MATURIDADE
“E CHEGUEMOS À MATURIDADE”
Fernando Saboia
Irmãos queridos,
Essa mensagem nasceu de uma inquietação. Nesses dias, Deus vem me falando fortemente sobre a necessidade de amadurecimento pessoal. O crescimento espiritual, assim como o físico, segue determinadas fases. De início, somos crianças na fé, e somos alimentados como infantes. Depois, todavia, havemos de crescer e atender a desafios e responsabilidades maiores.
Esse crescimento e amadurecimento tem que vir de dentro para fora. Deve ter raízes profundas na alma e deixar marcas evidentes no caráter. Em cada fase desse processo, tornamo-nos aptos a atender a chamados específicos do Senhor, e a desempenhar serviços diferentes. Por outro lado, parar de crescer é doentio. Um corpo saudável cresce, uma fé saudável igualmente deve promover crescimento espiritual.
Sinto, pessoalmente, a necessidade de mudar de fase. Mais do que isso, creio que Deus está me ordenando que prossiga e me aprofunde na santificação, no serviço, na adoração. Aprofundar-se não é fazer mais coisas. Ao contrário, geralmente implica fazer menos. Mas fazer com qualidade, com intensidade, com relevância, com dependência do Pai.
A razão de compartilhar esses pensamentos é, principalmente, que também creio que o Senhor está chamando nossa congregação a mudar de fase, a assumir novos alvos, a viver uma nova dimensão do Reino como família e corpo. Temos aprendido. Agora somos chamados a testemunhar e viver. Fomos afofados, arados, semeados, cuidados. Vem o tempo do fruto e da colheita.
As lutas não diminuirão. Ao contrário, como mostram os textos a seguir, serão mais sérias e tremendas. No entanto, mais tremenda será a manifestação do poder do Senhor. É no que cremos. É o caminho que trilharemos.
Apenas o Senhor nos dê graça!
Brasília, dezembro de 1999, AD.
VERBETE:
teleious - “Completo, perfeito, maduro. Plenamente desenvolvido.
Deriva de telos, que significa fim, objetivo, alvo.
Assim, o adjetivo tem o sentido de algo que atinge a finalidade a que se destina, que cumpre plenamente seu propósito.
Crescido, adulto, maduro, em oposição a criança.
O verbo cognato quer dizer aperfeiçoar, conduzir ao propósito estabelecido, ao alvo pretendido.
Nesse sentido, pode-se dizer que Jesus foi “aperfeiçoado” (Hebreus 5:9), pois ele cumpriu o propósito de Deus” ao ir para a cruz.”
Ser maduro é cumprir completamente o propósito de Deus, amadurecer é caminhar na direção desse cumprimento.
Assim, para crescermos, precisamos não apenas compreender qual o propósito de Deus, mas comprometermo-nos com esse propósito ao ponto de ele influenciar completamente nosso caráter e estilo de vida.
Os textos bíblicos que consideremos apontam caminhos para a maturidade. Fazem contraste entre ser criança na fé e ser adulto, recomendam as práticas que produzem crescimento e estimulam a imitação de Jesus como síntese de toda espiritualidade.
Deixemos que os textos falem por si mesmos. Consideremos acima de tudo nossa própria vida.
VERBETE:
agape - “benevolência invicta e boa vontade inconquistável que sempre procuram o bem maior da outra pessoa, independentemente do que ela faz.
É o amor autoconcedido que dá livremente sem pedir nada em troca e sem considerar o valor do seu objeto. Ágape é mais um amor por escolha do que filos, que é amor por acaso; e refere-se à vontade ao invés da emoção.
Ágape descreve o amor incondicional de Deus pelo mundo.”
Palavra rara no grego clássico, desprovida de conotação religiosa.
Usada na versão dos LXX para traduzir o amor de Deus, ágape fala de um amor pessoal, que nasce de uma determinação de vontade e se expressa de modo concreto.
EFÉSIOS 4:13-16 “maturidade” (NVI)
(teleious) “perfeita varonilidade” (RA) (EC)
“varão perfeito” (RC)
O CRISTÃO MADURO TEM CONVICÇÕES E PROPÓSITOS FIRMES
Crianças são inconstantes. Não permanecem em convicções e propósitos. São influenciáveis por argumentos, pelo ambiente, pelo pensamento da maioria. Como buscam aceitação, não conseguem diferenciar-se do pensamento comum ao seu redor.
Ser adulto é ter convicções firmes e sustentá-las em qualquer ambiente ou situação, mesmo diante de oposições e da possibilidade de ser discriminado, rejeitado ou perseguido.
Ser adulto é ter propósitos firmes. Para crescer, precisamos levar a sério os alvos que nós mesmos estabelecemos diante do Senhor.
Quando tomamos uma decisão, comprometemo-nos com algo, firmamos um propósito e não perseveramos não damos a Deus a oportunidade de ser nosso ajudador e sustentador. Como Ele poderá operar com poder em nossas vidas se mudamos constantemente de alvo, e se, ao menor sinal de adversidade, tomamos outro rumo?
