sexta-feira, 30 de abril de 2010

São Bento de Núrsia

Caros,

São Bento de Núrsia foi o fundador da Ordem dos Beneditinos. Ele viveu entre os séculos V e VI.
Sua Regra, contendo instruções para os monges, é até hoje referência sobre espiritualidade e vida contemplativa comunitária.
Se substituirmos no texto seguinte a palavra monge por cristão ou discípulos veremos com seu conteúdo é atual e edificante acerca de um tema fundamental que é a humildade.
Graça seja com todos.
Fernando

Textos do Baú - Bento de Núrsia

UM POUCO DE SÃO BENTO de NÚRSIA (480-547)

A REGRA DE SÃO BENTO

Capítulo VII - Da Humildade

Irmãos, a Escritura divina nos clama dizendo: "Todo aquele que se exalta será humilhado e todo aquele que se humilha será exaltado". Indica-nos com isso que toda elevação é um gênero da soberba, da qual o Profeta mostra precaver-se quando diz: "Senhor, o meu coração não se exaltou, nem foram altivos meus olhos; não andei nas grandezas, nem em maravilhas acima de mim. Mas, que seria de mim se não me tivesse feito humilde, se tivesse exaltado minha alma? Como aquele que é desmamado de sua mãe, assim retribuirias a minha alma.
E, portanto, irmãos, queremos atingir o cume da suma humildade e se queremos chegar rapidamente àquela exaltação celeste para a qual se sobe pela humildade da vida presente, deve ser erguida, pela ascensão de nossos atos, aquela escada que apareceu em sonho a Jacó, na qual lhe eram mostrados anjos que subiam e desciam. Essa descida e subida, sem dúvida, outra coisa não significa, para nós, senão que pela exaltação se desce e pela humildade se sobe. Essa escada ereta é a nossa vida no mundo, a qual é elevada ao céu pelo Senhor, se nosso coração se humilha. Quanto aos lados da escada, dizemos que são o nosso corpo e alma, e nesses lados a vocação divina inseriu, para serem galgados, os diversos graus da humildade e da disciplina.

Assim, o primeiro grau da humildade consiste em que, pondo sempre o monge diante dos olhos o temor de Deus, evite, absolutamente, qualquer esquecimento, e esteja, ao contrário, sempre lembrado de tudo o que Deus ordenou, revolva sempre, no espírito, não só que o inferno queima, por causa de seus pecados, os que desprezam a Deus, mas também que a vida eterna está preparada para os que temem a Deus; e, defendendo-se a todo tempo dos pecados e vícios, isto é, dos pecados do pensamento, da língua, das mãos, dos pés e da vontade própria, como também dos desejos da carne, considere-se o homem visto do céu, a todo momento, por Deus, e suas ações vistas em toda parte pelo olhar da divindade e anunciadas a todo instante pelos anjos.
Mostra-nos isso o Profeta quando afirma estar Deus sempre presente aos nossos pensamentos: "Deus que perscruta os corações e os rins". E também: "Deus conhece os pensamentos dos homens". E ainda: "De longe percebestes os meus pensamentos" e "o pensamento do homem vos será confessado". Portanto, para que esteja vigilante quanto aos seus pensamentos maus, diga sempre, em seu coração, o irmão empenhado em seu próprio bem: "se me preservar da minha iniqüidade, serei, então, imaculado diante d’Ele". Assim, é-nos proibido fazer a própria vontade, visto que nos diz a Escritura: "Afasta-te das tuas próprias vontades". E, também, porque rogamos a Deus na oração que se faça em nós a sua vontade.
Aprendemos, pois, com razão, a não fazer a própria vontade, enquanto nos acautelamos com aquilo que diz a Escritura: "Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim mergulha até o fundo do inferno", e enquanto, também, nos apavoramos com o que foi dito dos negligentes: "Corromperam-se e tornaram-se abomináveis nos seus prazeres".

Por isso, quando nos achamos diante dos desejos da carne, creiamos que Deus está sempre presente junto a nós, pois disse o Profeta ao Senhor: "Diante de vós está todo o meu desejo". Devemos, portanto, acautelar-nos contra o mau desejo, porque a morte foi colocada junto à porta do prazer. Sobre isso a Escritura preceitua dizendo: "Não andes atrás de tuas concupiscências". Logo, se os olhos do Senhor "observam os bons e os maus", e "o Senhor sempre olha do céu os filhos dos homens para ver se há algum inteligente ou que procura a Deus" e se, pelos anjos que nos foram designados, todas as coisas que fazemos são, cotidianamente, dia e noite, anunciadas ao Senhor, devemos ter cuidado, irmãos, a toda hora, como diz o Profeta no salmo, para que não aconteça que Deus nos veja no momento em que caímos no mal, tornando-nos inúteis, e para que, vindo a poupar-nos nessa ocasião porque é Bom e espera sempre que nos tornemos melhores, não venha a dizer-nos no futuro: "Fizeste isto e calei-me".

O segundo grau da humildade consiste em que, não amando a própria vontade, não se deleite o monge em realizar os seus desejos, mas imite nas ações aquela palavra do Senhor: "Não vim fazer a minha vontade, mas a d’Aquele que me enviou". Do mesmo modo, diz a Escritura: "O prazer traz consigo a pena e a necessidade gera a coroa".

O terceiro grau da humildade consiste em que, por amor de Deus, se submeta o monge, com inteira obediência ao superior, imitando o Senhor, de quem disse o Apóstolo: "Fez-se obediente até a morte".

