domingo, 29 de maio de 2022

 Eu acredito

 

 

Eu acredito em encontros e olhares

Que revelam almas e corações 

Eu acredito em palavras

Silêncios e gestos

Que transformam almas

Movem propósitos

E traçam destinos eternos

Nesta vida passageira

 

Eu acredito em promessas e sonhos

Que fazem pessoas e futuros

Se unirem para sempre

E nunca mais se perderem

Umas das outras

Ainda que haja mais invernos

Do que primaveras

Nestes anos ensandecidos

 

Eu acredito em nossos encontros

Olhares, promessas e sonhos 

Embora a vida endurecida

E a luta, mesmo vencida,

Tenham por vezes esquecido

A necessária ternura

 

Mas não eu

 

Eu sou aquele que acredita

Eu sou aquele que se lembra

Eu sou aquele que guarda

No fundo da alma

Toda a ternura do mundo



Fernando Saboia

de "Sessenta Anos" 

 

 

 

 

          

                                            

sábado, 14 de maio de 2022

Pausas de Adoração

O dom precioso da vida

 

 

Faz sol. Chove. A grama cresce.

Eu sinto o sol, absorvo a chuva, vejo a grama.

Admiro-me. Cogito. Pondero.

Adoro o Senhor diante da maravilha

De sentir, absorver, ver.

 

Por um instante participo

Sem dúvidas e sem reservas

Do incompreensível e tão simples

Mistério da vida,

E me deixo pertencer,

Me envolver,

Me integrar,

No dom mais precioso.

 

Nas cenas mais singelas,

Timidamente escondido

Nos dias que passam,

Confundido com explicações banais

Da sabedoria humana,

Está o mais desconcertante e profundo

Presente de Deus: a vida.

 

Senhor, dá-me, hoje, te adorar,

Te servir e a ti pertencer,

Como o sol, a chuva, a grama...

  

 

 

Diálogo

 

 

Não quero falar

Do que me cala

A alma

Não quero pensar

No que me pausa

O coração 

Não quero insistir

No que me perde

Os sonhos

 

Que fale minha alma calada

Que pense meu coração pausado

Que insistam meus sonhos perdidos

 

Que me ouça aquele que me ouve no silêncio

Que me compreenda aquele que já me conhece

Que encontre meus sonhos

Aquele que sonha comigo desde a eternidade

  

 

 

Viagem

 

 

Estava aqui de passagem

Mas agora entendi

Que eu mesmo sou a passagem.

 

Entre infinitas possibilidades,

Eu sou a impossibilidade

Que acontece

Nos não acontecimentos

E mergulha em si mesma

Para apenas se encontrar

E se entender

Nas sínteses dos seus encantos 

E desencantos.

 

O melhor das viagens

São as janelas.

Elas estão em toda parte

E nos mostram possibilidades,

Impossibilidades,

Encantos, desencantos,

Inéditos sentidos de adoração.

 

Mas, para celebrar na jornada

O dom preciso da vida,

É necessário abrir as janelas da alma

E deixar entrarem a luz,

A brisa, as cores, as cenas, 

Os dramas, as belezas,

Os lamentos, as canções.

 

 

 

Fernando Saboia Vieira

De "Pausas de Adoração", 2022, AD

 

 

 

 

 

 

 

 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Soneto de reencontro

 

 


Quero de te ver diferente

Para te amar como sempre

Quero te ver como sempre

Para te amar diferente

 

Faz tempo que não te invento

E você fica assim, desinventada,

Porque só o meu amor te retraduz

Com prazer, com cor e com luz

 

Sei que você não me via mais

Porque desapareci, me confundi

Nas horas e nas coisas banais

 

Mas agora de novo me compreendi

No sentido do nosso viver fugaz

Nas certezas suaves dessa nossa paz

 

 

Fernando Saboia

De Chuvas Serôdias