segunda-feira, 7 de outubro de 2013

HOMILIA PARA MARCOS E PRISCILLA


O Casamento e a Alegria

 

 

“Alegrai-vos sempre no Senhor! Outra vez vos digo, alegrai-vos” (Filipenses 4:4).

“Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo e embriaga-te sempre com as suas carícias” (Provérbios 5:18-19).

 “Homem recém-casado não sairá à guerra, nem se lhe imporá qualquer encargo; por um ano ficará livre em casa e promoverá felicidade à mulher que tomou” (Deuteronômio 24:5).

 
1) Insistência do Apóstolo no tema da alegria

 
Deus não inventou a tristeza. Ao contrário, ela é a negação da Sua Existência.

Deus nos fez para a glória, para o brilho, para a celebração, para o júbilo, para a alegria. Toda a Criação, natureza, os seres, o cosmos, é arte, exaltação, vida, esplendor.

 A adoração ao Deus vivo, Criador de todas as coisas, é cheia de música, cânticos, danças. Suas festas são abundantes, plenas, gloriosas.

O homem, no entanto, afastado de Deus, decaiu, foi destituído de Sua Gloriosa Presença e só encontra no caminho que escolheu andar, longe do Criador, tristezas, solidão, conflitos, fracassos, cansaços e, afinal, a sombra da morte.

Todos os seus prazeres e pompas, festividades, fantasias, vestes solenes, comemorações e conquistas são efêmeras e toscas imitações dessa glória divina a que não tem mais acesso, e estão fadados a um fim sombrio.

Nem mesmo uma celebração bonita como esta, com pessoas bem vestidas, música, boa comida e bebida, excelentes propósitos e intenções, não garante alegria e felicidade no caminho adiante, apesar do amor declarado, dos votos proferidos e da oração e colaboração de todos.

Não por acaso, o mal desta nossa geração, que assumiu a negação de Deus como princípio de liberdade e independência, é o desânimo e a tristeza nas, suas formas agudas de depressão, pânico e desespero.


2) A alegria no Senhor

A alegria cristã não está fundamentada em obras ou ilusões humanas, mas na ação toda poderosa do próprio Deus.

A ressurreição de Jesus, na manhã do terceiro dia, foi a vitória final da alegria da vida sobre a tristeza da morte.

Ela representa o reencontro com a glória da Presença de Deus, com a celebração, com o júbilo, com os cânticos e danças, com a festa, com a esperança, com o significado e propósito para os quais fomos criados.

A tristeza, no entanto, ainda impera neste mundo caído em que vivemos e peregrinamos até o dia da Revelação plena do Reino, na vinda do Senhor.

Nós, cidadãos do Reino e habitantes deste século, vivemos os conflitos e dramas que produzem dor e tristeza, ainda que portadores da Alegria da Presença de Deus em nós.


Assim é que a verdadeira alegria é sobrenatural, está no Senhor, na comunhão com Ele, é fruto do Espírito Santo em nossa vida.

Quem não tem o Senhor e não tem o Espírito não tem a alegria plena e permanente, firmada na esperança eterna, que não se dilui com as circunstâncias da vida nem com o desfecho da morte.

Nestes dias confusos e cinzentos, contraditórios, em que o glamour e a terror dividem quase igualmente os noticiários e as imagens nas nossas variadas telinhas multimídia, deve a Igreja de Jesus retomar a proclamação da Alegria pura, criacional e eterna como parte essencial do propósito de Deus para o homem.

 
3) O que há de especial na alegria conjugal

 A vontade de Deus, assim nos garantem as Escrituras, é “boa, perfeita e agradável”.

Dentro do propósito criacional de Deus para a humanidade, o casamento foi instituído tendo também como finalidade ser fonte de alegria e motivo de celebração para homem e mulher, uma vez que o vínculo conjugal está ligado à expressão da Imagem de Deus, à revelação do Seu caráter e à reprodução da Sua vida.

 Pelo registro do Livro de Gênesis, a solidão de Adão, sua incompletude, foi motivo decisivo para Deus optar por nos criar “homem e mulher”.

