terça-feira, 6 de junho de 2023

                                           Crônica dos Três Olhares

                                                                               Para Beatriz e Alessandro

                              Fernando Saboia Vieira BsB, maio/junho 2023


“Quando a luz dos olhos meus E a luz dos olhos teus Resolvem se encontrar...”


O relacionamento entre um homem e uma mulher é marcado por olhares.

A um primeiro olhar de encontro, seguem-se olhares de admiração, de encantamento. Depois, olhares de observação, de inquirição, de descobrimento.

Pode ser, então, que surjam os olhares de desejo, de sonhos de futuros.


“Eu acho, meu amor, que só se pode achar Que a luz dos olhos meus precisa se casar”

(Vinícius de Moraes)


Diante de casais que se encontram e escolhem uma vida juntos, observando a maneira como se olham no momento de fazerem sua aliança conjugal, penso que três olhares são essenciais, e devem seguir uma determina ordem, para que se construa um relacionamento verdadeiro e sólido entre um homem e uma mulher: o olhar para Jesus, o olhar para o outro e o olhar para si mesmo.

Se não olhamos primeiro para Jesus, apesar de todo o encantamento e dedicação, não conseguimos ver o outro verdadeiramente, uma vez que sua real identidade está no Senhor e precisamos vê-lo como o Senhor o vê, com suas características, virtudes e, também, debilidades. Mas sempre, em qualquer circunstância, como alguém criado e amado pelo Pai, objeto de Sua graça, misericórdia e bondade.

Se não olhamos primeiro para Jesus, também não conseguimos nos ver como Ele nos vê, com nossas fraquezas, hesitações, desejos, qualidades e defeitos. Mas, também, sempre, e em qualquer circunstância, como alguém objeto do amor do Pai, da graça do Filho e da manifestação do Espírito Santo.

Se eu olhar para mim mesmo antes de olhar para o outro, já não consigo vê-lo com a lente do amor de Deus, porque o amor nunca busca seus próprios interesses, nunca se considera mais importante ou merecedor de maior atenção do que os demais.

Se eu olhar primeiro para mim mesmo, vou ver o outro segundo meus interesses, expectativas, demandas, critérios, sonhos e fantasias, quer para fazer dele um personagem idealizado da minha história, quer para rejeitá-lo por sua incapacidade de atender aos meus desejos.

Assim, não basta olhar um para o outro, e menos ainda olhar para si mesmo. É preciso olhar primeiro para Jesus e conhecer o outro e com ele se relacionar a partir da revelação da vontade do Pai na imagem do Filho, para o outro e para mim mesmo.

Nossa comunhão com o Senhor vai possibilitar uma verdadeira e profunda comunhão um com o outro, superadas as barreiras do egoísmo, da vaidade e do desejo de domínio pela manifestação do amor paciente, acolhedor, sofredor, benigno, cheio de esperança e infinito do Pai.

Muitos casais se perdem na caminhada, e passam a se olharem com ressentimentos, desconfianças e frustações porque deixam de enxergar verdadeiramente um ao outro, por haverem deixado de olhar primeiro para Jesus.

É preciso ter um olhar sempre firme e renovado no Senhor, para que se possa ver o outro com verdade, amor e esperança, ao longo das circunstâncias, lutas, desafios e tentações que vida e o mundo trazem.

Por outro lado, quanto mais conhecemos um ao outro, mais conhecemos de Jesus por sua manifestação e graça na vida do outro e na nossa própria, mais conhecemos sobre nós mesmos e mais ainda buscamos nos aprofundar nesses olhares, para Ele e para o outro.

Dessa maneira, vamos do encantamento ao descobrimento, do descobrimento ao acolhimento, do acolhimento ao pertencimento e do pertencimento à manifestação mais plena da Imagem de Deus, que se expressa no homem, na mulher e no relacionamento conjugal.

Que a suficiente graça de Jesus seja com todos Seu conservo e companheiro de jornada, 

Fernando

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