domingo, 31 de maio de 2020

Sermão do Monte na Pandemia: Os Mansos

Bem-Aventurados os Mansos 
Porque Eles Herdarão a Terra

Fernando Saboia Vieira


Essas palavras de Jesus nos provocam, de imediato, algumas perguntas:

• Quem são os “mansos”? O que significa mansidão?
• Que “terra” os mansos vão herdar?
• De quem os mansos vão herdar essa terra?
• Como ser ou se tornar manso e, assim, herdeiro dessa terra?

Mansos são os pacíficos, gentis, tranquilos.
Autocontrolados, contidos. Não agressivos, não violentos, não impulsivos, não vingativos. Provocados, não reagem desordenadamente. Agredidos, não revidam.
Não retribuem o mal com o mal, mas com o bem. Buscam a paz e a conciliação e não a guerra o conflito. 
Não competitivos, não violentos, não invasivos. Dóceis, sóbrios.
A mansidão está nos gestos, nas palavras, nas atitudes, na serenidade do coração.
Os mansos não têm guerras, não têm inimigos, não têm conflitos, não competem, não são conduzidos pela busca de sucesso e resultados.

Há algumas virtudes que estão muito relacionadas à mansidão. Jesus apontou em si mesmo duas características a serem imitadas por seus discípulos a fim de que pudessem encontrar descanso para a alma: mansidão e humildade

“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas”. (Mateus 11:28-30)

A mansidão também está muito ligada ao domínio próprio, como partes do fruto do Espírito. Ser manso é controlar a si mesmo, não ser dominado por seus impulsos e paixões. Não dar lugar ao descontrole da ira e da destemperança.
Os mansos são misericordiosos pois não buscam vingança, não retribuem o mal, suportam com paciência as ofensas e pecados dos outros. Não buscam fazer a própria justiça, mas esperam no Senhor.
Os mansos também demonstram contentamento, uma vez que não estão em busca de conquistas nem lutando por sucesso ou realizações, mas são supridos no relacionamento e no cuidado do Senhor

A mansidão é fruto do Espírito Santo, de não buscar satisfazer os desejos e paixões da alma, mas andar na companhia do Senhor.
A mansidão só pode ser aprendida no discipulado de Jesus, ao tomarmos sobre nós o seu jugo e caminharmos sob sua condução.
Mansidão não é uma questão de personalidade, de temperamento ou de comportamento aprendido. Mansidão é santidade, caráter, imitação de Jesus, imagem de Deus.
Somos naturalmente agressivos e belicosos. Temos que aprender a mansidão com o Senhor. No próprio Sermão do Monte Ele nos dá vários ensinamentos práticos sobre isso: dar a outra face, buscar a reconciliação, não julgar, não se vingar, orar pelos inimigos. A Sua vida foi um exemplo constante disso, pois, quando injuriado, não revidava, quando agredido e crucificado, perdoava. Ele deixou-se levar à cruz mansamente, como uma ovelha ao matadouro (1ª de Pedro 2:23).

Lemos no Salmo 25, verso 9, que o Senhor guia os humildes e ensina aos mansos os seus caminhos. Os mansos são ensináveis. Os soberbos e belicosos não podem aprender nada de Deus, pois não são conduzíveis, não são tratáveis.
Nesses dias em que vivemos, quando muitos estão com os ânimos acirrados, indignados e cheios de revoltas e conflitos, devemos meditar nas palavras de Davi no Salmo 37:

“Não se irrite por causa dos malfeitores, nem tenha inveja dos que praticam a iniquidade. 
Pois em breve eles secarão como a relva e murcharão como a erva verde.
Confie no Senhor e faça o bem; habite na terra e alimente-se da verdade.
...
Descanse no Senhor e espere nele; não se irrite por causa daquele que prospera em seu caminho, por causa do que realiza seus maus desígnios.
Deixe a ira, abandone o furor; não se irrite; certamente isso acabará mal.
Porque os malfeitores serão exterminados, mas os que esperam no Senhor possuirão a terra.
...
Mas os mansos herdarão a terra e terão alegria na abundância da paz”

