quinta-feira, 4 de junho de 2020

Salmo 27

Busquem a minha Presença – Salmo 27

(Fernando Saboia Vieira)



Queridos irmãos e irmãs, companheiros de jornada,


Nos momentos críticos e decisivos da vida, como esses que vivemos na presente calamidade que a todos nos atinge, é normal que estejamos sempre a calcular, de um lado os perigos, riscos e adversidades e, de outro, certezas, recursos, seguranças, ajudas.
O Salmo 27 nos coloca de início essas perguntas: Quem ou o que tememos? Em quem ou em que confiamos?
Conhecemos o Senhor e dizemos que nossa confiança está n’Ele, mas o quanto o nosso coração se encontrarealmente acalmado e cheio de paz, esperança e segurança em Deus?
É Ele nossa luz e salvação, a fortaleza da nossa vida? Nada tememos e tudo confiamos n’Ele?
Talvez, no meio da ansiedade gerada pela crise e pela tribulação, a realidade da Presença e do socorro de Deus se revele como uma verdade em que cremos, mas não como um desejo profundo, como uma súplica e uma busca intensa do coração. Não como uma experiência viva e real capaz de trazer paz, confiança, esperança e alegria nessa difícil situação.
Como Davi, nessas circunstâncias de perigos e de adversidades, não devemos buscar refúgio, segurança e socorro em riquezas, armas, conhecimentos, recursos humanos ou aliados poderosos e, sim, pedir e buscar a Presença de Deus: “Uma coisa pedi ao Senhor, e buscarei, que eu possa morar em sua Casa todos os dias da minha vida”!

Há coisas que apenas pedimos ao Senhor e esperamos. Há coisas, no entanto, que ao pedido por elas deve se seguir uma busca intensa por elas! Assim é o Reino. Jesus nos ensinou a orar pedindo para que venha o Reino, mas também nos exortou a buscá-lo em primeiro lugar! E assim também é como a Presença de Deus: precisamos pedir por ela e buscá-la.
Nós, os que pedimos a Presença de Deus, nós a buscamos? A sinceridade do nosso pedido pode ser avaliada pela intensidade da nossa busca!
Onde é a “Casa do Senhor” e como se pode morar nela todos os dias da vida?

Penso que a Casa do Senhor a que o salmista se refere é o lugar da comunhão íntima e contínua com o Pai; a atenção constante à Sua Presença e Realidade em todo lugar a todo tempo; é a permanência na Palavra, que flui viva e comunica a vida, o caráter e a verdade de Deus; é o andar no Espírito, que conversa com o nosso espírito momento após momento.
Morar na Casa do Pai todos os dias é estar em Sua Presença e companhia constantes, como de uma pessoa amada de quem sentimos saudades quando não a temos conosco: nosso amor e nosso desejo de estar com ela fazem com que sua presença seja viva e constante para nós. Dizemos; “Penso nela o dia interior, mesmo quando estou fazendo minhas tarefas e envolvidos com minhas preocupações”.
Caros, temos que amar a Deus ao ponto de ter saudades de Deus. Na linguagem do Salmo 42, suspirar por Ele como alguém sedento suspira por água.
No Salmo 27 Davi se refere a duas veredas ou duas dimensões dessa busca e experiência da Presença do Senhor: a contemplação e a meditação.
Podemos, no entanto, perguntar: Como contemplar a beleza do Deus invisível?
Contemplar é “ver”, perceber com a alma. É entrar em contato, em relacionamento direto, inclusivo e participativo com a Presença e a realidade de Deus e ser por elas envolvido, atravessado, enchido e elevado. É amar além dos gestos e palavras.
Um exemploPosso ver uma paisagem e apreciar sua beleza. Posso meditar nela e considerar aspectos, nuances, características, harmonias, cores, sons, aromas. Contemplar é me tornar parte dela, ser abrangido, incluído, envolvido por ela. Não mais vejo e analiso: apenas admiro, me maravilho, experimento e me integro.
É importante que se diga que contemplar não é entrar em êxtase, embora isso possa raramente acontecer. É simplesmente participar da Presença e realidade de Deus.
Com seus olhos e entendimento humanos e naturais, Davi podia ver os inimigos e perigos à sua volta e avaliar os riscos, a força e a malignidade deles e considerar as dificuldades das circunstâncias em comparação com seus próprios recursos e capacidades. Ao contemplar a beleza do Senhor em Sua Casa ele pôde perceber e experimentar Sua Presença e realidade vivas, poderosas e amorosas. Nisso ele encontrou descanso, esperança e confiança.
Como meditar? Principalmente, meditar na Palavra do Senhor, que nos revela e nos transmite Sua vida, Seu caráter, Sua natureza, Seu propósito, Sua misericórdia, Seu poder e Seu amor.
Onde é o “seu abrigo”? O “interior do seu tabernáculo”? A “rocha elevada”? Como Ele me oculta, me acolhe e me eleva?
Evidentemente, não são esses lugares físicos, mas metáforas que falam de lugares e realidades espirituais que não estão condicionadas ou limitadas ao tempo, ao espaço, às circunstâncias, às possibilidades naturais e humanas.
Matheus, meu neto de 3 anos, gosta muito de esconderijos e lugares secretos, onde brincamos de nos esconder e nos proteger dos inimigos. Mas o lugar secreto seguro do Matheus é o amor das pessoas que cuidam dele. E ele sabe disso. É para lá que ele corre quando o perigo é verdadeiro. Assim devemos ser nós para com Deus nosso Pai.