Quantos propósitos firmamos e não cumprimos! Ou não levamos Deus e Sua palavra a sério ou não levamos a sério a nós mesmos. Assim, as mudanças não ocorrem, não mudamos de fase na vida, não experimentamos o poder de Deus.
Deus não se agrada dos inconstantes e volúveis. Lemos em Tiago 1:6-8 que a pessoa de coração inconstante não obtém nada do Senhor.
Jesus também considera inapto para o Reino quem, tendo “posto a mão no arado”, assumido compromisso com Ele, recua (Lucas 9:62).
Finalmente, somos exortados pelo autor de Hebreus a não retrocedermos, pois Deus não se agrada dos que recuam e não perseveram (Hebreus 10:38-39).
A inconstância e o retroceder nos propósitos revelam incredulidade e desconsideração com o chamado de Deus e com Sua providência.
Ter propósitos firmes não é confiar em si mesmo, mas é confiar no Deus em quem firmamos nossos propósitos, no Deus cujo propósito eterno queremos, em tudo, alcançar.
Lemos em Isaías 26:3:
“Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme, pois ele confia em ti”.
Assim, para termos propósitos firmes, devemos firmá-los em Deus, e confiar Nele. Propósitos, decisões e projetos que nascem da obediência a Deus e Sua Palavra, de oração, do aconselhamento, de submissão ao Corpo de Cristo devem ser levados a diante com perseverança, pois Deus mesmo operará para tenham êxito.
Finalmente, firmeza de propósito não é obstinação, teimosia, dureza de cerviz. Essas são frutos de nossa vaidade e concupiscência. Nossos propósitos devem apontar sempre para o aperfeiçoamento do propósito eterno de Deus em nossa vida.
HEBREUS 5:11-14 “adultos” (NVI) (RA) (EC)
(teleious) “perfeitos” (RC)
“of full age” (NKJV)
O CRISTÃO MADURO É FUNDAMENTADO E EXERCITADO NA PRÁTICA DA VERDADE
“pela prática, tem as faculdades exercitadas” (RA) (EC)
“pelo exercício constante” (NVI)
“em razão do costume” (RC)
Crianças não têm ainda fundamentos na verdade e na prática. Por isso, precisam ser ensinadas e exercitadas, para que adquiram experiência e se tornem aptas a realizarem tarefas cada vez mais complexas.
Não é suficiente o ensino teórico: é preciso a prática para desenvolver habilidades e hábitos saudáveis (não basta uma explicação sobre como escovar os dentes, por exemplo. É necessário uma demonstração prática e disciplina até que se forme o hábito).
O caminho do crescimento espiritual é a prática constante da verdade, o exercício dos fundamentos da fé, a formação de hábitos que reflitam a vontade e o caráter de Deus. A isso, os Pais da Igreja sempre chamaram de disciplina espiritual.
A disciplina espiritual requer tempo, esforço e fé. Não pode ser produto de uma leitura superficial, de uma prática inconstante ou de uma busca hesitante.
Jesus é a pérola preciosa, o Reino é um tesouro oculto, os dons devem ser pedidos em oração, a porta abre-se para quem nela bate, o encontro é para quem busca. Não se alcança o Reino por um acaso da vida. É necessário decisão e busca.
Em Mateus 28:18-20 compreendemos que o processo de discipulado implica “ensinar a guardar” os mandamentos de Jesus. Não basta ensinar. É preciso levar a guardar, isto é, obedecer, praticar.
O resultado do discipulado não é um diploma, mas um caráter e uma qualidade de vida que refletem Jesus.
Se temos isso em conta quando formamos um discípulo, devemos igualmente considerar que todos somos discípulos e, portanto, todos precisamos de quem nos ensine a guardar os mandamentos de Jesus.
Na interdependência e sujeição recíproca no corpo, na vivência da comunhão, encontramos o auxílio de que necessitamos para crescer na formação de hábitos espirituais e no aprendizado prático dos princípios e mandamentos do Reino.
TIAGO 1:2-4 “maduros e íntegros” (NVI)
(teleioi) “maduros e completos” (EC)
“perfeitos e íntegros” (RA)
“perfeitos e completos” (RC)
OS CRISTÃOS MADUROS SÃO APERFEIÇOADOS PELAS PROVAÇÕES E TÊM O CARÁTER PROVADO NAS TRIBULAÇÕES
Crianças só querem fazer o que lhes agrada, enquanto lhes agrada. Evitam qualquer atividade ou situação que lhes traga desconforto ou dificuldade. Deixadas por si mesmas, jamais farão um dever de casa de matemática ou comerão espinafre. Para fazê-las crescer psicologica e emocionalmente é preciso ajudá-las a enfrentar adversidades e a lidar com frustrações.
O hedonismo moderno (culto ao prazer) tem produzido uma geração infantil, incapaz de suportar adversidades ou provações. Talvez uma explicação para a alta incidência de depressão nos nossos dias esteja no fato de que as pessoas não estão sendo preparadas para enfrentar o fracasso e as frustrações que a vida neste mundo caído fatalmente trará.
