segunda-feira, 31 de outubro de 2022

 Mensagem Pastoral pós Eleições 2022

 

(Fernando Saboia Vieira)

 

 

                                            Brasília, em 31 de outubro de 2022, AD.

 

 

Caros irmãos e irmãs, companheiros de jornada,

 

 

         O processo eleitoral presidencial deste ano terminou e um candidato foi apontado vencedor. Podemos avaliar esse resultado a partir de dois pontos de vista, pelo menos.

         Analisando de um ponto de vista meramente humano, pode-se considerar as regras jurídicas, sua interpretação e aplicação, as dinâmicas sociais e econômicas e os interesses e poderes envolvidos. Dada a margem mínima da vitória e as controvérsias que marcaram todo o processo, é possível que por muito tempo se discuta essa eleição e o seu resultado.

         No entanto, do ponto de vista espiritual, podemos reafirmar alguns fundamentos de verdade e de fé que temos explicitado ao longo desses meses, em textos, em mensagens e em conversas.

         Nunca se tratou de uma disputa entre Deus e seus adversários. O Soberano Deus, Eterno e Todo-Poderoso, não entra em disputas humanas. Quando lhe apraz, Ele, simplesmente, manifesta e executa a Sua vontade. Ele não assume partidos, candidatos ou ideologias. 

Assim, se Ele o permitir, o presidente eleito tomará posse e governará, e nós, como cristãos, respeitaremos sua autoridade, como é mandamento do Senhor, ainda que divergindo em várias ideias, valores e conceitos, e mesmo nos dispondo a enfrentá-lo nas arenas sociais e políticas a nós permitidas como cidadãos.

         Sabemos, também, que este mundo jaz no maligno, e que a maioria das pessoas do nosso país, infelizmente, é escrava do pecado e vive sob o domínio e influência do príncipe das trevas. Chamadas a se posicionarem num processo eleitoral democrático, manifestarão isso, de um lado ou de outro da disputa. 

Também somos advertidos pela Palavra que a sociedade humana tende a se afastar cada vez mais de Deus, com o aumento da iniquidade e o esfriamento do amor. Contamos com a graça e o poder do Senhor, pelo Seu Espírito, para vivermos e enfrentarmos esses tempos difíceis sem deixar de cumprir nossa missão.

 

         Infelizmente toda essa situação vivida pelo nosso país trouxe confusão e divisão no meio da Igreja de Jesus, com a perda da identidade dos cristãos perante a sociedade e do testemunho do Evangelho. Como temos dito, o Brasil se torna cada vez mais “evangélico” e cada vez menos cristão. Lamentavelmente. 

         É tempo de a Igreja do Senhor reafirmar sua identidade, seus valores, seu testemunho e sua missão. Proclamar o Reino de Deus, levar as pessoas a se arrependerem, desistirem deste mundo, a se reconciliarem com o Senhor e a colocarem nele, apenas nele, sua esperança.

         É tempo de reconciliar os irmãos que se distanciaram por questões e posturas em grande medida alheias aos fundamentos do Evangelho, de haver conserto e arrependimento, quando for o caso, e de pastorear, consolar e socorrer aqueles que estejam tristes, cansados, aflitos, assustados, desesperançados. 

         Precisamos voltar a nos envolvermos com os dramas e problemas das pessoas, especialmente das que sofrem, das que não têm recursos nem socorros neste mundo, assim como daquelas que estão iludidas com falsos prazeres, seguranças e esperanças. A resposta da Igreja às utopias construídas pelas ideologias humanas deve ser uma vida pessoal e em comunidade que aponte para a eternidade e para o amor de Deus e que tenha já efeitos e frutos aqui, nesta existência.

         Viveremos dias difíceis, disso já sabíamos. Enfrentaremos um governo ímpio, também disso já sabíamos, independentemente do resultado das eleições. Mas esse é o mundo dos homens. Não podemos ter a ilusão de que será diferente. Ao contrário. O processo histórico da humanidade descambará no caos moral e espiritual, até a intervenção final do Senhor.

         Ainda assim, nosso chamado não é para fugirmos do mundo. Ao contrário. Fomos, como Igreja, dados ao mundo para sermos instrumentos da graça e da verdade de Jesus. Assim como o Pai amou o mundo de tal maneira que lhe deu o Seu Filho, também o Filho amou o mundo de tal maneira que lhe deu a Igreja, como o mesmo propósito de salvação.

         Não devemos nos esconder, não podemos abandonar as frentes de embate com o mundo. Não é digno enterrarmos nossos talentos. Se temos inimigos, a nós nos cabe, como discípulos de Jesus, amá-los e servi-los, ainda que nos firam cruelmente e blasfemem contra Deus. É o Senhor mesmo quem reivindicará a santidade de Seu nome!

         Precisamos, hoje, formar e fortalecer a geração de cristãos à qual caberá o testemunho, a proclamação e, talvez, o martírio ao final deste século. 

Precisam ser forjados na adversidade, como aquela geração nascida no deserto, criada em meio a dificuldades, inimigos e incertezas, mas que se tornou apta a entrar em Canaã, porque alimentada com fé, coragem e esperança e adestrada para os enfrentamentos e conflitos, diferentemente de seus pais que, embora libertados, traziam ainda as cadeias da escravidão egípcia na alma.

         Amados, essa é nossa vocação. Nos custará dores e sacrifícios, mas nos proporcionará dons de valor eterno, já nesta existência: amor, alegria, paz, esperança. Manifestação da glória de Deus. Comunhão com Ele. Transformação na Sua própria Imagem.

         Ressoam para nós as palavras do profeta da antiguidade, em tempos muito aflitivos para o povo de Deus:

 

         “Não chameis conjuração a tudo quanto este povo chama conjuração; não temais o que ele teme, nem tomeis isso por temível.

         Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai, seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto.” (Isaías 8:12-12)

         

         Irmãos e irmãs, queridos companheiros de jornada, que a suficiente e poderosa graça de Jesus seja com cada um de vocês e com toda a família de Deus.

 

         Soli Deo Gloria.

 

         Seu conservo e companheiro de jornada,

 

         Fernando Saboia Vieira

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