terça-feira, 30 de novembro de 2010

QUAL SUA PRIORIDADE PARA 2011?

Qual é nosso primeiro dever como discípulos de Jesus? Qual obrigação, acima de todas, deve ocupar nosso tempo, inteligência e esforço? Quando organizamos nossas agendas e priorizamos projetos e tarefas, o que deve vir antes de tudo o mais?
Temos que agradecer aos adversários de Jesus por algumas de suas perguntas provocativas e maliciosas, pois deram ao Mestre a oportunidade de respostas maravilhosas e eternas.
Numa ocasião, trouxeram a Ele uma questão que era intensamente debatida entre fariseus e intérpretes da lei: qual, dentre as centenas de mandamentos a serem cumpridos, era o maior?
A resposta de Jesus não foi “fazer” qualquer coisa, mas “amar” a Deus e ao próximo, antes de qualquer coisa. Ora, todo judeu sabia Deuteronômio 6:4-9 de “cor e salteado”. Mesmo assim, foram surpreendidos pelas palavras do Senhor, pois, havia muito tempo, vinham substituindo o coração da lei por regras e preceitos.
Nós, cristãos modernos, herdamos uma consistente cultura bíblica que nos faria dar a essa pergunta a resposta “correta”, indicada por Jesus. No entanto, se a tivéssemos que responder não com palavras, mas com a vida, talvez nossa surpresa fosse ainda maior do que a dos contemporâneos do Senhor: a despeito de sabermos qual é o maior mandamento, raramente esse saber se reflete em nossas prioridades e em nossa agenda. Estamos quase sempre muito focados no “fazer” muitas e importantes coisas, envolvidos em projetos e realizações, mesmo para Deus.
Assim nós, em nossa modernidade, tecnológicos, empreendedores, práticos, treinados em estratégias e na busca de resultados, podemos, muito bem, cair na antiga falácia de enchermos a vida com o “fazer coisas”, mesmo excelentes e em prol do Reino de Deus, e nos esquecermos de que o “amar” deve vir antes do “fazer’.
Talvez alguns, treinados no pensamento teológico, resolvam esse dilema em trinta segundo e com meio versículo, argumentando que “fazer” é “amar”, que “fazer” a vontade de Deus é “amar” a Deus.
Certamente. “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama...” Mas, mesmo assim, não podemos inverter ou modificar a ordem de prioridade estabelecida por Jesus: primeiro e maior é “amar”!
Sem “amar”, “fazer” não tem qualquer sentido ou valor ou substância. Isso nos diz, com todas as palavras, Paulo em sua Carta aos Coríntios. O amor não é apenas a motivação correta para o “fazer”, mas é sua própria essência: quando não amamos, não podemos “fazer” nada no Reino de Deus, o nosso “fazer” permanecerá no domínio terreno, humano, secular, sem qualquer influência ou repercussão na dimensão espiritual.
Além disso, se “amar” implica “fazer”, “fazer” não implica “amar”, ou seja, pode-se muito bem fazer coisas “excelentes” sem amar. Também o “fazer” jamais poderá exaurir tudo o que está contido em “amar”, porque amar nos leva ao eterno, ao espiritual, aos infinitos de Deus.
Amar será sempre muito mais do que “fazer”. Envolve todo nosso ser, nossa fidelidade, nosso destino, nossa razão para viver cada dia.
É o amor que define quem você é: “o homem é aquilo que ele ama: se amamos o mundo, somos mundo; se amamos a Deus, somos divinos” (Sto. Agostinho).
Se há quem diga que, biologicamente, você é “o que você come”, espiritualmente pode-se afirmar que você é “o que você ama”. Deus é, Ele mesmo, o único alimento capaz de satisfazer a alma, e o único modo de tê-lO é amando-O.
Assim que amar a Deus é o primeiro dever e a necessidade mais elementar de toda pessoa, o que, no entanto, não pode ser alcançado se Ele mesmo não se revelar e não nos amar primeiro.
E Ele o fez.
Creio que o grande desafio para a igreja nesta nossa geração, tão próxima da descrição de Paulo sobre os homens dos últimos dias - amantes de si mesmos, dos prazeres, do dinheiro, sem afeição natural, inimigos de Deus, que busca o sucesso material e a felicidade individual acima de tudo - é formar uma comunidade de homens e mulheres que amem ao Senhor acima de todas as coisas, e que vivam de acordo com esse amor.
Agora, se Jesus poderia esperar alguma adesão ao considerar o amor a Deus o maior dos mandamentos, certamente não esperaria o mesmo com relação ao fato de considerar o amor ao próximo como “semelhante” ao amor a Deus e torná-los, juntos, o fundamento e o princípio estruturante da lei, dos profetas e do Reino.
Mas não há amor a Deus sem amor aos homens, nos quais Ele imprimiu Sua imagem; e não pode haver amor aos homens sem amor a Deus, fonte de todo amor. Quem rejeita os homens, rejeita com eles o Seu Criador; quem rejeita Deus rejeita, necessariamente, Suas criaturas. Um e outro caminho conduzem, seguramente, ao inferno.
Antes, pois, de fazermos qualquer coisa pelos homens ou de lhes apresentar qualquer mensagem, é imprescindível que aprendamos a amá-los como o Senhor os ama e a nos darmos a eles como o Senhor se deu por nós e por eles também.

