segunda-feira, 30 de julho de 2012

Amar e Encontrar



Poema Nupcial - Para Gustavo e Rafaela,

O que Deus ajuntou, não separe o homem.”

Dispam-se, joguem fora as roupas velhas
E se vejam.
Revistam-se, usem vestes novas,
Deixem os caminhos já andados,
Esqueçam as palavras desbotadas
E se descubram mais uma vez.

Troquem de pele, se reinventem,
Digam não e digam sim,
Fujam da esterilidade do talvez,
E depois comecem tudo de novo
Pintem tudo com cores novas
Vão a lugares aonde não tenham ido.
Vistam as roupas e calcem os sapatos
Um do outro,
Troquem de olhos e de olhares,
De língua e de sabores,
De humores e de dores,
De momentos e de sentimentos.

Leiam pensamentos, ouçam silêncios,
Respirem o mesmo ar até se intoxicarem
Com o hálito um do outro.

Misturem tudo na cabeça
E nos armários,
Troquem as gavetas e os sabonetes,
Os perfumes e os chinelos,
Os cremes e as escovas,
Confundam o dia com a noite,
Espalhem-se por todos os lados
E se recolham, finalmente, em abraços.

Divirtam-se sozinhos
E divirtam-se com todos,
Sonhem com pezinhos pequenos
Correndo pela casa.

Rejeitem com todas as forças
A eficiência burocrática doméstica
Como modelo de felicidade.
Saibam que a busca de bens materiais
Quase sempre produz mais dor do que prazer
E quando traz mais prazer do que dor
É chegado o império das trevas.

E se um dia qualquer da vida, em qualquer lugar,
Descobrirem que, estando juntos, estão em casa
E que, estando em casa, podem estar juntos
Em qualquer dia ou lugar da vida,
Saibam que não pertencem mais
A qualquer dia ou lugar,
Mas apenas um ao outro:
Vocês estarão, então, verdadeiramente casados,
Vocês serão um lar.


Brasília, 29 de julho de 2012, AD.

Fernando Sabóia Vieira

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