Ao contrário, somos bombardeados com mensagens de todos os tipos que nos estimulam a buscar o que nos agrada, a evitarmos qualquer tipo de renúncia ou sofrimento e a sonharmos com um mundo perfeito. Em consequência, os relacionamentos são frágeis, os compromissos não confiáveis, os projetos descartáveis.
A frase síntese dessa filosofia é o “eu não estou a fim”.
Infelizmente, tal doutrina tem uma versão evangélica amplamente divulgada e popularizada pelas teologias da prosperidade.
As pessoas ouvem um apelo “evangélico” que lhes promete o fim de todos os problemas e dificuldades. Quando são provadas ou atribuladas abrem guerra contra as circunstâncias da vida, contra o “inimigo”, contra as pessoas que lhes causam dano. Não percebem que a verdadeira guerra espiritual é travada em outro terreno – no terreno da verdade, da justiça, do amor, da santidade, da perseverança. Assim, quando vencem seus inimigos, muitas vezes, foram derrotadas por seu próprio ego, que sai fortalecido e inflado, e não humilhado e dependente de Deus.
Todavia, o caminho do crescimento e amadurecimento espiritual envolve, necessariamente, aprender a suportar com paciência as tribulações e provações. Mais ainda, ao invés de resmungar contra elas, os cristãos maduros aprendem a se alegrar com tais provas, pois vêm nelas a chance de crescer, de amadurecer, de se tornarem mais parecidos com Jesus.
São tão abundantes os testemunhos bíblicos dessas verdades, que só podemos atribuir os modernos ensinos que as negam ao cumprimento da profecia de Paulo em 2ª a Timóteo 4:3-4. É bem do espírito do nosso tempo buscar ouvir apenas o que satisfaz à “coceira do ouvido”.
Na verdade, esse é um dos fundamentos da economia impulsionada pelas mídias modernas. Por meio dos cada vez mais sofisticados algoritmos, somos o tempo induzidos a satisfazer nossos desejos e inclinações, a vermos confirmadas nossas ideias e opiniões e justificadas nossas preferências e escolhas.
A sequência de Romanos 5:1-4 mostra que o “caráter aprovado” (NVI) é fruto da perseverança nas tribulações, e dele brota a esperança, que traz serenidade e segurança.
Hebreus 5:8 nos revela que o próprio Filho de Deus, enquanto homem, teve que aprender a obediência pelo sofrimento. Podemos pretender dispensar o que foi necessário para o próprio Deus-homem?
Cristãos incapazes de viver em meio ao sofrimento e à provação são inúteis para o serviço de Deus. Permanecerão crianças. Quando, ao contrário, somos capazes de manter o louvor e gratidão a Deus em meio aos problemas e aflições, desfrutamos de uma comunhão especial com Jesus, e somos conformados à Sua imagem. Crescemos na fé, amadurecemos.
1ª AOS CORÍNTIOS 3:1-2
(pneumatikois) “espirituais”
(sarkikois) “carnais”
O CRISTÃO MADURO TEM REVELAÇÃO SOBRE O PROPÓSITO DE DEUS E SOBRE A UNIDADE DA IGREJA EM CRISTO
Crianças se conduzem por sentimentos, gostos e ciúmes. Por isso, formam turmas, partidos, disputam espaços, buscam reconhecimento e atenção acima das outras.
Cristãos imaturos, que não compreendem que tudo deve concorrer para o propósito de Deus, que formam seus partidos, apontam seus preferidos, que querem ser reconhecidos como pertencentes a um grupo especial, são carnais e infantis.
Vivendo sob o domínio da carne, de paixões e sentimentos humanos, não podem ser tratados como adultos ou espirituais.
Todo partidarismo e divisão é obra da carne. Nasce de preferência humanas e de vaidades. Quando temos uma visão clara do propósito de Deus somos capazes de reconhecer a graça concedida a cada um e cooperarmos com a edificação do corpo.
Existe uma comunhão que muitas vezes prolifera no meio da igreja que é uma comunhão baseada na alma, e não no espírito. Ela é alimentada por preferências pessoais, por gostos, por espírito de partidarismo.
Tal comunhão pode parecer piedosa, espiritual, mas ela é carnal, pois não concorre para o propósito de Deus, já que visa, principalmente o bem-estar pessoal ou o reconhecimento de um grupo especial.
Nesse tipo de comunhão prevalece o formalismo, o julgamento, a pretensão de ser superior aos outros. As pessoas ficam cheias de melindres, de não-me-toques, de ciúmes.
A comunhão espiritual tem Jesus como centro. Tudo converge para Ele. O que importa é sua vontade e propósito. Nessa comunhão, podemos nos relacionar e trabalhar junto com pessoas totalmente diferentes de nós e até mesmo com aqueles que pessoalmente não nos são simpáticos, pois o que realmente nos move é agradar a Deus.
Nessa comunhão, não ficamos melindrados ou cheios de defesas quando somos tocados pelos irmãos. Compreendemos que para crescermos necessitamos de ensino, admoestação, exortação, consolo etc.
