terça-feira, 30 de novembro de 2010

QUAL SUA PRIORIDADE PARA 2011?

Qual é nosso primeiro dever como discípulos de Jesus? Qual obrigação, acima de todas, deve ocupar nosso tempo, inteligência e esforço? Quando organizamos nossas agendas e priorizamos projetos e tarefas, o que deve vir antes de tudo o mais?
Temos que agradecer aos adversários de Jesus por algumas de suas perguntas provocativas e maliciosas, pois deram ao Mestre a oportunidade de respostas maravilhosas e eternas.
Numa ocasião, trouxeram a Ele uma questão que era intensamente debatida entre fariseus e intérpretes da lei: qual, dentre as centenas de mandamentos a serem cumpridos, era o maior?
A resposta de Jesus não foi “fazer” qualquer coisa, mas “amar” a Deus e ao próximo, antes de qualquer coisa. Ora, todo judeu sabia Deuteronômio 6:4-9 de “cor e salteado”. Mesmo assim, foram surpreendidos pelas palavras do Senhor, pois, havia muito tempo, vinham substituindo o coração da lei por regras e preceitos.
Nós, cristãos modernos, herdamos uma consistente cultura bíblica que nos faria dar a essa pergunta a resposta “correta”, indicada por Jesus. No entanto, se a tivéssemos que responder não com palavras, mas com a vida, talvez nossa surpresa fosse ainda maior do que a dos contemporâneos do Senhor: a despeito de sabermos qual é o maior mandamento, raramente esse saber se reflete em nossas prioridades e em nossa agenda. Estamos quase sempre muito focados no “fazer” muitas e importantes coisas, envolvidos em projetos e realizações, mesmo para Deus.
Assim nós, em nossa modernidade, tecnológicos, empreendedores, práticos, treinados em estratégias e na busca de resultados, podemos, muito bem, cair na antiga falácia de enchermos a vida com o “fazer coisas”, mesmo excelentes e em prol do Reino de Deus, e nos esquecermos de que o “amar” deve vir antes do “fazer’.
Talvez alguns, treinados no pensamento teológico, resolvam esse dilema em trinta segundo e com meio versículo, argumentando que “fazer” é “amar”, que “fazer” a vontade de Deus é “amar” a Deus.
Certamente. “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama...” Mas, mesmo assim, não podemos inverter ou modificar a ordem de prioridade estabelecida por Jesus: primeiro e maior é “amar”!
Sem “amar”, “fazer” não tem qualquer sentido ou valor ou substância. Isso nos diz, com todas as palavras, Paulo em sua Carta aos Coríntios. O amor não é apenas a motivação correta para o “fazer”, mas é sua própria essência: quando não amamos, não podemos “fazer” nada no Reino de Deus, o nosso “fazer” permanecerá no domínio terreno, humano, secular, sem qualquer influência ou repercussão na dimensão espiritual.
Além disso, se “amar” implica “fazer”, “fazer” não implica “amar”, ou seja, pode-se muito bem fazer coisas “excelentes” sem amar. Também o “fazer” jamais poderá exaurir tudo o que está contido em “amar”, porque amar nos leva ao eterno, ao espiritual, aos infinitos de Deus.
Amar será sempre muito mais do que “fazer”. Envolve todo nosso ser, nossa fidelidade, nosso destino, nossa razão para viver cada dia.
É o amor que define quem você é: “o homem é aquilo que ele ama: se amamos o mundo, somos mundo; se amamos a Deus, somos divinos” (Sto. Agostinho).
Se há quem diga que, biologicamente, você é “o que você come”, espiritualmente pode-se afirmar que você é “o que você ama”. Deus é, Ele mesmo, o único alimento capaz de satisfazer a alma, e o único modo de tê-lO é amando-O.
Assim que amar a Deus é o primeiro dever e a necessidade mais elementar de toda pessoa, o que, no entanto, não pode ser alcançado se Ele mesmo não se revelar e não nos amar primeiro.
E Ele o fez.
Creio que o grande desafio para a igreja nesta nossa geração, tão próxima da descrição de Paulo sobre os homens dos últimos dias - amantes de si mesmos, dos prazeres, do dinheiro, sem afeição natural, inimigos de Deus, que busca o sucesso material e a felicidade individual acima de tudo - é formar uma comunidade de homens e mulheres que amem ao Senhor acima de todas as coisas, e que vivam de acordo com esse amor.
Agora, se Jesus poderia esperar alguma adesão ao considerar o amor a Deus o maior dos mandamentos, certamente não esperaria o mesmo com relação ao fato de considerar o amor ao próximo como “semelhante” ao amor a Deus e torná-los, juntos, o fundamento e o princípio estruturante da lei, dos profetas e do Reino.
Mas não há amor a Deus sem amor aos homens, nos quais Ele imprimiu Sua imagem; e não pode haver amor aos homens sem amor a Deus, fonte de todo amor. Quem rejeita os homens, rejeita com eles o Seu Criador; quem rejeita Deus rejeita, necessariamente, Suas criaturas. Um e outro caminho conduzem, seguramente, ao inferno.
Antes, pois, de fazermos qualquer coisa pelos homens ou de lhes apresentar qualquer mensagem, é imprescindível que aprendamos a amá-los como o Senhor os ama e a nos darmos a eles como o Senhor se deu por nós e por eles também.