O quarto grau da humildade consiste em que, no exercício dessa mesma obediência abrace o monge a paciência, de ânimo sereno, nas coisas duras e adversas, ainda mesmo que se lhe tenham dirigido injúrias, e, suportando tudo, não se entregue nem se vá embora, pois diz a Escritura: "Aquele que perseverar até o fim será salvo". E também: "Que se revigore o teu coração e suporta o Senhor". E a fim de mostrar que o que é fiel deve suportar todas as coisas, mesmo as adversas, pelo Senhor, diz a Escritura, na pessoa dos que sofrem: "Por vós, somos entregues todos os dias à morte; somos considerados como ovelhas a serem sacrificadas".
Seguros na esperança da retribuição divina, prosseguem alegres dizendo: "Mas superamos tudo por causa daquele que nos amou". Também, em outro lugar, diz a Escritura: "Ó Deus, provastes-nos, experimentastes-nos no fogo, como no fogo é provada a prata: induzistes-nos a cair no laço, impusestes tribulações sobre os nossos ombros". E para mostrar que devemos estar submetidos a um superior, continua: "Impusestes homens sobre nossas cabeças". Cumprindo, além disso, com paciência o preceito do Senhor nas adversidades e injúrias, se lhes batem numa face, oferecem a outra; a quem lhes toma a túnica cedem também o manto; obrigados a uma milha, andam duas; suportam, como Paulo Apóstolo, os falsos irmãos e abençoam aqueles que os amaldiçoam.

O quinto grau da humildade consiste em não esconder o monge ao seu Abade todos os maus pensamentos que lhe vêm ao coração, ou o que de mal tenha cometido ocultamente, mas em lho revelar humildemente, exortando-nos a este respeito a Escritura quando diz: "Revela ao Senhor o teu caminho e espera nele". E quando diz ainda: "Confessai ao Senhor porque ele é bom, porque sua misericórdia é eterna". Do mesmo modo o Profeta: "Dei a conhecer a Vós a minha falta e não escondi as minhas injustiças. Disse: acusar-me-ei de minhas injustiças diante do Senhor, e perdoastes a maldade de meu coração".

O sexto grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o que há de mais vil e com a situação mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, se considere mau e indigno operário, dizendo-se a si mesmo com o Profeta: "Fui reduzido a nada e não o sabia; tornei-me como um animal diante de Vós, porém estou sempre convosco".

O sétimo grau da humildade consiste em que o monge se diga inferior e mais vil que todos, não só com a boca, mas que também o creia no íntimo pulsar do coração, humilhando-se e dizendo com o Profeta: "Eu, porém, sou um verme e não um homem, a vergonha dos homens e a abjeção do povo: exaltei-me, mas, depois fui humilhado e confundido". E ainda: "É bom para mim que me tenhais humilhado, para que aprenda os vossos mandamentos".

O oitavo grau da humildade consiste em que só faça o monge o que lhe exortam a Regra comum do mosteiro e os exemplos de seus maiores.

O nono grau da humildade consiste em que o monge negue o falar a sua língua, entregando-se ao silêncio; nada diga, até que seja interrogado, pois mostra a Escritura que "no muito falar não se foge ao pecado" e que "o homem que fala muito não se encaminhará bem sobre a terra".

O décimo grau da humildade consiste em que não seja o monge fácil e pronto ao riso, porque está escrito: "O estulto eleva sua voz quando ri".

O undécimo grau da humildade consiste em, quando falar, fazê-lo o monge suavemente e sem riso, humildemente e com gravidade, com poucas e razoáveis palavras e não em alta voz, conforme o que está escrito: "O sábio manifesta-se com poucas palavras".

O duodécimo grau da humildade consiste em que não só no coração tenha o monge a humildade, mas a deixe transparecer sempre, no próprio corpo, aos que o vêem, isto é, que no ofício divino, no oratório, no mosteiro, na horta, quando em caminho, no campo ou onde quer que esteja, sentado, andando ou em pé, tenha sempre a cabeça inclinada, os olhos fixos no chão, considerando-se a cada momento culpado de seus pecados, tenha-se já como presente diante do tremendo juízo de Deus, dizendo-se a si mesmo, no coração, aquilo que aquele publicano do Evangelho disse, com os olhos pregados no chão: "Senhor, não sou digno, eu pecador, de levantar os olhos aos céus". E ainda, com o Profeta: "Estou completamente curvado e humilhado". Tendo, por conseguinte, subido todos esses degraus da humildade, o monge atingirá logo, aquela caridade de Deus, que, quando perfeita, afasta o temor; por meio dela tudo o que observava antes não sem medo começará a realizar sem nenhum labor, como que naturalmente, pelo costume, não mais por temor do inferno, mas por amor de Cristo, pelo próprio costume bom e pela deleitação das virtudes. Eis o que, no seu operário, já purificado dos vícios e pecados, se dignará o Senhor manifestar por meio do Espírito Santo.
Tardes e manhãs

"porventura não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava"
Lucas 24:32

Anos se passaram
Anos virão
Como tardes e manhãs
De silêncio e esperança

Tardes passarão
Manhãs virão
Com seus ocasos e auroras
Lamentos e canções

Ao anoitecer
Um abrigo
No calor de Tua companhia

Ao amanhecer
Um caminho
No seguir de Teus passos

Fernando Sabóia, de "Tardes e Manhãs"



quarta-feira, 28 de abril de 2010

O fim e a luta


Você sabe que quando terminar a luta
Não haverá mais nada
Nem perguntas nem caminhos.

Toda bota do guerreiro
E toda roupa suja de sangue
Serão entregues ao fogo
Ao fim desta batalha
Carente de memórias e de glórias.

E um menino reinará.
E seu governo não terá fim.
E o seu nome será Maravilhoso
Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade
Príncipe da paz.

