sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Pecado e Enfermidade

Pecado e Enfermidade

"Naquela noite eu compreendi, senti, realizei o sentido da Cruz de Cristo, que a Cruz é a reparação do irreparável; que nós todos carregamos um fardo onde se encontram inexoravelmente mesclados tudo aquilo de que somos vítimas com tudo aquilo de que somos culpados, mas que podemos depositar todo esse fardo, tal como está, em bloco, na Cruz; pois a cruz é, ao mesmo tempo, o perdão para tudo aquilo de que somos culpados e o verdadeiro consolo de tudo aquilo de que somos vítimas.
....
Desde então meu ministério humano não parou de se aprofundar. Vejo virem a mim homens e mulheres de todas as idades e de todas as condições que carregam um fardo onde estão intrinsecamente mesclados aquilo de que são vitimas com tudo aquilo de que são culpados. É certo que há em suas vidas coisas das quais,se sentem verdadeiramente vitimas e coisas das quais se sentem verdadeiramente culpados. Mas quando olhamos mais de perto, percebemos que a fronteira está longe de ser precisa.
...
Nós reencontramos mais uma vez esse duplo aspecto da graça, que se manifesta, ao mesmo tempo, pela cura e pelo perdão, na passagem de Tiago que eu já citei: "Há alguém enfermo entre vós? Que chame os anciãos da Igreja, e que os anciãos orem por ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor; a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e se houver cometido pecados lhe serão perdoados" (Tiago 5:14-15).

Paul Tournier, "Bible et Medicine", capitulo 23: Pecado e Enfermidade. Tradução de Fernando Saboia Vieira.

Sobre disciplina

"​A disciplina não é efetiva se não for sistemática, pois a falta de sistema normalmente denuncia uma falta de propósito. Bons hábitos somente são desenvolvidos por meio de atos repetidos e nós não podemos nos disciplinar a fazer a mesma coisa repetidas vezes com algum grau de inteligência se não o fizermos sistematicamente.
​É necessário, principalmente no início de nossa vida espiritual, fazer coisas determinadas em momentos preestabelecidos: orar em dias certos, orar e meditar em horas definidas do dia, exame regular de consciência, regularidade no atendimento aos sacramentos, aplicação sistemática aos deveres de sua vocação, particular atenção às virtudes que nos são mais necessárias.
​Desejar uma vida espiritual é, portanto, desejar disciplina. De outro modo, nosso desejo é uma ilusão. É verdade que se espera que a disciplina nos leve, finalmente, à liberdade espiritual. Assim, nosso ascetismo deve nos tornar espiritualmente flexíveis e não rígidos, pois rigidez e liberdade não andam juntos. Mas nossa disciplina deve, de todo modo, ter um certo elemento de severidade nela. De outro modo ela nunca nos livrará das paixões. Se não formos firmes conosco mesmos, nossa carne logo nos enganará. Se não nos comandarmos severamente a orar e fazer penitências em tempos certos e definidos, e não nos determinarmos a manter nossas resoluções a despeito dos grandes inconvenientes e dificuldades, nós seremos rapidamente demovidos por nossas próprias desculpas e nos deixaremos levar por fraquezas e caprichos."

Thomas Merton, Ascetismo e Sacrifício, em Homem Algum é uma Ilha. Tradução de Fernando Saboia Vieira.