Irmãs e irmãos queridos, na angústia do presente momento, em meio à praga que assola a humanidade, temos visto muitas pessoas iradas, indignadas, revoltadas, agressivas em comportamentos, gestos e palavras. Há mesmo um incentivo geral nas redes sociais ao destempero, à violência, à agressividade, ao desrespeito, à vingança em nome da justiça.
Infelizmente juntam-se a esse espírito maléfico não poucos cristãos e mesmo pastores e líderes que se colocam a pregar contra o “pacifismo” do Evangelho para justificar e estimular atitudes de violência, palavras agressivas e rebelião. 
Esses consideram a mansidão uma fraqueza e covardia, uma atitude de passividade diante de situações que mereceriam uma reação contundente.

Mansidão não é fraqueza nem covardia. Mansidão é força sob controle, coragem sob o comando da gentileza. Mansidão é ter o poder das paixões, dos gestos e das palavras a serviço do amor que é gentil, não busca os próprios interesses, não se ressente do mal, nunca agride, sempre perdoa, é misericordioso, compassivo e generoso.
Não se trata de passividade ou impotência, mas de estar sob controle de si mesmo para poder ser conduzido por Deus. Ser manso envolve ter sempre coragem de optar tranquilamente pela verdade, com paz de espírito e consciência sossegada.
O homem mais manso e humilde de todos também foi também o homem mais corajoso e poderoso que andou nesta terra. Enfrentou com destemor seus adversários e inimigos, mas somente sendo dócil e cheio de amor foi capaz de cumprir todo o propósito do Pai até se entregar à morte na cruz.
Precisamos nos precaver contra os discursos inflamados e agressivos que buscam influenciar e despertar emoções e paixões e que nesta hora difícil exploram o medo, a frustração, a indignação, a cobiça, a carência, as fragilidades e concupiscências das pessoas para enchê-las de ira, justiça própria e leva-las a lutar com as próprias mãos por interesses, direitos e posições que são levadas a considerar como legitimamente seus.
É a hora em que lobos vorazes e falsos obreiros, travestidos de influenciadores, conselheiros, psico-qualquer- coisa, neurocharlatões, coachsblogueiros, comunicadores sociais, celebridades, famosos e outros que tais se juntam à horda mundana de mercadores de almas que assolam esta geração de modo mais letal do que o famigerado coronavírus.
Meus caros, é simplesmente impossível compatibilizar essa mentalidade e esse espírito com as palavras e o espírito de Jesus nos Evangelhos e com o ensino dos Apóstolos.
Por todas as partes do Sermão do Monte encontramos exortações, aplicações e exemplos do que significa ser manso. A vida de Jesus é o discurso mais eloquente sobre mansidão e humildade que se poderia conceber.
Não dá para imaginar Jesus promovendo iras e revoltas, espalhando fake news, atacando a honra e a imagem de seus adversários, debochando e ridicularizando pessoas, empunhando armas à frente de multidões violentas e rebeladas. Ao contrário, Ele mais de uma vez repudiou expressamente esse caminho que poderia levá-lo à gloria e conquistas humanas, mas não à necessária cruz! Poderia fazer dele um grande imperador, mas não o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. É a Ele a quem seguimos e imitamos, se queremos ser chamados Seus discípulos.