Fernando Sabóia, de "Invisibilidade"

terça-feira, 27 de abril de 2010

Pensando sobre a Igreja

"O grande problema que confronta o Cristianismo não são os inimigos de Cristo. A perseguição nunca causou muito dano à vida íntima da Igreja como tal. O grande problema religioso existe nas almas daqueles de nós que nos seus corações crêem em Deus e que reconhecem sua obrigação de amá-lO e servi-lO - mas não o fazem."
Thomas Merton

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Pensando sobre a Igreja


A Cidade dos Desconjuntados

Espero que essa pequena história, escrita para ser contada no dia das crianças, traga esperança a todos os desconjuntados, inadequados, estranhos, desarticulados, solitários e sobrecarregados. Deus sabe que sou um desses.
Na graça de Jesus,

Fernando Sabóia Vieira

Aquela cidade era bem estranha. Seus habitantes eram muito diferentes uns dos outros e por isso não se davam muito bem.
Uns sempre achavam os outros esquisitos e tinham medo daqueles que não eram parecidos com eles mesmos. Por isso moravam em bairros separados e distantes.
Havia o bairro dos pés, o bairro das línguas, dos narizes, dos ouvidos, dos olhos, das pernas, das mãos, dos braços, dos joelhos, dos cotovelos, dos tornozelos.
No bairro dos pés havia pés de todo tipo: direito, esquerdo, de chulé, pé rapado, pé grande, pé pequeno, é torto...
No bairro das mãos também havia mãos de várias espécies, mão grande, mãos pequena, mão boba, mão de vaca, mãozinha, mão de molambo...
Nos outros bairros era do mesmo jeito. Se você fosse dessa cidade, em qual bairro você ia querer morar? Por que?
No bairro das línguas era um barulho enorme, que ninguém agüentava;
No dos narizes todos viviam fungando e espirrando;
No bairro dos olhos todo mundo era vigiado o tempo todo;
No dos pés era perigoso tomar um chute;
No bairro das mãos dava medo de levar umas palmadas;
No dos ouvidos as ruas eram lisas de tanta cera;
No bairro das pernas e braços nada funcionava direito, pois nem elas conseguiam se mexer nem eles podiam carregar coisas.
Já os cotovelos, tornozelos e joelhos eram muito estranhos e ninguém sabia direito para que serviam.
No centro da cidade moravam as cabeças, cheias de idéias, mas que não iam a lugar algum, nem podiam fazer nada.

O Problema dos Desconjuntados

Um dia, houve um grande problema: faltaram água e luz na cidade. Foi uma confusão total, porque todos precisavam disso.
Como nenhum bairro conseguia resolver sozinho o problema, o jeito foi marcar uma reunião com todos para decidir o que fazer.
Assim, cada bairro mandou seus representantes:
Do bairro das pernas, dos pés, dos olhos, dos braços, dos ouvidos, dos joelhos, dos cotovelos e dos tornozelos foram dois representantes de cada, porque neles havia dois partidos, o da direita e o da esquerda.
Já do bairro dos narizes e das línguas foi apenas um de cada, porque todos os narizes sentem o mesmo cheiro e uma língua só já fala demais.
Do bairro das cabeças também foi apenas uma porque, ainda que duas pensem melhor do que uma, às vezes têm idéias diferentes, o que dá muita confusão.

A Reunião dos Desconjuntados

Começou a reunião e, logicamente, quem primeiro falou foi a língua:
- As coisas estão andando mal por aqui, disse ela apontando para os pés.
- Ninguém vai dizer nada para ajudar? Já vi que só vão falar bobagem aqui hoje. Responderam os pés, já ameaçando dar uma pisada em alguém.
O nariz fungou e disse para os olhos:
- Será que alguém pode ir ver o que está acontecendo?
- Talvez algo esteja cheirando mal e ninguém esteja notando, responderam os olhos, já se fechando para dormir, se aquela reunião continuasse chata daquele jeito.
As pernas perderam a paciência, se esticaram e exigiram:
- A gente bem que precisava de uma mãozinha!
As mãos entenderam o recado e já responderam bravas:
- É melhor sair correndo quem não quiser tomar uns tapas.
Os braços, que até ali estavam cruzados, resolveram entrar na discussão e reclamaram:
- Por que ninguém se ajoelha e ora?
Os joelhos não acharam graça e responderam na hora:
- E se todo mundo se abraçasse bem forte, em vez de ficar brigando?
Os cotovelos e tornozelos só ficavam observando porque não sabiam para que estavam ali.
A língua, mal criada como era, começou a falar alto e resolveu provocar a cabeça, que estava até agora só pensando:
- Com tanta cabeça inteligente por aí, por que será que mandaram para cá justamente uma cabeça oca? Gritou ela.
Aí começou uma discussão enorme e ninguém entendia mais nada:
- Aqui ninguém se enxerga mesmo, não é? Diziam os olhos.
- Vocês parecem que são surdos! Gritavam os ouvidos.
Isso não está cheirando bem! Tem gente que não toma banho! Anunciava o nariz.

A solução para os Desconjuntados

Quando a confusão ficou grande mesmo e parecia que tudo ia terminar em briga, a cabeça resolveu entrar no debate e decidir tudo:
- Calma aí, todo mundo. Sou eu quem manda aqui. Sou eu quem pensa. Cada um de vocês foi criado para fazer uma coisa diferente e todos têm que ajudar, porque um não pode fazer a parte do outro. Não tem ninguém mais feio ou menos importante. Se cada um fizer sua parte vai dar tudo certo.
- Tornozelos e joelhos. Juntem os pés e as pernas para que eles possam andar.
- Cotovelos, movimentem os braços e as mãos que possam trabalhar.
- Olhos, prestem atenção para que nada dê errado.
- Nariz, se sentir algum cheiro estranho avise logo.
Ouvidos e língua, escutem as opiniões de cada um e comuniquem aos outros o que for decidido.