Cristãos maduros conhecem e buscam o propósito de Deus e não preferências pessoais.
Cristãos maduros reconhecem e se sujeitam à unidade do corpo, não dando ênfase a opiniões ou preferências pessoais.
Romanos 15:1-3 exorta os “fortes” a suportarem os “fracos” e não agradarem a si mesmos.
Se somos maduros, se estamos convictos de nossas posições e propósitos em Deus, não precisamos entrar em debates e dissensões, mas somos edificados na diversidade dos dons e ministérios sem perdemos a unidade.
O caminho para o amadurecimento envolve crescer na revelação do propósito de Deus e da unidade da Igreja.
1ª AOS CORÍNTIOS 14:20
(teleioi) “adultos (NVI) (RC) (EC)
“homens amadurecidos” (RA) “mature” (NKJV)
CRISTÃOS MADUROS NÃO SÃO LEVADOS POR APARÊNCIAS OU PELO DESEJO DE DESTAQUE PESSOAL. VALORIZAM O QUE É PROVEITOSO PARA A EDIFICAÇÃO DO CORPO.
CRISTÃOS MADUROS SÃO CAPAZES DE VIVER EM INTERDEPENDÊNCIA, DANDO E RECEBENDO, SUBMETENDO-SE A OUTROS E ASSUMINDO RESPONSABILIDADES
Crianças valorizam aparências. Crianças são individualistas. Crianças não querem se submeter. Crianças não querem repartir. Crianças não estão aptas a assumirem responsabilidades.
O caminho do amadurecimento implica o reconhecimento da organicidade e interdependência do Corpo e a submissão ao ministério dos irmãos.
Para crescermos, precisamos aprender a valorizar o que contribui para a edificação de todos e não a aparência e o individualismo.
No uso dos dons e talentos revela-se o grau de maturidade de alguém. É infantilidade querer “aparecer” ou valorizar as manifestações mais “espetaculares”. Há irmãos que se impressionam com sonhos e visões, mas não se submetem a uma exortação baseada na palavra. Isso é infantilidade.
Para crescer é necessário aprender a dar e a receber, a sujeitar-se e a exercer autoridade, a ser responsável e a servir. É necessário submeter ao serviço do Corpo principalmente nossas habilidades e dons, e não transformar essas capacitações em distinções pessoais.
Em Romanos 12:3-8 Paulo, discorrendo sobre o Corpo, ressalta que ninguém deve pensar de si mesmo além do que convém. Ninguém pode achar que é tão espiritual ou tão abençoado que prescinde dos dons distribuídos aos outros membros.
As crianças passam pela fase do “super-herói”. Na sua fantasia infantil, julgam-se poderosas e independentes. Não querem ajuda ou conselho. Muitos cristãos se comportam dessa forma, e permanecem na infância espiritual.
JOÃO 21:18-19
(newteros) “moço”
(ghrashs) “velho”
O CRISTÃO MADURO É SUBMISSO A DEUS E A SUA VONTADE EM TUDO
Os jovens tendem a ser independentes e autoconfiantes. Ainda quanto têm projetos no Reino, eles mesmos decidem, providenciam, preparam-se e vão.
Maturidade espiritual é sujeitar-se em lugar de dominar; é ser enviado e não se enviar a si mesmo; é ser preparado e conduzido por outrem; é ser levado para onde não quer ir; é aceitar a comunhão do sofrimento, da rejeição e do martírio. É ser sacrifício vivo, oferecido a Deus e aos irmãos.
MATEUS 5:43-48
(teleious) “perfeitos”
O CRISTÃO MADURO EXPRESSA O AMOR MISERICORDIOSO E SACRIFICIAL DO PAI
Nesse texto, a tradução de teleious é, quase forçosamente, “perfeito”, já que se destaca uma característica própria de Deus. Ele não é apenas completo, mas também não tem falhas ou defeitos em qualquer parte ou aspecto de Seu ser ou de Suas ações. Essa perfeição se revela de modo especial na sua manifestação de amor pelos homens.
Só um Deus perfeito é capaz de continuar amando e sendo bom para criaturas imperfeitas e rebeldes. Para que sejamos “perfeitos” filhos do Pai Celeste precisamos expressar seu amor sacrificial e altruísta.
Crianças agem com base no egoísmo e na retribuição. Quando estamos na infância espiritual estamos sempre preocupados com a reação dos outros, com sua gratidão e reconhecimento com respeito a nós e a nossos atos. Precisamos de constante estímulo para seguir fazendo o bem e facilmente nos recolhemos em ressentimentos e reclamações quando julgamos que nossos esforços não foram correspondidos.
O amor aos inimigos, o bem feito àqueles que não vão retribuir, é característica dos perfeitos (maduros) e só pode ter como fonte o Pai, que a todos ama independentemente de retribuição. Esse é o maior desafio da espiritualidade, a maior obra da igreja neste mundo e a maior e mais poderosa proclamação que os cristãos podem fazer, especialmente num tempo em que parece esfriar o amor de muitos.