 Por isso, em qualquer cultura, o casamento é ocasião de festa e de celebração. Sua finalidade última é a expressão da glória de Deus, e a glória de Deus é o imenso sorriso de júbilo do Criador que faz brilhar  e ressoar tudo à volta de Sua Presença.

No entanto, infelizmente, não é esse o testemunho que temos de muitos casamentos, que têm sido fontes de tristeza e pesar não apenas para os cônjuges.

 Não me refiro apenas aos que terminam fraturando vidas e destinos – casais casados não se separam, fraturam-se, pois o vínculo que os une é um amálgama, uma simbiose - mas também àqueles que continuam, mas continuam tristes e infelizes.

     O casamento não é o momento de sua celebração, mas o que se segue a ela. O casamento se faz com a celebração do amor e do compromisso expressos nos votos tornados realidade nas circunstâncias da vida, no caminhar juntos de cada dia.

    O poder ou a possibilidade de felicidade conjugal não está na força ou no valor dos propósitos e sentimentos dos noivos, mas na ação espiritual e sobrenatural de Deus, que é quem une o homem a sua mulher, desde o Jardim do Éden.

    Para que a Presença de Deus seja assim manifestada na vida do casal é essencial que os cônjuges saibam que o casamento não é um empreendimento ou uma associação vinculada a uma finalidade avaliável por padrões de desempenho. É, antes, uma comunhão que expressa a Imagem de Deus e Seu Amor.

    Assim, faz parte dos deveres matrimoniais de cada cônjuge promover a alegria e a felicidade do outro, cuidando do provimento de suas necessidades e atendendo a seus desejos, em detrimento até mesmo de outros serviços no Reino de Deus.

Isso está bem expresso nas Palavras do Apóstolo Paulo quando diz que o homem e a mulher casados devem buscar agradar seu respectivo cônjuge, não podendo dessa tarefa escusar-se nem mesmo para atender às demandas da obra do Senhor.

    Esse tem sido um dever conjugal deveras negligenciado nesses nossos tempos de egoísmo e de busca de satisfação e prazer pessoal. As pessoas estão impregnadas por uma mentalidade demandadora, consumista, reivindicadora de direitos, centrada na busca da própria felicidade.

Ironicamente, esse é o melhor caminho para jamais encontrá-la! De fato, a única maneira de ser realmente feliz é promover a felicidade de alguém, pois fomos criados para expressar o amor de Deus, que visa exclusivamente o bem do outro, em desfavor de si mesmo.

    Quando o princípio do egoísmo se infiltra e cada cônjuge se julga mais credor da própria felicidade do que devedor da felicidade do outro, marido e mulher se tornam competidores e o casamento já perdeu sua essência e caminha para a derrocada.

    Assim, uma das tarefas que Marcos e Priscilla assumem a partir de hoje é agradar o outro, fazer-lhe o bem, provocar seus sorrisos (e gargalhadas), celebrar juntos, se alegrarem reciprocamente, mesmo nos momentos mais difíceis da caminhada.

    Dou-lhes, aqui, um conselho a que cada um deve atentar. Não faça do outro um personagem na sua vida, um realizador de sonhos, um desempenhador de papéis, executor de tarefas, alguém de quem você espera coisas. Seja o outro sempre, para você, principal e essencialmente a pessoa a quem você decidiu amar cada dia, em qualquer circunstância e em qualquer clima emocional.

    De outra parte, não seja para o outro um personagem, um desempenhador de tarefas, um sócio empreendedor, um cumpridor de tarefas, realizador de sonhos e projetos. Mas seja você sempre para o outro, principal e essencialmente, alguém que decidiu amá-lo cada dia, em qualquer circunstância e em qualquer clima emocional.

     O quanto puderem, evitem se tornar avaliador de desempenho do outro. Contribuam com o crescimento, ajudem nas debilidades, estimulem à santidade e ao serviço, mas não assumam a cadeira do juiz nem o púlpito da promotoria. Se houver algum tipo de processo, de tomada de contas, sejam sempre parceiros, solidários, cúmplices, se necessário. Jamais oponentes, jamais testemunha contra o outro.