A Nova Cidade

Então, uma grande mudança começou a acontecer. Quando todos começaram se juntarem uns aos outros e a se ajudarem uns aos outros conseguiram fazer coisas que antes não podiam. Agora, dava para andar, ouvir, sentir, falar, trabalhar, tudo de acordo com as ordens da cabeça.
Logo a cabeça anunciou:
- Já encontrei a solução para nossos problemas de falta de água e luz. Jesus disse: "Eu sou a luz do mundo". Ele também falou que quem beber da água que Ele dá nunca mais tem sede. É dele que precisamos. Vamos todos ajudar para que Ele seja o Senhor de cada um de nós.
Desde aquele dia, tudo mudou na cidade. Já não tinham medo uns dos outros e passaram a ficar próximos especialmente dos diferentes, para poderem se ajudar uns aos outros.
A cidade ficou tão diferente que resolveram mudar seu nome. Cidade dos Desconjuntados já não era um nome legar.
Que novo nome você daria para aquela cidade?

Fim da História

Na bíblia está escrito que nós, que somos da igreja de Jesus, somos membros do seu Corpo. Isso quer dizer que somos diferentes porque fomos feitos para fazermos coisas diferentes e, assim, ajudarmos uns aos outros. Mas fazemos parte do mesmo Corpo e se algum faltar o Corpo não estará completo.
Ninguém é melhor ou mais importante ou mais bonito. Todos são úteis e necessários.
Cada um tem a sua tarefa, que só ele pode fazer. Só o olho poder ver e só o ouvido pode ouvir.
E cada um precisa dos outros, pois não pode fazer a parte do outro. A língua não pode cheirar, nem o nariz falar.
Além disso, precisamos estar ligados uns aos outros, pois se o pé não estiver ligado na perna nenhum dos dois pode andar. Se as mãos e os braços não estiverem juntos, nada se consegue fazer.
É dessa maneira que a Igreja deve viver. Como o Corpo de Cristo, com todos ligados e ajustado, para fazer tudo o que Ele, que é o cabeça, o chefe do Corpo, ordenar.
Para isso, precisamos ser amigos e companheiros mesmo daqueles que são diferentes de nós, e não pensarmos nem que somos melhores e nem que não somos importantes para o Corpo. E, principalmente, obedecer ao Cabeça, que é Jesus.
Se você é um desconjuntado e vive sozinho, tentando dar conta de fazer tudo sem a ajuda de ninguém, saiba que você tem um lugar especial no Corpo de Cristo, na Nova Cidade que ele está preparando para sua Igreja.

"Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros." Romanos 12:4-5
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

Reflexões Perplexas

FORTES OU FRACOS?


Irmãos queridos,

O Senhor requer que sejamos fortes ou fracos? Antes que a pergunta pareça tola ou descabida, devo lembrar que há peremptórias exortações bíblicas nos dois sentidos.

Devemos ser "fortes e corajosos", sem "medo ou temor" quando se trata de exercer a fé, de se apossar das promessas, de enfrentar o inimigo e as adversidades ... "porque sois fortes, e a palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno".

Por outro lado, o Apóstolo Paulo atreve-se a dizer que se alegrava em suas fraquezas. O Evangelho é revelado aos pequeninos e não aos poderosos, e o Senhor escolheu "as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes".

É claro, assim, que devemos ser fracos e que devemos também ser fortes. Mas onde encontraremos, então, um ponto de direção, de equilíbrio entre essas duas posturas tão díspares. Será que em determinadas situações seremos fortes e noutras fracas? Ou precisamos ser, em todas as circunstâncias, de algum modo, ao mesmo tempo fortes e fracos?

Creio que a solução desse paradoxo está no fato constante de que precisamos, sempre, em qualquer situação ou circunstância, sermos dependentes do Senhor.

Quando dependemos do Senhor somos fracos e somos fortes.

Somos fracos porque reconhecemos que nada podemos fazer, que somos incapazes de prover, para nós ou para qualquer pessoa, socorro, consolo, direção. Somos fracos porque não temos a ilusão de, por nosso próprio esforço, produzir nada que possa agradar ao Senhor ou produzir bem genuíno.

Todavia, somos fortes, porque, quando dependemos do Senhor, proclamamos que Ele é poderoso em nós para realizar qualquer coisa, vencer qualquer obstáculo, operar qualquer transformação. Somos fortes porque nos colocamos não mãos do Deus Todo Poderoso, que não conhece limite ou obstáculo ao Seu poder.

Assim, queridos, em qualquer circunstância, provação ou aflição, aprendamos a depender do Senhor, completamente fracos em nós mesmos, completamente fortalecidos Nele.

"Bem aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração se encontram os caminhos aplanados..."
"Quando sou fraco, então é que sou forte..."
"Tudo posso naquele que me fortalece..."

Fernando Sabóia Vieira, de "O Livro dos Perplexos"

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mudança de Estação, 2

esta noite, lutarei


"... até que o dia clareie
e a estrela da manhã nasça no coração"


novamente nublado
e frio,
chuva intermitente
pensamento intermitente
frio
e nublado novamente

reencontrei a coragem perdida
nos escombros da alma partida
nos despojos
das lutas perdidas...

não desejo mais o dia

esta noite, lutarei


Fernando Sabóia, de "Tardes e Manhãs"

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Mudança de Estação



Invernadas

"Eu sou a brilhante Estrela da Manhã"


colho tímidas luzes
de minhas longas invernadas

nunca pude ver melhor o sol
por entre as gretas enviesads
dessas janelas sempre fechadas
para o futuro

vou prosseguir
perseguindo a alvorada eterna
sem me impressionar com os grandes discursos
desses soberbos dias ensolarados

Fernando Sabóia, de "Tardes e Manhãs"

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Orações do Cotidiano

A PRAYER AT COFFEE TIME

Somehow, Jesus, I like praying with a cup of coffee in my hands. I guess the warmth of the cup settles me and speaks of the warmth of your love. I hold the cup against my cheek and listen hushed and still.
I blow on the coffee and drink. O Spirit of God, blow across my life and let me drink in your great Life.
Amen.
Richard Foster, "Prayer from the Heart".

