terça-feira, 1 de junho de 2021

As Fórmulas da Perseverança 

                                                Fernando Saboia, maio/junho 2021, AD

 

 

1)   Necessidade e importância de perseverar

 

Em diversas oportunidades Jesus advertiu seus discípulos quanto à necessidade e importância da perseverança. 

O Senhor bem sabia que eles enfrentariam muitos obstáculos, oposições e adversários pelo Caminho, os quais despertariam nos seus corações dúvidas e temores, levando-os ao risco de hesitações e retrocessos. 

Essas dificuldades não seriam sempre superadas de forma imediata e rápida, por intervenções diretas de Deus, milagres ou mudanças drásticas nas circunstâncias. Muitas perdurariam ao longo do tempo, exigindo dos cristãos uma qualidade especial de constância e de determinação, pessoal e comunitária.

De fato, no plano humano, a história da Igreja e da propagação do Evangelho não tem sido uma sequência ininterrupta de sucessos e conquistas, mas, sim, uma jornada repleta de embates e adversidades; enquanto, na dimensão eterna e espiritual, o Senhor realiza Seu propósito eterno, resgatando, salvando e transformando pessoas para constituírem Sua família.

 Desde então, cada geração de discípulos experimenta contradições e rejeições, nas mais diferentes formas, tanto religiosas, quanto intelectuais, tanto sociais, quanto espirituais, tanto pessoais quanto coletivas.

Todos nós enfrentamos lutas, tribulações e provações em nossa própria história e caminhada, causadas pelo pecado, ainda ativo em nossa natureza humana, por nossas más escolhas, por circunstâncias da vida, da sociedade, da família, por enfermidades, perigos e tanto mais. Mesmo depois de nos tornarmos cristãos, seguimos enfrentado essas dificuldades e ainda outras, avindas da nossa fé: as perseguições, rejeições, o ódio do mundo. 

 

Jesus disse a seus discípulos que a porta é estreita, e também o caminho é apertado, e que, certamente, eles, no mundo, passariam por aflições (Mt 7:13-14; Jo 16:33). 

 

Por isso, Ele nos preveniu expressamente quanto à necessidade de perseverança, com palavras como: 

 

“Mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 10:22 e 24:13; Marcos 13:13)

 

“É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma” (Lucas 21:19)

 

Seguir Jesus, ser seu discípulo, é um chamado para a vida inteira e envolve tudo o que somos e o que fazemos. Nessa jornada, encontramos dificuldades e resistências, tanto no mundo, que se opõe a Deus, quanto nas pessoas que não O conhecem; tanto nas hostes espirituais da maldade, que aqui atuam, quanto, e talvez principalmente, em nós mesmos, na nossa natureza humana ainda não totalmente redimida, sujeita a fragilidades e inconstâncias. 

Assim, a perseverança é necessária não apenas para resistirmos às circunstâncias e oposições externas, mas também, fundamentalmente, para não permitirmos que elas nos afetem interiormente, fazendo com que percamos “a nossa alma”, abandonando o caminho, a verdade, a graça e a vida que recebemos em Jesus.

Haverá um fim, um desfecho da história humana, quando o Senhor virá restaurar todas as coisas. Até lá, precisamos perseverar.

 

Em Apocalipse, vemos que a perseverança é uma virtude decisiva para a Igreja e para os santos nos últimos tempos (Ap. 2:2-3; 2:19; 3:10; 13:10; 14:12).

 

Os Apóstolos trataram de reforçar para a Igreja nascente e para as seguintes gerações de cristãos a importância e a necessidade de perseverar na fé recebida em meio às provações, tribulações e perseguições, tanto físicas quanto espirituais.

 

Paulo, na Carta aos Efésios, após discorrer sobre a luta espiritual e as armas necessárias para esse combate, exorta os irmãos a que 

 

“orem em todo o tempo no Espírito, com todo tipo de oração e súplica, e para isso vigiem com toda perseverançae súplica por todos os santos” (Efésios 6:18).

 

De fato, é inútil vigiar e orar sem perseverança, uma vez que a luta não se trava em um único dia e os inimigos não nos avisam sobre hora, lugar e natureza de seus ataques. Até mesmo nosso coração não raro nos surpreende, com suas debilidades e impulsos. Há embates que travaremos ao longo dos anos, às vezes por toda a vida.

 

As armas da chamada armadura espiritual, descrita pelo Apóstolo na Carta aos Efésios, a verdade, a justiça, o evangelho da paz e a fé, só podem ser manejadas com o exercício da perseverança, isto é, permanecendo firmes naquilo que do Senhor recebemos, sem desvios ou hesitações.