    Quero dizer, finalmente, que cada casal cristão deve ser um farol de felicidade e de alegria a sinalizar nas noites escuras sobre o oceano de tristeza que tudo ameaça.

    Essa é a vontade Deus para o casamento.

    Como essa palavra se aplica de modo particular a Marcos e Priscilla, me arrisco a sobre isso dizer algo de caráter mais pessoal.
 

4) Sobre Marcos e Priscilla
 

a) Marcos e a sombra da melancolia: “Tu Risa”

Conheço desde que nasceu. Vi crescer um moço sério, comprometido, perseverante. Amadureceu em meio a sofrimentos e dificuldades. Sempre foi criativo, bom senso de humor. Um falso tímido: goleiro.

Uma ameaça pairava, contudo, sobre sua vida: uma sombra de melancolia com tons de tristeza que crescia no horizonte. Risco de envelhecimento precoce da alma.

Como sempre foi alguém que buscou socorro no Senhor e colocou nEle sua esperança, algo lhe aconteceu há alguns anos, numa temporada de furacões. Uma tempestade tropical promovida a tornado: Priscilla.

 Os poetas são pessoas que traduzem o que todos algum dia quisemos dizer. A maneira como Marcos olha para Priscilla, como se diverte com suas risadas e peraltices, me lembra um poema de um escritor chileno, que vou recitar numa tradução livre


Pablo Neruda - Tu Risa


Quítame el pan, si quieres,
quítame el aire, pero
no me quites tu risa.

No me quites la rosa,
la lanza que desgranas,
el agua que de pronto
estalla en tu alegría,
la repentina ola
de plata que te nace.

Mi lucha es dura y vuelvo
con los ojos cansados
a veces de haber visto
la tierra que no cambia,
pero al entrar tu risa
sube al cielo buscándome
y abre para mi todas
las puertas de la vida.

Amor mío, en la hora
más oscura desgrana
tu risa, y si de pronto
ves que mi sangre mancha
las piedras de la calle,
ríe, porque tu risa
será para mis manos
como una espada fresca.

Junto al mar en otoño,
tu risa debe alzar
tu cascada de espuma,
y en primavera, amor,
quiero tu risa como
la flor que yo esperaba,
la flor azul, la rosa
de mi patria sonora.

Ríete de la noche,
del día, de la luna,
ríete de las calles
torcidas de la isla,
ríete de este torpe
muchacho que te quiere,
pero cuando yo abro
los ojos y los cierro,
cuando mis pasos van,
cuando vuelven mis pasos,
niégame el pan, el aire,
la luz, la primavera,
pero tu risa nunca
porque me moriría.

De “Versos do Capitão”.



Seu Riso (tradução livre)

 Tire-me o pão, se quiser

tire-me o ar, mas

não me tire seu riso.

         
Não me tire a rosa,

a lança que você desfolha,

a água que de pronto

estala em sua alegria

a repentina onda

de prata que nasce em você.

 

Minha luta é dura e volto

com os olhos cansados

às vezes de ter visto

a terra que não muda,

mas, ao entrar, seu riso

sobe ao céu a me buscar

e abre para mim todas

as portas da vida.

 
Amor meu, na hora

mais escura desfolhe

seu riso, e se logo

vir que meu sangue mancha

as pedras da rua,

ria, porque seu riso

será para minhas mãos

como uma espada fresca.
 

Junto ao mar no outono,

seu riso deve elevar

sua cascata de espuma,

e na primavera, amor,

quero seu riso como

a flor que eu esperava,

a flor azul, a rosa

da minha pátria sonora.
 

Ria da noite,

do dia, da lua,

ria das ruas

torcidas da ilha,

ria deste rude

rapaz que te quer,

mas quando eu abro

os olhos e os fecho,

quando meus passos  vão,

quando voltam meus passos,

negue-me o pão, o ar,

a luz, a primavera

mas seu riso nunca

porque eu morreria.