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A oração e a paternidade de Deus


UM POUCO DE ANDREW MURRAY (1828-1917), 2º TEXTO

"Quanto mais...?" ou A Infinita Paternidade de Deus
(Mateus 7:9-11)


Nessas palavras nosso Senhor vai mais além no sentido de confirmar o que Ele havia dito sobre a certeza de resposta de oração. Para eliminar toda dúvida, e nos mostrar em que fundamento seguro Sua promessa se apoia, Ele apela para algo que todos nós já vimos e experimentamos aqui neste mundo. Nós todos somos filhos, e sabemos o que esperamos de nossos pais terrenos. Nós somos pais, ou os vemos continuamente, e por todos os lugares em que olhemos a coisa mais natural que há é um pai ouvir seu filho. E o Senhor nos pede para considerarmos os pais terrenos, dos quais os melhores são maus, e avaliarmos o quanto muito mais o Pai celestial dará boas coisas àqueles lhe pedirem. Jesus quer nos levar a ver que o quanto Deus é maior do que o homem pecador, tanto maior deve ser a segurança de que Ele mais certamente do que qualquer pai terreno considerará os pedidos de seus filhos. O quanto Deus é maior do que o homem, na mesma proporção é mais certo que a oração será ouvida pelo Pai dos céus do que pelo pai na terra.

Tanto quanto essa parábola é simples e de fácil compreensão assim também ela é profunda e espiritual no seu significado. O Senhor quer nos lembrar que a influência da oração de um filho provém inteiramente da relação que ele tem com seu pai. A oração só pode exercer essa influência quando o filho estiver realmente vivendo esse relacionamento, em casa, no amor e no serviço do Pai. O poder da promessa "Pedi e dar-se-vos-á" repousa no relacionamento amoroso entre nós como filhos e o Pai celeste. Quando vivemos e andamos nesse relacionamento, a oração de fé e sua resposta serão o seu resultado natural.

Então, a lição de hoje na escola da oração é essa: viva como um filho de Deus e você será capaz de orar como filho e, como filho, será muito seguramente ouvido.

E o que é uma verdadeira vida de filho? A resposta pode ser encontrada em qualquer lar. O filho que abandona a casa do pai, que não encontra prazer na presença, no amor e na obediência ao pai, e mesmo assim pensa em pedir e obter o que quer ficará certamente desapontado.
Ao contrário, aquele para quem a comunhão, a vontade, a honra e o amor do pai são a alegria de sua vida, este descobrirá que é alegria para o pai atender a seus pedidos. As Escrituras dizem: "todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus". O direito filial de pedir tudo é inseparável da vida filial sob a direção do Espírito.

Aquele que se entrega à condução do Espírito em sua vida será conduzido por Ele também em suas orações. E descobrirá que a doação paternal é a resposta divina para a vida filial.
Para vermos o que é essa vida de filho, na qual os pedidos e a fé filiais têm seu fundamento, basta atentarmos para o que o Senhor ensina no Sermão do Monte sobre o Pai e Seus filhos. Nas promessas da oração estão embutidos os preceitos de vida, as duas coisas são inseparáveis. Elas formam um todo, e só pode contar com o cumprimento da promessa aquele que aceita também tudo o que o Senhor vinculou a ela.

É como se ao dizer "Pedi e dar-se-vos-á", Ele também dissesse: Eu faço essas promessas àqueles filhos que eu descrevi nas bem-aventuranças em sua pobreza e pureza de crianças, dos quais afirmei "serão chamados filhos de Deus" (Mateus 5:3-9); àqueles filhos que "deixam sua luz brilhar diante dos homens, a fim de que eles glorifiquem Seu Pai que está nos céus"; àqueles filhos que andam em amor, para serem "filhos do Pai que está nos céus", e que procuram ser perfeitos "como perfeito é nosso Pai que está nos céus" (v.45); àqueles cujo jejum, oração e esmolas não estão diante dos homens, mas diante do Pai que vê em secreto; àqueles que perdoam como o Pai os perdoa.

Amados companheiros de discipulado. Começamos a ver porque razão conhecemos tão poucas respostas cotidianas à oração, e que lição essencial é essa que o Senhor tem para nós em Sua escola. E tudo em nome do Pai.

Nós pensávamos em novos e profundos entendimentos em alguns dos mistérios do mundo da oração como aquilo que aprenderíamos na escola de Cristo. Ele nos diz que a primeira lição é a maior de todas: nós precisamos aprender a dizer corretamente "Abba, Pai", "Pai nosso, que estás nos céus". Aquele que pode dizer isso tem a chave de toda oração. Em toda a compaixão com que o Pai ouve seu filho fraco e doente, em toda a alegria com que o ouve balbuciar, em toda a paciência terna com que Ele suporta sua imaturidade, nós devemos, como em muitos espelhos, estudar o coração do nosso Pai, até que cada oração seja nascida da fé nessas palavras divinas: "Quanto mais vosso Pai celeste...".

SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR.

Bendito Senhor! Tu sabes que essa, embora seja uma das primeiras, mais simples e mais gloriosas lições na Tua escola, é para nosso coração uma das mais difíceis de ser aprendida: sabemos tão pouco sobre o amor do Pai. Senhor, ensina-nos a viver com o Pai de tal forma que Seu amor possa ser para nós mais próximo, mais claro e mais querido do que o amor de qualquer pai terreno. E que nossa confiança no seu atento ouvir das nossas orações seja tão maior do que a confiança em qualquer pai terreno quanto os céus são mais altos do que a terra, quanto Deus é infinitamente maior do que o homem.

Senhor! Mostra-nos que é apenas nossa distância não filial do Pai que impede a resposta da oração e nos conduza a uma verdadeira vida de filhos de Deus.

Senhor Jesus! É o amor paternal que desperta a confiança filial. Revela-nos o Pai, e Seu terno e misericordioso amor, para que possamos viver como filhos e experimentarmos o fato de que na vida filial repousa o poder da oração.