Quais devem ser os sacrifícios e a linguagem nesse Tabernáculo secreto? Sacrifícios de louvor, cânticos e salmos ao Senhor. Não murmurações, críticas, reclamações. Não disputas, conflitos, “guerras de narrativas”, mentiras, fake news. Não “profetadas”, elaborações teológicas comprometidas e contorcionismos doutrinários. Não avalições de cenários e análises de conjunturas. O que deve reverberar nesse lugar santo é a exaltação da beleza da santidade do Deus vivo.

Essa atitude de desejo e de busca intensa da Presença se expressa nas palavras do salmista, numa súplica, num apelo à misericórdia de Deus: “Responde-me! Não se esconda de mim!”.
Como o Senhor respondeu a esse pedido? Disse Davi: “Ao meu coração me ocorre: busquem a minha presença”.
Deus se revela e fala no Seu Templo, que é o coração do homem, lugar de Sua especial habitação. Ele está em toda parte e se expressa em tudo o que criou, mas Ele fala de modo especial conosco porque somos seres pessoais, conscientes, dotados de alma, animados pelo sopro do seu espírito – criados à Sua imagem e semelhança para nos relacionarmos com Ele.
Deus é encontrado por aqueles que O buscam! Mas quem está perdido não é o Deus “escondido”, mas sim o homem que O procura. Assim, buscar e procurar a Deus é buscar e procurar o caminho de volta ao lar perdido, é buscar e procurar a si mesmo. Só não estarei mais perdido quando eu for recebido em Casa, pelo abraço do Pai.
Mas não posso encontrar e percorrer esse caminho a não ser que o Senhor mesmo o ensine a mim e Ele mesmo me conduza por uma vereda plana.
“Voz do que clama no deserto; preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus”, disse Deus por meio do seu profeta Isaías (Is 40:3).

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, disse o Senhor Jesus (Jo 14:6).

Assim, Deus mesmo providenciou para que o caminho fosse preparado e Ele mesmo se tornou o Caminho!
Jesus é a resposta e a providência de Deus ao clamor da alma que O busca. Nele somos acolhidos, escondidos, abrigados.
Nele encontramos segurança, esperança e paz.
Ele é a Rocha Eterna, por Ele temos acesso ao Santuário Santíssimo, Ele nos conduz ao abrigo da Casa do Pai onde somos recebidos e supridos.
Perante Ele nossos adversários recuam e por Ele são derrotados definitivamente.
Ele é a nossa esperança de que veremos “a bondade do Senhor na terra dos viventes”.
Irmãs e irmãos queridos, esperem no Senhor.
Animem-se. Fortifique-se o coração de vocês e esperem no Senhor.

Ora, Ele não tardará. Em breve aquele que vem virá.
Venha, Senhor Jesus!

Seu conservo e companheiro de jornada,

Fernando

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