Caros companheiros de jornada em busca da vida interior,
Esse pequeno poema que abre o Saltério refere-se a duas maneiras de viver que levam a resultados absolutamente distintos. Por uma, chega-se à vitalidade e à prosperidade; pela outra, à confusão e à decepção. Quem segue a primeira é comparado a uma árvore plantada junto às águas: sempre verde, aprofunda suas raízes e frutifica. Aquele, no entanto, que opta pela segunda é descrito como palha seca, sem vida, dispersada pelo vento. Qual desses quadros descreve melhor nossa maneira de vier e os frutos que colhemos?
Fico pensando em como nossos modernos gestores eclesiásticos estratégicos e pregadores de resultados reagem a um texto como esse. Talvez busquem nele alguma fórmula de sucesso, ações que conduzam a produtos rápidos e a satisfação imediata. Vivemos, efetivamente, a era das obras e produtos, e não dos frutos. A modernidade busca rapidez, produtividade, resultados, satisfação instantânea. Mesmo nossa produção agrícola é acelerada por processos tecnológicos artificias. Tudo é veloz, e tudo é superficial; tudo é indolor, e tudo é fugaz.
No entanto, se almejamos uma espiritualidade verdadeira, que gere o caráter divino em nós, devemos ter claro que santidade não pode ser produzida por métodos nem por nossa ansiedade espiritual, mas somente por um constante andar com Deus, pelo desenvolvimento de uma amizade com Ele.
O que nos diz o salmista sobre o caminho da vida? Ele aponta para a lei do Senhor, mas não para sua utilização como um mero código de conduta, um método de produção ou manual de procedimentos para fazer tudo “dar certo”, para se alcançar sucesso, resultados.
Trata-se, antes, de aprender a amar a vontade de Deus, a ter prazer em Seus preceitos e mandamentos. Penetrar na essência de Sua lei para descobrir a glória e a excelência do Autor e para encontrá-lO por meio de Sua Palavra, que nos traz Sua Presença transformadora.
Mas como fazer isso? Não apenas cumprindo os mandamentos, mas meditando neles dia e noite. Meditar na Palavra significa mantê-la na mente e no coração ir além da dimensão da compreensão e da obediência, até chegar ao nível do amor e da experiência da Presença de Deus.
É um exercício contínuo que nos leva a aplicar a Palavra a cada situação da vida e leva cada situação da vida à Palavra. Tudo o que nos acontece, tudo o que está à nossa volta pode nos conduzir à meditação, à busca do Espírito que em nós habita e que tudo revela, vivifica, conforta, direcional. Podemos, assim, ir da Palavra à vida e da vida à Palavra, por meio da meditação.
A meditação faz com que criemos raízes profundas em Deus, uma vez que ela nos desnuda diante da vontade do Senhor, revelando nossos desejos e motivações, e nos prepara para a ação do Seu Espírito em nós. Faz com que a Palavra permaneça em nós e nós nela. Ora, se guardamos os Seus mandamentos, nós O amamos, e Ele vem morar em nós, conforme Sua promessa.
Esse Salmo também nos aponta para o que podemos chamar de leis da semeadura espiritual. A primeira delas é a lei da coerência entre semente e fruto. Desde o Gênesis, entendemos que os seres vivos se reproduzem “segundo suas espécies”. Isso quer dizer que colhemos o que semeamos. Pretender fruto incompatível com a semente plantada é zombar de Deus, diz o Apóstolo. Quem semeia na pressa, na exterioridade, na superficialidade em seu relacionamento com o Pai colherá palha seca. Se queremos o fruto pacífico de sabedoria, paz, alegria, amor, um caráter transformado, temos que semear no Espírito, andar nos caminhos e maneiras do Espírito, meditando em na Palavra dia e noite.
Depois, há a lei da perseverança. Toda semente lançada no solo precisa ser cuidada, regada, protegida contra pragas, ervas daminha, intempéries. A vida espiritual requer disciplina e paciência. Essa é a dimensão da obediência e do serviço. É necessário esforço consciente e determinado para adequar a vida, as atitudes, as palavras e os sentimentos à vontade de Deus.
Finalmente, podemos mencionar a lei da esperança. Quem semeia, semeia com esperança da colheita. Se semeamos a boa semente e dela cuidamos, podemos ter confiança de que Deus fará o milagre da germinação, dará o crescimento e nos encherá os cestos de frutos.
E nós celebramos Sua bondade.
Que a graça de Jesus seja com todos.
Fernando Sabóia Vieira
Muito rica a leitura do Salmo. Parabéns! Minha única ressalva seria quanto a afirmar "A modernidade busca"... Afirmaria "A frágil, inquieta, e muitas vezes ingênua alma humana, confrangida pela modernidade, busca"...
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