Devemos também considerar que se trata de uma tarefa coletiva da Igreja, de algo que precisamos e devemos fazer juntos, animando uns aos outros e em favor de todos os santos.

 

Assim é que Paulo também ora para que os colossenses sejam

 

“fortalecidos com poder, segundo a força da sua glória, em toda perseverança e paciência, com alegria” (Cl. 1:11).

 

Pedro considera a perseverança uma das qualidades a serem diligentemente buscadas: 

 

“Por causa disso, concentrando todos os seus esforços, acrescentem à fé que vocês têm a virtude; à virtude, o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança...

Porque essas qualidades, estando presentes e aumentando cada vez mais, farão com que vocês não sejam nem inativos, nem infrutíferos no pleno conhecimento do nosso Senhor Jesus Cristo” (2ª Pe. 1:6-8).

 

Na Carta aos Hebreus, depois de uma longa e profunda exposição sobre o sacrifício de Jesus e o acesso por meio dele colocado à disposição dos crentes ao trono da graça de Deus, o autor sagrado adverte: 

 

“vocês precisam perseverar para que, havendo feito a vontade de Deus, alcancem a promessa”pois “o justo viverá pela fé; e, se retroceder, dele a minha alma não se agradará”Por isso, é necessário que nós “corramos com perseverança a careira que nos está proposta”. (Hebreus 10:36-38; 12:1).

 

A perseverança também é um componente essencial do amor, uma vez que esse “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1ª Cor 13:7). Ou seja, o amor nunca desiste, não desanima, persevera em promover o bem do amado, apesar de dificuldades e adversidades.

 

Nesses dias confusos, difíceis e sofridos que vivemos, em meio a uma pandemia que está a provocar mortes, destruição, conflitos e miséria por todo o mundo, é certo que para nós, cristãos, a necessidade de perseverança se nos apresenta como evidente e fundamental em vários aspectos. 

Precisamos perseverar como indivíduos, como cidadãos, como cônjuges, como profissionais, como pais e mães e, especialmente, como discípulos de Jesus, para preservarmos a nossa alma e prosseguirmos em nossa caminhada com Ele, firmados na Sua verdade e em busca de Sua vontade e propósito para nós e para as pessoas.

Precisamos perseverar como Igreja, como povo e comunidade de Deus, na comunhão, na adoração, no amor e no serviço uns aos outros, no testemunho, na proclamação do Reino eterno, na esperança da Sua Vinda e no serviço aos homens. 

 

Queremos, em seguida, refletir um pouco sobre a dinâmica da perseverança, suas dificuldades e seus efeitos para nós, tal como apresentados nas Escrituras.

 

2)   A dinâmica da perseverança e suas dificuldades

 

Para os discípulos de Jesus, a perseverança não é um exercício motivacional, de força de vontade, de capacidade de autodomínio, de treinamento mental, ou o resultado da aplicação de algum método de reforço ou recondicionamento neural. A perseverança a que nos referimos aqui é resultado do exercício da fé em meio às provações, ela é o fruto da confirmação da fé, como lemos em Tiago:

 

“a fé, uma vez confirmada, produz perseverança” (Tiago 1:2-4)

 

Mas a fé tem como objeto e fundamento a revelação de Deus sobre Ele mesmo, sobre nós, sobre o mundo, sobre o pecado, sobre a salvação. A fé não se apoia nos nossos conceitos, vontades, e convicções, e, menos ainda, em nossas capacidades de compreensão e de realização. Ela opera poderosamente no plano espiritual e é produzida em nós por ação direta do Espírito de Deus em nosso espírito.

A fé é uma faculdade do nosso espírito que, despertada pela revelação de Deus, de Sua Pessoa e de Sua verdade, pela ação do Espírito Santo, nos coloca em comunicação com o que está além de nós, do mundo visível e do nosso entendimento, e nos possibilita receber da verdade, da graça e do poder do Senhor.

 

Desse modo, somos chamados e exortados a perseverar no que, por meio da fé, recebemos do Senhor: na Palavra revelada, na comunhão dos santos, no andar no Espírito, no serviço, na proclamação, na imitação de Jesus, no amor uns aos outros, na expectativa de Sua volta.

Não podemos ser nós mesmos a estabelecer o foco e os alvos de nossa perseverança, se é que estamos em busca do Seu reino e da Sua vontade. Do mesmo modo, não virão de nós nem de ajudas humanas os recursos e capacidades para perseverar.