A descoberta desse amor misericordioso e altruísta é a revelação suprema de Deus, o princípio e o fim de todas as coisas, a razão por que fomos criados e existimos, o motivo do envio do Filho, a essência do Seu esvaziamento, serviço e morte na cruz. É o centro da vida da igreja, da família de Deus. Tudo o mais, a liturgia, o ensino, os relacionamentos devem ter nesse amor sua origem, sua substância, seu propósito e seu alvo.
Quando ouvimos ou lemos antigas histórias sobre os homens e mulheres que se retiraram para lugares desertos, lá pelo século III, fugindo da perversão das cidades decadentes e de uma religião vazia, opressiva e hipócrita, em busca de uma santidade e comunhão com Deus que satisfizesse a fome e a sede da alma, logo apontamos os desacertos de tal atitude.
Que Jesus não nos quis tirar do mundo, que temos que ser sal e luz, que não é o ascetismo que conduz à salvação... Essas críticas, certamente procedentes, levam, no entanto, mais em conta as distorções posteriores do movimento monástico do que o espírito desse primeiros retirados.
Deixando as questões teológicas de lado, o que é, talvez, difícil para nós cristãos modernos, urbanos e habituados aos confortos da nossa reluzente civilização entendermos é o grau de radicalidade da renúncia ao mundo desses homens e mulheres, que abandonaram, muitos deles, bens, prestígio, prazeres, carreiras e famílias, embriagados por um amor ao Senhor que superava qualquer razão, medo, dor ou alegria.
Corremos o risco de fazer a eles a mesma crítica que foi feita àquela mulher que “desperdiçou” um perfume precioso aos pés de Jesus. Sinceramente, a mim me constrange o exemplo desses irmãos e irmãs do passado, quando me vejo com tantas dificuldades para renunciar a algumas horas de conforto, a algo dos recursos a mim confiados pelo Senhor, a espaços na minha vida e no meu coração para acolher aos aflitos, para servir aos homens.
Irmãos queridos, amar ao Senhor acima de todas as coisas, de todo coração, alma, razão, entendimento, força, vontade, sentimento, disposição: eis nosso primeiro dever, nossa prioridade número um, o projeto no qual concentrar o melhor de nós mesmos e de nossos recursos. Amar ao próximo com a si mesmo é a expressão concreta e necessária do nosso amor a Deus, sua encarnação.

Qual sua prioridade para 2011?

Que o amor de Deus, nosso Pai, a consolação do Espírito Santo e a Graça de Jesus sejam com todos.

Fernando Sabóia, bsb, nov/dez 2010, AD.





sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Graça de Deus

"Frequentemente duvido de minha consciência. Mas estou sempre certo da misericórdia de Deus." Sto Agostinho

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O VALOR DAS ADVERSIDADES

É bom para nós passarmos, algumas vezes, por testes e problemas, pois eles sempre nos lembram que estamos em provação e que não devemos colocar nossa esperança em coisas terrenas. É bom para nós, algumas vezes, sofrermos contradições, sermos julgados mal pelos homens, mesmo agindo corretamente e com boa intenção. Essas coisas nos ajudam a nos humilharmos e a nos protegermos da vanglória. Quando os homens não nos dão nenhum crédito por nossa aparência externa, quando eles não pensam bem de nós, então somos mais compelidos a procurar Deus, que vê nossos corações. Assim, um homem deve se apegar tão firmemente a Deus a ponto de não necessitar das consolações das pessoas.
Quando um homem de boa vontade é afligido, tentado e atormentado por maus pensamentos, ele se dá perfeita conta de que sua maior necessidade é Deus, sem o qual nada de bom pode ser feito. Entristecido por suas misérias e sofrimentos, ele lamenta e ora. Ele se enfada de continuar vivendo e deseja a morte que pode libertá-lo e uni-lo a Cristo. Então, ele entende que a perfeita segurança e a completa paz não podem ser encontradas na terra.