Tiago escreveu:

Vocês sabem estas coisas, meus amados. Cada um esteja pronto para ouvir, mas seja tardio para falar e tardio para ficar irado. 
Porque a ira humana não produz a justiça de Deus. Portanto, deixando toda impureza e acúmulo de maldade, acolham com mansidão a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los”

E Paulo, na carta aos Filipenses:

“Que a moderação de vocês seja conhecida por todos. Perto está o Senhor”

Deus tem suas lutas e guerras nas quais devemos nos envolver. O Senhor usa sua força e poder para realizar seus propósitos e somos chamados a cooperar com eles. Não há lugar no Reino para indecisos, covardes e pusilânimes. 
A fé é combate que leva homens e mulheres a enfrentar poderosos, feras, adversidades, perseguições e toda sorte de dificuldades e de oposições. 
No entanto, quem pode lutar as guerras de Deus e ser instrumento do seu poder? Apenas aqueles que não têm suas próprias guerras no coração. Não estão em busca de vingança, justiça, recompensa ou sucesso pessoais. Não se pode guerrear para o Senhor sem paz no coração porque senão estaríamos sempre envolvidos em conquistar nosso reino e não o d’Ele.
Os guerreiros e guerreiras de Deus são valentes, poderosos e destemidos – e são também mansos e humildes de coração!
A mansidão não é uma virtude valorizada na modernidade. Na verdade, ela é expressamente repudiada por muitos que se apresentam como consultores, gestores, conselheiros, terapeutas, coachs e influenciadores como característica inadequada na vida profissional, nos negócios, nrelacionamentos, nos esportes, na ciência, na política. 
Qualquer área em que se pretenda ter sucesso deve, para esses, ser considerada como um campo de guerra, um terreno de competição acirrada e cruel onde apenas os fortes e agressivos têm êxito.
Infelizmente, essa mentalidade mundana tem influenciado muitos na Igreja, e mesmo não poucos líderes e pastores. Mas Deus não conduz rebelados, insubmissos, violentos, vingativos. Esses que levam no coração, nos gestos e nas palavras seus próprios conflitos e guerras não são úteis na Sua obra. Precisam, de fato, se converter e se sujeitar ao jugo de Jesus para aprenderem a humildade e a mansidão.
“Jesus não prometeu aos mansos que “conquistariam” a terra. Disse que eles a herdariam” (Myer Pearlman)

Há os que reúnem armas, seguidores,dinheiro, ideologias e estratégias para conquistarem e dominarem a terra, apossando-se de suas riquezas, recursos, belezas e prazeres.
No entanto, meus caros, ao Senhor pertence a terra, e tudo o que nela se contém. Ele criará novos céus e nova terra e ela será dada como herança aos mansos que não lutaram por conquistá-la, mas esperaram em Deus.
Queridos irmãos e irmãs, companheiros de jornada, não vamos permitir que as guerras e conflitos deste tempo contaminem nossa alma. Ainda que tenhamos que enfrentar lutas e diversidade, vamos fazê-lo na força que Deus supre, com coragem e determinação, mantendo um coração manso e humilde diante de Deus e dos homens, expressando com gestos e palavras nossa esperança de que herdaremos com Ele a nova terra, sob os novos céus. E da mesma maneira vamos lutar o combate espiritual pelas almas perdidas e prisioneiras de Satanás e pela realização do propósito eterno de Deus para esta geração.

Que a suficiente graça de Jesus seja com o espírito de vocês.

Seu conservo e companheiro de jornada, ainda tendo muito o que aprender sobre mansidão e humildade,

Fernando

domingo, 17 de maio de 2020

Sermão do Monte na Pandemia: Os que Choram

“Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”
Mateus 5:4


         Queridos companheiros de jornada em busca da vida interior e de travessia desse vale sombrio da pandemia que assola a humanidade nesses dias,