Perseverar em algo que não nos venha do Senhor e a Ele não nos conduza será obstinação e endurecimento de coração, e, certamente, nos levará à ruína espiritual por meio de caminhos ilusórios, distorcidos, traçados por nossas vaidades, nossos vãos pensamentos, nossos enganos, nossas fantasias, nossas concupiscências, nossos medos e ansiedades.

 

Portanto, para perseverar, é preciso, antes de mais nada, assumir uma atitude correta diante de Deus, de coração, de mente e de procedimento.

Eu devo primeiro buscar saber o que o Senhor requer de mim em cada situação ou circunstância, discernir qual a condição do meu coração que vai agradar a Ele, qual o meu agir ou não agir, qual o meu falar ou calar, qual a atitude a ser adotada por mim que irá na direção do Seu propósito e vontade. Somente então poderei, realmente, perseverar de modo a alcançar Sua manifestação, socorro e providência e a testemunhar, afinal, Sua Glória. 

Isso pode implicar, muitas vezes, a necessidade de correção das minhas convicções, posturas, sentimentos e desejos. E isso pode envolver algum nível de sofrimento.

 

Podemos ilustrar isso da seguinte forma. Imagine que alguém sofra uma grave fratura na perna. Antes de imobilizar o local para que ocorra o processo de calcificação e cura do trauma, no devido tempo, o médico precisa se certificar de que aquele osso quebrado esteja na posição adequada, com suas partes corretamente alinhadas. 

De outro modo, pode ocorrer que a solidificação se dê de maneira errada, na posição incorreta, produzindo um aleijão e muito mais dores. Neste caso, seria necessária, talvez, uma cirurgia para “quebrar” novamente aquele osso e colocá-lo na posição adequada, a fim de que o membro não perca sua funcionalidade.

Algo parecido ocorre com nossa alma. Se, apesar de termos sofrido uma “fratura” qualquer, estamos com o coração, a mente e os propósitos na posição certa, com nossas convicções, sentimentos e vontades alinhados com o Senhor, nossa perseverança produzirá os resultados que Ele espera e deseja, no devido tempo. 

No entanto, se não for esse o caso, se estivermos em má disposição de coração, de pensamentos e de propósitos, nossa perseverança se tornará em obstinação, e produzirá distorções graves na nossa consciência e no nosso caráter. 

No primeiro caso, o tempo será nosso aliado e nos aproximará a cada dia dos frutos de Deus na nossa vida, solidificando as virtudes que Ele quer produzir em nós e dando a Ele espaço para agir em nós e nas circunstâncias.

No entanto, no segundo caso, o tempo será nosso inimigo, nos levando cada vez para mais longe da cura e restauração, causando endurecimento do nosso coração, cauterizando nossa consciência, reforçando vícios do nosso caráter e não permitindo a intervenção do Senhor.

Se, por exemplo, insistirmos em buscar e esperar justiça e reparação de danos sofridos, quando Jesus nos indica a necessidade de renúncia, misericórdia e perdão, colheremos, como frutos de nossa obstinação, ressentimentos e amarguras. 

No entanto, se colocarmos nosso coração no lugar certo, alinhado com Jesus, e perseverarmos em fazer o que agrada a Ele, nesse caso, em renunciar, exercer misericórdia e perdoar, vamos permitir que o Senhor aja e, no Seu tempo, manifeste Sua glória, nos moldando a Ele e intervindo na situação de acordo com Seu propósito.

 

Essa correção de postura e de atitude, no entanto, vai quase sempre implicar tomar a cruz, negar a si mesmo, desistir de direitos e de sonhos, aceitar a admoestação do Senhor e escolher Sua Vontade. E isso pode envolver dor e sofrimento.

 

Algumas dificuldades na perseverança podem estar relacionadas a uma falta de compreensão e clareza sobre o propósito de Deus, sobre o Seu tempo de agir ou sobre a dimensão espiritual do Seu reino.

Há também aqueles que são imediatistas, que buscam soluções instantâneas, tão frequentemente oferecidas pelos mentores e influenciadores desta geração. 

Velocidade e superficialidade andam frequentemente juntas, e não costumam ser estratégias de Deus.

A busca por novidades, por distrações, por sensações, por conforto emocional, por consolos e recompensas, a inquietação de alma, a instabilidade de propósitos e planos, a falta de convicções pessoais, tudo isso conspira contra a perseverança, que de nós requer fé, confiança no Senhor e firmeza de mente e de coração.

 

Vivemos num tempo em que prevalece uma mentalidade de evitar dores e desconfortos a tudo custo, a partir de um conceito de que qualquer sofrimento, oposição ou dificuldade devem sempre rejeitados e contornados o mais rapidamente possível.

