Irmãos queridos,
Um novo mundo surgiu nas últimas décadas. Posso não gostar de tudo o que ele traz, mas não tenho como impedi-lo de existir. Ele acontece agora, está presente e é inevitável. Escolher não participar dele passa a ter um custo muito elevado. Para os nossos filhos e netos ele é natural, é o mundo que já encontraram quando nasceram.
Assim, penso, nós, mais velhos, temos que fazer um esforço para escapar da tentação maniqueísta de classificar todas as inovações que nos assustam como “más”, em comparação com as práticas do passado, que eram “boas”, e refletirmos sobre esse novo estágio civilizatório, se queremos que nossa mensagem e mesmo nossa vida tenham algum significado, relevância ou impacto para esta geração e para aquela que já surge em seu meio.
Esse novo mundo é global, midiático, tecnológico, rápido, intenso, plural e massificado. Isola, desencaixa as pessoas e, ao mesmo tempo, as aproxima, lhes propõe uma diversidade de possibilidades. Distâncias são relativizadas pelos meios tecnológicos de comunicação e de transmissão de informações. Assim, conceitos de identificação, pertencimento e participação devem ser necessariamente revistos.
Um aspecto sobre o qual é fundamental refletir nessa nova ordem é com relação aos efeitos que tudo isso tem nos relacionamento. As novas tecnologias de comunicação, as mídias eletrônicas, sítios de relacionamento, comunidades virtuais, a troca intensa e rápida de informações pessoais, qual o impacto de tudo isso nos relacionamentos? Facilitam? Dificultam? Tornam-nos mais ou menos pessoais? Continuam as relações humanas sendo essencialmente as mesmas, ou estão se modificando na modernidade? Em que medida a mídia configura os relacionamentos? Relacionamentos midiáticos podem ser tão autênticos quanto os presenciais?
Relacionamentos sempre foram mediados por tecnologia e por convenções sociais – linguagem, costumes, espaços de convivência etc. No que as novas tecnologias diferem das tradicionais? Qual o papel das convenções sociais nesse contexto? Como isso interfere nos relacionamentos?
O que torna um relacionamento autêntico, pessoal, significativo, íntimo, produtivo, edificante? O quanto o fator presença é decisivo para isso? Pode uma amizade, por exemplo, ser desenvolvida à distância?
Quais os efeitos da intensidade e velocidade das comunicações modernas? E dos limites e características impostos pela mídia usada? Por exemplo, o empobrecimento da linguagem em favor de outros símbolos, o uso intenso de imagens, a conversa coletiva, as postagens públicas, as comunidades virtuais.
Como lidar com a grande quantidade de informações expostas? Como interpretá-las? Até que ponto são personagens e até que ponto são autores? O que uns revelam sobre os outros?
Seriam os grupos, comunidades, tribos etc do mundo virtual uma maneira de recompor a fragmentação e o desencaixe da vida pós-moderna? Ou, ao contrário, aprofundam esses fenômenos ao criar um espaço alternativo dissociado da "realidade"?
Afinal, as pessoas buscam identidade, pertencimento, prazer e significado, mas vivem em meios sociais desestruturados, massificados, impessoais. A não identificação com o próximo, ou a rejeição dessa identificação, faz com que se busque isso com o "distante", com quem, no entanto, se tem mais contato do que com o "próximo", embora um contato mediado pelas novas tecnologias. Quais as caraterísticas de relacionamentos formados assim? Cumprem os propósitos almejados?
É possível usar a mídia positivamente, em prol do reino, para desenvolver relacionamentos edificantes, para proclamação do evangelho? Que cuidados são necessários? Que vantagens há? Que limitações?
Trago muito mais perguntas do que afirmações com o propósito mesmo de despertar a reflexão. Talvez haja outros que, como eu, estavam com certa indisposição maniqueísta em relação a esse tema, como a outros colocados na pauta pela modernidade. Mas temos que discernir os novos tempos e encontrar maneiras de cumprirmos nossa missão até o Dia do Senhor.
Que a graça de Jesus seja com todos.
Fernando Sabóia Vieira
Brasília, 2011, AD.
Dizem por aí que o difícil é fazer a pergunta
ResponderExcluircerta. Assim o conhecimento é construído. Neste artigo, foram muitas, as perguntas, e todas, sem exceção, o que é pouco comum, provocadoras e instigantes. Cumpriram seu papel. E, "para não dizer que não falei das flores", reafirmo minha crença de que interferimos, sim, nesta conjunção de fatores ambientais que nos cercam e que, dialeticamente, fazemos parte. É como diria o poeta sobre a precisão de estar atento e forte, sem tempo pra temer a morte. Um abraço fraterno.
Tinha pensado sobre o assunto, mas ainda não estava suficientemente provocado a compartilhar. Obrigado pelas eficientes provocações.
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