Thomas à Kempis (1380 - 1471)
A Imitação de Cristo", Livro I, Capítulo XII
traduzido de http://www.ccel.org/ccel/kempis/imitation.html por Fernando Sabóia.

Cansaço - Fernando Pessoa

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque ouço, vejo.
Confesso: é cansaço!...


"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei..."

sábado, 20 de novembro de 2010

Temor de Deus

"A palavra de Deus nos ensina a não temer, mesmo que tenhamos medo, e a temer mesmo quando não temos medo. Temamos, pois, para não temer." Sto Agostinho

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Uma Palavra para os Pais

Diante dos extensos manuais modernos sobre como fazer as coisas, o Novo Testamento tem relativamente poucas instruções específicas para os pais sobre a educação e formação dos filhos.
Temos, basicamente, os textos de Efésios 6:4, Colossenses 3:21; 1a a Timóteo 3:4-5 e Tito 1:6.
Por outro lado, nós, pais modernos, temos que enfrentar os amplos desafios envolvidos na criação de filhos em nossa complicada e pervertida geração.
Creio que esse propósito está razoavelmente bem delineado para nós, e poderia, talvez, ser resumido nas seguintes frases:

- formar os filhos para o Reino de Deus;
- transmitir a imagem de Deus para eles na versão masculina, tanto para os filhos quanto para as filhas;
- transmitir e ensinar a eles as verdades absolutas de Deus;
- exercer sobre eles a autoridade de pais, trazendo o governo de Deus sobre suas vidas;
- transmitir e ensinar a eles o amor de Deus;
- tudo isso sem irritá-los nem desanimá-los, isto é, sem produzir rebeldia nem apatia;
- apontar para eles caminhos na vida e encaminhá-los nas decisões que devem tomar
- levá-los à maturidade como pessoas e como cooperadores no propósito de Deus.

Tarefa essa não pequena, especialmente se consideramos que vivemos numa sociedade avessa a autoridade, avessa à verdade, violenta, competitiva, egoísta, hedonista, materialista.
Uma sociedade que desafia abertamente o Cristianismo, seus fundamentos e valores, que interfere cada vez mais nas famílias e na formação das pessoas, inclusive por meio da autoridade legal do Estado, que desafia a identidade masculina e seu papel na família e nas relações sociais.
Uma sociedade que impõe uma pauta de questões a serem tratadas pelos pais com seus filhos, muitas vezes introduzindo precocemente temas e incutindo valores e comportamentos hostis ao Reino de Deus.

Uma sociedade dominada pela mídia e pela tecnologia, que torna as pessoas solitárias e individualistas, apesar da ilusão de relacionamento criada pelas chamadas redes sociais, e prisioneiras do entretenimento, da sensualidade e das informações selecionadas para elas.

Penso que também temos tido excelente revelação e ensino acerca dos princípios e estratégias que devemos adotar para cumprir nossa tarefa como pais, tais como:

- ser exemplos em tudo, para que nossos filhos nos imitem;
- ser muito firmes no ensino, na admoestação e na disciplina, para que sejam bem formados;
- exercer com determinação e graça nossa autoridade, para que se submetam a nós e a Deus;
- orar constantemente por eles, para que sejam transformados e ganhem entendimento das coisas espirituais;
- mantê-los o mais possível longe do mundo, para que se convertam ao Reino e sejam santos.

Essas direções não devem ser jamais abandonadas ou enfraquecidas, se queremos atingir o propósito de Deus em nossas casas.

No entanto, penso que algumas dificuldades podem surgir na prática, na dinâmica e na diversidade das experiências de vida.