A descoberta desse amor misericordioso e altruísta é a revelação suprema de Deus, o princípio e o fim de todas as coisas, a razão por que fomos criados e existimos, o motivo do envio do Filho, a essência do Seu esvaziamento, serviço e morte na cruz. É o centro da vida da igreja, da família de Deus. Tudo o mais, a liturgia, o ensino, os relacionamentos devem ter nesse amor sua origem, sua substância, seu propósito e seu alvo.
Quando ouvimos ou lemos antigas histórias sobre os homens e mulheres que se retiraram para lugares desertos, lá pelo século III, fugindo da perversão das cidades decadentes e de uma religião vazia, opressiva e hipócrita, em busca de uma santidade e comunhão com Deus que satisfizesse a fome e a sede da alma, logo apontamos os desacertos de tal atitude.
Que Jesus não nos quis tirar do mundo, que temos que ser sal e luz, que não é o ascetismo que conduz à salvação... Essas críticas, certamente procedentes, levam, no entanto, mais em conta as distorções posteriores do movimento monástico do que o espírito desse primeiros retirados.
Deixando as questões teológicas de lado, o que é, talvez, difícil para nós cristãos modernos, urbanos e habituados aos confortos da nossa reluzente civilização entendermos é o grau de radicalidade da renúncia ao mundo desses homens e mulheres, que abandonaram, muitos deles, bens, prestígio, prazeres, carreiras e famílias, embriagados por um amor ao Senhor que superava qualquer razão, medo, dor ou alegria.
Corremos o risco de fazer a eles a mesma crítica que foi feita àquela mulher que “desperdiçou” um perfume precioso aos pés de Jesus. Sinceramente, a mim me constrange o exemplo desses irmãos e irmãs do passado, quando me vejo com tantas dificuldades para renunciar a algumas horas de conforto, a algo dos recursos a mim confiados pelo Senhor, a espaços na minha vida e no meu coração para acolher aos aflitos, para servir aos homens.
Irmãos queridos, amar ao Senhor acima de todas as coisas, de todo coração, alma, razão, entendimento, força, vontade, sentimento, disposição: eis nosso primeiro dever, nossa prioridade número um, o projeto no qual concentrar o melhor de nós mesmos e de nossos recursos. Amar ao próximo com a si mesmo é a expressão concreta e necessária do nosso amor a Deus, sua encarnação.

Qual sua prioridade para 2011?

Que o amor de Deus, nosso Pai, a consolação do Espírito Santo e a Graça de Jesus sejam com todos.

Fernando Sabóia, bsb, nov/dez 2010, AD.





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