Bendito Filho de Deus. O Pai te ama e a Ti deu todas as coisas. E Tua amas o Pai e fizestes todas as coisas que Ele ordenou e, assim, tens o poder de requerer todas as coisas. Senhor, dá-nos Teu próprio Espírito, o Espírito do Filho. Faz-nos filhos como Tu fostes na terra. E que cada oração seja inspirada pela fé de que tanto quanto os céus são mais elevados do que a terra, assim o amor paternal de Deus e sua prontidão em nos dar o que pedimos ultrapassa o que possamos pensar ou conceber. Amém.

De "Com Cristo na Escola da Oração", Cap. 6.
Tradução de Fernando Sabóia Vieira

Obs. Esse livro de Andrew Murray foi recentemente lançado em português, pela Editora dos Clássicos. A tradução publicada aqui no Baú foi feita a partir de original disponível no site http://www.ccel.org/.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Graça de Deus

Caros irmãos,

Que a experiência transformadora e libertadora da Graça encha cada hora de nosso dia.

Fernando


Graça


minha voz
diluída
num mar de vozes
uníssonas

meu rosto sem
contornos
numa multidão de rostos
transfigurados

minha vida tão
comum
entre tantas vidas
singulares

graça
é ser achado único
na multidão de iguais,
é ser igual
num universo de
seres únicos

é ser chamado pelo nome
escolhido de onde estava
aceito assim mesmo


Fernando Sabóia, de Veredas no Deserto.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Um pouco do Sadu SUNDAR SINGH


Sadu SUNDAR SINGH (1889-1929?)
O Apóstolo dos Pés Sangrentos

Caros leitores do Baú,

SUNDAR SINGH nasceu em 3 de setembro de 1889, no Estado de Patiala, na Índia, e acredita-se que tenha morrido no Himalaia em 1929, na sua última viagem missionária àquela região, na tentativa de chegar ao Tibet, seu grande objetivo.
Converteu-se ao cristianismo aos quinze anos de idade, após uma experiência pessoal com Jesus, numa visão. Sua família, então, o rejeitou e o considerou como morto.
Recebeu formação de missionários anglicanos e a partir de 1906 passou a viver como um Sadu, espécie de monge hindu nômade, peregrinando por toda a Índia para pregar o Evangelho.
Por sua vida de pobreza e peregrinações, ficou conhecido como o "apóstolo dos pés sangrentos", título de uma biografia sua disponível em português, de autoria de Boanerges Ribeiro (CPAD).
Ele visitou a Europa e os Estados Unidos, onde fez várias preleções, entre as quais esta que trata sobre o sofrimento, que apresento aos leitores do Baú. Não muitos, talvez, possam tratar desse assunto com igual autoridade de vida.
Graça seja com todos.
Brasília, 7 de abril de 2010.
Fernando Sabóia Vieira



UM POUCO DO Sadu SUNDAR SINGH (1889-1929?)
O Apóstolo dos Pés Sangrentos

O MISTÉRIO DA CRUZ E DO SOFRIMENTO – Parte 1
Por Sadu SUNDAR SINGH

O discípulo:
Senhor, o que significa a cruz? Por que há tanto sofrimento e males no mundo?

O Senhor:

1. A cruz é a chave dos céus. Os céus se abriram no momento em que, pelo batismo e por amor aos pecadores, eu tomei sobre mim a maldição da cruz. E o céu, até então fechado por causa do pecado, permanece aberto para os crentes, graças aos trinta e dois anos e meio durante os quais eu carreguei minha cruz e graças a minha morte no Calvário. Desde então, o crente que toma sua cruz e me segue entra sem demora no céu, através de mim.
João 14.6 Jesus lhe disse: eu sou o caminho a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. Ele recebe a graça de uma alegria sem fim, que o mundo não pode conceber, porque o céu está fechado aos incrédulos. Tudo o que um incrédulo pode esperar é ver a alegria substituir um dia o sofrimento e mesmo assim ele não ousa esperar uma alegria perfeita. Quanto a mim, eu concedi a meus filhos a alegria no sofrimento e, mais tarde, uma alegria perfeita com o repouso eterno. A cruz conduz aqueles que a conduzem e os conduz ao céu pela eternidade.

2. O sofrimento provém do estado de desordem e de perversão no qual vive o homem natural, do mesmo modo que o calor faz mal aos habitantes dos países frios, assim como o frio não convém àqueles dos países quentes.
O frio e o calor dependem da posição relativa da terra e do sol, e o homem, segundo o uso que faz de sua livre vontade, cria um estado de harmonia ou de desacordo com Deus. Os mandamentos de Deus têm em vista a saúde espiritual e a verdadeira felicidade da criatura. Se rebelar contra eles implica tornar a alma doente, triste e carente. O Senhor, antes de suprimir as causas desse desacordo, dessa hostilidade, preferiu transformá-las em coisa melhor. Ele se serve das condições penosas da existência para fazer sentir ao coração do homem que ele não foi criado apenas para esta terra, a qual é apenas um país estrangeiro.
2a Coríntios 5:1-11. Sabemos que, de fato, se esta tenda em que habitamos sobre a terra for destruída, nós temos no céu um edifício que é obra de Deus, uma morada eterna que não foi feita por mão humana. Também nós gememos nesta tenda, desejando nos revestir de nosso lar celeste, mas ela nos prepara para habitar a morada eterna. O homem está assim constantemente em guarda vigilante por causa das pressões e das aflições deste mundo, no temor de que sua negligência e seu coração sonolento o façam esquecer as realidades eternas e que ele seja destruído juntamente com sua morada terrena. Isso também a fim de que, na comunhão com seu Criador, liberto dos males e dos sofrimentos desta curta vida, o homem possa entrar para sempre na alegria e na felicidade perfeitas do céu.