Primeiro, não conseguiremos ser perfeitos no exemplo, no ensino e na formação dos nossos filhos. Se nossos filhos dependessem disso para serem santos e viverem a plenitude de Deus não haveria esperança para eles (pelo menos não para os meus!). Colocar todo o peso dos “fracassos” em sua formação sobre os pais não me parece uma avaliação justa e corajosa do que tem ocorrido, por vezes, com os jovens filhos de discípulos.
Há pais que se esforçaram e se esforçam para viver uma vida cristã autêntica e criar seus filhos na disciplina e admoestação do Senhor e que, a despeito disso, enfrentam dificuldades com eles e os vêem tropeçarem. Esses, como penso, não precisam de um peso extra de culpa, para além do que já lutam e sofrem.
Certamente todos nós, e eu em primeiro lugar, honestamente, precisamos melhorar em muito quanto a esses aspectos. Sem dúvida que muitos jovens não têm tido correto exemplo e ensino de seus pais cristãos e esses são responsáveis diante de Deus por isso. Mas a Bíblia diz que os filhos não herdam a justiça e nem a iniquidade dos pais. Cada um responde diante do Senhor por si mesmo (Equeziel 18).
Isso não diminui a responsabilidade dos pais, mas significa que não podemos estabelecer uma relação direta e unívoca entre santidade e acertos dos pais e santidade dos filhos, nem entre erros dos pais e fracassos dos filhos.
Há pais abomináveis que têm filhos santos, e pais santos cujos filhos rejeitam a fé e se tornam réprobos.
Também não podemos encarar o ensino que temos recebido e aplicado como perfeito, completo e garantidor de resultados. Imperfeitamente conhecemos e imperfeitamente profetizamos. É o Espírito quem traz, dia após dia, entendimento e revelação sobre a vontade do Senhor. É preciso depender dEle sempre e não nos confiarmos em métodos ou formulações didáticas.
Cremos que a Bíblia, e só ela, contém o suficiente e necessário para uma vida piedosa, na forma como foi escrita, inspirada e vivificada pelo Espírito Santo. Nosso ensino e doutrina acerca das verdades bíblicas deve ser constantemente revisto e reavaliado, sob pena de o alçarmos ao patamar da revelação escrita e deixarmos de atender ao Senhor.
Talvez a idéia de que tivéssemos encontrado um ensino acabado e perfeito e orientações claras e suficientes sobre a criação de filhos, como se fossem um manual de regras e instruções para fazer tudo dar certo, seja uma das explicações para nossas perplexidades presentes. Talvez tenhamos respondido com regras e fórmulas prontas a situações para as quais deveríamos ter buscado, em oração e quebrantamento, discernimento e orientação divina.

Penso também que não se pode criar seres humanos em cativeiro, nem mesmo numa dourada gaiola espiritual, pois foram dotados pelo Criador de livre arbítrio. Foram feitos para amar, e amar é escolher. Se não tiverem a possibilidade de errar, jamais poderão ser verdadeiramente santos nem amar ao Senhor.
Jesus não retirou Sua igreja do mundo, mas está ao lado dela para que nele cumpra o propósito de Deus. Nossa missão não é nos protegermos das más influências do presente século, mas levar aos homens da nossa geração a mensagem poderosa e transformadora do Reino.

Um outro aspecto que merece, a meu ver, reflexão, é que não podemos ter uma expectativa exagerada sobre nossos filhos. Eles não serão perfeitos, mas lutarão contra o pecado dada dia, como todos nós, ainda que tenham sido ensinados desde cedo no caminho do Senhor.
Acho que a expectativa dos pais, tornada, não raro, exigência, de que seus filhos sejam perfeitos torna-se, para muitos filhos de cristãos, um fardo pesado e verdadeiro tropeço para suas vidas espirituais. Muitos acabam desenvolvendo uma espiritualidade rasa, de fachada, para agradaram seus pais e não comprometerem o testemunho e o ministério deles, sem espaço para exporem suas lutas, dificuldades e defeitos.
É nesse sentido também que, penso, devemos entender a exortação para não desanimar os filhos. A palavra nesse texto é apatia, e significa a ausência de vontade, de impulso de vida. Vemos, por vezes, filhos quietos, obedientes, dóceis... mas absolutamente apáticos, sem brilho, sem vigor, sem determinação sem sonhos.
Por outro lado, expectativas e exigências exageradas provocam irritação e rebeldia, especialmente quando falta a liberdade necessária para expor as dificuldades e debilidades.

Diante disso, quero propor uma outra leitura da nossa tarefa de pais, que não exclui, de modo algum, a anterior, antes a afirma.