Jesus ensinou a seus discípulos um padrão diferente de amor. Sua vinda, sua vida e obra foram demonstrações práticas e poderosas desse amor.
Seu esvaziamento da forma gloriosa de Deus para se tornar homem, sua vida de serviço, sua morte na cruz em nosso lugar, tudo quanto disse e fez introduziram no mundo um tipo inédito de comportamento – que nos foi legado como um “novo mandamento”, a ser marca distintiva de seus discípulos: João 13:34-35; 15:12-17.
Jesus, Deus, fez-se homem; homem, fez-se servo; servo, fez-se obediente até a morte na cruz. Para amarmos como ele amou precisamos ter a mesma disposição mental que Ele teve ao negar-se a si mesmo e esvaziar-se e renunciarmos a posições, ideias, direitos, razões. O amor deve nos levar a considerarmos os outros superiores a nós mesmos e assumirmos a condição de servos. Filipenses 2:1-11.
A marca distintiva dos discípulos de Jesus é amar como Ele amou. Amar não é buscar para o outro o bem que eu quero ou imagino. Amar não é ter “boa intenção”. Amar, para o discípulo, é imitar a Jesus, é promover na vida do outro o bem que Jesus quer para ele, é tornar-se ministro (servo) do propósito de Deus para o outro. Só assim estaremos livre do amor carnal, que é sempre possessivo e dominador.
Amar implica, frequentemente, sofrer; aliás, neste nosso mundo caído, não é possível amar sem sofrer. O Filho de Deus amou sofrendo. Nós também precisamos assumir os riscos de amar, se queremos viver como Ele e fazer a Sua vontade.
Por outro lado, ninguém será reconhecido como Filho de Deus se não viver, encarnar, praticar esse amor. Amar é condição para não estar em trevas. Quem não ama como Jesus amou permanece na cegueira espiritual porque não teve a principal revelação sobre o caráter de Deus. 1ª de João 2:8-11.
O amor de Deus é prático. Não podemos nos limitarmos a um amor sentimental ou parte de uma afirmação doutrinária. O amor precisa expressar-se em atitudes concretas de dar e de se dar. 1ª de João 3:4-18.
Quem não ama demonstra que não conhece a Deus – talvez conheça a doutrina, a moral e a liturgia cristãs, mas não conhece Aquele que é o princípio, o sentido, o conteúdo e a razão de tudo: 1ª de João 4:7-12.
A igreja em Corinto é três vezes exortada a deixar a infância espiritual e a crescer em direção à maturidade: por causa das divisões, pelos ciúmes e competição quanto aos dons, pela infantilidade e incipiência do seu amor. Há um falar, agir e pensar próprios de crianças que deve ser abandonado no tempo oportuno e substituído por uma atitude que expresse maturidade.
Paulo, em 1ª aos Coríntios 13:11, destaca tal necessidade de crescimento situando-a no contexto da prática do amor ágape. Esse é “o caminho sobremodo excelente” que reflete o caráter de Deus e conduz à perfeição.
Adultos na fé não se contentam em não pecar, mas buscam o que é melhor, o que agrada a Deus Pai, o que reflete seu caráter e propósito.
Amadurecer é viver o amor do Pai, representá-lo, transmiti-lo.
Ser maduro é amar como Deus ama. Em 1ª aos Coríntios 13:1-12 encontramos uma descrição do caráter e do procedimento de um cristão maduro, ou seja, de alguém que imita em tudo a Jesus vivendo concreta e intensamente o amor do Pai.
A MATURIDADE DO AMOR
(1ª aos Coríntios 13:1-7)
O amor é a linguagem da maturidade.
Sem amor não há comunicação. Apesar do palavrório, dos discursos e debates, permanecem a desconfiança, a inimizade, as muralhas do medo, da não aceitação, do egoísmo.
Quem não ama fala voltado apenas para si mesmo, não se dirige de fato ao outro, não se interessa verdadeiramente em ouvi-lo, não pretende realmente revelar-se para ele. As palavras tornam-se armas, escudos, lanças e não pontes, instrumentos de edificação.
Isso porque a graça e a misericórdia são essenciais para haver comunicação. Jesus derrubou a barreira de inimizade que havia entre os homens morrendo na cruz. No fluir de Sua graça e perdão os homens encontram a possibilidade de serem aproximados e de se comunicarem (Efésios 2:11-22).
A reversão da maldição de Babel não é a criação de uma língua universal, mas a linguagem do amor que nos leva a nos comunicarmos a despeito de quaisquer distâncias linguísticas ou culturais.
Para crescermos, precisamos aprender essa nova linguagem. Conversas cheias de “eu”, de bajulação, de malícia, de segundas intenções não edificam. Palavras verdadeiras e misericordiosas edificam.
Muitos continuam falando como crianças, usando uma linguagem cheia de carnalidade, de sabedoria mundana, embora entremeada com versículos e chavões espirituais.
Quando a maior parte do que sai de nossos lábios é constituído de reclamação, autojustificação, críticas, gozações, futilidades, julgamentos, comentários sobre os outros, alfinetadas, discurso sobre nós mesmos, nossas necessidades, vontades, conceitos, ideias e problemas é certo que falamos como crianças incapazes de olhar a realidade além de seu pequeno mundo.
