segunda-feira, 5 de julho de 2010

POBRES, IRRELEVANTES E DESNECESSÁRIOS

Uma palavra para novos obreiros e para todos os que desejam servir a Deus


Irmãos queridos,


Ao tempo em que o Senhor levanta vocês como pastores e diáconos em Brasília, sabendo da oportunidade que teria de dirigir-lhes, nesta ocasião, umas breves palavras, como conservo um pouco mais antigo na obra, não pude deixar de pensar, nos dias que antecederam a esta data, na situação em que se encontra boa parte da assim reconhecida igreja cristã de linha evangélica em nosso País, no que tange aos modelos de liderança e aos padrões de sucesso pessoal e ministerial almejados e adotados.
Vejo, com pesar, a igreja iludida com os esquemas e critérios do mundo, com seus símbolos vazios de sucesso, sua busca de riqueza material, de prosperidade, sua crença no progresso do homem, em sua capacidade de realizar e vencer desafios, deslumbrada com as novas bugigangas tecnológicas, tidas como essenciais, com os métodos instantâneos e infalíveis e com os heróis de personalidades marcantes – os “famosos” – que ditam os valores, os costumes, as palavras, as roupas e a moral – ou a falta dela – de nosso tempo.
Ao mesmo tempo, esta é uma geração pervertida, totalmente envolvida com Babilônia, onde o hedonismo, o egoísmo e o materialismo vestem a máscara do humanismo politicamente correto com seu ideal de liberdade sem limites, que só conduz ao desespero de não se ter valores ou verdades que possam dar sentido à existência.
Nesse ambiente, vêem-se muitos líderes cristãos se entregarem à pura imitação de um mundo que se aperfeiçoa, cada dia, nas afrontas a Deus.
Compram espaços nas rádios e televisões, colocam-se a si mesmos em cartazes pelas ruas, disputam, como urubus, pedaços da carcaça podre do poder político e econômico, promovem espetáculos cheios de sons, cores e luzes, os quais produzem diversão e popularidade, mas não edificação, entregam-se a campanhas e projetos capazes de levantar recursos e de realizar façanhas de mobilização e de repercussão social, mas que não cooperam com a santidade da igreja, nem anunciam o Reino.
Travestem-se em animadores de cultos, camelôs da fé, malabaristas da doutrina, forjadores de milagres, empresários do Espírito Santo, vendedores de franquias eclesiásticas, mascates de quinquilharias “santas”, pulando, gritando, usando roupas bizarras, dando cambalhotas, fazendo piruetas, buscando, de todas as formas, um espaço no rentável show business evangélico.
Há, ainda, os novos gurus, profetas de aluguel, mestres da moderna espiritualidade, que tentam impressionar com suas frases complicadas, seus ritos estrambóticos, sua sabedoria obscura, suas prescrições exóticas baseadas em doutrinas personalíssimas curiosamente tão adequadas a seus gostos e propósitos.
A esses todos, o mundo não os odeia ou rejeita, pois os reconhece como seus, a despeito da alegada espiritualidade e do palavreado cristão; ao contrário, o mundo os acolhe como partes da próspera civilização contemporânea.
Diante desse quadro, não posso deixar de, neste momento de celebração da igreja na cidade, trazer-lhes uma palavra de advertência e exortação.
Advirto-os, pois, em nome do Senhor Jesus, que a principal tentação para vocês, caros irmãos, não será a da rejeição e perseguição do mundo. Essa só os tornaria mais santos e determinados na obra. Ao contrário, será a insidiosa tentação de serem por ele aceitos, de terem sucesso segundo seus padrões, de escolherem o caminho largo da promoção pessoal ou institucional.
O Senhor, eventualmente, coloca em nossas mãos recursos materiais e espirituais tremendos para serem usados em sua obra. No entanto, o mesmo nos oferece, por vezes, o tentador, como fez com o Senhor, no deserto. Desse modo, é essencial que os servos de Deus, nesses tempos confusos e iníquos, se saibam, sejam, permaneçam e se esforcem com muita determinação para se saberem, serem e permanecerem pobres, irrelevantes e desnecessários.
Só homens e mulheres com essa convicção, caráter e disposição são úteis para Deus, cooperam com Seu propósito e glorificam somente a Ele.

Pobres. O Senhor nos livre da tentação de nos fazermos provedores da obra, de crermos que Ele dependa dos meios e recursos que tenhamos ou possamos angariar.
Quantos dedicam grande parte do seu tempo e esforço no ministério em busca de recursos materiais e financeiros, recrutando pessoas capazes e especializadas ou à procura de talentos e carismas que atraiam as pessoas e promovam o crescimento da obra.
Deus é o provedor da igreja. A Ele não lhe faltam os meios para edificá-la. Ele não precisa barganhar com quem quer que seja ou bater às portas dos poderosos deste século em busca de recursos para que seu propósito eterno se cumpra.
Quanto a nós, é necessário que tenhamos consciência de que somos e devemos permanecer pobres, sem recursos próprios de nenhum tipo, materiais, humanos ou espirituais, capazes de produzir o que o Senhor deseja, o que possa trazer honra ao Seu Nome.
Manter essa atitude diante dos desafios da vida e do ministério é essencial para não cairmos na tentação da auto-suficiência e virmos a nos considerarmos “ricos e abastados”, quando, de fato, somos “miseráveis, pobres, cegos e nus”.
Só se adquire o reino em pobreza, só podemos ser discípulos renunciando a tudo – nos tornando pobres. Apenas quem é pobre espera totalmente em Deus e depende apenas dEle. O pobre aprende a orar sem cessar. Os pobres se tornam mansos e humildes, são quebrantados e guiáveis.
É necessário que permaneçamos pobres no ministério para que toda a glória pertença somente a Ele.

