"A disciplina não é efetiva se não for sistemática, pois a falta de sistema normalmente denuncia uma falta de propósito. Bons hábitos somente são desenvolvidos por meio de atos repetidos e nós não podemos nos disciplinar a fazer a mesma coisa repetidas vezes com algum grau de inteligência se não o fizermos sistematicamente.
É necessário, principalmente no início de nossa vida espiritual, fazer coisas determinadas em momentos preestabelecidos: orar em dias certos, orar e meditar em horas definidas do dia, exame regular de consciência, regularidade no atendimento aos sacramentos, aplicação sistemática aos deveres de sua vocação, particular atenção às virtudes que nos são mais necessárias.
Desejar uma vida espiritual é, portanto, desejar disciplina. De outro modo, nosso desejo é uma ilusão. É verdade que se espera que a disciplina nos leve, finalmente, à liberdade espiritual. Assim, nosso ascetismo deve nos tornar espiritualmente flexíveis e não rígidos, pois rigidez e liberdade não andam juntos. Mas nossa disciplina deve, de todo modo, ter um certo elemento de severidade nela. De outro modo ela nunca nos livrará das paixões. Se não formos firmes conosco mesmos, nossa carne logo nos enganará. Se não nos comandarmos severamente a orar e fazer penitências em tempos certos e definidos, e não nos determinarmos a manter nossas resoluções a despeito dos grandes inconvenientes e dificuldades, nós seremos rapidamente demovidos por nossas próprias desculpas e nos deixaremos levar por fraquezas e caprichos."
Thomas Merton, Ascetismo e Sacrifício, em Homem Algum é uma Ilha. Tradução de Fernando Saboia Vieira.
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