3. O sofrimento e a aflição parecem muito amargos, freqüentemente até mesmo venenosos; mas, também freqüentemente, para curar um doente de envenenamento é necessário utilizar veneno.
Assim é que pela via do sofrimento e por meio da aflição que parecem bem amargos eu concedo saúde de alma e força aos meus fiéis discípulos. Uma vez que uma saúde perfeita seja assim obtida, eu ponho fim ao sofrimento, pois eu não tenho prazer na aflição.
Lamentações 3:31-34. O Senhor não rejeita para sempre. Mesmo que ele aflija, ele tem compaixão segundo sua grande misericórdia. Meu único objetivo é a felicidade eterna de minhas criaturas.

4. O abalo produzido por um tremor de terra faz por vezes jorrarem de um solo ressecado fontes de águas benfazejas, que brotam e fertilizam terras até então áridas e incultivadas. Do mesmo modo, o abalo produzido por um grande sofrimento faz jorrar no homem fontes de água viva. Então, ao invés de murmuração, é a alegria e o reconhecimento que brotam de seu coração.
Salmo 119:67-79. Antes de ser humilhado, eu me desgarrei; agora eu observo a tua palavras. Tu és bom e benevolente, ensina-me teus estatutos.

5. Para que o ar, penetrado nos seus pulmões os dilate e faça viver, é indispensável que o recém nascido grite e chore. Se ele não o fizer espontaneamente, é preciso bater nele para obrigá-lo. No meu imenso amor por meus filhos, eu sou às vezes obrigado a açoitá-los pelo sofrimento e pela tribulação. Se eu os forço assim a chorar e gritar é a fim de seu ser espiritual se dilate e que a oração, que é a respiração da alma, se torne mais intensa levando-os a obter uma vida nova que lhes seja eterna.

6. A noz é uma imagem da cruz: seu invólucro exterior é bem amargo, mas, interiormente, ela está cheia de uma amêndoa saborosa e fortificante.
A cruz não tem nem beleza e nem doçura aparentes, mas aquele que a conduz fielmente descobre seu verdadeiro caráter. Ele nela encontra um fruto de paz de um sabor delicioso.

7. Vindo em forma de homem, eu suportei a cruz para a salvação da humanidade, e isso não apenas durante seis horas no dia de minha morte ou durante os três anos e meio de meu ministério, mas durante também trinta e três anos e meio, e isso para que os homens pudessem ser salvos da dor e da amargura da morte.

8. Para um homem acostumado à limpeza é difícil ser encerrado, mesmo que por alguns minutos, num lugar sujo e pestilento. Para os que vivem em íntima comunhão comigo é difícil permanecer em meio a pecadores impenitentes.
É por essa razão que certos homens de oração, desgostosos com seu ambiente de pecado, deixaram o mundo para viveres solitários em grutas no deserto. Considerem esse fato de que, uma vez que um homem obtém uma salvação perfeita, ele começa a se ressentir do amargor do pecado de uma maneira tão pungente que ele chega a achar difícil viver em meio aos outros homens, mesmo que por pouco tempo. Do mesmo modo não se permitem mais viver em meio à multidão. Quão grandes terão sido para mim, Santo e Fonte de toda justiça, as dificuldades e amarguras da cruz durante os trintas e três anos que eu passei em meio aos pecadores e na sua constante intimidade, isso o espírito humano é por demais limitado para compreender perceber exatamente essas profundezas as quais os próprios anjos desejam perscrutar (1a Pedro 1:12), pois eles sabem, melhor que quaisquer outras criaturas, que Deus é amor. Uma coisa ainda mais impressionante e bela é que o amor de Deus se manifeste tão extraordinário e tão maravilhoso ao ponto de, para salvar pecadores, Ele mesmo se tenha encarnado, tomando sobre si toma amargura da Cruz para lhes obter a vida eterna.

9. No momento, eu carrego e compartilho a cruz e os sofrimentos de todos os que são meus, embora eles sejam criaturas e eu o Criador.
Atos 9:4. Ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Embora corpo e espírito sejam duas entidades muito distintas, eles são de tal forma unidos entre si que são inseparáveis; assim, se o membro mais insignificante do corpo sofrer, o espírito tem consciência disso. Eu sou a vida e a alma de meus filhos, que são meu corpo e meus membros; eu me ressinto de todas as suas dores, todos o seus sofrimentos e eu os socorro e livro no tempo oportuno.

10. Tendo eu mesmo passado pelo fogo e tomado minha cruz, eu posso proteger e salvar aqueles que são envolvidos pelas chamas da tribulação.
Êxodo 3:2-6. Daniel 3:23-25. 1a de Pedro 4:12-13. Como a salamandra não morre jamais por maior que seja a violência do fogo, aqueles que receberam o batismo flamejante do Espírito Santo e que são nascidos de novo estão para sempre em segurança, mesmo que passem pelo fogo: eles estão em Mim.

