segunda-feira, 12 de abril de 2010

A oração e a paternidade de Deus


UM POUCO DE ANDREW MURRAY (1828-1917), 2º TEXTO

"Quanto mais...?" ou A Infinita Paternidade de Deus
(Mateus 7:9-11)


Nessas palavras nosso Senhor vai mais além no sentido de confirmar o que Ele havia dito sobre a certeza de resposta de oração. Para eliminar toda dúvida, e nos mostrar em que fundamento seguro Sua promessa se apoia, Ele apela para algo que todos nós já vimos e experimentamos aqui neste mundo. Nós todos somos filhos, e sabemos o que esperamos de nossos pais terrenos. Nós somos pais, ou os vemos continuamente, e por todos os lugares em que olhemos a coisa mais natural que há é um pai ouvir seu filho. E o Senhor nos pede para considerarmos os pais terrenos, dos quais os melhores são maus, e avaliarmos o quanto muito mais o Pai celestial dará boas coisas àqueles lhe pedirem. Jesus quer nos levar a ver que o quanto Deus é maior do que o homem pecador, tanto maior deve ser a segurança de que Ele mais certamente do que qualquer pai terreno considerará os pedidos de seus filhos. O quanto Deus é maior do que o homem, na mesma proporção é mais certo que a oração será ouvida pelo Pai dos céus do que pelo pai na terra.

Tanto quanto essa parábola é simples e de fácil compreensão assim também ela é profunda e espiritual no seu significado. O Senhor quer nos lembrar que a influência da oração de um filho provém inteiramente da relação que ele tem com seu pai. A oração só pode exercer essa influência quando o filho estiver realmente vivendo esse relacionamento, em casa, no amor e no serviço do Pai. O poder da promessa "Pedi e dar-se-vos-á" repousa no relacionamento amoroso entre nós como filhos e o Pai celeste. Quando vivemos e andamos nesse relacionamento, a oração de fé e sua resposta serão o seu resultado natural.

Então, a lição de hoje na escola da oração é essa: viva como um filho de Deus e você será capaz de orar como filho e, como filho, será muito seguramente ouvido.

E o que é uma verdadeira vida de filho? A resposta pode ser encontrada em qualquer lar. O filho que abandona a casa do pai, que não encontra prazer na presença, no amor e na obediência ao pai, e mesmo assim pensa em pedir e obter o que quer ficará certamente desapontado.
Ao contrário, aquele para quem a comunhão, a vontade, a honra e o amor do pai são a alegria de sua vida, este descobrirá que é alegria para o pai atender a seus pedidos. As Escrituras dizem: "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus". O direito filial de pedir tudo é inseparável da vida filial sob a direção do Espírito.

Aquele que se entrega à condução do Espírito em sua vida será conduzido por Ele também em suas orações. E descobrirá que a doação paternal é a resposta divina para a vida filial.
Para vermos o que é essa vida de filho, na qual os pedidos e a fé filiais têm seu fundamento, basta atentarmos para o que o Senhor ensina no Sermão do Monte sobre o Pai e Seus filhos. Nas promessas da oração estão embutidos os preceitos de vida, as duas coisas são inseparáveis. Elas formam um todo, e só pode contar com o cumprimento da promessa aquele que aceita também tudo o que o Senhor vinculou a ela.

É como se ao dizer "Pedi e dar-se-vos-á", Ele também dissesse: Eu faço essas promessas àqueles filhos que eu descrevi nas bem-aventuranças em sua pobreza e pureza de crianças, dos quais afirmei "serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:3-9); àqueles filhos que "deixam sua luz brilhar diante dos homens, a fim de que eles glorifiquem Seu Pai que está nos céus"; àqueles filhos que andam em amor, para serem "filhos do Pai que está nos céus", e que procuram ser perfeitos "como perfeito é nosso Pai que está nos céus" (v.45); àqueles cujo jejum, oração e esmolas não estão diante dos homens, mas diante do Pai que vê em secreto; àqueles que perdoam como o Pai os perdoa.

Amados companheiros de discipulado. Começamos a ver porque razão conhecemos tão poucas respostas cotidianas à oração, e que lição essencial é essa que o Senhor tem para nós em Sua escola. E tudo em nome do Pai.

Nós pensávamos em novos e profundos entendimentos em alguns dos mistérios do mundo da oração como aquilo que aprenderíamos na escola de Cristo. Ele nos diz que a primeira lição é a maior de todas: nós precisamos aprender a dizer corretamente "Abba, Pai", "Pai nosso, que estás nos céus". Aquele que pode dizer isso tem a chave de toda oração. Em toda a compaixão com que o Pai ouve seu filho fraco e doente, em toda a alegria com que o ouve balbuciar, em toda a paciência terna com que Ele suporta sua imaturidade, nós devemos, como em muitos espelhos, estudar o coração do nosso Pai, até que cada oração seja nascida da fé nessas palavras divinas: "Quanto mais vosso Pai celeste...".

SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR.

Bendito Senhor! Tu sabes que essa, embora seja uma das primeiras, mais simples e mais gloriosas lições na Tua escola, é para nosso coração uma das mais difíceis de ser aprendida: sabemos tão pouco sobre o amor do Pai. Senhor, ensina-nos a viver com o Pai de tal forma que Seu amor possa ser para nós mais próximo, mais claro e mais querido do que o amor de qualquer pai terreno. E que nossa confiança no seu atento ouvir das nossas orações seja tão maior do que a confiança em qualquer pai terreno quanto os céus são mais altos do que a terra, quanto Deus é infinitamente maior do que o homem.

Senhor! Mostra-nos que é apenas nossa distância não filial do Pai que impede a resposta da oração e nos conduza a uma verdadeira vida de filhos de Deus.

Senhor Jesus! É o amor paternal que desperta a confiança filial. Revela-nos o Pai, e Seu terno e misericordioso amor, para que possamos viver como filhos e experimentarmos o fato de que na vida filial repousa o poder da oração.

Bendito Filho de Deus. O Pai te ama e a Ti deu todas as coisas. E Tua amas o Pai e fizestes todas as coisas que Ele ordenou e, assim, tens o poder de requerer todas as coisas. Senhor, dá-nos Teu próprio Espírito, o Espírito do Filho. Faz-nos filhos como Tu fostes na terra. E que cada oração seja inspirada pela fé de que tanto quanto os céus são mais elevados do que a terra, assim o amor paternal de Deus e sua prontidão em nos dar o que pedimos ultrapassa o que possamos pensar ou conceber. Amém.

De "Com Cristo na Escola da Oração", Cap. 6.
Tradução de Fernando Sabóia Vieira

Obs. Esse livro de Andrew Murray foi recentemente lançado em português, pela Editora dos Clássicos. A tradução publicada aqui no Baú foi feita a partir de original disponível no site http://www.ccel.org/.

Um comentário:

  1. Texto extremamente edificante!
    Essa frase me marcou profundamente:
    "O direito filial de pedir tudo é inseparável da vida filial sob a direção do Espírito."

    Pelo fato de que somos filhos, temos esperança no Pai!

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