 

b) Priscilla e a descolorização do riso: “I won’t give up”

 

Conheci naquela temporada de furacões. Alegria. Um pouco trelosa. Difícil não gostar dela. Batalhadora, esforçada. Alguém em busca das cores e sons da vida. A falsa descolada: o plano “A”.

 Uma ameaça pairava também em seu horizonte: o dia em que o cansaço, a solidão, o desgaste das lutas fizessem seu riso perder o brilho, a sonoridade, a força de suas muitas cores.

 O encontro com Jesus trouxe de volta a esperança segura do brilho, da policromia do riso. E para isso, Ele colocou no seu caminho um moço sério, confiável, capaz de ser um abrigo e referência, mas também um profissional das cores, sons e imagens.

No caso da Priscilla, acho que muito do que ela retransmite para o Marcos do que esse relacionamento significa para ela está expresso na letra da música que escolheu para sua entrada nesta cerimônia.

Traduzo alguns versos da canção.

 

I Won't Give Up
Jason Mraz

When I look into your eyes
It's like watching the night sky
Or a beautiful sunrise
There's so much they hold
And just like them old stars
I see that you've come so far
To be right where you are
How old is your soul?

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up

And when you're needing your space
To do some navigating
I'll be here patiently waiting
To see what you find

Cause even the stars they burn
Some even fall to the earth
We've got a lot to learn
God knows we're worth it
No I won't give up


I don't wanna be someone who walks away so easily
I'm here to stay and make the difference that I can make
Our differences they do a lot to teach us how to use
The tools and gifts we got yeah, we got a lot at stake
And in the end, you're still my friend at least we did intend
For us to work we didn't break, we didn't burn
We had to learn how to bend without the world caving in
I had to learn what I've got, and what I'm not
And who I am

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up
I'm still looking up

I won't give up on us
(No, I'm not giving up)
God knows I'm tough, he knows
(I am tough, I am loved)
We got a lot to learn
(We're alive, We are loved)
God knows we're worth it
(And we're worth it)

I won't give up on us
Even if the skies get rough
I'm giving you all my love
I'm still looking up
I'm still looking up

Eu Não Vou Desistir (tradução)
 
Quando olho em seus olhos
É como observar o céu à noite
Ou um belo amanhecer
Tantas coisas eles carregam
E assim como as estrelas antigas
Eu vejo que você foi tão longe
Para estar bem onde você está
Qual a idade da sua alma?

Eu não vou desistir de nós
Mesmo que os céus fiquem turbulentos
Estou te dando todo meu amor
Ainda estou olhando para o alto


E quando você precisar do seu espaço
Para navegar um pouco
Eu estarei aqui pacientemente esperando
Para ver o que vai encontrar

Porque até as estrelas queimam
Algumas até mesmo caem sobre a terra
Temos muito a aprender
Deus sabe que merecemos
Não, não desistirei


Eu não quero ser alguém que vai embora tão facilmente
Estou aqui para ficar e fazer a diferença que eu puder fazer
Nossas diferenças fazem muito para nos ensinar como usar
As ferramentas e os presentes que recebemos, sim, temos muita coisa em jogo
E
no fim, você ainda é meu amigo, pelo menos, era o que sempre quisemos
Para tudo dar certo, não terminamos, não queimamos
Tivemos que aprender como nos virar sem o mundo desabar
Tive que aprender o que tenho, e o que eu não sou
E quem eu sou

Eu não vou desistir de nós
Mesmo que os céus fiquem turbulentos
Estou te dando todo meu amor
Ainda estou olhando para o alto
Ainda estou olhando para o alto
Eu não vou desistir de nós
(Não, não vou desistir)
Deus sabe, sou difícil, ele sabe
(eu sou difícil, sou amada)
Temos muito a aprender
(Nós estamos vivos, somos amados)
Deus sabe que valemos a pena
(E nós valemos a pena)

Eu não vou desistir de nós
Mesmo se os céus fiquem furiosos
Estou te dando todo meu amor
Ainda estou olhando para o alto



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