         Encontramos no Sermão do Monte essa declaração ousada e paradoxal, pronunciada pelo único capaz de dar sentido, conteúdo e consequência a ela. Dita por qualquer outro seria ela irônica, falsa, enganosa e mesmo cruel, como pregação vazia de uma religião ufanista ou de um humanismo alienado.
Com efeito, a existência humana neste mundo é repleta de dores e de lágrimas. As alegrias parecem ser, no mais das vezes, efêmeras, ilusórias e falsas, enquanto as tristezas se apresentam como experiências permanentes e reais. 
Além do sofrimento pessoal que cada um de nós deve suportar, compartilhamos aquele que nos atinge a todos como comunidade e como humanidade, proveniente das crises econômicas e sociais, das guerras, da deterioração do meio ambiente, da iniquidade na distribuição dos recursos do Planeta, das enfermidades e de tantas outras circunstâncias em uma era globalizada.
Meus caros, é importante, nesses dias, nos lembrarmos de que a bem-aventurança dos que choram, sua felicidade prometida por Jesus, é o consolo de Deus, da Sua Presença e companhia
Não a vitória em todas a lutas, o sucesso nos empreendimentos, a realização dos sonhos, o final feliz de todas as histórias. Não a eliminação de toda dor e sofrimento. Não as compensações, recompensas e reconhecimentos. Nem mesmo o aperfeiçoamento pessoal. 
Os que choram lágrimas de quebrantamento e de dor diante das mazelas pessoais e deste mundo doente e corrompido pelo pecado serão cheios do Espírito Santo, que é o Consolador enviado pelo Senhor para estar sempre conosco. 
Essa é a suprema felicidade oferecida por Deus aos homens: Ele mesmo! Nas palavras de Santo Agostinho: “Buscar a Deus é buscar a felicidade. Encontrar Deus é a própria felicidade”.
Uma parte importante do ministério dos antigos profetas era anunciar o consolo de Deus para o Seu povo que lhe seria trazido por meio do Messias prometido:

“Consolem, consolem o meu povo, diz o Deus de vocês. Falem ao coração de Jerusalém e anunciem que o tempo da sua escravidão já acabou, que a sua iniquidade está perdoada.”. (Isaías 40:1-2)
“Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade e cujo nome é Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos. Tenho visto os caminhos do meu povo, mas vou curá-lo; também o guiarei e tonarei a dar consolação a ele e aos seus pranteadores. Como fruto dos seus lábios criei a paz, paz para os que estão longe e para os que estão perto, diz o Senhor, e eu o sararei.”. (Isaías 57:14-21)

“O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados, a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus, a consolar todos os que choram e a pôr sobre os que choram em Sião uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria em vez de pranto, manto de louvor em vez de espírito angustiado. Eles serão chamados carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para sua glória. Reconstruirão as antigas ruínas, restaurarão os lugares anteriormente destruídos e renovarão as cidades arruinadas, destruídas de geração em geração.”. (Isaías 61:1-4). 

Em Lucas 4:18-19, vemos que Jesus, na sinagoga de Nazaré, leu essa última profecia de Isaías e disse: “Hoje se cumpriu a Escritura que vocês acabam de ouvir”! Desde então, o Filho do Homem tomou sobre si o ministério de, na unção do Espírito Santo, anunciar as boas-novas aos pobres e abatidos de espírito e de consolar todos os que choram. Ele é o nosso Consolador e Ele mesmo é o nosso consolo.
Consolar (paraklesis) significa colocar-se ao lado de alguém para ajudar, animar, auxiliar, defender, interceder. Jesus prometeu aos seus discípulos que estaria sempre ao lado deles por meio do Consolador, o Espírito da verdade que habitaria neles (João 14:1-31). Esse era o maior temor dos discípulos naquele momento em que finalmente compreendiam que o Senhor haveria de partir, o de que ficassem sós. 

Também nós quando enfrentamos os caminhos escuros, os vales sombrios da vida, o que mais nos importa é perceber a presença do Senhor: “Tu estás comigo, tua vara e teu cajado me consolam”, escreveu Davi no Salmo 23, sobre a experiência do “vale da sombra da morte”. Jacó em fuga teve, em Betel, a revelação de que Deus estava naquele lugar. Os discípulos de Emaús caminhavam desolados após a morte de Jesus até serem animados e aquecidos pela companhia do Senhor.
É importante compreendermos a dimensão do ministério do Consoladorprometido por Jesus e que agora opera na Igreja:

- Ele está sempre conosco;
- Ele habita dentro de nós;
- Ele torna atual, viva e poderosa a presença do Pai;
- Ele atua comunicando continuamente a verdade, o poder e o amor de Deus.

