“Vós orareis assim: Pai Nosso...”
O Sermão do Monte na Pandemia
(Fernando Saboia Vieira)
Queridos companheiros e companheiras de jornada,
Tempos difíceis podem tornar difícil a prática da oração quando ela é ainda mais necessária. O sofrimento, a enfermidade, a ansiedade, as necessidades materiais, as incertezas, tudo isso pode nos levar a uma paralisia nas nossas orações ou a que elas se tornem confusas, contaminadas por nossos sentimentos e dúvidas.
É, pois, de todo conveniente que nos voltemos à lição máxima de Jesus sobre oração, para que possamos nos colocarmos diante de Deus de uma maneira que nos possibilite receber Seu socorro, consolo, ajuda, direção e esperança.
Convido, assim, vocês a uma reflexão sobre a oração que o Senhor nos ensinou. De minha parte, quero destacar seis aspectos desse ensino de Jesus que têm me chamado atenção ao longo dos anos e nesses dias.
Primeiro, trata-se de uma oração filial. Ao longo de todo o Sermão do Monte, o Senhor nos ensina sobre nossa condição de filhos do nosso Pai que está nos céus. Sermos filhos do Pai deve definir a essência do nosso caráter e de nossas atitudes. Também deve nos levar a uma vida de confiança e sem ansiedades.
No momento de orarmos, devemos nos lembrar que não oramos como os gentios, que não têm Deus como Pai, mas orarmos ao “pai nosso”, que nos ama, acolhe, supre e conhece todas as nossas necessidades antes mesmo que as expressemos diante d’Ele.
Depois, um segundo aspecto é o de que além de ser uma oração filial, ela é também uma oração familiar, comunitária. Mesmo quando estamos sozinhos e em secreto diante do Pai, Ele nos recebe como filhos de uma grande família, como membros de um corpo, como partes da comunidade que é a Igreja. Jesus nos ensina a orarmos e pedirmos inclusivamente, coletivamente, no plural. Em tudo incluímos e somos incluídos. Não estamos sozinhos em nossas lutas, necessidades e provações, assim como repartimos as vitórias, bênçãos e alegrias.
Quando oramos ao “pai nosso”, Jesus também está incluído e participa da nossa oração, orando conosco e intercedendo. Ele é nosso irmão, filho do mesmo Pai.
Terceiro, o “Pai nosso” é essencialmente uma oração do Reino dos céus, do Reino de Deus. Exaltamos, de princípio, a Deus em Sua santidade e nos sujeitamos ao Seu Reino e a Sua vontade. Reconhecemos Seu Senhorio e expressamos nosso compromisso de buscar viver Seupropósito. Assim, entendemos que toda oração deve nascer no Deus Santo e Eterno, naquele que é nossa origem e nosso destino, o princípio e o fim, de onde viemos e para onde vamos.
Ao orarmos dessa maneira, abrimos nosso ser e nossa vida para que a eternidade e a realidade celestial se tornem nossa experiência de cada dia na nossa jornada terrena.
Mencionamos em quarto que o “Pai nosso” é também uma oração de simplicidade. Quando estamos diante do Senhor Altíssimo, nosso Pai que conhece todas as nossas carências, circunstâncias, debilidades e necessidades, quando consideramos Seu Reino e Vontade eternos e santos, quando somos revestidos pela suficiência de Sua Presença, nossa alma se despe de suas fantasias, medos e extravagâncias, e nosso coração percebe, afinal,que “poucas coisas são necessárias, na verdade uma só”.
Assim, pedimos pão e perdão, porque são essenciais para nossa subsistência física e espiritual e não podemos nos suprir disso a nós mesmos; pedimos socorro nas tentações, porque somos débeis em nossas virtudes e forças para enfrentarmos as provações; e pedimos livramento do mal, porque dependemos da intervenção e do poder de Deus para sermos salvos do pecado, da maldade do mundo e do Inimigo.
Em quinto lugar, quero destacar que essa é também uma oração de dependência. Jesus nos ensina a pedirmos o necessário para “cada dia”. Não devemos colocar nossa segurança no depósito e no acúmulo de bens e de recursos, mas, sim, no suprimento diário do Pai. É a cada dia, momento após momento, que o Senhor sustenta toda a Criação com Sua Vida e Poder, e também a nós, nos comunicando Seu Espírito e nos vivificando. Jesus disse que não devemos nos inquietar inutilmente com o dia de amanhã.
Olhamos para o futuro com a fé e a esperança geradas no nosso coração pela nossa experiência cotidiana com a suficiência de Deus no tempo presente.
Finalmente, um sexto aspecto é que o “Pai nosso” éuma oração de proclamação e de esperança. Aqui, ao final, voltamos ao início e contemplamos Deus em Seu Reino, Poder e Glória eternos, dos quais somos chamados a participar, com todos os Santos e todos os seres celestiais que o adoram continuamente. É esse sentido, valor e significado espirituais que dão realidade a cada momento do nosso dia e a cada fase da nossa vida.
Como podemos nos beneficiar desse ensino de Jesus sobre oração? Penso que pelo menos de três maneiras.
Primeiro, como tema de meditação. Devemos considerar e meditar em cada uma das declarações da oração que o Senhor nos ensinou, o contexto, o significado, a maravilha e a profundidade desse ensino. Vamos lembrar que meditar não é apenas buscar o significado das palavras e coisas, mas nos unirmos de coração com sua verdade e essência. Não apenas conhecer a verdade, mas, principalmente, amar a verdade, porque na verdade encontramos a Pessoa que é a Verdade.
Segundo, podemos usá-la como como oração do coração e recitá-la frequentemente ao longo do dia, especialmente quando nos faltarem palavras adequadas e quando necessitarmos sossegar a alma na certeza de que temos um Pai que nos sustenta a todo momento.
Terceiro, usá-la como modelo e preenchê-la com nossa vida: com nossa adoração e louvor, com nossos pedidos e súplicas, com nossa confissão e arrependimento, com nossa intercessão em favor das pessoas, com nosso compromisso cotidiano com Seu Reino e com Sua vontade e com nossa proclamação de fé e de esperança.
Irmãs e irmãos queridos, companheiros de jornada, que a suficiente graça de Jesus, o amor de Deus, nosso Pai, e as eternas consolações do Espírito Santo sejam com cada um de vocês, hoje e para sempre.
Fernando
Brasília, em julho de 2020, AD.
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