A perseverança nos aponta para uma mentalidade e atitude opostas a essas.

A perseverança nos leva a compreender que as oposições e adversidades não apenas fazem parte da caminhada, mas que elas, na verdade, são essenciais para nosso crescimento e amadurecimento, se de fato queremos ser formados à imagem do Senhor, que suportou tantas aflições e contradições conta si mesmo e perseverou até o fim, cumprido na cruz, e não em um trono, a vontade do Pai.

 

Não é de surpreender que nos nossos dias tudo o que demanda comprometimento, esforço e dedicação ao longo do tempo, sem promessa de recompensa rápida e imediata, tende a se enfraquecer e se perder, como relacionamentos, famílias, amizades, vocações, carreiras voltadas para o serviço e o bem de todos, etc.         

 

Podemos compreender algo sobre como Deus age quando perseveramos e sobre o quanto a perseverança é necessária meditando em alguns textos em que essa virtude desponta como essencial para que se produzam os efeitos e os frutos que Ele deseja.

 

3)   Fórmulas da perseverança

 

Encontramos, nos ensinos apostólicos, várias recomendações, admoestações e instruções para nossa jornada espiritual, pessoal e coletiva. Queria comparar duas dessas passagens bíblicas a fórmulas, ou seja, a combinações de elementos para a produção de resultados, a fim de evidenciar como a perseverança se constitui num componente essencial para a ação de Deus em nós, por meio de nós e nas circunstâncias que nos cercam.

 

Vamos meditar, inicialmente, em Tiago 1:2-4, onde lemos:

 

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”

 

Aqui encontramos uma fórmula (um caminho, uma estratégia de Deus) para produzir pessoas perfeitas e íntegras (maduras, plenas, sem deficiências, santas): 

 

provações (várias, múltiplas) + fé aprovada + perseverança + tempo (ação completa).

 

A palavra traduzida por provação tem o sentido de um teste, de ser submetido a uma prova. Em alguns textos bíblicos ela significa também tentação, como no caso de Jesus no deserto, quando fica explícito o propósito de fazer cair da fé.

Precisamos tomar cuidado, e orar, para que não entremos ou caiamos em tentação, para que não sucumbamos diante de uma provação, para que não sejamos reprovados em um teste da nossa fé. 

Podemos ser provados ou tentado por algo que não seja mau em si mesmo, como recursos materiais, oportunidades de sucesso, possibilidades de realizações. Assim, é necessário que tenhamos sempre em vista o que o Senhor quer para nós, o que coopera com Seu propósito e traz glória para Ele na vida que vivemos, nas nossas circunstâncias e realidades.

É importante notar que, quando somos provados, o que está em teste não são nossas capacidades ou conhecimentos, mas, sim, a nossa fé. E é da confirmação, da aprovação da nossa fé, que brota a perseverança

Assim, a perseverança é produto da fé vivida a cada instante, sustentada em cada ocasião, levantada como escudo em cada ataque maligno, defendida e exercida ao longo do tempo, em todas as circunstâncias da vida. 

Perseverar é viver pela fé momento após momento.

A perseverança, por sua vez, precisa ter “ação completa”. Isso significa que as provações permanecerão enquanto o Senhor estiver operando por meio delas, que é necessário que aguardemos o tempo de Deus, mantendo uma atitude de confiança e esperança n’Ele. 

Nossa tendência é desejarmos que as provações passem o quanto mais brevemente, que nosso livramento venha de imediato. E não há nada errado em pedirmos isso ao Pai, como fizeram tantos santos e santas nas Escrituras.

Mas devemos nos armar de determinação e coragem para sustentarmos nossa fé e confiança até quando Ele entender necessário para produzir em nós a Sua Imagem, o Seu caráter, a estatura da plenitude do Filho. 

Todo fruto é colhido no devido tempo. O minério precisa ficar na fornalha o tempo necessário para a purificação do metal. 

 

 

Maturidade, a perfeita varonilidade, a plenitude da estatura de Cristo, são obtidas ao longo de uma vida de fé, amor e esperança, com a ajuda dos santos e mediante a ação poderosa do Espírito, para o que não podemos ser inconstantes como meninos, agitados para todos os lados por qualquer vento de doutrina ou pelas astúcias dos homens (Ef. 4:11-16).

 

Em Romanos 5:3-5encontramos outra fórmula espiritual que tem como ingrediente a perseverança, esta para gerar esperança e certeza do amor de Deus: 

 

tribulação + perseverança + experiência (caráter aprovado, virtude comprovada)

 

“E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado”

 

Pode-se entender tribulação como o tipo de provação que envolve sofrimento. Essa palavra é traduzida, em alguns lugares no Novo Testamento, por angústia ou aflição.

