O dom precioso da vida
Faz sol. Chove. A grama cresce.
Eu sinto o sol, absorvo a chuva, vejo a grama.
Admiro-me. Cogito. Pondero.
Adoro o Senhor diante da maravilha
De sentir, absorver, ver.
Por um instante participo
Sem dúvidas e sem reservas
Do incompreensível e tão simples
Mistério da vida,
E me deixo pertencer,
Me envolver,
Me integrar,
No dom mais precioso.
Nas cenas mais singelas,
Timidamente escondido
Nos dias que passam,
Confundido com explicações banais
Da sabedoria humana,
Está o mais desconcertante e profundo
Presente de Deus: a vida.
Senhor, dá-me, hoje, te adorar,
Te servir e a ti pertencer,
Como o sol, a chuva, a grama...
Diálogo
Não quero falar
Do que me cala
A alma
Não quero pensar
No que me pausa
O coração
Não quero insistir
No que me perde
Os sonhos
Que fale minha alma calada
Que pense meu coração pausado
Que insistam meus sonhos perdidos
Que me ouça aquele que me ouve no silêncio
Que me compreenda aquele que já me conhece
Que encontre meus sonhos
Aquele que sonha comigo desde a eternidade
Viagem
Estava aqui de passagem
Mas agora entendi
Que eu mesmo sou a passagem.
Entre infinitas possibilidades,
Eu sou a impossibilidade
Que acontece
Nos não acontecimentos
E mergulha em si mesma
Para apenas se encontrar
E se entender
Nas sínteses dos seus encantos
E desencantos.
O melhor das viagens
São as janelas.
Elas estão em toda parte
E nos mostram possibilidades,
Impossibilidades,
Encantos, desencantos,
Inéditos sentidos de adoração.
Mas, para celebrar na jornada
O dom preciso da vida,
É necessário abrir as janelas da alma
E deixar entrarem a luz,
A brisa, as cores, as cenas,
Os dramas, as belezas,
Os lamentos, as canções.
Fernando Saboia Vieira
De "Pausas de Adoração", 2022, AD
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