sábado, 2 de maio de 2020

Parábolas para o Tempo Presente

Mateus 24 e 25

A Parábola dos Talentos

Queridos irmãos e irmãs, companheiros de jornada,

Jesus faz aqui, penso eu, um discurso contra a omissão e a covardia.
Para advertir os discípulos sobre as atitudes necessárias para vigiar e aguardar Sua vinda, ele contou a seguinte parábola, relatada no Capítulo 25 do Evangelho segundo Mateus:

“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir. Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe. 
E, tendo ele partido, o que recebera cinco talentos negociou com eles, e granjeou outros cinco talentos. Da mesma sorte, o que recebera dois, granjeou também outros dois. Mas o que recebera um, foi e cavou na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. 
E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles. Então aproximou-se o que recebera cinco talentos, e trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, entregaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que granjeei com eles. E o seu senhor lhe disse: Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. E, chegando também o que tinha recebido dois talentos, disse: Senhor, entregaste-me dois talentos; eis que com eles granjeei outros dois talentos. Disse-lhe o seu senhor: Bem está, bom e fiel servo. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. 
Mas, chegando também o que recebera um talento, disse: Senhor, eu conhecia-te, que és um homem duro, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste; E, atemorizado, escondi na terra o teu talento; aqui tens o que é teu. Respondendo, porém, o seu senhor, disse-lhe: Mau e negligente servo; sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? Devias então ter dado o meu dinheiro aos banqueiros e, quando eu viesse, receberia o meu com os juros. Tirai-lhe, pois, o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos. 
Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado. Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes”
Em situações que geram temores e inseguranças, é comum e, até mesmo instintiva, a reação de se esconder e evitar ao máximo os riscos. 

Contudo, Jesus nos está dizendo nessa parábola que a expectativa de Sua imprevisível chegada não deve nos tornar temerosos, alienados ou omissos. 

Ao contrário. É tempo de diligentemente empregarmos os nossos recursos, concedidos por Ele, aqui nesta vida e neste mundo em prol dos negócios e dos interesses do Pai.

Precisamos ter muita clareza sobre quais são esses negócios e interesses do Pai, sobre qual é a Sua obra que devemos realizar em Seu nome, para não assumirmos em Seu nome, com Seusrecursos, projetos que não são d’Ele.


Quando dizermos que o Reino de Deus não é deste mundo estamos afirmando que os interesses e propósitos do Pai nos negócios e projetos deste mundo são sempre circunstanciais e relativos. 

É preciso muito cuidado para não colocarmos os dons, recursos, capacidades, habilidades e oportunidades que o Senhor nos proporciona em projetos contaminados e controlados pela cobiça, soberba, desejo de poder, ideologia e valores estranhos ao Reino.

Às vezes pensamos que a atitude de vigiar, no aguardo da vinda do Senhor, é basicamente passiva, como a de uma sentinela à porta da cidade ou de alguém fechado em casa para se proteger e evitar perigos.

Não rara vez a Igreja, tomada de temor e de zelo pela expectativa da volta de Jesus, de Sua iminente manifestação, optou por se recolher, por se abster de participar dos negócios do mundo ao máximo, preparando-se para o encontro com Ele.

No entanto, como escreveu John Stott em seu último livro, “O Discípulo Radical”, “não devemos preservar nossa santidade fugindo do mundo, nem sacrificá-la nos conformando a ele”. 


Nessa parábola, Jesus indica a necessidade de uma postura ativa de serviço e de participação para que o Senhor, ao voltar, recolha de Seus servos o rendimento e o fruto devidos a Ele. 

Podemos, assim, dizer que Ele faz um veemente discurso contra o medo e a omissão.

Como bem sabemos, “talento”, na parábola, se refere a uma unidade monetária, ao dinheiro daquela época. Significa, então, todos os recursos que o Senhor coloca em nossas mãos para que nós os utilizemos em prol dos interesses do Pai: bens materiais, tempo, inteligência, habilidades, capacidades, força, disposição, virtudes e dons, tanto os que chamamos de naturais quanto os espirituais. Esse é uma distinção que, aliás, não faz muito sentido se pensarmos que tudo vem de Deus e deve ser colocado à Sua disposição.

Se realmente tememos e amamos o Senhor e aguardamos, com esperança e alegria, Sua vinda, que Ele nos encontre trabalhando, participando da vida e dos negócios deste mundo em Seu nome, como sal e luz, como despenseiros de Sua graça, instrumentos de Sua misericórdia para a salvação das pessoas que estão perdidas.

O propósito de Deus não é reformar ou aperfeiçoar a sociedade dos homens, a economia, a política, o bem-estar, nem promover qualquer ideologia ou sistema político.
Muitos já se confundiram com isso e associaram, de algum modo, o Cristianismo e o Evangelho com projetos de homens.

Se o Dia se aproxima, irmãos e irmãs, devemos remir o tempo, trabalhar enquanto podemos, precisamos fazer a obra e ir em busca dos aflitos e perdidos, utilizando todos os recursos que nos foram concedidos. 
Observem que a questão nunca é de quantos “talentos” dispomos, mas, sim, como os utilizamos. O Senhor concede graça e capacidade a cada um de nós de acordo com Sua vontade e critério. 

Não temos que nos preocupar com o que não temos, mas sermos responsáveis com relação ao que temos nas mãos. Afinal, é Ele mesmo quem opera tudo em todos!
Que a suficiente graça de Jesus seja com todos.

Seu conservo e companheiro de jornada e de vigília,

Fernando Saboia Vieira
Brasília, em 1o de abril de 2020, AD.

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