Quero sugerir que atentemos para os seguintes alvos e princípios:

- que nossa primeira preocupação seja levar nossos filhos a conhecerem e amarem profundamente ao Senhor, e não a reproduzirem um determinado comportamento e a repetirem maquinalmente uma dogmática;
- que eles sejam desafiados a que experimentem Deus por si mesmos, e não estimulados a se conformarem com as experiências de seus pais e líderes;
- que busquemos dar a eles condições e espaços para fazerem suas escolhas livres do jugo do mundo e não lhes impondo outro nosso;
- não decidir por eles o que lhes couber decidir, ainda que com o risco de que eventualmente cometam erros;
- levá-los a que vivam uma fé humana, encarnada, e não uma espiritualidade irreal, mística, religiosa a nosso modo;
- que vivam uma fé contemporânea, não anacrônica, vivendo e proclamando o Reino no século XXI;
- é fundamental permitir que expressem seus conflitos e dúvidas;
- que sejam incentivados a desenvolver suas potencialidades como seres humanos e a com elas honrarem ao Senhor que os criou;
- aceitar que eles sejam quem são, não criar expectativas exageradas e nem condicionar nosso amor e aceitação a qualquer realização ou desempenho deles.

Como fazer isso? Também não creio que aqui haja uma resposta pronta ou um manual de tarefas capaz de dar conta de tudo.
Penso, no entanto, que nosso caminho como pais terá que passar ao menos pelos seguintes pontos:

- teremos que amar profundamente o Senhor e deixar que esse amor marque nossa vida de modo evidente e claro, nos bons e maus momentos;
- é essencial mostrar autenticamente quem somos para que nossa vida represente algo que pode genuinamente ser imitado;
- ter pelos nossos filhos a mesma graça e compaixão que muitas vezes expressamos em relação aos filhos das outras pessoas e aos pecadores em geral;
- temos que nos lembrar constantemente de que filhos de cristãos não são “mini santos” nem “anjos”, mas descendentes de Adão e Eva, sujeitos às mesmas fraquezas e pecados que os demais;
- também não se deve fazer das crianças “mini adultos”, fazendo-os repetir palavras que não entendem e gestos que eles apenas imitam dos mais velhos;
- muitos pais se enganam vendo os filhos citarem versículos, orarem e pregarem como adultos e não percebem que eles estão apenas imitando os mais velhos para agradar aos pais, e não expressando uma maturidade que ainda não podem ter pela tenra idade;
- que nossos filhos amem o Senhor como crianças, se são ainda crianças, como adolescentes, se são adolescentes, como jovens, se são jovens;
- acho fundamental que as crianças tenham espaço para brincar e sonhar, que os jovens possam expressar sua vitalidade e criatividade, não sendo reprimidos por um mundo já pronto, pré-fabricado para eles, onde se espera que eles apenas se “encaixem”;
- temos que ter cuidado para não colocar pesos excessivos sobre eles, sobrecarregando-os com regras, julgamentos e culpas e levando-os à irritação e ao desânimo;
- é preciso respeitar a humanidade dos filhos, suas idades e limitações, seus conflitos e crises, mesmo com o Reino e com a fé, para que, de fato, se convertam;
- vamos sempre nos lembrar que os pais não substituem o Espírito Santo;
- jamais nos esquecermos de orar e de proclamar o Reino para eles;
- buscar expressar a paternidade de Deus, repleta de graça e misericórdia, sem o que não se pode chegar à santidade.

Só conheço duas sínteses que dão conta dos muitos paradoxos envolvidos na vida com Deus: a profecia e a poesia.
Assim, como profecia, proponho a leitura e meditação de Isaías 54.
Como poesia, ouso compartilhar uma de minha autoria.

Graça seja com todos

Fernando Sabóia Vieira
Brasília, em agosto de 2010, aD.


Poema para o Pai e para os pais

“Certo homem tinha dois filhos...o filho mais novo...partiu para uma terra longínqua...” Lucas 15:11-13

O filho partiu
e o Pai permaneceu lá.
Moído de compaixão e de saudades,
Ele estava lá.

Todos os dias,
os olhos envelhecendo
na curva do Caminho,
Ele estava lá.

Não podia ir buscá-lo,
pois a distância não era
a dos passos,
senão a do coração.

Mas Ele estava lá.

Um dia, talvez, por vergonha,
medo ou necessidade,
por tristeza ou saudade,
ele havia de se lembrar
de que o Pai estava lá,
e acharia o Caminho
de volta.

E Ele estaria lá.