Não podemos nos esquecer das palavras do Senhor: “a boca fala do que está cheio o coração”. Uma conversa cheia de “eu” revela um coração cheio de si mesmo. Um coração cheio de si mesmo é um coração vazio de Jesus, pois Ele não reparte Sua Glória com ninguém.
Também não fomos chamados para o silêncio, senão para a proclamação, o testemunho, a edificação. O silêncio sem dúvida faz parte de uma vida espiritual equilibrada, quando sua finalidade é ouvir a Deus e ouvir aos homens. Há, no entanto, o silêncio que é muralha da alma, construído com amargura, ressentimento, ira, indiferença. Esse silêncio é o contrário de amar e é, por isso, pecado.
Ao contrário, somos exortados a sermos verdadeiros e amorosos, e a falarmos entre nós “com salmos hinos e cânticos espirituais”.
A linguagem do Reino exalta constantemente a Deus, e não os homens. Não se trata de falar “crentês”, mas de expressar o que deve ser nossa experiência de vida e realidade interior.
“Verdade em amor” deve ser o conteúdo e a forma de nossa conversa. Isso nos levará à adoração ou à confissão, à exortação ou ao consolo, às ações de graças ou às súplicas.
Toda nossa palavra deve ser temperada com sal, transmitindo graça aos que ouvem. Isso vale para a pregação, proclamação, edificação, conversa com os vizinhos ou qualquer outro tipo de comunicação.
Antes “falávamos como meninos”, agora precisamos aprender a falar como adultos. Toda palavra frívola, maliciosa ou não verdadeira deve ser banida. Principalmente, o amor deve ser nosso vocabulário e conteúdo nas nossas conversas, para que, de fato, comuniquemos o que está no nosso coração e no coração de Deus.
Sem amor não existe sabedoria.
Todo conhecimento sem amor é estéril. Não é de fato conhecimento. É, quando muito, a “falsamente chamada ciência” a que o apóstolo se refere.
“Não se chega à verdade senão pelo amor” (Agostinho).
“O conhecimento do homem só é verdadeiro quando o homem se conhece em Deus” (Calvino).
A verdade está em Deus. Ele é a verdade. O conhecimento não é algo colocado livremente à disposição dos homens para sua conquista e orgulho. Toda sabedoria humana, científica ou religiosa, se fundamenta na falsa premissa de que a verdade é impessoal, e de que, através dela, podemos chegar inclusive a Deus.
A verdade, todavia, está encerrada, escondida em uma pessoa, e só podemos chegar a ela conhecendo a Ele, “em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.
No entanto, “quem não ama não conhece a Deus”. Assim, quem não ama, não conhecendo a Deus, não pode conhecer nada.
O crescimento na verdade está intimamente ligado a prática do amor. A verdade sem amor só produz fariseus hipócritas ou “sábios” soberbos.
“O saber ensoberbece, mas o amor edifica”.
A busca do conhecimento tem sido, desde o jardim do Éden, uma grande tentação para o homem. Todo saber precisa estar sujeito ao amor de Deus, caso contrário se tornará um sofisma que terminará por erguer fortalezas contra Deus.
Deus não se permite conhecer por meio da sabedoria humana. Ao contrário, Deus tornou “louca” a sabedoria do mundo e estabeleceu um outro caminho para a salvação, isto é, o da fé na proclamação de Jesus crucificado.
Uma das frentes de batalha da verdadeira guerra espiritual é, justamente, o pensamento insubmisso a Cristo, que pretende sustentar-se por si mesmo ou apoiado em premissas alheias a Deus.
Separar o conhecimento, a doutrina, a erudição do amor simples, serviçal, altruísta é o caminho mais seguro para o farisaísmo. É também a semente do gnosticismo e do misticismo.
Cristãos maduros compreendem que não são chamados para serem reconhecidos como sábios ou profundos no conhecimento, mas como filhos de Deus que expressam o caráter de Seu Pai.
Entendem que seu ministério não é o de meramente demonstrar sabedoria e erudição, mas demonstrar o amor de Deus pelos homens perdidos. Menos ainda, o de exercer dominação ou julgamento sobre os homens, irmãos ou incrédulos, pretendendo-se fonte inquestionável dos juízos de Deus.
Poder sem amor é a própria essência do mal.
Reagindo contra a religião tradicional, formal e insípida, muitos hoje têm buscado o poder espiritual. Todavia, toda busca de poder encerra uma grande tentação para o homem, pois todo poder exalta o ego, destaca o individualismo e tende a exercer dominação sobre os demais.
Tais tentações cercam também a buscam de poder espiritual. Por isso, o poder concedido e manifestado por Deus por Seu Espírito está sempre vinculado a seu propósito e é sempre veiculado por Seu amor.
O poder sem amor transforma-se num “vídeo game” espiritual, produzindo, quando muito, uma diversão pouco saudável. Não edifica, não transforma, não é Reino. De regra, produz soberba, violação, dominação, dissensão.