Fonte:
www.enseignemoi.com/.../le-mystere-de-la-croix-et-de-la-souffrance.html

Tradução:
Fernando Sabóia Vieira

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Páscoa


Páscoa: uma crônica sobre a liberdade cristã

Irmãos queridos,

Nesses dias somos chamados a meditar no sacrifício de Jesus, nosso Cordeiro Pascal. Os elementos da história de Israel, na qual se insere a Ceia do Senhor e Seu martírio, nos inspiram e nos revelam o mistério de Deus em Cristo: a escravidão, o chamado, a resistência, a mão poderosa de Deus, o sacrifício dos primogênitos, a expiação pela morte vicária do animal, o sangue, a aliança, a peregrinação pelo deserto, a Terra Prometida.
Libertados do jugo do Faraó, os hebreus descobriram, na passagem pelo deserto, que a escravidão lança seus grilhões e algemas profundamente na alma humana e, assim, eles não conseguiram viver a liberdade naquela geração que fora criada no Egito. Deus teve que esperar os filhos nascidos no deserto, mas nascidos livres, para dar cumprimento a Sua promessa feita a Abraão.
Também nós fomos libertados da escravidão do pecado, chamados à comunhão com o Senhor, enviados a uma peregrinação e a uma missão até o dia em que estaremos no Reino Eterno.
"Foi para a liberdade que Cristo vos libertou", proclama o apóstolo. Jesus nos libertou para vivermos como livres. No entanto, como ocorreu com aquela geração que saiu do Egito, nossa alma permanece, muitas vezes, encolhida, tímida, temerosa de sua liberdade diante do desconhecido, das imprevisíveis e incríveis possibilidades que se nos apresentam como desafios existenciais no seguir Jesus e viver o Seu Reino neste mundo hostil.
Fomos, por muito tempo, escravos do tempo, da razão, do natural, do possível. Fomos escravos da história, da cultura, da sociedade que criamos, dos costumes que inventamos, dos valores que incorporamos para tornar tolerável a existência, para apaziguar nossa angústia e alienação. Fomos escravos de nós mesmos, de nossas limitações e do nosso egoísmo, forças que nos atraem poderosamente para o centro de nós mesmos. Fomos escravos e em nós ainda permanecem, profundas em nossa alma, marcas das algemas que nos prendiam. Não raro, nos comportamos como se ainda estivéssemos presos a elas.
Lembro a história de um menino que mantinha um grande elefante preso a um barbante. Perguntado por que o animal não se soltava, o garoto respondeu: "É que eu o mantenho preso assim desde filhote, quando ele não tinha forças para romper o laço. Agora, está acostumado, nem tenta mais...".
Amados, Jesus nos libertou para que fôssemos livres. Livres para andar pela fé, e não pela razão, para experimentar o sobrenatural, além do natural, para vencermos os desafios que nos levarão à eternidade, para amarmos contra o nosso egoísmo, para sermos santos a despeito do pecado, para a comunhão com Ele, embora criaturas imperfeitas e limitadas. Habita em nós o poder que ressuscitou Cristo dentre os mortos. Por que não o usamos? Porque fomos criados escravos e não sabemos viver a liberdade que temos.
Os hebreus não eram guerreiros até aquele momento de sua história. Haviam sido pastores nômades, agora eram escravos. Quando chegaram ao Egito não passavam de um clã familiar. Quatrocentos e trinta anos de servidão não os haviam preparado para a vida em liberdade.
Desse modo, sua libertação não veio por meio de um processo de conscientização, de reivindicação de direitos ou de luta de classes. Não foi obra do povo e nem de seus líderes. Não teve a ver com nenhuma lógica de dialética histórica. Sua libertação foi um ato poderoso da soberania de Deus. Eles foram violenta e quase forçosamente lançados à liberdade!
Nós, cristãos, muitas vezes nos vemos assim: desafiados a uma vida de liberdade, de lutas, de confrontos, de experiências tremendas com o Senhor, com Sua Presença, Sua Santidade e Poder para a qual não nos sentimos capacitados ou preparados.
No entanto, podemos ter a confiança de que contamos com melhor ajuda do que a obtida por Israel, com melhores promessas, com um superior sacrifício e com uma mais perfeita aliança. Alguém maior do que Moisés. Um Cordeiro humano, sem defeito, provido pelo próprio Pai. A vitória sobre a morte na manhã de domingo, o Espírito de Deus derramado sobre os homens.
Não apenas libertados de uma escravidão social ou política, mas libertados de nós mesmos, do pecado, do poder das trevas e do domínio da morte. Ele mesmo, o Cordeiro que esteve morto mas que vive, vem habitar em nós, pelo Seu Espírito eterno.
Não podemos nos esquecer de que um dos significados da Páscoa é passagem, caminho, saída, peregrinação para o lugar da promessa. Nós, às vezes, cuidamos muito mais do que ficou para trás, do Egito que abandonamos, nos fixando no que renunciamos, nos vícios que tínhamos e na morte na cruz do que no que o Senhor nos propõe à frente, em Canaã para onde vamos, contemplando suas delícias e virtudes, desejando viver a vida que desceu da cruz.
Olhando para trás, o caminho sempre nos parecerá ter sido até ali longo e penoso, cheio de dores e de perdas, o que nos dá pouco ânimo para prosseguir. Olhando para frente, entretanto, para a promessa, somos renovados, como Calebe, que, aos oitenta anos, após quarenta de caminhada pelo deserto, se declara tão forte e disposto quanto no início da jornada. Calebe não envelheceu porque embora seus olhos naturais vissem o deserto, sua alma guardava a imagem da Terra Prometida que ele tinha visitado como espia, e a contemplava intimamente, a tornava atual e poderosa pela fé, se enchia dela. Assim, o caminho não lhe foi longo e as aflições tidas como "leves e momentâneas".
Caros irmãos, o sacrifício de Jesus nos convoca a vivermos contemplando a promessa, com os olhos na eternidade, no Autor e Consumador da nossa fé, enquanto cumprimos nossa jornada e nossa missão como servos do Reino.
Seremos, assim, continuamente renovados e sustentados pelo Senhor, vivendo a liberdade para a qual Ele nos libertou. O caminho não nos parecerá penoso, deixaremos "as coisas que para trás ficam" e seguiremos para o alvo, para o "prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus".
Graça seja com todos.

Brasília, Páscoa de 2010, aD.

Fernando Sabóia Vieira

///fsv

sábado, 3 de abril de 2010

Páscoa

por andar demais


andei tanto até aqui
tantos lugares
coisas demais
para querer eu vi

com algumas brinquei
outras nem bem quis
outras, de longe me deram
adeus

de tantas e de todas
só uma me fez
sempre voltar
sofrer, sorrir
querer um lar:

meu mestre num madeiro
dizendo um perdão puro
dolorido e inteiro
para homens,
homens como eu
sem rumo, sem luz
sem nada de seu


Fernando Sabóia, de Veredas no Deserto.