Irrelevantes. Aqui, a tentação de sermos notáveis, de marcarmos as vidas das pessoas com nossa sabedoria e dons especiais, de impressionarmos com nossas palavras e atitudes, de fazermos uma obra tremenda para Deus ... com nossas impressões digitais e nosso DNA espiritual por toda parte dela.
Imitando os heróis do mundo, e não o pobre rabi de Nazaré, há os que desenvolvem seus ministérios com a marca de suas personalidades fortes, de suas preferências litúrgicas e teológicas, que se aprazem em terem suas frases anotadas e repetidas, preocupados em contabilizarem admiradores e seguidores e ciosos por ocuparem postos nas complicadas hierarquias eclesiásticas que inventam.
Irmãos queridos, as marcas que devem ser produzidas nas vidas das pessoas com quem convivemos e a quem servimos são as marcas de Jesus, não as nossas. Quando passarmos por elas, por suas casas, por seus dramas, por seus relacionamentos e tentações, que elas possam dizer “o Senhor nos visitou”, e sequer percebam quem terá sido o servo que Ele encarregou de levar encarnada Sua Presença, Sua Vida, Sua Palavra. Que essa Presença, Vida e Palavra preencham tudo em todos e também nós nos prostremos surpresos e admirados com o que o Senhor fez.
Não podemos nos iludirmos com a idéia – sedutora – de que será nossa presença, palavra ou dons que farão a diferença naquele encontro, questão ou situação. Nós não somos relevantes. Não importam nossas opiniões ou preferências. Só o Senhor deve se sobressair, só Ele é relevante, só ele deve ser reconhecido, só Suas marcas devem ficar.
Se aquela parte do edifício espiritual foi bem construída, o foi porque a edificaram de acordo com o projeto de Deus, e não por ter sido feita por esta ou outra pessoa.
Para tanto, é necessário que tenhamos “a mesma atitude que houve em Cristo Jesus”, e aprendamos a nos apresentarmos como vasos vazios, como portadores de Palavra, como servos inúteis.
Só dessa maneira não usurparemos a glória que é somente dEle.

Desnecessários. Irmãos, penso aqui na tentação do domínio, do controle, de nos tornarmos senhores da obra, pequenos “deuses” nas vidas das pessoas.
Isso ocorrerá se nos considerarmos, de algum modo, necessários para a edificação da igreja, para a santificação dos irmãos e para a realização do propósito de Deus. É o pensamento soberbo de que as coisas só acontecerão como devem se estiverem sob o nosso comando e direção pessoais.
Quando nos consideramos necessários, assumimos o comando não apenas de nossas vidas mas das vidas dos irmãos e da obra de Deus. Nós não somos necessários. Deus não depende de nós para qualquer coisa.
A igreja de Jesus é edificada por Ele mesmo, a noiva do Cordeiro é santificada e ataviada pelo próprio noivo. Nós somos apenas pobres e irrelevantes cooperadores a quem Deus concedeu a honra de trabalhar em Sua seara e de participar, por Sua Graça, da alegria da colheita.
A atitude imprescindível aqui é a do serviço. Quanto mais crescermos na consciência de nosso papel de servos dos irmãos em nome de Jesus, mais protegidos estaremos da nossa inclinação natural para o controle e para o personalismo, e exerceremos a única forma de autoridade legítima no Reino: a de escravos de Jesus e da igreja.
Só quando sabemos que somos desnecessários é que reconhecemos que toda a glória é do Senhor.

Finalmente, irmãos, sejam homens cheios de esperança num mundo desesperado. Ele é rico, Ele é relevante, Ele é necessário e Ele habita em nós. Sejam pastores apaixonados por Jesus e por Sua Igreja. Lembrem-se de que as pessoas são o mais importante na obra. Elas são o motivo do sacrifício de Jesus, o objeto do amor de Deus, as moradas preferenciais do Espírito Santo.
Somos companheiros e cooperadores. Estamos unidos em Cristo. Caminharemos juntos
A Graça de Jesus seja com vocês.

“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém.!”



Fernando Sabóia

2 comentários:

  1. me confortou o coração ler esse texto. Obrigado Jesus!!!

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  2. Este texto, para mim, foi, simultaneamente, um consolo e uma profunda exortação!

    O Senhor é maravilhoso, e nos chama para a mansidão e humildade permanentes.

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