capaz de nos levar a sermos sempre humildes diante dos homens. Nossa humildade deve ser a vida de Cristo, o Cordeiro de Deus, em nós.
         Que todos os mestres de santidade, nos púlpitos ou nas cátedras, e todos os que buscam santidade, quer na intimidade do seu quarto, quer nos congressos, estejam advertidos. Não há orgulho tão perigoso, porque tão sutil e insidioso, quanto o orgulho da santidade. Não que alguém de fato diga ou mesmo pense “para trás, pois eu sou mais santo do que você”. Não, isso seria considerado uma aberração. Mas em algum lugar cresce, inconscientemente, um hábito secreto da alma, que se agrada de seus próprios sucessos e não pode deixar de ver o quanto avançou mais do que os outros. Isso pode ser reconhecido nem sempre em alguma afirmação ou elogio pessoal, mas simplesmente na ausência daquela profunda auto- humilhação que é a marca inconfundível de uma alma que contemplou a glória de Deus (Jó 42:5,6; Isaías 6:5). Isso se revela não apenas em palavras e pensamentos, mas num tom, num modo de falar dos outros, nos quais aqueles que têm o dom do discernimento espiritual não podem deixar de reconhecer o poder do ego. Até mesmo o mundo com seus olhos aguçados o percebem e o apontam com prova de que professar uma vida celestial não produz nenhum fruto realmente celestial. Oh, irmãos! Tenhamos cuidado. A menos que tornemos cada avanço que façamos em santidade um aumento na busca de humildade, podemos descobrir que estamos nos deliciando em belos pensamentos e palavras, em atos solenes de consagração e fé, enquanto a única verdadeira marca da presença de Deus, o desaparecimento do ego, está ausente o tempo todo. Vamos correr para Jesus e nos esconder nEle até sermos revestidos por Sua humildade. Essa é unicamente nossa santidade.

         Andrew Murray, “Humility”, capítulo 7, “Humility and Holiness”.
         Traduzido a partir do original em domínio público disponível em www.ccel.org, por Fernando Saboia Vieira.



         

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