O café, o silêncio e a leveza de fim de inverno
A caneca de café
Me aquece as mãos e o corpo
Mas não a alma
Na manhã ainda fria
De final de inverno
Todavia, é necessário quebrar
Esse silêncio que agora nos protege
Com palavras mesmo impossíveis
Que tecem passados e futuros
Com o fio discreto e indestrutível
Da esperança
Entre levezas e pesos
Espero
Para andar ou flutuar
Nos caminhos ou ondas
Deste dia
Que teima em começar
Primavera, 2022
O planeta despertado, lavado
Vivo, inquietamente vivo
Colorido, divertidamente colorido
Musicado, maravilhosamente musicado
Misterioso em cada ser
Em cada morrer e nascer
No Espírito que tudo cria, move
Sustenta, unifica, vivifica
Minha alma desperta
Lentamente
Com a manhã úmida
Meu corpo se aquece
Preguiçosamente
Com a caneca de café
Tudo, tudo Te adora, Senhor
Ainda amar
Sem mais tempo aqui
Para inventariar perdas e ganhos
Calcular alegrias e danos
De tudo o que vivi
Ainda há muito a amar
Amar mais, amar melhor
Apesar do mundo e da vida
Que desamam e desencantam
Em amar não há perdas
No amor não existem danos
Há, apenas, a suficiência do dar-se
Existe, tão somente, a alegria simples
Do encontro
Mãos que adoram
Mãos que se erguem e adoram
São mãos que acolhem
E não rejeitam
Consolam e nunca agridem
Protegem e não acusam
Apontam caminhos
Constroem a paz
Mãos que se erguem e adoram
São mãos que se estendem
Para distribuir a graça
A misericórdia e a bondade
Do Senhor a quem adoram
Fernando Saboia Vieira
De "Pausas de Adoração", 2022
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