domingo, 10 de maio de 2020

Sermão do Monte na Pandemia: Os Pobres em Espírito

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“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos que Céus” (Mateus 5:3)

Queridos irmãos e irmãs, companheiros de jornada em busca da vida interior e de travessia desse vale sombrio da pandemia que assola a humanidade nesses dias,


Com essas palavras o Senhor Jesus inicia seu conhecido Sermão do Monte. E elas causam perplexidade até hoje, assim como Suas demais afirmações acerca das condições para se alcançar o Reino dos Céus e a felicidade que só ele pode proporcionar.
Mateus situa essa pregação de Jesus num momento em que Ele já era acompanhado por alguns discípulos - pessoas que haviam ouvido o anúncio do Reino, se arrependido e decidido entregar suas vidas ao governo de Deus - e Seu ministério público começava a atrair multidões.
Assim, podemos entender que o Senhor, nesse momento, se dirigiu, em primeiro plano, aos seus seguidores, que se assentaram ao Seu redor para ouvi-lo, e, perifericamente, à multidão que os acompanhava.
Gostaria de compartilhar uma breve reflexão sobre essa pobreza de espírito, apontada por Jesus como a primeira condição para se obter o Reino dos Céus. 

Enquanto a pobreza material pode advir de muitas diferentes circunstâncias, esse tipo de pobreza a que o Senhor se refere aqui – pobres em espírito - somente pode ser produzido pelo arrependimento e pela renúncia radical dos que se tornam discípulos de Jesus. 
Os que são ou se tornam pobres contra sua vontade não são necessariamente pobres em espírito, já que interiormente podem estar mais apegados à riqueza pelo desejo e cobiça do que aqueles que são materialmente abastados.
Quem pode nos tornar pobres em espírito e, assim, aptos ao Reino é o próprio Jesus, apenas Ele. O Senhor disse a todos os que queriam segui-lo:

“Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9:23), e afirmou “... qualquer um de vocês que não renuncia a tudo o que tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14:33).

Não se pode passar pela porta estreita do discipulado de Jesus levando nada consigo, nem recursos materiais, nem espirituais.
Pobres em espírito são aqueles que renunciaram tudo, até a si mesmo, para serem discípulos de Jesus. Sem esse esvaziamento radical, haverá sempre algo a se colocar entre nós e Ele, alguma “riqueza”, material ou não, possuída ou desejada, a se interpor como barreira e a nos impedir o encontro pleno com Senhor.
Cada bem, afeto, aspecto da vida e do caráter, sonho, relacionamento ou aspiração a que não renunciamos faz com que permaneçamos de algum modo “ricos”, e “ricos” não temos comoreceber o Reino que é prometido com felicidade para os pobres.
Uma grande dificuldade que temos em assumir a pobreza voluntária é nossa soberba e desejo de controlar nossa própria vida, sem dependermos de ninguém. 
Assim, após a renúncia total que nos é requerida como condição de entrada do discipulado de Jesus, é necessário que a cada dia nós sigamos o Seu exemplo e nos humilhemos, nos esvaziemos de nós mesmo e aprendamos a colocar vivencialmente toda a nossa dependência e confiança no Pai.
Essa pobreza total pode ser a situação de máxima ansiedade e desespero, para os que não conhecem ao Senhor e temem as circunstâncias desse mundo caído. 
Ou pode ser a condição de máxima paz e esperança, para os que se tornaram, por esse caminho, filhos do Pai celestial, que sabe das nossas necessidades e as providencia antes mesmo que tenhamos consciência delas e que as apresentemos a Ele como pedidos.
Irmãos e irmãs, não tendo trazido nada a este mundo, também nada levaremos dele, a não ser nosso próprio ser regenerado pelo poder da ressurreição e o testemunho de uma vida de serviço ao Pai

Nesses dias, na presente crise mundial, muitos temem a pobreza material, que, de fato, é um flagelo contra o qual devemos suplicar a intervenção da misericórdia de Deus. Mas é, por isso mesmo, fundamental que a Igreja entenda e encontre paz e esperança no fato de que já não temos mesmo nada, a não ser um único bem, que nos basta. 
E esse tesouro, angariado nos céus, ninguém pode nos roubar!
Como proclamou o Apóstolo, que renunciou, ele mesmo, a tudo:
“Se Deus é por nós, quem será contra nós? ... Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? ... nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:31, 38-39).

Queridos, que o amor do Pai, as consolações do Espírito Santo e a suficiente graça de Jesus seja com todos vocês, hoje, e cada dia, até a Sua Vinda.
Venha, Senhor Jesus!

Seu conservo e companheiro de jornada,
Fernando Saboia Vieira




    Fsabv/isn-bsb/2020AD

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