terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Texto sobre Solitude - Merton

SOLITUDE
Thomas Merton
         Solitude física, silêncio exterior e verdadeiro recolhimento todos esses são moralmente necessários para qualquer um que queira ter uma vida contemplativa, mas, como tudo o mais na criação, eles não são nada mais do que meios para um fim, e se não entendermos que fim é esse faremos mal-uso dos meios.
         Assim, devemos nos lembrar de que procuramos a solitude para nela crescer em amor a Deus e aos homens. Não vamos ao deserto para escapar das pessoas, mas para aprender como encontrá-las: nós não as deixamos para não ter mais nada a ver com elas, mas para encontrar maneiras de lhes fazer mais bem. Mas esse é sempre um fim secundário. O fim único que inclui todos os outros é o amor de Deus.
         A verdadeira solitude não é algo exterior a você, não é a ausência de barulhos à sua volta: ela é um abismo que se abre no centro da sua alma. E o que criou esse abismo interior foi uma fome que não será jamais saciada por qualquer ser criado.
         O único caminho para encontrar solitude é pela fome e sede e tristeza e pobreza e desejo, o homem que encontrou a solitude é vazio, como se tivesse sido esvaziado pela morte. Ele foi além de todos os horizontes. Não há mais direções em que possa viajar. Esse é um país cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não está em parte alguma. Você não o encontra viajando, mas permanecendo quieto.
         No entanto, é nessa solidão que as atividades mais profundas começam. É aqui que se descobre ato sem movimento, trabalho que é profundo repouso, visão na obscuridade, e, superando todo desejo, um preenchimento cujos limites se estendem ao infinito.
         Thomas Merton, “Seeds of Contemplation”, cap. 6.

Tradução de Fernando Saboia Vieira

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