Podemos, assim, ser constantemente lembrados das fontes e fundamentos do consolo que Jesus promete aos que choram:

- A certeza e experiência da paternidade de Deus;
- O amor de Deusderramado nos nossos corações;
- A convicção da soberania de Deusa governar todas as coisas;
- A misericórdia de Deusque se revela em perdão, graça, aceitação, relacionamento;

- A bondadede Deus que podemos perceber a cada instante em que vivemos;
- O propósito eterno de Deusque não poderá ser frustrado nas vidas daqueles que O amam e O buscam.

Sugiro aqui mais alguns textos sobre consolo no Novo Testamento para neles meditarmos:

Lucas 2:25-32
Atos 4:36 e outros, sobre Barnabé
Romanos 15:4-6
2ª aos Coríntios 1:3-7
2ª aos Tessalonicenses 2:16-17

Finalmente, somos chamados na Igreja para também exercermos o ministério da consolação nas vidas dos irmãos e das pessoas, exortando e animando com as promessas e as certezas que nos trazem esperança e alegria:

1ª aos Tessalonicenses 4:13-18; 5:4-11, 14
2ª aos Coríntios 13:11

         Nosso maior consolo está na esperança da vinda do Senhor, na nossa regeneração e na vida eterna com Ele, onde não existe a doença, nem a dor, nem a separação, nem o medo, mas o Seu amor e a Sua glória a tudo envolverão.
Identificamos uma profunda necessidade na Igreja e nesta geração da experiência desse consolo. Muitos choram lágrimas sem esperança, sofrem sem qualquer sentido ou promessa. Ansiedade, depressão, pânico, desespero são condições mais do que comuns em nossos dias. As pessoas as enfrentam muitas vezes sem consciência de suas causas e sem expectativas de cura e restauração. 
O sofrimento lhes parece inexplicável e invencível. Buscam paliativos ou se entregam às trevas que as cercam. É extremamente necessário que possamos encontrar esse consolo em meio às nossas próprias lágrimas e compartilharmos isso com dos demais.
         Consolar não envolve fazer promessas vazias ou dar explicações, nem mesmo trazer soluções imediatas, mas tão somente colocar-se ao lado dos que choram e trazer para essas pessoas a graça de Jesus, a presença do Espírito Santo e o amor do Pai, pelo socorro, pela oração, pelo companheirismo, pelo testemunho do consolo que nós mesmos recebemos do Pai. Oferecermo-nos como seus companheiros de jugo. 

         “Chorai com os que choram”.
         “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados”!!

       Queridos, que o amor do Pai, as consolações do Espírito Santo e a suficiente graça de Jesus seja com todos vocês, hoje e cada dia, até a Sua Vinda.

           Venha, Senhor Jesus!

             Seu conservo e companheiro de jornada,

             Fernando Saboia Vieira 

domingo, 10 de maio de 2020

Sermão do Monte na Pandemia: Os Pobres em Espírito

1

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos que Céus” (Mateus 5:3)

Queridos irmãos e irmãs, companheiros de jornada em busca da vida interior e de travessia desse vale sombrio da pandemia que assola a humanidade nesses dias,


Com essas palavras o Senhor Jesus inicia seu conhecido Sermão do Monte. E elas causam perplexidade até hoje, assim como Suas demais afirmações acerca das condições para se alcançar o Reino dos Céus e a felicidade que só ele pode proporcionar.
Mateus situa essa pregação de Jesus num momento em que Ele já era acompanhado por alguns discípulos - pessoas que haviam ouvido o anúncio do Reino, se arrependido e decidido entregar suas vidas ao governo de Deus - e Seu ministério público começava a atrair multidões.
Assim, podemos entender que o Senhor, nesse momento, se dirigiu, em primeiro plano, aos seus seguidores, que se assentaram ao Seu redor para ouvi-lo, e, perifericamente, à multidão que os acompanhava.
Gostaria de compartilhar uma breve reflexão sobre essa pobreza de espírito, apontada por Jesus como a primeira condição para se obter o Reino dos Céus. 