O poder de Deus opera na direção do seu propósito eterno, que é um propósito de amor.
Amadurecer é compreender o uso dos dons como instrumentos dados para cooperar com o propósito de Deus, sempre subordinado ao amor.
Há hoje muita agitação, movimento, luzes, pirotecnia e efeitos especiais no meio do povo cristão, mas não se vê tanta mudança e transformação porque o “poder” manifestado não está subordinado à expressão do amor e propósito de Deus, mas, sim, à vaidade e prazer dos homens.
Só haverá crescimento espiritual e amadurecimento quando aprendermos a usar os dons e habilidades para a glória do Pai e crescimento do Seu Reino.
Atos de justiça, boas obras, sem amor, exaltam o ego.
Quando fazemos por amor, saímos de cena. Tudo o que importa é o bem das pessoas e a vontade do Pai. O amor não está nas boas obras ou nos atos externos por si mesmos. Dar pode não ser amar, como negar pode ser expressão de amor.
O que caracteriza o amor é a negação de qualquer interesse próprio e a busca de realizar a vontade de Deus. O amor não é algo de nasce de nossas intenções ou de nossa bondade, mas flui do coração de Deus e só encontra sentido e substância na medida em que busca materializar o amor do Pai na vida das pessoas.
Quando amamos, revelamos Deus em todos os nossos atos e canalizamos toda glória para Ele.
Sacrifícios sem amor são exercícios de soberba espiritual.
Mesmo a renúncia pode ser um ato refinado de amor a si mesmo, se não nascer exclusivamente da vontade de Deus.
Se nossos atos de renúncia têm como objetivo ou efeito tornar-nos credores diante de Deus e dos homens perdemos a dimensão do amor e tais atos não valerão nada diante do Pai. Ao contrário, O afrontarão. Serão altares erguidos a nós mesmo.
A maturidade chega quando compreendemos que todos os nossos atos de justiça, até mesmo a renúncia, são atos dirigidos pela Palavra de Deus e que devem apontar para Ele exclusivamente.
Ser espiritualmente maduro é amar com o amor de Deus.
Crescer é aprender a viver o amor de Deus. O fundamento disso é o relacionamento com o Pai. A graça, a misericórdia, a bondade e o amor de Deus nos suprem ao ponto de podermos nos esquecer de nós mesmos e nos abrirmos para o outro e expressarmos livremente e sem cobranças aquilo que graciosa e continuamente recebemos.
Quando temos dificuldade de amar é porque não estamos nos deixando amar completamente por Deus.
As características do amor são características de Jesus. Amar é imitar Jesus. Se queremos crescer, deixarmos de ser crianças e carnais, precisamos aprender a imitar Jesus concretamente.
O amor é paciente.
Vivemos no tempo da impaciência e da pressa, do instantâneo, do “on line”.
Queremos relacionamentos instantâneos como temos macarrão instantâneo. Queremos santidade de um dia para o outro, na velocidade das telecomunicações. Mas não há relacionamentos instantâneos ou santidade em três lições.
O amor se dispõe a construir com paciência os relacionamentos e a buscar com perseverança a santidade. Se dispõe a ouvir, a esperar, a servir, a buscar, a bater à porta, a insistir, a não desanimar.
A impaciência é violação do outro. Crianças são imediatistas. Não sabem esperar. Crescer é aprender a virtude divina da paciência, e exercitá-la como expressão de amor.
O amor é benigno.
Promove o bem. Por onde anda, gera bons frutos. Quando vivemos o amor não somos estéreis.
A benignidade é a qualidade daquilo que promove e causa o bem, jamais o mal. Quem ama cumpre a lei, não peca, não ofende, não violenta. Quem não ama causa sempre o mal, peca, não gera frutos.
Os cristãos maduros são árvores plantadas junto às águas, que não secam nem deixam de frutificar.
O amor não arde em ciúmes, não é invejoso.
O amor valoriza o outro. Não tem ciúmes da graça especial concedida a ele. Não entra em disputas. Busca sempre a glória de Deus e a edificação do outro e do Corpo. Concede, alegremente, honra a quem merece honra.
Todavia, quanta carnalidade infantil no meio do povo de Deus, com disputas entre irmãos, desprezo e falta de visão do propósito de Deus! Quantos egos inflados de inveja promovem a maledicência e o julgamento!
O amor não se ufana, não se ensoberbece.
O amor é humilde. Nunca aponta para si mesmo, não busca destaque, não quer recompensa, senão agradar ao Pai.
Quão facilmente nos enchemos de nós mesmos e buscamos, de alguma forma, destacar o que fazemos, o que dizemos, as nossas virtudes. Como crianças, contamos vantagens, supervalorizamos o que é nosso, desdenhamos do que não temos.
Todavia, diziam os Pais da Igreja que sem humildade não se adquire qualquer outra virtude. Uma das características mais impressionantes do caráter de Jesus é sua humildade, pois, sendo Deus, escolher um caminho de serviço e de sujeição.