Os pais não precisam ser
homens excepcionais.
Apenas precisam aprender,
com o Pai,
a estarem lá,
sem distâncias no coração,
com a esperança renovada
na persistência do amor.

O lar não é um lugar.
O lar é um abraço.

Brasília, em 13 de agosto de 2000, AD, dia dos pais.
Fernando Sabóia

Esperança

"Não há motivo para tristeza duradoura onde há certeza de felicidade eterna." Sto Agostinho

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Onde Orar

"Precisas de um templo para orar? Ora em ti mesmo. Sê um templo de Deus e Ele ouvirá tuas orações." Sto Agostinho

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sejam Servos Uns dos Outros

Caros,

Temos meditado nesses últimos dias sobre servir. Compartilho um texto que escrevi há algum tempo sobre o tema. Está incompleto, mas pode servir como um início de reflexão.

SEJAM SERVOS UNS DOS OUTROS

João 13:1-17 - Jesus lava os pés de seus discípulos

I – Prelúdio

O momento era dramático. O cenário e os humores bem refletiam isso. Noite da última ceia, na sala emprestada, que ficaria conhecida como Cenáculo, o traidor à espreita, véspera da paixão e morte de Jesus.
O Senhor podia antever a crise por que passariam os discípulos logo em seguida: tentação, medo, perseguição, dúvida, angústia, frustração.
Mas Jesus podia ver além. Ele sabia que a Igreja, a família de Deus, o povo escolhido para habitar a nova Jerusalém, estava sendo gerada naqueles homens. Era crucial prepará-los para o que viria, adverti-los sobre as várias tentações e ataques que seriam desferidos contra a Igreja.
Havia, naquele momento, uma preocupação no coração de Jesus: o ataque mais insidioso e letal contra a Igreja seria sempre aquele desferido a partir de dentro, inserido nos espíritos de seus líderes.
Hoje, estavam ali diante dEle, homens humildes, inseguros, assustados com a dimensão que as coisas estavam tomando. Entretanto, em pouco tempo, Jesus sabia, seriam homens cheios do poder de Deus, que teriam as experiências mais fantásticas da história.
Jesus podia ver neles os que viriam depois deles, e todo o caminho que Sua Igreja haveria de percorrer em sua peregrinação terrena.
Conhecendo a natureza humana, Jesus sabia que a grande tentação da Igreja seria sempre a mesma que levara Lúcifer à rebelião e Adão à desobediência: a soberba.
A Igreja seria perseguida, oprimida, odiada, mas triunfaria, cresceria e adquiriria poder, riquezas, dons espirituais e seculares. Das ruínas de Jerusalém e dos escombros do Império Romano, ela despontaria como vitoriosa contra espíritos e armas, cultos e credos, e, ao longo da história humana, assistiria ao surgimento e queda de tantos outros portentos mundanos.
Como aqueles homens, e seus sucessores, reagiriam à tentação da soberba, inoculada pelo contato com o poder material e espiritual? Continuariam mansos, humildes, tementes, dependentes de Deus e uns dos outros, ou permitiriam que seus corações, em algum momento, fossem contaminados por essa doença degenerativa da natureza humana?
Já havia surgido, mais de uma vez, entre eles, a questão que está sempre presente em qualquer ajuntamento humano: quem é o maior? Quem tem a preeminência? Se Jesus era o Senhor, quais seriam seus ministros e auxiliares privilegiados?
Tal questão, fatalmente, ressurgiria sempre e assaltaria quotidianamente a comunhão dos irmãos e a vida da Igreja.
Ainda mais que poderia ser que, pelo poder e graça que seriam concedidos aos homens, pelos sinais e prodígios que seriam operados, pelas vidas transformadas, a Igreja crescesse e chegasse às cidades importantes, tornando-se rica e abastada.
Talvez Césares, e reis após eles se convertessem, e os cristãos assumissem posições de destaque nos governos, nas universidades, nas ciências, na economia.
Nessa noite de trevas espirituais tal pensamento pareceria delírio aos discípulos, mas bem poderia acontecer que quando Roma caísse, como caem todos os impérios humanos, a Igreja, organizada, rica, cheia de recursos humanos, materiais e espirituais, senhora de espíritos, inteligências e consciências, detentora das chaves dos céus, se tornasse a instituição mais poderosa da terra, dominando sobre reinados, tesouros, terras e armas.
