quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Mensagem Pastoral sobre as Eleições de 2022

Queridos irmãos e irmãs,

 

                                                         Brasília, em outubro de 2022, AD.

 

 

Estamos nos aproximando do desfecho do presente processo eleitoral. Nosso país está diante de uma escolha muito importante para as próximas gerações e dividido entre duas posições diametralmente opostas quanto a temas fundamentais para nós, brasileiros e cristãos.

Temos orado, falado e conversado sobre a necessidade de nos posicionarmos como cidadãos e como cristãos, participando, escolhendo e votando de acordo com nossos princípios e valores de fé, sem nos omitirmos.

Sobre esse tema, publiquei alguns textos no meu blog pessoal, o baudofernando.blogspot.com, em que expresso meu ponto de vista quanto à participação dos cristãos e o posicionamento da Igreja na política, levando em conta, inclusive, minha experiência pessoal e profissional.

Entendemos que a situação do Brasil é grave e preocupante quanto aos caminhos a serem tomados pelo próximo governo nacional e que é necessário intensificarmos nossa intercessão e oração por nosso país.

Também nos preocupa sobremaneira a preservação do Evangelho de Jesus e o testemunho da Igreja nesta nossa geração brasileira, cada vez mais evangélica nas estatísticas e e redes sociais e cada vez menos cristã na vida.

Ao participarmos e nos posicionarmos neste momento com respeito à escolha dos governantes, precisamos ter cuidado para não vincular a Igreja e o Evangelho a nenhuma ideologia política, uma vez que todas têm suas raízes no humanismo secular e nenhuma delas está em total acordo com os valores e princípios cristãos. 

Ideologias políticas são sistemas de valores e de conceitos sociais concebidos pelos homens que se apresentam em disputa por influência e por poder para alcançar seus interesses e realizar seus ideais neste mundo. O Reino de Deus é o reino dos céus, fundado em verdades e valores eternos. O Evangelho de Jesus não propõe nenhum tipo de ideologia política ou modelo de sociedade.

Devemos, então, dentro das regras do nosso sistema constitucional, optar por aquela alternativa eleitoral que mais se aproxime do que cremos e queremos para nosso país, mas isso não pode implicar um comprometimento ideológico que nos iniba de proclamar e defender a verdade e de denunciar o mal e o pecado onde quer que se apresentem.

Como cidadãos e cristãos devemos participar da vida política de maneira comprometida e consciente, e podemos até mesmo nos oferecer como candidatos nas disputas eleitorais. 

Contudo, a Igreja, como tal, não pode ter partido ou candidato, nem participar, nessa condição, da disputa pelo poder secular. Esse foi um caminho expressamente recusado por Jesus nas várias vezes em que se manifestou sobre a política do seu tempo.

Deve-se manter clara a separação entre Igreja e Estado, como ordenado pelo Senhor, uma vez que o Evangelho não propõe nem defende nenhum modelo específico de sociedade ou de ordenação de governo. O Reino de Deus somente terá uma expressão política terrena quando Jesus voltar, por isso a militância político partidária, embora legítima para os cristãos pessoalmente, é incompatível com a Igreja enquanto instituição divina, seus propósitos e vocação. 

         Mais ainda, devemos ter cuidado para que nossa participação como cidadãos e cristãos no processo político eleitoral não promova dissensões ou divisões na Igreja, nem comprometa nosso testemunho perante a sociedade, confundindo a fé e a verdade do Evangelho, que são eternos, com posicionamentos eleitorais e ideológicos circunstanciais.

         O partidarismo é próprio da política, assim como as disputas e os posicionamentos na contraposição entre aliados e adversários. Essa mentalidade e atitude não devem de nenhum modo ser transpostas para o Corpo de Cristo e promover a separação daqueles por cuja aproximação o Senhor morreu na cruz.

         Não podemos tratar como pecados e desvios doutrinários entendimentos e posicionamentos pessoais sobre temas acerca dos quais não temos mandamentos do Senhor, nem enviesar nossa interpretação das Escrituras para sustentar nossos pontos de vista quanto a eles.

         Temos visto as Escrituras serem citadas por todos os lados da atual disputa sem o devido cuidado e coerência com o que elas, de fato, dizem, indo-se a favor ou contra uma ou outra posição preconcebida. 

Amados irmãos e irmãs, fundamentados na certeza de que Deus opera em todas as coisas segundo seu propósito, não tememos o resultado dessas eleições, o que quer que ele nos traga. Prosseguiremos no amor do Pai, na graça do Filho e no poder do Espírito Santo.

         Aquele que está em nós será sempre maior do que aquele que está neste mundo, que jaz no maligno e continuará regido por seu príncipe das trevas até manifestação do Filho de Deus. Ninguém tema. Ninguém fraqueje ou desanime.

         Talvez enfrentemos a impiedade declarada e aberta que promova clara perseguição contra os cristãos e o Evangelho, talvez tenhamos que confrontar a mistura de santo e profano que impede as pessoas de conhecerem a verdade que salva, confundindo-as com uma religiosidade falsa e repleta de mundo.

Em qualquer dos casos, sabemos que a missão da Igreja não pode ser cumprida por meios, recursos ou poderes seculares!

Alcançar os perdidos, socorrer os necessitados, consolar os aflitos, atender aos órfãos e viúvas, ir em busca dos excluídos, dos pobres e anunciar a todas as pessoas o Reino de Deus é nossa vocação e nosso dever como discípulos de Jesus, independentemente de governos e poderes seculares.

O Estado, como expressão política e jurídica de uma sociedade composta por uma grande maioria de não convertidos, se oporá sempre ao Evangelho, de forma mais ou menos intensa, e não será jamais o meio de sua propagação. 

Não podemos ter a ilusão de que a eventual eleição de governantes que defendam alguns valores compatíveis com o Evangelho, ou mesmo que sejam cristãos verdadeiros, seja maneira eficaz para conter o aumento da iniquidade ou para promover salvação e santidade.

Seguindo os mandamentos dos apóstolos, nos submetemos às autoridades e oramos por elas para que tenhamos paz e possamos viver e proclamar nossa fé. Caso isso não ocorra, prosseguiremos assim mesmo, enfrentando oposições e mesmo perseguições, que fatalmente acontecerão.

Finalmente, queridos irmãos e irmãs, vamos intensificar nossas orações e jejuns por nossa nação e participar das eleições como cidadãos e como cristãos, de forma coerente com nossa fé no Evangelho de Jesus.

 

Que a suficiente graça de Jesus seja com todos.

 

         

Seu conservo e companheiro de jornada,

 

Fernando Saboia Vieira

 

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