O amor não se conduz inconvenientemente.
O amor não se prende ao estritamente legal. Como padrão de excelência, busca o que é melhor, o que convém, além do que seria obrigatório. Teimar com os estritos termos do mandamento e dos próprios direitos é carnalidade e infantilidade.
O amor não considera assim. Ser adulto é buscar o melhor para o Reino e o que mais agrada a Deus, e não se limitar a, apressadamente, fazer o dever de casa seguindo o princípio do “menor esforço”.
O amor não domina, não força, não embaraça. O amor procura expressar-se com atenção e carinho. Está sempre disposto a fazer mais do que o necessário. O amor de Deus não aprisiona, mas liberta. Nosso amor deve ser purificado de todo espírito de dominação.
O amor não procura seus interesses.
Essa é a própria essência do amor ágape. Contraria visceralmente a natureza pecaminosa do homem. Subverte seu mundo egocêntrico.
O pecado nos chama, a todo o tempo, a olharmos para nós mesmos, nossas paixões, cobiças, necessidades, sonhos, pretensões.
Quando somos constrangidos pelo amor de Deus, descobrimos que o verdadeiro encontro consigo mesmo passa pela cruz: “aquele que perder sua vida, achá-la-á ...”.
Tendo a experiência maravilhosa de experimentarmos o suprimento do amor de Deus, podemos deixar nossas vidas sob os cuidados do Pai e dedicarmo-nos aos outros.
Amadurecer espiritualmente é confiar cada vez mais no Pai que atende a cada uma de nossas necessidades e dedicar-se cada vez mais a ser instrumento dele na vida dos outros.
Nosso ego só é destronado quando compreendemos o amoroso reinado de Jesus em nossas vidas.
O amor não se exaspera, não se ressente do mal.
Para crescermos, precisamos eliminar do nosso mundo interior os sentimentos carnais de ira, ressentimento, mágoas, vingança. Compreendendo a qualidade e profundidade do amor de Deus podemos ser libertados e curados de toda experiência de desamor e estarmos aptos a sermos revestidos da nova criação em Cristo.
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente ... assim como o Senhor vos perdoou ... acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” (Colossenses 3:12-14).
Todavia, muitos sentimentos carnais e infantis têm atrapalhado a comunhão. Quando não flui a misericórdia e o perdão, as cadeias do pecado não são vencidas e paramos de crescer.
Quantos vivem anos embaraçados e oprimidos porque se ressentem dos males e injustiças sofridos e não deixam que o amor de Deus supere tudo e lhes traga completa cura!
A amargura é um veneno que contamina espírito, alma e corpo. É tão mais perigosa quanto nasça de verdadeiras injustiças e de queixas procedentes. Quando nos julgamos com o direito de guardarmos nossas amarguras estamos pecando contra a santidade e contra a bondade de Deus. Estamos lhe dizendo que tudo o que Ele fez e faz por nós não é suficiente.
O amor não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade.
O amor nunca está em contradição com a verdade. É infantilidade e carnalidade argumentar com o amor contra a verdade ou com a verdade contra o amor.
Muitos têm caído nessa falácia. Quando são confrontados com a verdade, alegam o amor; quando são amados, relativizam a verdade.
Quando ministram a verdade, esquecem que sem amor não existe verdade espiritualmente válida. Quando devem amar e cuidar tendem a ser permissivos em nome do amor e ferem a verdade.
No entanto, o corpo é edificado “seguindo a verdade em amor”. Paulo nos chama a considerarmos a “bondade e a severidade de Deus”.
Quem imagina amar sacrificando a verdade está expressando um sentimento humano e carnal e não o amor de Deus. Quem deseja ministrar a verdade sem amar torna-se farisaico e hipócrita.
O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor não conhece limites em sua expressão em favor do outro.
O amor não faz contabilidade do quanto já esperou, suportou ou perdoou. Nutrindo-se na infinita misericórdia de Deus, dispõe de uma possibilidade igualmente inesgotável de continuar amando, esperando, suportando, perdoando.
O padrão para o discípulo é o perdão incondicional, dar sem esperar receber, amar os inimigos, andar a segunda milha, ceder o que não foi demandado. Faz isso não em nome de um ideal ético humano, mas para imitar seu Senhor que, “subsistindo em forma de Deus não julgou como usurpação o ser igual a Deus, antes esvaziou-se...”.
O amor não passará.
O amor é a manifestação do que é perfeito. De nossa experiência nesta vida, o fruto eterno é aquele gerado pelo amor: vidas transformadas, santificadas, elevadas, tornadas divinas.
Ser adulto é aprender a valorizar e investir no melhor, no eterno.
Amar não é algo que faz parte da vida cristã, mas é a própria expressão da vida de Jesus em nós.
Pelo amor somos reconhecidos como discípulos.
Pelo amor conhecemos a Deus.
Pelo amor nos vinculamos aos irmãos no Corpo.
Em amor somos edificados e edificamos.
Queridos, “todos os vossos atos sejam feitos com amor”.
Fernando Saboia Vieira - Brasília, dezembro de 1999.
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