Poderia ser, então, que seus líderes, enlevados pela grandiosidade da obra, assumissem, de algum modo, como seu, o poder, e passassem a usar roupas distintivas dos demais homens, a ostentar títulos repletos de adjetivos, a aceitarem das demais pessoas, honras, destaques, temor, bajulação, até mesmo por suas virtudes.
Quem sabe não teriam a idéia de construírem lugares suntuosos, tão diferentes da pobre sala em que estavam reunidos agora, dedicando-se a solenidades complicadas e cheias de rituais, ao invés do simples compartilhar de uma refeição, de um repartir de pão e vinho?
Talvez até mesmo alguém ousasse dar seu próprio nome a instituições, serviços, ministérios, fazendo seguidores, promovendo sua sabedoria e doutrina, seus livros e projetos, esquecidos de que só há um nome diante do qual os outros devem se curvar.
Quem sabe o mover da história levasse, até mesmo, os cristãos a fundarem nações, e uma dessas se tornasse, a seu tempo, o maior império da história, com poder de, literalmente, destruir o próprio planeta, dominando os recursos naturais, tecnológicos e bélicos?
Poderia ser, então, que líderes cristãos, embalados pelo sucesso de sua pregação, pelo encantamento das multidões, pelo magnetismo dos carismas, pelo fascínio dos milagres, se tornassem estrelas da mídia, comprando jornais, rádios, televisões, escrevendo “best sellers”, anunciando-se em “out doors” pelas cidades.
Poderia mesmo chegar o dia em que se medisse o sucesso de um ministério cristão pelo seu orçamento, pelo número de pessoas envolvidas e prestígio de seus líderes perante os detentores do poder secular, os ricos e famosos do mundo.
Jesus já havia falado com eles muitas vezes sobre a necessidade de serem servos. Havia dito claramente que, no Reino, ao contrário do mundo, maior é o que serve, e não o que é servido. Havia dado exemplos, contado parábolas, mostrado uma vida de serviço.
Sabia, no entanto, Jesus, que as palavras adquirem, ao longo do tempo, sentidos diferentes. Também são interpretáveis ao sabor das inclinações da alma humana ou distorcidas pelos sofismas dos entendidos.
Assim, poderia ser que palavras tão comuns naquele momento para os discípulos, como escravos (servos), despenseiros (mordomos), diáconos (obreiros, ministros, servidores), termos que indicavam, claramente, tarefas simples, posição humilde, submissão, se tornassem títulos e adjetivos incrustados em portas de gabinetes, impressos em cartões de visita e currículos profissionais.
Jesus já havia demonstrado uma vida de servo: ouvia, ensinava, alimentava, curava, orava, dava, acolhia, distribuía, sem descanso, sem medida, sem restrições. Agora, nesse momento crucial, Ele precisava fazer algo que gravasse essa lição profundamente nos espíritos e nos corações daqueles homens e da Igreja.
Eles tinham que entender que a obra a ser continuada dependia, dramaticamente, de que eles assumissem uma postura de servos, permanecessem humildes, dependentes, vasos de barro vazios, canais, instrumentos, ainda que em meio das maiores riquezas e demonstrações de poder.
Cada vez que qualquer deles, ou de seus sucessores, pretendesse ser algo mais, quebraria a comunhão, comprometeria o testemunho, permitiria que o humanismo, a carnalidade, o personalismo, a soberba, enfim, atingisse a Igreja por dentro.
Deus não encontra limites, para cumprir seu propósito, na criação, nos poderes infernais, nas contingências históricas ou na fragilidade humana. No entanto, a obra da Igreja deve repousar sobre homens que tenham corações de servos, mansos e humildes, para que a vida de Jesus se reproduza neles e deles seja multiplicada.
Assim, Jesus, naquela noite, os marcou com algo dramático, chocante, quase escandaloso.
(A CONTINUAR)

Fernando Sabóia Vieira, de “Crônicas do Reino”

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pecado: Caminho para o Nada

"Toda corrupção leva o homem à própria destruição. Pecar é desmoronar o próprio ser e caminhar para o nada." Sto Agostinho

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Busca da Felicidade

"Deus é o bem perfeito, o sumo bem. Não devemos ser lerdos na busca desse bem nem por nosso empenho em conseguir outro maior. O primeiro é perigoso, o segundo inútil.
A busca de Deus é a busca da felicidade. O encontro com Deus é a própria felicidade."

Sto Agostinho