Enquanto a pobreza material pode advir de muitas diferentes circunstâncias, esse tipo de pobreza a que o Senhor se refere aqui – pobres em espírito - somente pode ser produzido pelo arrependimento e pela renúncia radical dos que se tornam discípulos de Jesus. 
Os que são ou se tornam pobres contra sua vontade não são necessariamente pobres em espírito, já que interiormente podem estar mais apegados à riqueza pelo desejo e cobiça do que aqueles que são materialmente abastados.
Quem pode nos tornar pobres em espírito e, assim, aptos ao Reino é o próprio Jesus, apenas Ele. O Senhor disse a todos os que queriam segui-lo:

“Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome dia a dia tome a sua cruz e siga-me” (Lc 9:23), e afirmou “... qualquer um de vocês que não renuncia a tudo o que tem não pode ser meu discípulo” (Lc 14:33).

Não se pode passar pela porta estreita do discipulado de Jesus levando nada consigo, nem recursos materiais, nem espirituais.
Pobres em espírito são aqueles que renunciaram tudo, até a si mesmo, para serem discípulos de Jesus. Sem esse esvaziamento radical, haverá sempre algo a se colocar entre nós e Ele, alguma “riqueza”, material ou não, possuída ou desejada, a se interpor como barreira e a nos impedir o encontro pleno com Senhor.
Cada bem, afeto, aspecto da vida e do caráter, sonho, relacionamento ou aspiração a que não renunciamos faz com que permaneçamos de algum modo “ricos”, e “ricos” não temos comoreceber o Reino que é prometido com felicidade para os pobres.
Uma grande dificuldade que temos em assumir a pobreza voluntária é nossa soberba e desejo de controlar nossa própria vida, sem dependermos de ninguém. 
Assim, após a renúncia total que nos é requerida como condição de entrada do discipulado de Jesus, é necessário que a cada dia nós sigamos o Seu exemplo e nos humilhemos, nos esvaziemos de nós mesmo e aprendamos a colocar vivencialmente toda a nossa dependência e confiança no Pai.
Essa pobreza total pode ser a situação de máxima ansiedade e desespero, para os que não conhecem ao Senhor e temem as circunstâncias desse mundo caído. 
Ou pode ser a condição de máxima paz e esperança, para os que se tornaram, por esse caminho, filhos do Pai celestial, que sabe das nossas necessidades e as providencia antes mesmo que tenhamos consciência delas e que as apresentemos a Ele como pedidos.
Irmãos e irmãs, não tendo trazido nada a este mundo, também nada levaremos dele, a não ser nosso próprio ser regenerado pelo poder da ressurreição e o testemunho de uma vida de serviço ao Pai

Nesses dias, na presente crise mundial, muitos temem a pobreza material, que, de fato, é um flagelo contra o qual devemos suplicar a intervenção da misericórdia de Deus. Mas é, por isso mesmo, fundamental que a Igreja entenda e encontre paz e esperança no fato de que já não temos mesmo nada, a não ser um único bem, que nos basta. 
E esse tesouro, angariado nos céus, ninguém pode nos roubar!
Como proclamou o Apóstolo, que renunciou, ele mesmo, a tudo:
“Se Deus é por nós, quem será contra nós? ... Quem nos separará do amor de Cristo? Será a tribulação ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? ... nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8:31, 38-39).

Queridos, que o amor do Pai, as consolações do Espírito Santo e a suficiente graça de Jesus seja com todos vocês, hoje, e cada dia, até a Sua Vinda.
Venha, Senhor Jesus!

Seu conservo e companheiro de jornada,
Fernando Saboia Vieira




    Fsabv/isn-bsb/2020AD