Paulo afirma diretamente que as tribulações produzem perseverança e que, por isso, devemos nos gloriar nelas. É importante considerar que esse texto começa, no verso primeiro, com uma afirmação da nossa fé: 

 

“justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rom 5:1).

 

Encontramos, então, a mesma combinação apontada por Tiago: a , ao nos colocar em um relacionamento correto com Deus (justificados), faz com que possamos suportar as tribulações, uma vez que temos paz com Deus, de modo a produzir em nós perseverança – consistência, determinação, solidez.

E a perseverança, por sua vez, vai produzir um caráter aprovado, virtude comprovada, uma qualidade de vida e de procedimento que refletem a natureza do Pai e Seu propósito para nós.

   

A perseverança é necessária para nos levar ao aprofundamento do nosso relacionamento com Deus, criando em nossas vidas espaços, tempos, situações em que prosseguimos a fazer o que Ele quer ou a esperar por Sua intervenção, confiados em Sua graça e poder, à espera dos frutos e tesouros celestiais por Ele prometidos. Assim, seremos testemunhas e objetos de Sua ação e do Seu amor. 

Teremos histórias da vida de Deus em nossas vidas para contar, experiências que vão nos levar cada vez mais a uma união com Ele. Nessa jornada, vamos conhecer mais a Deus e a nós mesmos e vamos experimentar, em nossas vidas, a Sua bondade e a Sua boa, perfeita e agravável” vontade.

 

4)   Necessidade de perseverança hoje

 

Muitas vezes, especialmente em circunstâncias e tempos adversos, nossa necessidade maior não é de novidades, de métodos infalíveis, de soluções imediatistas, de seguir líderes motivadores, de recursos e de conceitos modernos, mas, sim, de perseverança naquilo que recebemos e cremos.

De fato, depois de alguns anos de caminhada com o Senhor, já teremos conhecido boa parte do Seu conselho, da doutrina, dos mandamentos, da verdade revelada para as mais diversas circunstâncias e aspectos da vida. 

Para que esse conhecimento produza frutos do Reino em nós é necessário que perseveremos e nos aprofundemos na experiência dessas coisas, e que não sejamos indecisos e inconstantes, mesmo diante de provações e tribulações.

Infelizmente, temos visto a Igreja nesses dias muito fascinada com o ritmo e a dinâmica do mundo atual, que está sempre a oferecer novidades, produtos inéditos, métodos diferentes e histórias de sucesso para todos os gostos e fantasias. 

Muitos ministérios e muitos cristãos têm sido influenciados por uma mentalidade imediatista, consumista, sempre em busca de resultados, de sucessos e de confortos, tornando frágeis o caráter das pessoas, os relacionamentos e os propósitos.

Desnecessário dizer que isso vai totalmente contra o que o Senhor aponta para os seus discípulos, que devem viver em busca do Reino eterno, da qualidade de vida e de caráter que o Evangelho requer, para o que a perseverança é condição e virtude imprescindível.

 

Precisamos perseverar em orar, perseverar em buscar ao Senhor, perseverar em proclamar, perseverar em sermos família e Corpo, perseverar em servir, perseverar em adorar, perseverar em celebrar, perseverar quando sofremos,perseverar quando somos atribulados, perseverar quando somos provados, perseverar quando somos perseguidos.

 

Talvez cada um de nós possa hoje relacionar várias situações nas quais precisa perseverar. Devemos, em primeiro lugar, ter certeza de estamos assumindo a postura correta, os conceitos, os sentimentos, os alvos e os propósitos do Senhor em cada uma delas, e não nossos próprios desejos, medos e fantasias. 

Depois, tenhamos disposição para fazer as correções que forem necessárias, para, afinal, exercitarmos nossa fé e confiança no Pai, perseverando em viver, buscar, fazer e esperar segundo Sua vontade e propósito.

Finalmente, ainda que a perseverança seja uma qualidade a ser buscada e desenvolvida por cada um de nós, não devemos nos esquecer de que ela também deve ser estimulada e alimentada pela vida do Corpo, na reciprocidade dos relacionamentos, no ânimo, no consolo e na exortação uns aos outros.

 

Queridos irmãos e irmãs, não sejamos dos que retrocedem, nem dos que são inconstantes e volúveis, mas, sim, dos que perseveram, em meio às provações e tribulações, até o encontro com o Senhor.

 

Que a suficiente graça de Jesus seja com todos.

         

         Fernando

 

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